04 janeiro 2010

Postalinho de Torres Novas

A propósito da Desfolhada do Shark, recebi um postalinho no Clube de membros e membranas do blog a funda São:

"Há uma estátua de uma folha ratola na minha terra"
Nuno Silva


Torres Novas - Estátua no Jardim

Avental comprado em Itália

Tenho tantas t-shirts, toalhas, aventais, panos bordados,... na minha colecção que até poderia abrir uma sexão (sim, sim, é o novo acordo ortográfico) de têxteis lar.
Comprei este aventalinho em Roma... e já mora na minha colecção.

03 janeiro 2010

Blind date



Marcámos encontro.

Sabíamos pouco um do outro:
o sexo, o nome e a idade.
Tínhamos trocado algumas fotos
(cada um de nós pensando
que as fotos podiam ser
de outra pessoa qualquer!)
e avançámos para o conhecimento
pessoal, cara a cara, corpo a corpo.
Dizer que ficámos de boca aberta
- de espanto positivo -
seria mentir.
- Adeus, boa tarde, foi um prazer.

E cada um foi à sua vida;
felizmente.

Foto e poesia de Paula Raposo

Tempo de anoitecer (Epilogue) @MissJoanaWell


Não quero madrugar na tua noite, quero que anoiteças no meu dia.
Não me interessa se o teu Planeta tem vários Sóis. Eu sou Lua. Não existo nas mesmas horas que as tuas Estrelas. Existo na tua hora.
Talvez ainda não saiba como é. Mas talvez saiba como devia ser. E isso basta-me.
Este é o meu anoitecer. Atende ao compasso ou amanhece daqui para fora.

O tempo não é a medida do meu peito. Aqui dentro não mora o que passa.
Quando morrer amanhã, serei, hoje, eternamente tua.
As nossa palavras só têm segundos de distância. Como nós, enquanto as tivermos.
Tu, talvez não. Hoje vai estar colado ao resto dos meus dias. Mesmo que te coles ao meu "nunca mais". Serás sempre hoje.

Não, não é uma bola, o que te dei. É um Mundo. O meu.

Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2

Cena do filme «Bonitinha mas ordinária», onde Lucélia Santos se diverte com 5 negros à frente do marido, que fica no carro a ver tudo.



Lucélia Santos - Bonitinha Mas Ordinária 2
by EunusRex

Sexo vaginoral


crica para visitares a página John & John de d!o

02 janeiro 2010

Erotismo num crepúsculo de Janeiro

Para uma tarde de Janeiro estava até bastante quente, com os seus dezoito graus Celsius. Quando se tem pouco cabelo, até uma brisa mais ligeira se nota, agitando os poucos cabelinhos curtos que resistem. Consigo dizer que havia uma brisa ligeira nessa tarde. O sol, já muito baixo no horizonte, projectava sombras longas das pessoas que caminhavam no passadiço entre o hotel e a costa rochosa. O mar batia nos grandes blocos de granito e por vezes salpicava, havia o cheiro no ar, do sal, do sargaço, e de perfume.

Chegaste e sentaste-te em silêncio com as tuas botas pretas de camurça, meias pretas opacas e saia, também preta, acima do joelho. Sabias que ia reparar nisso. Ao longo dos anos fui aperfeiçoando a capacidade de ver sem olhar, e de olhar de lado sem cansaço. Como permanecia em silêncio, perguntaste, «não dizes nada?».

Não. Não tinha dito nada. Tinha apenas ficado a pensar no momento. No que aquilo era. A sentir a cadeira sob mim, o copo na minha mão, o sol que ainda me iluminava a cara, e a tua figura ao lado, enquanto permaneciamos naquela varanda de quarto de hotel. Há muitos, muitos anos atrás qualquer pornografia chegava. Quando se é adolescente o que se quer é sexo, muito sexo, sempre sexo. Não precisa de preparação, precisa de instruções mas não queremos saber, pode vir a qualquer hora, em qualquer lugar. Há muitos anos atrás, uma porcaria nórdica qualquer, ou um da Cicciolina, serviria perfeitamente. E qualquer mulher, sem grandes arranjos, serviria. Quando finalmente viro a cara e te observo acabo por te dizer que «mas agora é tudo tão diferente. Acho que umas loiras nórdicas já não me deixariam feliz, ainda que fossem duas, ou três».

Não creio que fizesse qualquer tipo de sentido para ti. Não entenderias. Não esperaria que entendesses. Estavas recostada na cadeira mas endireitaste-te e chegaste-te um pouco à frente. Estavas à minha direita, e tinhas a tua perna direita um pouco mais à frente que a esquerda, que dobraste um pouco mais quando te reposicionaste na cadeira. A saia subiu um pouco, ficou solidária com o têxtil que te servia de assento e deixou-me ver o contrastre da pele branca das tuas coxas, com o preto das meias que as dividiam em dois, que insistiam em manter-se no lugar por teimosa silicone. Disfarcei.

- Mas tu nem gostas de loiras! E que ias tu fazer com duas, quanto menos três? – e rias, bem disposta.

Faria com duas ou com o três o mesmo que com uma. Existia na minha cabeça imaginação suficiente para me entreter. Mas o importante já nem era isso. O importante é que eu já não queria duas ou três, já não queria sexo em pacote, do tipo instantâneo. Queria erotismo. Não imaginava que me entendesses.

- Nem sempre o que importa é foder. Repara… seria para mim, agora e já, muito mais excitante poder tocar-te sem fronteiras, dar-te prazer, e nunca te foder. Assim, pelo menos, a sedução seria mais longa. Talvez até nunca terminasse.

