Quando ele entrou no quarto, de toalha pelos ombros, ainda ela estava nua, junto aos pés da cama, de pele húmida, limpando as últimas gotas com uma toalha amarela, turca, que combinava bem com o seu tom de pele e com o cabelo. De costas para ele, sentiu-o entrar no quarto pelo ranger da madeira. Mas não se inquietou. Houve, sim, hesitação nos passos dele, um momento breve em que os passos passaram a centímetros. Mas então, resoluto, avançou para ela e deixando cair a toalha, com engenhosa manobra de mão no ombro e outra na nuca, virou-a para si e puxou-a para um beijo. Tocaram-se os lábios, invadiram-se as bocas com línguas sedentas, os corpos juntos e frescos, os mamilos dela erectos e a pele vagamente arrepiada.
No final do beijo, medido com precisão, entre a ânsia do ter e do não atrasar demasiado o depois, empurrou-a com aparente violência para cima da cama. A expressão dela transformou-se por um instante, uma face de surpresa que num instantâneo fotográfico pareceria reacção a violência gratuita. Mas logo se alterou, e do espanto motivado pelo abrupto do empurrão passou a um sorriso matreiro, e depois, mordendo ligeiramente o lábio, provocante. Estava caída na cama, de tronco ligeiramente erguido, apoiada sobre os cotovelos. Uma perna totalmente estendida, a outra dobrada num ângulo quase recto, como recto estava ele com a visão daquela nudez disponível. Perna essa que ela deixou tombar, e caíndo de lado revelava a sua vulva, bonita, tratada, com sinais discretos de uma humidade apetitosa.
Debruçando-se sobre a cama, mas sem lhe tocar demasiado, aproximou-se dos seus ouvidos e disse-lhe “és tão doce”. Ela sorriu enquanto a cabeça acompanhava o movimento e se aproximava dele, e com os lábios juntos à orelha perguntou-lhe «é por ti que o dizes? provaste-me ou ouviste dizer?». E ele repetiu “és tão doce”. Para não se esquecer. Porque as coisas que se dizem duas vezes gravam mais fundo. E então ela cruza uma perna por trás dele, e aperta-o. E como o pé vai subindo e descendo sobre a perna dele, e os braços agarram-no. E de novo lhe diz, baixinho e ao ouvido «prova-me agora. Possui-me!». Nada disto era discurso contemporâneo. As pessoas já não se possuem. Comem-se, fodem-se, amam-se. Mas não se possuem. Mas ela sabia que ele queria ouvir isso. E ela queria muito ser possuída, entregar-se, abrir-se, perder o controlo de si mesma e deixar-se comer e foder, talvez amar, à sua maneira, à maneira dele.
Deslizando, beijando-lhe o pescoço, os ombros, os mamilos, a barriga, provou-a. Naquele calor e sumo venerandos, o sabor que nunca cansa, de um fruto delicado. Tinha para ele, e nada ali o fazia duvidar, que as vulvas eram presente divino, banquete real, para degustar sem fim. Sem o poder ver, porque se deleitava de olhos cerrados, para intensificar o sabor, imaginava que ela se transfigurasse, que a sua boca assumisse muitas formas, que a sua face sofresse muitas transformações enquanto os seus músculos se confundiam na discussão sobre a melhor forma de demonstrar o prazer, ou como se controlar perante estímulos tão intensos. Pelo movimento das pernas dela, tudo o fazia crer. Começaram tensas, mas depois quebraram-se num estilhaço, abrindo para lá do que era de abrir, arqueando-se as costas, ondulando a barriga, comandando ela o rigor com que a sua vulva se castigava contra ele. E as mãos, uma repuxando pêlos púbicos, outra repuxando os cabelos dele – mais um pouco e ficariam carecas, os dois, cada um ao seu jeito -.
Quando o orgasmo se abateu sobre ela, saiu-lhe das cordas vocais um gemido longo e quase agudo. Apertou-lhe a cabeça entre as pernas, e depois deixou-se cair sem cair. Sem mudar de plano, estendida sobre a cama, deu de si, relaxou todos os músculos e sentiu-se rendida, rindo nervosamente. E a sua vulva, mais bela que nunca, viva, pulsante, e a face, ruborizada, perdida do mundo, perdida de tudo. Ele recompôs-se e disse-lhe, pela terceira vez “és tão doce. Muito doce”. «Então beija-me». E depois. «E fode-me». E acrescentando «toda!».