20 outubro 2008

O telefonema


...para mostrar-me como eu era nabo e ele um machão que se atirava logo à febra...

A porta estava apenas encostada como tinha sido combinado pelo telemóvel.
- Quando estiverem mesmo a chegar, dão-me um toque. Não usem a campaínha, por favor - repetira ela.
Pela nesga entre a porta e a ombreira, um fio de luz quente penetrava as nossas pupilas, já feitas ao escuro após a luz das escadas ter-se apagado ainda antes da entrada no elevador, de modelo antigo, todo aberto e de porta de correr em grade de xadrez .
Vieram-me à mente situações vividas em meros segundos entre o fechar e o voltar a abrir dessas pequenas caixas, quase herméticas, mas neste? Todo aberto entre grades como uma gaiola?
Qualquer momento íntimo e fugaz aqui dificilmente resumiria o segredo a quatro paredes, pensei enquanto a máquina lentamente fazia o seu percurso ascendente.
- Subam até ao terceiro de elevador - terminara ela o telefonema. – o último lance, o quarto andar, só tem acesso por escada e minha porta é a única... -
Entendi que o apartamento seria uma adaptação posterior dum espaço inicialmente não previsto para habitação, mas isso agora não importava.
Viera ali àquele local com o meu amigo de andanças nocturnas após termos passeado os nossos dedos, primeiro em ar de graça, depois já com outra ideia no sentido, pelas páginas de anúncios classificados dos jornais diários.
A mesa cheia de imperiais e uns pires atafulhados de cascas e restos de camarão a par do rosto ensonado do Mário, o dono do Snack Bar, a passear numa primeira passagem a vassoura pelos recantos do recinto, fizeram-nos sair para a noite já fresca de Outono.
- Tenho aqui o telefone da gaja - riu-se triunfante perante o meu olhar ingénuo que dum estafado passo de mágica esperava ver-lhe sair uns rabiscos em algum guardanapo ou recorte de canto de toalha de mesa por entre os dedos.
- Aqui, pá!- disse visivelmente zombeteiro enquanto de telemóvel na mão premia a tecla de chamada.
Não reparara quando é que ele copiara para o seu telefone, um ou mais nomes e números. Possivelmente teria sido quando eu ao balcão fizera contas com o Mário e trocáramos uns dichotes de circunstância.
Passaram largos minutos de conversa fiada e por fim fechou o telemóvel com um convencido:
- Tá no papo, vamos lá agora e nem sequer é longe! –
Apenas por saber que um silêncio oportuno tem muitas vezes mais sabedoria que certas palavras ditas a quente é que não o mandei à merda naquele exacto momento em que, fechado o aparelho, se assumia no papel de grande conquistador. Apetecia-me ter-lhe perguntado onde estava a pica de "ter no papo" alguém que tem um anúncio no jornal onde põe o papo à distância dum telefonema, desejavelmente mais curto e directo do que a estopada a que o meu amigo a sujeitara.
- Telefona tu agora - disse-me, interrompendo o silêncio que se instalara, apenas pontuado pelos passos da nossa caminhada na calçada.
– É já aqui. Assim ela fica familiarizada com a tua voz. -
Entrámos directamente para a sala, onde o fio de luz quente que se escapava para o corredor era afinal o de um pequeno espaço parcamente iluminado e decorado com a combinação mais incrivelmente "kitsh" que alguma vez vira. A um canto duma estante, sem qualquer cuidado com preceitos acústicos, duas pequenas colunas de som, uma sobre a outra e amparadas por um horrível Buda verde em plástico fosforescente, debitavam uma letra dessas onde dor rima sempre com amor, e coração com traição, e que nos soam sempre à mesma música por mais que os diversos e pretensos artistas as chamem suas.
Cantada por um inenarrável duo de além mar, desses que são paradigmas dos clichés do mau gosto que se tornaram moda e criaram escola, serviam de fundo a um trautear com que ela nos recebia a criar ambiente. Disfarçando uma mescla indistinta de cheiros, uma varinha de incenso acabada de acender espalhava um fino fio de fumo rumo ao tecto inclinado.
Só o que falta agora é ela levar-nos para o quarto e ter sobre a cama pendurada a estampa do puto com a lágrima ao canto do olho - pensei eu, enquanto aceitava o convite para me sentar um pouco. Definitivamente e embora se tivesse combinado um menage à trois, o meu amigo estava com mais saída. Talvez por ser mais atiradiço, por ter falado com ela, ou ainda para mostrar-me como eu era nabo e ele um machão que se atirava logo à febra, não perdendo nunca uma oportunidade, enquanto eu para ali ficava em pose de infelizmência sentado a um canto.
- Só faço com camisinha - riu-se, enquanto desviando o rosto na minha direcção fazia com que a frase tivesse alcance para os dois. Da estante retirou uma caixa de CD que me veio mostrar. – Vou pôr uma coisa melhor, entendes? Mais romântica... Estás a ver? Aqui... Assinado por ele com uma dedicatória. Este comprei-o mesmo no Pavilhão Atlântico no dia do concerto. -
Olhei-a bem enquanto ela fazia a mudança dos discos. Não era propriamente um modelo de beleza , mas a postura, a sensualidade e a luz morna quase vermelha completavam o ambiente propício aos clientes. Já sem blusa, sobressaíia a forma como a lingerie apertava as carnes, fazendo-as sair em balões de chicha rumo ao espaço e à liberdade com a mesma ânsia que as adiposidades à volta da cintura o faziam.
- Vem... - acenou-me em direcção ao quarto, enquanto o meu amigo, de abraço sobre a cintura, lhe premia com gosto as generosidades acumuladas.
Esperei um pouco e levantei-me ainda a tempo de ver uma cama desarrumada, sabe-se lá desde quando. Quase junto a ela, e a ponto de a todo momento lhe cair para cima, os dois entregavam-se ao mister. Ele sôfrego, ela rindo, levantando o pescoço que ele lambia enquanto as mãos mexiam por todo o lado no corpo finalmente nu. Sobre a cabeceira da cama, uma lágrima a sobressair dum rosto de criança enquadrados numa imitação de tela decidiram a minha abalada.
Suavemente, sem fazer um único ruído, pelas escadas para não acordar o elevador.
Já cá em baixo e na rua, após uns passos e mirando ainda para trás lá para o alto, tirei o meu telemóvel.
- Sim, Lena?
- Olá...
- Escuta. Estás só? Queres vir tomar um copo?...-

