07 agosto 2009
06 agosto 2009
No Bairro do Amor
Esforçou-se com ultrapassadas mesuras e uma desusada educação. Com palavras meigas e gestos cavalheirescos. E resistiu. Resistiu ao tempo, à espera e à dúvida. Manteve-se atento e continuamente alerta. Sempre pronto. E, no fim – que devia ter sido um princípio –, conseguiu. A muito custo mas conseguiu. Deu-lhe a volta. “Ou ela a mim, que ainda estou para saber se somos nós que lhes damos a volta ou se são elas que nos dão a volta a nós.”
Vivia bem com a dúvida e ainda melhor com o resultado. Tinha conseguido, repetia para si, satisfeito e orgulhoso mas dissimulando sempre o sorriso.
“Acho que são elas. Sei. Elas querem, nós podemos. São elas mas eu não desisto e esforço-me com ultrapassadas mesuras e desusada atenção. Se não somos nós que decidimos, podemos, de todo o modo, ajudar à decisão. Eu ajudei. E com ela consegui. Consegui!”
Decidida a consumação, ficou ele de organizar toda a logística necessária. Com aproximações e recuos, um afastamento estratégico na semana anterior e sms trocados só nas horas de trabalho, acabou por chegar numa terça à tarde a mensagem tão ansiada:
“Amanhã das 2 às 6 seremos um jinhos”
Ele inchou, abriu um raro sorriso de orelha a orelha, as palmas das mãos suaram e respondeu com promessas desbocadas e fantasiosas do que lhe iria fazer.
Passou a manhã de quarta numa excitação adolescente preparando tudo e preparando-se, arranjou uma mentira esfarrapada e meteu a tarde, com o ar mais euforicamente comprometido que alguém vira na secção.
– Semedo! – chamou o chefe, vendo o subalterno de casaco pelas costas a aproximar-se da porta de saída, depois de uma despedida quase inaudível.
O Semedo estacou, sentiu o coração disparar como se tudo fosse ficar sem efeito, voltou-se para trás com cara de enterro e olhando em volta, evitou cruzar o olhar com o do chefe.
– Diga?
O chefe levantou-se, rodeou a secretária, aproximou-se dele, pôs-lhe a mão no ombro e encaminhou-o para a porta.
– Ó homem – o chefe falava baixo para ninguém ouvir –, tome cuidado…
– Diga?!
– Olhe que hoje em dia todos os cuidados são poucos e…
– O chefe está a falar de quê?
O chefe deu-lhe uma significativa palmadinha do ombro, desarmando-o:
– Preservativos, Semedo, preservativos.
O Semedo olhou-o, sério e com os lábios cerrados. Abriu um ligeiríssimo sorriso sem mostrar os dentes e bateu suavemente com a mão no bolso do casaco.
O chefe aprovou com um aceno de cabeça mas renovou a recomendação em tom grave:
– Tenha cuidado, homem, tenha cuidado.
O Semedo levantou o polegar, agarrou a porta e saiu com um comentário mudo e um sorriso interior:
“Se tu soubesses.”
– Ah!... E, Semedo… – o chefe esperou que o homem olhasse para trás para concluir baixinho e com um piscar de olho a fazer as vezes de farpa: – Depois tem de me dizer se as duas latas deram algum resultado…
O subalterno apanhado na curva, enrubesceu, deitou-lhe um olhar furioso e saiu a resmungar.
14 horas.
Foram para um quarto numa pensão barata. Uma coisa estranha e prosaica. Tão ultrapassada e em desuso como as mesuras e a educação. Com um pé direito a perder de vista e águas correntes, quentes e frias, a sair aos bochechos de uma torneira com ar de relíquia oitocentista.
Ele ouvira falar em motéis com camas redondas e espelhos no tecto ou nos Íbis que facilitam entradas e saídas e têm outra limpeza e apertada comodidade, entre paredes de tijolo de sete revestidas a pladur, mas a idade dificultava-lhe as mudanças.
