Um dia contei-te, São, como foi a minha primeira vez. Como foi frustrante, triste, pobre. Mas acho que não te contei como foi a relação que tive com esse homem. Não te contei como ele me humilhava, me brutalizava. Não te contei como me encolhia, me tolhia, me fazia pequena e amedrontada. Acho que nunca te disse, São, que a posse doentia de que eu era objecto –e acredita, objecto é a palavra mais precisa- essa posse doentia me ensombra ainda hoje. Não te contei que o peso dessa relação ainda hoje determina quem eu sou comigo, quem eu sou com os outros. Não te contei muitas coisas porque há coisas que não se dizem, de tão feias. Não te contei porque eu era tão nova, tão crédula, de alguma forma, até, tão inocente, que hoje tenho vergonha. Não te contei muitas coisas, São, porque, às vezes, parece que se calarmos certas memórias, elas talvez fiquem quietas no fundo da gaveta. Talvez se não as acordarmos, elas não se mexam, não nos perturbem. E então, não te contei. Houve muitas coisas que não te contei, São, muitas coisas que não te posso contar. Mas posso dizer-te que eu hoje sou a mulher que sou, em parte devido a um conjunto pesado e negro de circunstâncias, ligadas a este homem, que assim me fizeram.
Passaram mais de vinte anos. Esse homem que foi a minha primeira vez, foi também o meu primeiro amor. Foi-o, claro, antes de todas as desilusões, de todas as agressões. Esse homem, São, tinha agora quarenta anos e achou que não valia a pena continuar a viver. Atou meticulosamente uma corda no cimo das escadas da casa onde vivia, esvaziou os bolsos, arrumou as coisas a um canto, e deixou-se morrer na ponta dessa corda. Por tristeza, disseram-me depois. Disse a mim mesma, durante os primeiros dias, que não tinha feito por merecer mais. Voltei atrás no tempo e pensei que, com toda a certeza, se tivesse ficado com ele, quem estaria agora morto era eu. Às suas mãos. Mas nem isso alivia esta… coisa que me oprime o peito. Saber que o primeiro homem que amei, o primeiro homem com quem me deitei está morto, por sua escolha. Nesta semana que passou já tive tempo para voltar a ficar zangada com ele, pelo que fez. Porque, de alguma forma, também com a sua morte me vai marcar. Também com a sua morte me marcou.
Passaram mais de vinte anos. Esse homem que foi a minha primeira vez, foi também o meu primeiro amor. Foi-o, claro, antes de todas as desilusões, de todas as agressões. Esse homem, São, tinha agora quarenta anos e achou que não valia a pena continuar a viver. Atou meticulosamente uma corda no cimo das escadas da casa onde vivia, esvaziou os bolsos, arrumou as coisas a um canto, e deixou-se morrer na ponta dessa corda. Por tristeza, disseram-me depois. Disse a mim mesma, durante os primeiros dias, que não tinha feito por merecer mais. Voltei atrás no tempo e pensei que, com toda a certeza, se tivesse ficado com ele, quem estaria agora morto era eu. Às suas mãos. Mas nem isso alivia esta… coisa que me oprime o peito. Saber que o primeiro homem que amei, o primeiro homem com quem me deitei está morto, por sua escolha. Nesta semana que passou já tive tempo para voltar a ficar zangada com ele, pelo que fez. Porque, de alguma forma, também com a sua morte me vai marcar. Também com a sua morte me marcou.
Filho da puta.
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