15 janeiro 2010

Brotar de uma paixão


Hoje acordei com vontade de ti
Queria saciar a minha sede na tua fonte de mel
E espalhar no meu corpo o calor das tuas carícias

Hoje acordei com vontade de te ter ao meu lado
Num sono leve de criança enroscado no meu corpo
Num abraço apertado unindo o nosso peito

Hoje acordei com vontade do momento
Que se tornou eterno sem tempo para acabar
E nos entregarmos ali num beijo apaixonado

Hoje acordei com vontade de fechar os olhos
Para sentir o teu olhar no meu sorriso de paz
Alargando o meu prazer à vontade de todas as manhãs

Hoje acordei com vontade de te amar
Nessa insanidade possuir teu corpo e amar-te de verdade
Apaziguar o fogo do desejo que me cobre e me invade

Hoje acordei com vontade de ter o que não posso ter
Só a tua ausência vem para me responder
Demência estranha dos meus sonhos sensuais que em mim jazem tão reais.

Maria Escritos - 2010
© Todos os direitos reservados
Blog Escritos e poesia

E agora voltas...

E agora voltas,
como noutros tempos, em que eu não era eu...
( tu és sempre tu)
Eu era peixe, e tu pescador
comigo na rede, pediste-me as guelras
que me ensinavas a respirar;
quiseste-me por momentos,
momentos depois, atiraste-me ao mar,
e eu já tinha pulmões, viste-me sufocar.

E agora voltas
como noutras vidas , em que outra era eu...
(tu és sempre tu)
Eu era sereia; tu, do meu mar, eras imperador
comigo na nau, pediste-me as barbatanas
que me ensinavas a andar;
amaste-me por instantes,
instantes depois, atiraste-me ao mar
e eu já tinha pernas, viste-me afogar.

E agora voltas
como noutros palcos, outro papel meu...
(tu és sempre tu)
Eu sou eu, e tu Rei, Mestre, Senhor;
mas agora eu tenho pulmões e guelras,
e eu agora tenho barbatanas e pernas
que trouxe de todas as mortes,
mortes depois, bebi-te o mar
para, em mim, te inundar.

A "nova" árvore genealógica...

«Árvore Genealógica» é uma crónica do Luis Fernando Verissimo, filho do Erico Verissimo, que publica semanalmente na folha de S. Paulo:

- Mãe, vou casar!
- Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?
- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.
- Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
- Nada, não.. Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.
- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
- Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...
- E quando eu vou conhecer o meu.... a minha... o Murilo?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
- Tá! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?
- Por quê?
- Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o Papai não vai aceitar?
- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade... E olha que espetáculo: as duas metades com bigode.
- Mãe, que besteira... Hoje em dia... Praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
- A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
- Como?
- Veruska...
- Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe!!!...
- Tá... tá... tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Quando ele era hetero... A Veruska.
- Que Veruska?
- Namorada da Bel...
- "Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã. Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem?
- Da Bel.
- Mas... Logo da Bel?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska...
- Isso.
- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
- Por outro lado, a Bel... além de mãe, é tia... Ou tio... Porque é tua irmã.
- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
- Só trocar, né? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
- Exato!
- Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...
- Entendeu o quê?
- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
- Que swing, mãe?!...
- É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
- Mas...
- Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
- Sei!... E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.
- Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
- Que.. ?
- Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser f...
(Luiz Fernando Veríssimo)

Estatueta de duas mulheres lésbicas

Bem grandinha (pouco menos de 40 cm de comprimento)... já faz parte da minha colecção. Isto é que elas se divertem. E agora até se podem casar... se quiserem...



14 janeiro 2010

(Des)União de Facto

Ela recusou, mais uma vez, fazer amor. Não o fez expressamente: não invocou qualquer mal-estar, dor de cabeça ou cansaço; ficou simplesmente no sofá da sala até a televisão do quarto deixar de se ouvir, o candeeiro da mesa-de-cabeceira estar apagado e dele não restar mais do que uma respiração suave e regular.
Tristemente satisfeita mas sem conseguir desembaraçar-se do peso opressor que sentia no peito, a mulher levantou-se do sofá, apagou a televisão, caminhou em silêncio sem acender qualquer luz, contornou a cama com cuidado e deitou-se furtivamente. Não o queria acordar, não lhe queria falar, nem o queria ouvir.

