Agradeço a oportunidade que através da vossa revista me dão de repor a verdade nesta história da Branca de Neve. Quando conheci o pai dela eu pouco passava dos vinte aninhos e digamos que ele se afeiçoou ao sorriso pestanudo que eu lhe servia com o café da manhã em plena Baixa lisboeta. Depois ele começou a vir tomar outro a seguir ao almoço, outro a meio da tarde e outro ao final da tarde mesmo antes de ir para o Gambrinus e eu fui compelida a debruçar-me mais sobre o balcão para me amparar que uma mulher não é imune a estas atenções.
Não tenho é culpa nenhuma que a mãe dela tenha falecido no parto porque na altura não tinham a mínima consciência de fazer uma ecografiazeca e até foi um susto de primeira quando um empregado daquele romântico hotel de Sintra nos veio bater à porta do quarto para nos dar a triste notícia recebida no telefone da recepção. Isto tudo para explicar que nunca a Branca de Neve me tratou por madrasta que desde pequena a vivermos na mesma casa, ela sempre me tratou por tia em resposta aos meus a menina Biba isto, a menina Biba aquilo, a Bibita faça o favor de, tudo sempre numa economia de beijos, de um à vez atirado de raspão nas faces para não ficarmos todos besuntados como azeiteiros que uma pessoa da nossa estirpe tem de manter uma distância de segurança como os automóveis nas auto-estradas para não sermos atropelados por qualquer um.
Ela é que sempre se queixou de falta de abraços e de beijos lambuzados como se fosse uma miúda ranhosa de uma qualquer escola pública e foi problemático consegui-la fazer acreditar durante a juventude que sete namorados de uma assentada não se coadunava com o seu estatuto, sobretudo porque não ocultava o seu comportamento dos paparazzi e as fotos comprometedoras apareciam até na Hola espanhola.Foi aliás para seu bem que a enclausurei na redoma da nossa casa apenas exposta a filhos de famílias com bom nome na praça até um deles se decidir a dar-lhe um beijo em cheio nos lábios e não na face e agora vivem felizes para sempre na Quinta da Marinha.