Ele sente o pingo cair sobre o lençol. Passa a mão pela testa e fica com a mão encharcada. Sente o cabelo a escorrer. Desvia a cabeça para o lado, coloca as mãos abertas na cama e, sem parar, queixa-se:
– Não sei de onde é que isto vem.
– O quê? – pergunta ela.
– Este suor, este suor todo.
– Está calor – sugere ela, despreocupada.
– Sim, mas isto é não é normal.
– Eu também estou a suar.
– Estás? – Ele vê-lhe o cabelo desgrenhado, a testa ligeiramente brilhante e a face afogueada, sente o excesso de calor de ambos os corpos e imagina que há uma poça de água na barriga dela sob a barriga dele. Afasta a imagem nada erótica e fixa-se no brilho dos olhos dela e na fina película de suor que lhe plastifica o rosto. – Mas eu estou a destilar – protesta.
– Estás a fazer mais esforço – propõe ela com um sorriso.
– Esforço? – Ele finge-se ressentido mas sorri. – Não estou a fazer esforço nenhum.
– Não é isso... – refila ela, satisfeita. – Estás a mexer-te mais do que eu.
– Não consigo parar.
– Estou a ver... e a gostar.
– Parece que tenho um elástico nas ancas.
– Um elástico?
– Que me mantém neste movimento pendular.
– Como o alfa?
– Qual alfa? – pergunta ele, espantado mas sem parar. – O dos lobos?
– Quais lobos?
– Queres que pare?
– Não – responde ela, pronta e convictamente. – Sabe-me bem… Sabes-me bem.
– Eu não consigo…
– E os lobos? – questiona ela, entre meios suspiros de prazer. – Estavas a falar de que lobos?
– Lobos? – estranha ele, limpando o suor que continua a aparecer na testa. – Tu é que falaste no macho alfa, que é o macho dominante na alcateia.
– Eu? – suspira ela. – Eu quero lá saber dos lobos… Ah!...
Ele continua os movimentos rítmicos, entre suor, sorrisos, palavras, suspiros, suor...
– Eu estava a falar do alfa pendular – esclarece ela, sumidamente.
– Do comboio?
– Sim… – ela crava-lhe ligeiramente as unhas nas nádegas, passa-lhe as mãos pelas costas, sorri e dá-lhe uma palmada na nádega esquerda e depois na direita. – Não te vens?
– Mais?
– Já te vieste?
– Já.
– Então?
– Então, o quê?
– Não paras?
– Queres que pare?
– Não!
– Estou a sentir-me bem…
– Ninguém diria… A suares dessa maneira…
– Acho que é do xarope… – Ela dá-lhe uma palmada forte na nádega esquerda, ele finge que se queixa. – Foda-se!
– Caralho!
– Gosto de te foder!
– Eu gosto que me fodas, que me continues a foder, que tenhas um elástico nas ancas… Fode-me, caralho, fode-me!
– E de dizeres asneiras?
– Também, foda-se! E tu?
– Nem por isso.
– És um “granda” menino, foda-se!... Força! Força! Fode-me, fode-me com força, caralho!... Deixa-me virar! Levanta-te!
Ele levanta-se, põe-se de pé. Ela põe os pés na cama e deita o corpo sobre o colchão. Ele continua a suar. Cospe na palma da mão, que passa no caralho, lubrificando-o. Penetra-a. Ela põe o indicador e o dedo médio da mão direita na boca, chupa-os, molha-os e masturba-se enquanto ele ganha alento, força e velocidade, seguindo os gemidos dela, o ritmo que ambos seguem.
– Dá-me palmadas, caralho – pede ela, quase sem descerrar os dentes.
A cama move-se com as estocadas dele, ela não pára. Ele também não. Seguem a cama.
Ele sua. Ela vêm-se. Ele vêm-se. Ela não pára.
– Bendito xarope! – grita ela.
Ele faz um esgar de esforço em vez de um sorriso. A cama foge.
– Fode-me! Fode-me!
– Foda-se! – Ele ouve a sua própria voz, os seus gemidos, o som das palmadas nas nádegas, que vê irem e virem, chocarem contra si, chocar contra elas. – Foda-se!
Ele deixa correr um fio de saliva que se aloja entre as nádegas dela. A mão dela não pára. O suor continua a cair. As costas dela brilham. As nádegas brancas estremecem. Ele sai e entra. Entra e sai. Gosta de o ver, ainda duro, ainda pronto. Vazio mas sem vontade de parar, sem conseguir parar.
“Bendito xarope para a tosse!”
Ela abre um pouco mais as pernas, baixando-se, oferecendo-se… Ele gosta, cospe na mão, molha o sexo. A mão direita dela não pára. A esquerda aperta as mamas. Suam. Gemem. Há sons primordiais. Não reconhecem as próprias vozes. Ele penetra-a…
– Devagar… – sussurra ela. – Fode-me o cu devagar.
Ele tenta conter-se. Entra e sai mas não todo. Ainda lhe dá palmadas nas nádegas, de baixo para cima, de lado. Nem sempre saem bem, nem sempre sabem bem. Ela geme, ele geme…
– Foda-se! – Solta ele como se estivesse aflito. – Foda-se!
Há cheiros, há sensações primitivas, há um frenesim de ancas, de nádegas. Ela de joelhos fincados na cama, de mão estendidas agarrando os lençóis. Os movimentos aceleram. As estocadas são mais fortes. Ele cruza os braços, a mão esquerda na anca direita, a direita na anca esquerda, puxando-a mais para si. Ela acompanha, fortalece o ritmo, os movimentos, o choque…
E há um momento final.
– Foda-se – diz ela, estendida na cama, sentindo-o cair ao seu lado –, mas que espécie de xarope é que tomaste? Tens a certeza que era para a tosse?!