A princípio, julgara que era cansaço. O trabalho, a casa, a vida, tudo parecia justificar o seu desinteresse, a sua falta de vontade, o seu alheamento, mas agora já não sabia, só não queria. Talvez se tivesse desabituado. “Deve ser uma fase” pensava, sem muita convicção, “vai passar”.
E assim se permitia nada alterar e continuar como se nada fosse, esperando que ele dormisse para se aproximar, inventando saídas e visitas, séries na televisão e trabalho atrasado para o manter afastado, se é que ele ainda se aproximava – ela tinha sido tão competente a criar uma normalidade preenchida que não sabia agora se ele ainda a procurava.

Deitada, aconchegou-se sem lhe tocar e fechou os olhos à espera do sono.
– Então? – perguntou ele, surpreendendo-a. Sentira-a deitar-se sub-repticiamente, deixou-a acomodar-se, baixar as defesas e, quando ela já não esperava, falou. – O que é que se passa, querida?
O “querida” arranhou-a, achou-o despropositado, falso, hipócrita. Sentiu-se enganada, ele estava acordado. Tinha estado sempre acordado e, premeditadamente, esperara pelo momento certo para a interpelar. O momento em que, ele sabia-o, ela deixara de estar em guarda.
– Nada, porquê? – respondeu, impessoal.
– Nunca mais fizemos amor – disse ele, sem subterfúgios.
– E? – inquiriu ela, agora com o firme propósito de o arreliar.
– E?! – soltou o homem, aproximando a mão do interruptor do candeeiro. Ela ouviu o ligeiro roçagar do fio na madeira e esperou que a luz se acendesse. – E, o quê? – concluiu ele, sem acender a luz.
Ela sentiu-se aliviada, preferia não o ver e preferia não ser vista.
– Sim, e? – manteve ela e, indiferente, concluiu: – Não fazemos amor há uns dias...
– Uns dias?! – O homem virou-se na cama, ficando estendido de costas, dobrou as pernas e tornou a mexer no interruptor do candeeiro. – Uns dias?! O que é que tu chamas uns dias?
– Quinze dias… três semanas – respondeu ela, sabendo que estava a errar por muito. – Sei lá.
– Estás a brincar? – O homem estendeu a pernas.
– Não – declarou ela, ainda imóvel. – Sei lá, um mês?
Ele acendeu a luz mas não se mexeu. A mulher, que já estava virada para ele desde que se deitara, olhou-o, viu-lhe o perfil sério e compenetrado, e ficou espantada por não sentir nada, nem o peso no peito.
– Não fazemos amor há mais de três meses – disse ele, sem tirar os olhos do tecto.
“Fala por ti” ponderou ela responder mas não o fez.
A mulher rodou, ergueu o tronco, sentou-se, abafou o sorriso que lhe sobrara do “fala por ti” e do que isso lhe lembrara e interpelou-o com implacável tranquilidade:
– Queres-me dizer alguma coisa, é?
– Eu?! – espantou-se ele, ainda assim fazendo contas de cabeça.
– Sim – continuou ela, azeda. – Não fazemos amor ou não fazes amor comigo há três meses?
O homem sentou-se.
– Não é a mesma coisa? – perguntou, angelical, bem sabendo que não era.
– Não, sabes bem que não – disse a mulher, não evitando alguma acidez no tom. – Eu não faço amor contigo há três meses mas tu não fazes amor há três dias…
– Eu?!
– Sim, tu.
– Há três dias?
A mulher acenou com a cabeça positivamente, olhou para o rádio-relógio na mesa-de-cabeceira e fixando-o, atirou:
– E, pelas minhas contas, se pagaste à chegada e se foste directo ao Continente no fim, não fazes amor há três dias e – contou pelos dedos, ainda que não necessitasse – seis horas e meia, mais ou menos.
– Que conversa é essa?
– É fácil – disse a mulher e explicou serenamente: – Na terça-feira, pagaste uma diária reduzida num motel às duas e meia e às sete e um quarto pagaste umas compras no Continente… Por isso, deves ter dado uma, ou feito o amor, por volta das cinco e tal, seis horas… Espero, pelo menos, que tenhas dado uma à chegada e outra à saída. É o mínimo.
– Mas…
– Por isso – concluiu a mulher, – como já é meia-noite e um quarto: dezoito e seis… Não devo ter errado por muito, pois não?
Ele engoliu em seco várias vezes e não foi para verificar o acerto das horas, hesitou igual número de vezes no que dizer e, por fim, decidiu-se pelo óbvio:
– Como é que sabes isso?
– Essas merdas não se pagam com cartão, parvo!
Ele corou e mudou de cor.
– E, já que sabes tudo – começou o homem, preparando o contra-ataque –, também deves ter noção porque o fiz.
A mulher olhou-o e encolheu os ombros:
– Porque és parvo?