Charlie

Circuncisado?



Acredita-se que durante a vida adulta a circuncisão remove tecido sexualmente sensível e reduz a sensibilidade da glande do pénis.


Agora, há solução; espreitem aqui: link.

A «Com'Out» nº 4 está nas bancas... que não têm preconceitos

Saíu o número 4 da Com'Out, dedicada a temas relacionados com a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros).
A entrevista (e a capa) com Sónia Tavares dos Gift é excelente. O artigo sobre homossexualidade e fé está muito interessante. E gostei especialmente do artigo «o tabu dos tabus», sobre a homossexualidade na guerra colonial. Recordam também «as três Marias» e as suas «Novas Cartas Portuguesas». Mas não só. Pessoalmente, acho que os conteúdos estão a melhorar. Esperemos que continuem...


O que terei pedido?!


Uma parceria com http://www.acefalos.com/

19 outubro 2008

carpe noctem

Árvore, Maria, moradora numa aldeia da cidade de Almada em que ainda se saudam as pessoas na rua com um bom dia, boa tarde ou boa noite conforme a hora, com o telefone que conheces e o telemóvel que está registado na tua lista ironicamente como MA, mais o endereço de correio electrónico que é público, de nacionalidade portuguesa desde o dia em que nasci alfacinha e para não suscitar dúvidas como nos avisos idiotas de rodapé de emails empresariais, do sexo feminino, menstruada desde os 12 anos e sem menopausa, pela presente formaliza a sua candidatura a trabalhar contigo na área funcional de carpe noctem, à moda de Louise Brooks e Chaplin, nas actividades de restauração, espectáculo e contactos imediatos de 3º grau.

A minha experiência é tumultuosa e dispenso-me de fazer uma entrada separada para cada uma designando-as genericamente como a rua dos homens esquecidos porque nem há lugar a comparações com o teu sentido de humor que me rasa os olhos de lágrimas de alegria e me comprime a bexiga até ao segundo anterior ao da inundação de qualquer cadeira nem com a capacidade das tuas orelhas que superam largamente as de José Rodrigues dos Santos numa interacção oral que me dá a segurança de poder ser quem sou.

As minhas aptidões para o temperamento explosivo e a vontade determinada em não aceitar normas vigentes apenas porque existem alternam com uma meiguice quase infantil, o domínio de vocábulos franceses e alemães e outro vocabulário de cama assente no calão português, conjugado com um primordial uso da língua e de dedos esguios para uma pianada em corpo que se me apresente para ser tocado e quando vislumbro os teus olhos escuros e fundos só me apetece mergulhar neles para descobrir o interior dessa maquilhagem romântica que te individualiza e palpar-te os músculos naquilo que te irmana aos outros homens .

Se me atribuires esta responsabilidade de te fazer sentir vivo enquanto dure, podes me chamar Lulu que direi Oui, c'est moi.


Anexos:
- boletim de vacinação
- atestado de robustez física
- certificado do registo criminal

Cinderella: Drogada e Prostituida


crica para visitares a página John & John de d!o

18 outubro 2008

Soy yo


Soy yo.

Soy aire, en un escaparate
de cartón.

