Não te venhas
Calma…
Vá…
Vá,
Calma,
Devagar,
Agora!
Aí…
Vá….
Aí… aí… ai ai!
Mais abaixo,
Para cima… ai!
Mais força,
Não magoes! Ai…
Suave
Bolas! Aiiiiiii…
Porque é que nunca acertas, pá?!
Foto e poesia de Paula Raposo


A seguir, saltando para a Europa, temos, a título de exemplo, duas capas. A da edição Grega, e a da edição Húngara.
Temos ainda a edição Venezuelana, que quanto a mim é fraquinha (a capa) mas também é de Dezembro de 2009.
Entraste-me belíssima pela porta. Com tudo aquilo que tu sabias que eu gostaria de ver. Terias causado, na rua, sérios problemas, porque todos os pedreiros e serventes se empurrariam nos andaimes para melhor te ver passar. Carros terão parado em semáforos verdes, transeuntes terão deixado cair os seus maxilares. Cabelo penteado sem mínima imperfeição, a roupa certa para seduzir, os gestos e as palavras que tinhas de usar.
Passou-se o resto de dia e a noite seguinte em tudo quanto se queria fazer. O argumento era curto, tinha poucas palavras. Tentámos ensaiar, ainda, algumas deixas, mas interromperam-se depressa na primeira cena com um beijo. Era para ser ligeiro, mas durou horas. No palco de molas chegámos ao fim doridos. Dos lábios sentidos de tanto desafio, as pernas trémulas das fantasias de circo, as coisas que se escondem com indisfarçável rubor do que não parou num movimento ritmado como bielas de máquina a vapor que puxa, a pouca-terra-pouca-terra nesses lençóis que não chegavam para nós e que se faziam chão, banheira, mesas e ombreiras, paredes para encostar. E joelhos. Esfolados. Doridos das omoplatas, e eu dos braços, de te segurar.
No dia seguinte eramos um farrapo. Serias incapaz de fazer parar pedreiros e serventes, e eu, incapaz de pouca-terra-pouca-terra. E a peça tinha ficado por ensaiar. Seria preciso viver tudo de novo, e de novo, até que a primeira cena com um beijo não nos fizesse cair no palco.