- Eu sei. Não quero que me fodas. Mas podes tocar-me. Se quiseres. Eu entendo.

Correndo os fechos tiraste primeiro uma bota, depois a outra. E mesmo aí usaste todos os truques, nunca pousando totalmente os pés no chão, a não ser para caminhar, e mesmo assim, mal apoiando o calcanhar no chão. Mesmo sentada, enquanto tiravas a segunda bota, mantiveste o teu pé esquerdo esticado, dando tensão muscular à perna, moldando-a tão bem. Tão bem. Sabias claramente o que estavas a fazer. Mas estava já fresco, começava a instalar-se a noite, uma noite de Janeiro, com o céu limpo. Entraste no quarto. Do lado de fora, ainda sentado na varanda, podia ver-te lá dentro deixando cair a saia no chão. As botas estavam cá fora, as meias pretas estavam lá dentro, nas tuas pernas, a saia estava no chão. A camisola felpuda estava agora a sair, revelando um soutien simples, preto também, de abrir à frente, como eu gosto. E não havia mais nada. Não havia mais nada!

Levantei-me, finalmente, enquanto te deitavas na cama larga, quase de lado, dando forma às pernas. Entrei maravilhado pelo contraste das tuas coxas brancas com o tecido escuro. Subitamente, senti-me arrancado do universo dos filmes nórdicos para um outro, como se estivesse a ver um filme qualquer de Andrew Blake. Naquele espaço havia cheiro a erotismo, e quase nenhum a sexo. No entanto…

- Podes tocar-me, se quiseres. E prolongando as sílabas, onde… quiseres.

http://www.geografiadascurvas.net

Cadência

A cadência das estrelas
quando retornam
aos seus lugares;
a cadência dos segredos
quando aveludam
vagos olhares;
a cadência dos momentos
quando entranham
a paixão no ar;
a cadência de janelas
que se começam
a descortinar;
a cadência das velas
quando dançam
até queimar;
a cadência da alma
quando a encantam
até pairar;
a cadência do conforto
adormeceu
na minha cama
que a cadência do teu corpo
(que é a cadência das estrelas,
e é a cadência dos segredos,
é a cadência dos momentos,
é a cadência das janelas,
é a cadência das velas,
é a cadência da alma)
chamou a do meu
até cair saciada.

«Les jours de l'homme» de Julien Besançon com ilustrações de Jean Dratz

Obra de um médico sobre a vida e a morte, com conselhos para uma velhice saudável.
Livro de 1940 numa edição especial em papel Madagáscar e com uma bolsa/capa, tendo como bónus várias folhas com ilustrações a preto e branco (provavelmente para colorir).








Delícia das delícias, com o livro vem o desenho original da ilustração da página 95:



in the still of the night by ~jahjahjah

01 janeiro 2010

Breve Primavera @MissJoanaWell


O meu tempo engole descontentamento, faminto de ti. O meu tempo bebe goles de momento, sedento de ti. O meu tempo come e bebe e vive de ti.
Maio fundiu-se com Setembro. Três meses no útero da ilusão.
Setembro adentrou Outubro. Amam-se. Vararam-se. Consomem-se no calor de Agosto. Depois de sonhar que ele era um sonho, já não o quis realizar. A cada grão de realidade, espreita o pesadelo. Entardeceu a Primavera.

O Paraíso

– Olha! Olha!
– O quê?
– Não viste?
– O quê?
– Ali! Olha p’ali!
– Onde? Onde?
– Ali, pá! Ali… Eee… Olha-me para aquela mulher! Meu Deus!
– Que monumento!
– Monumento? Aquilo é uma catedral, pá!
– Uma catedral?!
– Olha para aquelas formas perfeitamente esculpidas, aquele ar divino, o andar flutuante de anjo, a imaculada figura… Meu Deus!...
– E aquele pato bravo que vai com ela…
– Qual pato bravo, aquilo é um pedreiro-livre… Um pedreiro-livre que anda a montar a catedral.
– Achas que o gajo sabe o segredo para polir a pedra bruta?
– Não sei se sabe esse mas sabe um qualquer que nós não sabemos, isso é certo.
– Hei!... Eu sei quem é o tipo… Não o estava a conhecer mas é ele. É ele, eu conheço-o.
– Se a conhecesses a ela… Isso é que era um dia em cheio!
– O gajo não é empreiteiro. Não é pato bravo!
– Não?
– Não, é facilitador de contactos…
– Facilitador… É pá, o gajo podia era facilitar o meu contacto com ela. Isso é que era de valor!
– O gajo não é desses facilitadores.
– Há outros?
– O gajo é uma espécie de promotor de relações comerciais. Está ligado ao partido e movimenta-se bem…
– Vareja, queres tu dizer.
– Pois, é isso mesmo, vareja: faz a ligação entre as oliveiras e o chão, ainda que nunca toque na azeitona.
– Que linda imagem… Num mundo ideal e reconhecido, não neste, soez e cheio de invejas mesquinhas… Num país a sério, varejadores como aquele seriam uns senhores. Uns senhores.
– A palavra de ordem seria: Varas de todo o mundo uni-vos num só sindicato!
– E o varejador não se havia de transportar num mísero Mercedes de cinquenta mil euros e só com uma catedral daquelas ao lado, havia de andar de Bentley, com basílicas, pá, nada menos que basílicas ao lado e haviam de lhe ofertar, com vénias e salamaleques, baldes, baldes de robalos fresquíssimos e terem para com ele sempre uma palavra amiga, uma conversa privada.
– Isso é que era um país!

Crise de desconfiança


Alexandre Affonso - nadaver.com