“Fiz-me homem numa pensão barata. Barata mas com tijolos de onze!”, justificava-se em silêncio.
E, com a certeza de saber o que ia encontrar, lá foram para a pensão, que tinha a vantagem de ser ali mesmo à mão e com uma paragem de autocarro quase ao pé, ainda que os olhares de esguelha, as boquinhas repugnadas e os comentários mortíferos que ela lhe lançou e à parede do edifício, não fossem nada agradáveis. “Mesuras e educação. Mesuras e educação”, repetia para si o homem, aparando-lhe todos os golpes.
“Fiz-me homem, essa é boa! Como se uma foda fizesse um homem! Talvez naquele tempo fizesse, que eu estava quase a ir para a guerra e ainda era um mancebo caga-tacos, sem nada de homem para além dos cotovelos esfolados de estar deitado na carreira de tiro. Fazia e era uma sorte não sairmos de lá com um esquentamento ou cheios de chatos. Havia um, o Jaime, que até nas sobrancelhas tinha chatos! E as gajas gostavam dele. Mas isso agora já nem há. Devem-se ter extinto, os chatos, que agora já não se apanham ou, pelo menos, ninguém se queixa. Se calhar, extinguiram-se com o Jaime, que ele já não lhes pode valer. No jardim das tabuletas não se apanha nada. Enfim…”
Levou-a. Ela teatralmente enojada, com ar de madalena arrependida, fazendo caretas por trás dos imensos óculos escuros, que não era mulher de pensões baratas e ele na excitação da conquista, no orgulho de, com a sua idade, ainda conseguir um engate, aparando-lhe as críticas e sorrindo complacente e compreensivo ao seu mal ensaiado nojo e deslocada honra.
– É o que se pode arranjar assim do pé para a mão, amor – dizia ele, açucarando-lhe os comentários ácidos, enquanto abria a porta para gigantes esqueléticos que dava acesso ao quarto.
Porta fechada e os dois a olharem um para o outro como dois parvinhos, no meio de um quarto pardacento, sem cor, nem brilho de espécie nenhuma.
“Acho que lhe devia ter dado um beijo mais molhado, mexer a língua como se vê nos filmes e pôr-lhe uma mão na nádega para sinalizar o meu interesse mas se nunca o fiz pareceu-me que se começasse naquele momento a coisa não ia sair muito bem. Um chocho e toca à despir para aproveitar tê-lo erguido, que é coisa que acontece cada vez mais raramente.”
– Não fechas o estore, Semedo? – perguntou ela antes de tirar o soutien.
– Queres? – perguntou ele, no meio do quarto, imobilizado pela voz dela e com ele a meia haste mas com inéditas comichões. – Fecho? – insistiu, como se não fosse isso o melhor que pudessem fazer.
Ela acenou que sim, ele fechou o estore e o quarto de cinzento pó passou quase a pó de carvão não fossem as gretas que deixou abertas para que ainda se vissem.
O candeeiro da mesa-de-cabeceira não acendia e ele, ainda que à socapa, ria-se nervosamente como um parvinho, enquanto ela, desenvolta e tranquila, mandou-o subir o estore meio palmo e enfiou-se na cama com o ar de quem vai para o dentista. E ele, sem saber se seria da luminosidade tristonha ou do ar displicente dela, sentia-o murchar mas, olhando-o, tal não se verificava. Apesar da sua súbita deprimente incerteza, o tesão parecia aumentar na proporção inversa.
Agarrou a fita do estore, subiu-o, deixando-o a meio palmo da pedra e foi atingido por um sussurro lançado da cama:
– Tens de ser meiguinho, Joaquim.
Que o deixou, ainda agarrado à fita puída e encardida, a sentir-se fora de pé, a pensar quem seria o Joaquim, se lhe havia de perguntar e se havia de ser meiguinho ainda que não se chamasse Joaquim.