Equação


Um… dois… três… quatro…
perdemos a conta;
os dedos das duas mãos
(de cada um de nós)
não chegam para contabilizar
(x) ou (y) ou (z):
as passagens fortuitas
dos encontros de favor.

Posto de lado o profissionalismo
(o serviço é gratuito),
não existe reflexão possível;
aberta a brecha:
o que resta?

Uma boa pergunta.
Uma solução em aberto;
a resposta será aquela
que cada envolvido – ou não - queira dar.

-Posso responder?
-Claro que sim. Todos podem responder.
-Resta uma equação por resolver.

Foto e poesia de Paula Raposo

Parto

Quem me dera apenas
matar-te a fome;
quem me dera apenas
matar-te a sede;
quem me dera apenas
matar-te o nome;
quem me dera apenas
matar-te,
para te enterrar em mim,
e nesse fim
chamares-me início;
e sem sacrifício,
ressuscitar-te.



Não admira que, nos anos 70, os homens não fossem capazes de encontrar o clítoris!

13 janeiro 2010

A devolução

Percorri o longo corredor com determinação. Chão muito escuro e iluminação discreta com paredes de madeira um pouco mais escura que cerejeira. Detive-me junto à porta. Sendo canhoto seria natural que estendesse a mão esquerda ao manípulo que também se encontrava à minha esquerda. Usei antes a mão direita, para poder abrir a porta e entrar em acto contínuo. Passando a porta havia um pequeno corredor. Do lado esquerdo uma porta de vidro fosco entreaberta revelava uma casa-de-banho com azulejos pretos, baços, e um lavatório branco assente numa estrutura de vidro. A parede do lado direito era preta, com um quadro pendurado e mais à frente uma televisão LCD. Depois havia uma cama, bastante larga. À minha frente, uma mesa estreita, de cortesia, e uma cadeira simples, artigo de design, mais do que de conforto. Virei a cadeira para a cama e sentei-me. À esquerda, um roupeiro com três portas, provavelmente de acrílico fosco, e três feixes de luz imbutidos que enchiam o quarto com uma coloração quente. À direita, uma janela grande com cortinas pesadas cinzentas claras. À minha frente, na cama larga, tu.

Estavas sentada no meio da cama, encostada à cabeceira. De pernas levantadas, noventa graus nos joelhos, vestindo apenas um ligeiro babydoll branco, vagamente transparente. Pela tua posição, estando eu sentado mesmo em frente a ti, era fácil ver que não tinhas mais nada vestido. Vendo-me instalado - embora nem por isso totalmente confortável -, pegas matreira nas pontas da pouca roupa, que afastas, para melhor poderes deixar tombar as pernas, até que as afastas tanto quanto podes e ocupas, com elas, todo o espaço, de uma margem à outra, da cama.

Lambes um dedo, sem tirar os olhos dos meus, e viajas com ele até à tua vulva, por onde te passeias sem qualquer tipo de pudor. A outra mão vagueia. Pelos seios, pelo interior das coxas, às vezes pela face. Não tiro os olhos de ti enquanto te tocas a pouco mais de dois metros de mim. Sinto o calor daquele quarto aquecido, no contraste da tua nudez com a minha roupa de Inverno. Estou imóvel a observar-te. Tomo nota mental de todos os movimentos e expressões que fazes, e no entanto fixo muito pouco o olhar na tua genitália, olho com muito mais sede a tua cara, conseguindo detectar o movimento de todos os músculos. Os lábios, os olhos, a dilatação das narinas quando pedes mais oxigénio para o sangue que te corre veloz.