Soy piel, en un espejo
sin rubor.

Soy piel y aire – suplico -
para el amor.

Soy papel higiénico.

Soy yo.

El artista desnudo

«Acontece aos melhores» - diz a Didas

"O capelão da bolsa de valores de Londres, Reverendo Peter Mullen, está sob pressão para renunciar, após sugerir que os gays fossem obrigados a usar uma tatuagem nas nádegas com a frase: “sodomia pode prejudicar seriamente sua saúde”. Assim tipo maços de tabaco, não sei se estão a ver o estilo. O reverendo afirmou depois que os comentários eram peças de humor e que deveriam ser encaradas como 'piadas'. Ele também afirmou que tem muitos amigos homossexuais e que "não tem nada contra eles".
Compreendemos perfeitamente. Também nós aqui no farinha, às vezes, mandamos umas piadas para o ar que não têm ponta por onde se lhes pegue nem ninguém acha graça. Paciência! Acontece a todos.
Mas neste caso, até achámos a ideia do reverendo porreira, embora fosse mais gira aplicada aos padres, mas na testa. Eles hoje em dia têm a mania de andar por aí à civil e o incauto cidadão sempre podia atravessar a rua para o outro lado quando visse alguém a aproximar-se com a frase: “Bitates de padre não matam, mas moem”.
O que nos deixou mesmo perplexos foi isto: Para que raio a bolsa de valores de Londres tem um capelão? Para que serve?

Didas"

Curtas metragens - a quinta: «Intimidade»


Intimidade


Parceria com Porta Curtas

Interruptor


Bom marketing...

17 outubro 2008

As quecas amiguinhas..

Para atingirem a maturidade, há experiências que todas as mulheres têm de conhecer! Das mais pertinentes, são as quecas misericordiosas e o universal gesto da mão a empurrar a cabeça!
Nunca consegui compreender o que tem de mal o sexo por piedade! Se vocês têm um amigo que quer, precisa ou lhe faz falta, qual o drama de entreabrirem as pernas por uns minutinhos e permitir que o rapaz se vá lá saciar? Nem se lhe exige que colaborem muito para o acto! Podem perfeitamente estar ali de pernocas abertas a pensar na vida, no que vão fazer para jantar, que novidades há na Mango ou a que horas o vosso namorado chega a casa!
Compreendam que por estarem a pensar em outras coisas, não me parece que a vossa performance seja afectada: para uma mulher ser boa na cama, as mais das vezes apenas se exige que se coloquem deitadas em posição de franga e que depois do servicinho, deixem o tipo fumar e ir à sua vida, sem estarem a fazer aquelas perguntinhas tontas, tipo se foi bom para ti, se ainda me amas e respeitas depois de me comeres, se podem ficar com o troco!
Recusar uma queca piedosa ou pelo menos negar a alguém uma “mão ou boca amiga” é um gesto inaceitável do mais abjecto egoísmo feminino! Quando havia virgens, a coisa ainda se compreendia, porque o sangue deixa manchas e está demasiado frio para andar a lavar os lençóis! Mas, por que raio uma mulher que já foi estreada se arma em esquisitinha quando um amigo precisa de sexo? Será que está convencida que aquilo se estraga com demasiado uso? Ou que alarga?
Irrita-me solenemente uma máxima difundida por uma cambada de grelos ressabiados egoístas, que não se deve fazer o sexo com amigos, porque estraga a amizade! Retirando a inocência estúpida de não terem percebido que os vossos amigos homens apenas aturam os vossos tolos caprichos para vos tentarem comer a cueca, pergunto: mas se não fizerem o coito com amigos, vão fornicar com quem? Com um qualquer trolha mal lavado que as embebeda num bar, as come à pressa e enche de nódoas os bancos traseiros do carro? Mais. Desenrascar um amigo é não apenas um acto de solidariedade, como diminui drasticamente o risco de passar pela embaraçosa situação de esquecer o nome dele a meio do coito!
E o que dizer da feminina indignação sobre o universal gesto em que o macho, com a subtileza de um elefante numa loja de cristais, empurra a cabeça da fêmea em direcção ao músculo erecto do prazer? Com toda a certeza a minha boa leitora já sentiu o peso desta mão amiga na sua nuca e o meu respeitável leitor, pelo menos uma vez na sua patética existência, desesperado já foi lá com a mão, empurrando-a para o castigo! Todas as gajas com quem comentei o assunto são unânimes: já foram empurradas e não gostam que eles lhes pressionem a cabeça para a mamadinha! E fazem questão de se queixarem ruidosamente disso! Mas será que já pararam para pensar, já reflectiram e meditaram sobre esta intrincada querela? É que, se vocês abocanhassem espontaneamente, não era necessário um gajo estar a empurrar-lhes a cabeça… Da próxima, pensem nestas palavras e colaborem!