Largou a fita e uniu as mãos para sentir o insubordinado membro: estava em brasa. Encolheu os ombros e decidiu mandar lixar o Joaquim, fosse lá ele quem fosse.
“Afinal, meu caro desconhecido Joaquim, sou eu que estou aqui. Vai-te lixar, Joaquim! Eu é que a vou comer”, disse para si, para se ouvir, para se concentrar. Para justificar de forma ínvia a extraordinária rigidez do seu sexo.
E dirigiu-se à cama, de peito feito, que a perspectiva de estar a encornar um marido conhecido e um Joaquim desconhecido deu-lhe um novo alento. Uma verticalidade e consistência de sentimentos e auto-estima para acompanhar o que se passava ao nível das virilhas.
Da cama ela largou as cuecas no chão, aparecidas do meio dos lençóis, e sorriu.
– Queres que te arrume as cuecas? – perguntou ele, com desusada… pois, isso.
– Deixa estar – disse ela, com um brilho estranho nos olhos, fixos na tesão primitiva, pré-biblica, demoníaca, que ele exibia. – Que belo caralho – ronronou. – Anda, garanhão! Vem-me foder! Vem-me foder com toda a força!
E ele tornou a ficar outra vez sem pé, sem encontrar o chão, que as mesuras e a educação só são ultrapassadas e desusadas nos outros. Que garanhão, foder e caralho não são palavras para saírem de bocas de senhoras, mesmo que as senhoras estejam nuas enfiadas numa cama de uma pensão barata, à espera de encornar o marido e o amante. E ele teve de voltar à fita, de se agarrar a ela e respirar fundo, pensar que os tempos são outros e puxar e desfazer e deixar o estore na mesma.
– Vem-me foder, amor – insistiu ela como se reclamasse com o empregado da pastelaria pelo atraso na meia de leite e na torrada. – Vem para a cama, foda-se, deixa lá o estore.
E ele cada vez com menos vontade, apesar da involuntária brutal tumescência do órgão.
– Com meiguice – disse ele, para ouvir a sua própria voz, enquanto caminhava lentamente para a cama, amaldiçoando o comprimido que, à cautela, tomara. – Com calma…
– Qual meiguice, qual carapuça – interrompeu ela, decidida. – À bruta, coração, que já não estamos a caminhar para novos. Se é para foder, é para foder… Meiguice e calma é para quem tem tempo… Tu já viste as horas?
Ele engoliu em seco e, sem responder, aproximou-se da cama, a invejar o Joaquim por não estar ali, a lembrar-se do marido a recomendar-lhe cuidado e a sentir que não conseguiria controlar muito mais tempo a necessidade de acção urgente que o órgão comunicava ao cérebro.
“Provavelmente, não devia ter tomado o comprimido com as duas latas de red bull”, ponderava arrependido, sem conseguir de só sentir o tesão, só o tesão.
– Hum! Anda cá – disse ela, num tom pegajoso de louva-deus no cio, enquanto afastava os lençóis e se esparramava na cama de pernas abertas esperando por ele. – Agora é que vamos ver se essas ultrapassadas mesuras e desusada educação se transformam numa memorável foda! Que grande caralho, Semedo… Anda! Anda!
E ele foi, contrariado, mas foi.
“Acho que são elas. Sei. Elas querem, nós podemos. São elas mas eu não desisto e esforço-me com ultrapassadas mesuras e desusada atenção. Se não somos nós que decidimos, podemos, de todo o modo, ajudar à decisão. Eu ajudei. E com ela consegui. Consegui!”
Decidida a consumação, ficou ele de organizar toda a logística necessária. Com aproximações e recuos, um afastamento estratégico na semana anterior e sms trocados só nas horas de trabalho, acabou por chegar numa terça à tarde a mensagem tão ansiada:
“Amanhã das 2 às 6 seremos um jinhos”
Ele inchou, abriu um raro sorriso de orelha a orelha, as palmas das mãos suaram e respondeu com promessas desbocadas e fantasiosas do que lhe iria fazer.