Há espasmos nas tuas pernas que denunciam o orgasmo. Como se perdesses por instantes o controlo dos teus músculos. Como se alguns deles se sacudissem num caos de electricidade. Mas tudo isso chega ao fim. Detecto suor em ti, e deixas as mãos cair ao longo do corpo, uma delas com dedos melados, e um odor que invade o quarto e me sacia. E tudo isto se passa num quase perfeito silêncio, que só se quebra pela tua respiração ofegante e por irritantes barulhos de madeira a ranger sempre que me ajeito uns milímetros, sentado de perna cruzada, ora uma, ora outra, cruzando os braços ou agarrando a cadeira.

Enquanto ajeitas o cabelo e te deixas escorregar pelas almofadas eu levanto-me. Caminho em direcção à porta do quarto, parando a meio para abrir totalmente a porta entreaberta da casa-de-banho. Coloco a mão no bolso e retiro as tuas pequenas cuecas, que pouso junto ao lavatório. Detenho-me por meio instante junto à porta. Atiro a mão esquerda ao manípulo e rodo-o. Esgueiro-me e fecho-a atrás de mim. Enquanto caminho pelo corredor, em direcção ao elevador, levo a mão ao bolso e pego no meu telefone. Digito o teu número e carrego em enviar. "Amanhã dou-te o resto".

Implícito

Não, não está nada implícito,
nem uma única vogal,
nem uma só consoante;
que se rasgue essa palavra,
essa despudorada cabra,
promíscua e diletante
que se estende nas entrelinhas
e rebola de prazer,
só assim, a semi-ser, semi-gemer.
Ah! As palavras ainda são minhas,
o que subentendes, eu grito,
e o grito será fatal
nem que seja por um instante,
um momento em que te sangra,
um segundo em que te lavra,
da impiedade dura e inquietante
que me tentava abrir as pernas
para dentro de mim crescer,
para dentro de mim me beber
e apoderar-se das certezas.


Mais porno na padaria

A Didas ganhou-lhe o jeito e agora é vê-la por aí fora...


Vamos jogar ao ringue?


O costureiro


Casting dos ídolos

Pornos anteriores:
Primeiros
Segundos
Terceiros
Quartos

Assédio ao capitão



HenriCartoon

12 janeiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito


397

Diante de uma cona como a tua, e depois beijando-a, entrando e saindo, alojando-me nela, não gemo: comovo-me rio choro delicio-me canto uivo urro mas, noutras vezes, fico quietinho e em silêncio... para fazer durar, para ouvir o chão, para sentir as raízes que vêm do poço celeste apoderarem-se ora ardendo ora fresquíssimas do meu pequeno tronco e transformarem-no em mais um afluente complacente desse rio misterioso que vem de muito longe.

Quando te beijo é como se beijasse uma flor carnívora, quando te acaricio é como se me enroscasse em lianas de água salgada, quando o aconchego nas tuas mamas desejava que ele tivesse boca para te chupar os mamilos, quando me enrosco nas tuas nádegas alcanço a serenidade dos sábios, quando te fodo é como se viajasse pelo céu e por todos os seus abismos... mas feliz, feliz, sou mais ainda quando o fazes crescer e o transportas rio acima e rio abaixo por todo o teu corpo, e sobretudo quando, metendo-o na boca, sinto lábios e línguas e salivas e dentes e artes que nunca ninguém gravou no meu barro... em resumo: se tivesse diante de mim a “Origem do Mundo” do Courbet e a fotografia da tua boca aberta, era na tua boca que eu resumia tudo o meu corpo, instintos, desejos, e entrava para dentro, passando a fazer parte de ti, que nada se pode perder, nada... e por isso lambo as gotas que sobram depois de me teres engolido, e por isso te peço (mas não é preciso pedir, pois não?) que me lambas todo e tudo a cada momento para que nada resvale para outro lado que não seja para dentro do teu corpo louco e divino. Sabias?


fotografias de Peter Lindbergh