



Já vos tinha dito que adoro publicidade?
Não resisti a comprar estas três "notas" francesas que, na realidade, são publicidade à Clair de Lune, uma rede de lojas de artigos de cama (nobre actividade).


Um dia contei-te, São, como foi a minha primeira vez. Como foi frustrante, triste, pobre. Mas acho que não te contei como foi a relação que tive com esse homem. Não te contei como ele me humilhava, me brutalizava. Não te contei como me encolhia, me tolhia, me fazia pequena e amedrontada. Acho que nunca te disse, São, que a posse doentia de que eu era objecto –e acredita, objecto é a palavra mais precisa- essa posse doentia me ensombra ainda hoje. Não te contei que o peso dessa relação ainda hoje determina quem eu sou comigo, quem eu sou com os outros. Não te contei muitas coisas porque há coisas que não se dizem, de tão feias. Não te contei porque eu era tão nova, tão crédula, de alguma forma, até, tão inocente, que hoje tenho vergonha. Não te contei muitas coisas, São, porque, às vezes, parece que se calarmos certas memórias, elas talvez fiquem quietas no fundo da gaveta. Talvez se não as acordarmos, elas não se mexam, não nos perturbem. E então, não te contei. Houve muitas coisas que não te contei, São, muitas coisas que não te posso contar. Mas posso dizer-te que eu hoje sou a mulher que sou, em parte devido a um conjunto pesado e negro de circunstâncias, ligadas a este homem, que assim me fizeram.