Passou a manhã de quarta numa excitação adolescente preparando tudo e preparando-se, arranjou uma mentira esfarrapada e meteu a tarde, com o ar mais euforicamente comprometido que alguém vira na secção.
– Semedo! – chamou o chefe, vendo o subalterno de casaco pelas costas a aproximar-se da porta de saída, depois de uma despedida quase inaudível.
O Semedo estacou, sentiu o coração disparar como se tudo fosse ficar sem efeito, voltou-se para trás com cara de enterro e olhando em volta, evitou cruzar o olhar com o do chefe.
– Diga?
O chefe levantou-se, rodeou a secretária, aproximou-se dele, pôs-lhe a mão no ombro e encaminhou-o para a porta.
– Ó homem – o chefe falava baixo para ninguém ouvir –, tome cuidado…
– Diga?!
– Olhe que hoje em dia todos os cuidados são poucos e…
– O chefe está a falar de quê?
O chefe deu-lhe uma significativa palmadinha do ombro, desarmando-o:
– Preservativos, Semedo, preservativos.
O Semedo olhou-o, sério e com os lábios cerrados. Abriu um ligeiríssimo sorriso sem mostrar os dentes e bateu suavemente com a mão no bolso do casaco.
O chefe aprovou com um aceno de cabeça mas renovou a recomendação em tom grave:
– Tenha cuidado, homem, tenha cuidado.
O Semedo levantou o polegar, agarrou a porta e saiu com um comentário mudo e um sorriso interior:
“Se tu soubesses.”
– Ah!... E, Semedo… – o chefe esperou que o homem olhasse para trás para concluir baixinho e com um piscar de olho a fazer as vezes de farpa: – Depois tem de me dizer se as duas latas deram algum resultado…
O subalterno apanhado na curva, enrubesceu, deitou-lhe um olhar furioso e saiu a resmungar.
14 horas.
Foram para um quarto numa pensão barata. Uma coisa estranha e prosaica. Tão ultrapassada e em desuso como as mesuras e a educação. Com um pé direito a perder de vista e águas correntes, quentes e frias, a sair aos bochechos de uma torneira com ar de relíquia oitocentista.
Ele ouvira falar em motéis com camas redondas e espelhos no tecto ou nos Íbis que facilitam entradas e saídas e têm outra limpeza e apertada comodidade, entre paredes de tijolo de sete revestidas a pladur, mas a idade dificultava-lhe as mudanças.
“Fiz-me homem numa pensão barata. Barata mas com tijolos de onze!”, justificava-se em silêncio.
E, com a certeza de saber o que ia encontrar, lá foram para a pensão, que tinha a vantagem de ser ali mesmo à mão e com uma paragem de autocarro quase ao pé, ainda que os olhares de esguelha, as boquinhas repugnadas e os comentários mortíferos que ela lhe lançou e à parede do edifício, não fossem nada agradáveis. “Mesuras e educação. Mesuras e educação”, repetia para si o homem, aparando-lhe todos os golpes.
“Fiz-me homem, essa é boa! Como se uma foda fizesse um homem! Talvez naquele tempo fizesse, que eu estava quase a ir para a guerra e ainda era um mancebo caga-tacos, sem nada de homem para além dos cotovelos esfolados de estar deitado na carreira de tiro. Fazia e era uma sorte não sairmos de lá com um esquentamento ou cheios de chatos. Havia um, o Jaime, que até nas sobrancelhas tinha chatos! E as gajas gostavam dele. Mas isso agora já nem há. Devem-se ter extinto, os chatos, que agora já não se apanham ou, pelo menos, ninguém se queixa. Se calhar, extinguiram-se com o Jaime, que ele já não lhes pode valer. No jardim das tabuletas não se apanha nada. Enfim…”
Levou-a. Ela teatralmente enojada, com ar de madalena arrependida, fazendo caretas por trás dos imensos óculos escuros, que não era mulher de pensões baratas e ele na excitação da conquista, no orgulho de, com a sua idade, ainda conseguir um engate, aparando-lhe as críticas e sorrindo complacente e compreensivo ao seu mal ensaiado nojo e deslocada honra.
– É o que se pode arranjar assim do pé para a mão, amor – dizia ele, açucarando-lhe os comentários ácidos, enquanto abria a porta para gigantes esqueléticos que dava acesso ao quarto.
Porta fechada e os dois a olharem um para o outro como dois parvinhos, no meio de um quarto pardacento, sem cor, nem brilho de espécie nenhuma.
“Acho que lhe devia ter dado um beijo mais molhado, mexer a língua como se vê nos filmes e pôr-lhe uma mão na nádega para sinalizar o meu interesse mas se nunca o fiz pareceu-me que se começasse naquele momento a coisa não ia sair muito bem. Um chocho e toca à despir para aproveitar tê-lo erguido, que é coisa que acontece cada vez mais raramente.”
– Não fechas o estore, Semedo? – perguntou ela antes de tirar o soutien.
– Queres? – perguntou ele, no meio do quarto, imobilizado pela voz dela e com ele a meia haste mas com inéditas comichões. – Fecho? – insistiu, como se não fosse isso o melhor que pudessem fazer.
Ela acenou que sim, ele fechou o estore e o quarto de cinzento pó passou quase a pó de carvão não fossem as gretas que deixou abertas para que ainda se vissem.
O candeeiro da mesa-de-cabeceira não acendia e ele, ainda que à socapa, ria-se nervosamente como um parvinho, enquanto ela, desenvolta e tranquila, mandou-o subir o estore meio palmo e enfiou-se na cama com o ar de quem vai para o dentista. E ele, sem saber se seria da luminosidade tristonha ou do ar displicente dela, sentia-o murchar mas, olhando-o, tal não se verificava. Apesar da sua súbita deprimente incerteza, o tesão parecia aumentar na proporção inversa.
Agarrou a fita do estore, subiu-o, deixando-o a meio palmo da pedra e foi atingido por um sussurro lançado da cama:
– Tens de ser meiguinho, Joaquim.
Que o deixou, ainda agarrado à fita puída e encardida, a sentir-se fora de pé, a pensar quem seria o Joaquim, se lhe havia de perguntar e se havia de ser meiguinho ainda que não se chamasse Joaquim.
Largou a fita e uniu as mãos para sentir o insubordinado membro: estava em brasa. Encolheu os ombros e decidiu mandar lixar o Joaquim, fosse lá ele quem fosse.
“Afinal, meu caro desconhecido Joaquim, sou eu que estou aqui. Vai-te lixar, Joaquim! Eu é que a vou comer”, disse para si, para se ouvir, para se concentrar. Para justificar de forma ínvia a extraordinária rigidez do seu sexo.
E dirigiu-se à cama, de peito feito, que a perspectiva de estar a encornar um marido conhecido e um Joaquim desconhecido deu-lhe um novo alento. Uma verticalidade e consistência de sentimentos e auto-estima para acompanhar o que se passava ao nível das virilhas.
Da cama ela largou as cuecas no chão, aparecidas do meio dos lençóis, e sorriu.
– Queres que te arrume as cuecas? – perguntou ele, com desusada… pois, isso.
– Deixa estar – disse ela, com um brilho estranho nos olhos, fixos na tesão primitiva, pré-biblica, demoníaca, que ele exibia. – Que belo caralho – ronronou. – Anda, garanhão! Vem-me foder! Vem-me foder com toda a força!
E ele tornou a ficar outra vez sem pé, sem encontrar o chão, que as mesuras e a educação só são ultrapassadas e desusadas nos outros. Que garanhão, foder e caralho não são palavras para saírem de bocas de senhoras, mesmo que as senhoras estejam nuas enfiadas numa cama de uma pensão barata, à espera de encornar o marido e o amante. E ele teve de voltar à fita, de se agarrar a ela e respirar fundo, pensar que os tempos são outros e puxar e desfazer e deixar o estore na mesma.
– Vem-me foder, amor – insistiu ela como se reclamasse com o empregado da pastelaria pelo atraso na meia de leite e na torrada. – Vem para a cama, foda-se, deixa lá o estore.
E ele cada vez com menos vontade, apesar da involuntária brutal tumescência do órgão.
– Com meiguice – disse ele, para ouvir a sua própria voz, enquanto caminhava lentamente para a cama, amaldiçoando o comprimido que, à cautela, tomara. – Com calma…
– Qual meiguice, qual carapuça – interrompeu ela, decidida. – À bruta, coração, que já não estamos a caminhar para novos. Se é para foder, é para foder… Meiguice e calma é para quem tem tempo… Tu já viste as horas?
Ele engoliu em seco e, sem responder, aproximou-se da cama, a invejar o Joaquim por não estar ali, a lembrar-se do marido a recomendar-lhe cuidado e a sentir que não conseguiria controlar muito mais tempo a necessidade de acção urgente que o órgão comunicava ao cérebro.
“Provavelmente, não devia ter tomado o comprimido com as duas latas de red bull”, ponderava arrependido, sem conseguir de só sentir o tesão, só o tesão.
– Hum! Anda cá – disse ela, num tom pegajoso de louva-deus no cio, enquanto afastava os lençóis e se esparramava na cama de pernas abertas esperando por ele. – Agora é que vamos ver se essas ultrapassadas mesuras e desusada educação se transformam numa memorável foda! Que grande caralho, Semedo… Anda! Anda!
E ele foi, contrariado, mas foi.
05 agosto 2009
Regulamento Policial das Meretrizes
O Mano Manuel ofereceu-me este mimo do Governo Civil de Ponta Delgada (coitaditos...), publicado no «Diário do Governo» nº 51, 2ª série, de 2 de Março de 1932.
O primeiro regulamento deste tipo tinha surgido em 1858, em Lisboa.
Como explica Inês Fontinha, "foi a questão do moralismo que inspirou os ideólogos do sistema regulamentarista que vigorou em Portugal até 1963 e que tem como objectivo «a necessidade de sujeitar a rigorosa inspecção as meretrizes» a fim de «prevenir e acautelar os males que resultam para a moral, saúde e segurança pública, da notável relaxação em que se acha esta classe miserável» como se refere na introdução do Regulamento Policial das Meretrizes e Casas Toleradas da Cidade de Lisboa de 1858. (...) Distinguem-se as mulheres que vivem em comum sob a direcção da «dona ou directora de Casa Tolerada» e as que habitam sós em casa própria. A meretriz (mulher que, por costume, se entrega a um e a outro por dinheiro) a fim de ser tolerada era obrigada a matricular-se num livro de registo ou na administração local. Possuia obrigatoriamente um livrete com os seus dados pessoais que teria de apresentar à inspecção sanitária ou à polícia sempre que o requeressem. Proibiam-se arrendamentos e mudanças de habitação sem prévia autorização,ausências superiores a cinco dias da área de residência, a coabitação com filhos maiores de três anos e impunha-se a declaração obrigatória das gravidezes. Interditava-se a presença de prostitutas em lugares públicos e requeria-se a «maior severidade para com as faltas à decência» (...) No caso da tolerada abandonar a prostituição por casamento ou tutela dos pais, continuava objecto de vigilância policial. No que diz respeito aos clientes, os regulamentos são omissos."
Recomendo a leitura de:
> artigo «As Toleradas - Condição feminina e prostituição nos séculos XIX e XX» de Vanda Germano na revista «al Gharb» nº 02/08 (pp. 19 - 28);
> tese «Prostituição de Rua: Um problema de saúde pública? Contributos para o seu estudo» de Rodrigo Alves Moreira
O Charlie recomenda a canção «Geni e o Zeppelin» de Chico Buarque:
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Co'os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni....
Chico Buarque"
São pequenas pérolas como este pedido de dedicatória que me fazem pensar que a vida pode ser bela
"São,
Vou oferecer o belíssimo diciOrdinário ilustrado ao meu namorado para ficar lá em casa a marcar o ínicio da nossa vida em comum. Adorava contar com a criatividade dos autores numa dedicatória. O menino chama-se P. A.!
Obrigada!
Ana A. F."
Usufruto - sexo com vegetais. Como o soldado açoriano que explicou uma receita ao oficial de dia: "Uma abóbora madurinha, batidinha pelo sol, faz-se-lhe um buraquinho e não há nada melhor".
Amostra gratuita do DiciOrdinário Ilustarado, à venda nas livrarias e aqui.
Vou oferecer o belíssimo diciOrdinário ilustrado ao meu namorado para ficar lá em casa a marcar o ínicio da nossa vida em comum. Adorava contar com a criatividade dos autores numa dedicatória. O menino chama-se P. A.!
Obrigada!
Ana A. F."
Amostra gratuita do DiciOrdinário Ilustarado, à venda nas livrarias e aqui.
04 agosto 2009
O DiciOrdinário também já está na BukNet
E em excelente companhia: na pesquisa de literatura erótica, os dois resultados são o DiciOrdinário... e o menos conhecido Trópico de Capricórnio, de Henry Miller.
___________________
O DiciOrdinário IlusTarado está à venda nas livrarias. Mas podes encomendar aqui e recebê-lo pelo correio, com uma dedicatória personalizada. E ainda há alguns (poucos) exemplares assinados pelos três autores.
___________________
Santoninho - "Oh... book até está mal escrito..."
São Rosas - "Pois está! É buque."
Santoninho - "É... bouquet fica mais aromático..."
São Rosas - "E boquete fica mais saboroso."
Charlie - "Este Diciordinário é mesmo muito ordinário..."
São Rosas - "Obrigada!"
___________________
O DiciOrdinário IlusTarado está à venda nas livrarias. Mas podes encomendar aqui e recebê-lo pelo correio, com uma dedicatória personalizada. E ainda há alguns (poucos) exemplares assinados pelos três autores.
___________________
Santoninho - "Oh... book até está mal escrito..."
São Rosas - "Pois está! É buque."
Santoninho - "É... bouquet fica mais aromático..."
São Rosas - "E boquete fica mais saboroso."
Charlie - "Este Diciordinário é mesmo muito ordinário..."
São Rosas - "Obrigada!"
03 agosto 2009
Alis Volat Propriis
Sabes o que quer dizer? Eu tive que ir pesquisar...
Podes ver aqui esta frase em latim no seu contexto, que se chama Janine Lindemulder e está presa por não pagar IRS na terra dela (Califórnia).
Já viram um operador de caixa a passar o leitor pelo código de barras do DiciOrdinário?
O código de barras do livro, colocado na badana da contracapa, é original. Só foi pena que o atraso na edição não permitisse que esta nossa "homenagem a Gustave Courbet" estivesse nas livrarias na altura devida: a 23 de Fevereiro, quando "a PSP de Braga apreendeu numa feira de livros de saldo alguns exemplares de um livro sobre pintura. A polícia considerou que o quadro do pintor Gustave Courbet, reproduzido nas capas dos exemplares, era pornográfico."
__________________________
O DiciOrdinário IlusTarado está à venda nas livrarias. Mas podes encomendar aqui e recebê-lo pelo correio, com uma dedicatória personalizada. E ainda há alguns exemplares assinados pelos três autores. Se pedires com jeitinho...
Videoclip baseado na música «Down Like I» de Anna Ternheim
Mais um trabalho do blog Garm's Kiss para pôr a malta a pensar sobre onde começa e acaba a pornografia.
Subscrever:
Mensagens (Atom)