Só existe o cigarro que está a ser fumado. Os outros estão no maço, à espera de existência. Sabem, como eu - até as rochas sabem - que só se existe quando se vai dos teus dedos para dentro de ti.
18 janeiro 2010
Excerto da entrevista ao Vitorino na revista «Visão» de 7/1/2010
Vitorino, cantor alentejano do Redondo, tem uma criação de burros.
Têm todos nomes de pessoas conhecidas...
"Sim, o Rui Veloso, o Jorge Palma, a Cinha Jardim, que já é velhinha e, como não consegue fugir dos machos, está sempre prenha. (...) "
Soberano e meu senhor
Deixaste-me ver a tua alma
Para me mostrastes o verdadeiro amor.
Deste-me uma nova razão para existir
Quando através dos teus olhos
Me mostraste que um amor como o nosso
É bem mais forte do que qualquer lei.
Um olhar teu é suficiente para iluminar o meu dia,
Tal a intensidade do nosso amor.
Na tua alma descobri uma nova forma de ver
O baloiçar das folhas das árvores
Que seguem ao ritmo da música
Que trago no coração;
O sol brilha mais forte com mais intensidade;
A terra acabada de regar
Tem um cheiro doce,
Mais doce do que me recordo
E as nuvens brancas em contraste com o azul do céu
Assemelham-se a montinhos de algodão doce
Que apetece morder.
Solta-se o riso desenfreado da minha boca
Seguindo o ritmo da melodia que ecoa em mim
Rendo-me deslumbrada à névoa que me entretém
Desprende-se no ar um perfume sublime
Onde este amor é soberano e meu senhor!
O Mundo é tão bonito e eu nunca tinha reparado…
Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com/
17 janeiro 2010
A nossa Joana Well no «Correio da Manhã»
Hoje, o «Correio da Manhã» publicou um artigo sobre «Cama e companhia de luxo - A vida das acompanhantes que cobram mais de duzentos euros», complementado por uma entrevista a Bernardo Coelho, sociólogo que conta como vivem estas mulheres no livro «Corpo Adentro». E falaram com a nossa Miss Joana Well:
"SEXO E POESIA
Joana Well esconde o rosto nos longos cabelos loiros, por timidez, por delicadeza. A sua voz ao telefone soa como se cantasse palavras. Mas foi na Internet que descobriu uma (boa) razão para continuar a ser acompanhante. A poesia:
'É franco o meu corpo./ Tem franqueza nos braços que se tentam abrir,/ nas pernas que tremem para acompanhar os braços/ nos olhos que tentam não olhar mas olham./ Deixei-o ter-me...' – escreveu ela no blogue ‘Miss Joana Well’.
Só há uma forma de a conhecerem. Os clientes têm de chegar a ela através do seu blogue. Mas têm de gostar da sua escrita. Do erotismo das suas palavras. Até porque fotografias do seu corpo há poucas e estão escondidas. É o que menos lhe importa. Toda a excitação é pura poesia.
'Os homens criam em mim uma certa empatia pelo estilo de escrita com que me respondem. Mas também me cativam muito pelo sentido de humor. Um rapaz disse-me qualquer coisa do género: ‘és tão bonita pelas fotografias. Adorava conhecer-te. Espera. Tenho que ser intelectual, senão não me dás atenção. Tens uns belos poemas, umas belas metáforas.'
Se alguém estiver apenas interessado em sexo ‘mecânico’, pode esquecê-la.
'Não há um único homem que me tenha conhecido, nesta situação, que não possa dizer que esteve com uma mulher apaixonada. E esta paixão não é falsa, é induzida. Passageira.' Sabe que se não fosse por dinheiro – 150 euros por uma hora e meia, ou 200 com deslocação – não estariam juntos. Primeiro à conversa, depois, na cama. 'Mas nós podemos olhar para as coisas de outra forma, de forma às coisas serem mais bonitas.'
Quando Joana está nos braços de um cliente, concentra-se nas características dele que sejam mais apelativas. No toque, no cheiro. 'Acaba por haver uma química. Claro que não é paixão. Mas o que é?'
Joana é uma romântica, repete vezes sem conta. Gosta do quarto mais pequeno da casa. Resume-se a uma cama grande e uma tapeçaria na parede. Nunca leva um cliente directamente da porta da rua para o quarto. Primeiro conversam. Descobrem-se. 'Ninguém faz as coisas friamente, senão o sexo pode ser mau.'
O corpo dela esconde-se debaixo de roupas largas. Pouco sensuais. Confessa que não tem mais cuidados do que qualquer outra mulher que se sinta feminina. Mas é quente de afectos. 'Se o cliente pretender uma acompanhante com as medidas ‘x, y, z’ não me procura a mim. Vai escolher num portal na Net, por medida.'
Há vários sites nacionais e internacionais, com mulheres portuguesas e estrangeiras que aparecem quase sempre nuas e (muitas vezes) em posições explícitas. Os preços que cobram rondam os 150 euros por hora em apartamentos privados (250 se fizerem deslocações), uma noite mil euros, um dia dois mil e dois dias três mil. O atendimento pode ser feito a casais ou com várias acompanhantes juntas. Há locais ainda, como hotéis, onde estas mulheres estão estampadas em catálogos.
Os clientes são normalmente homens com boas condições financeiras. Muitos são empresários ou estão ligados a alguma área de negócios, descrevem. Segundo uma delas, o mesmo cliente que as procura um dia, na semana seguinte pode até recorrer a uma prostituta de rua. São casados? Nem todos. Insatisfeitos sexualmente? Se calhar também não. Mas todos têm de ter muito dinheiro para lhes pagar.
Joana Well, 30 anos, tem um apartamento no centro de Lisboa. Não mora lá. A família não sabe, não sonha. Nem pode. Se amasse alguém, essa pessoas teria de saber. O que cria tensões. Ela atende um único homem por dia. Já lhe chega para o sustento da vida – mas também não lhe dá para luxos. Prefere não explicar as razões para não trabalhar na área do seu curso superior. Escapam-lhe as explicações para tudo o que a faz manter-se oculta. Há quanto tempo o faz?
'Já não sou principiante. Chega?!'
Se a vida tem destas coisas, há uma que diariamente ainda constrange os clientes. 'Nota-se o embaraço na hora de eles pagarem.' As notas andam de mão em mão, a dançar até que aquela mulher as agarre. Pagar por alguma coisa obriga a reflectir sobre essa coisa. 'Às vezes, oferecem-me livros com o dinheiro lá dentro.'
PERFIL
Joana Well, 30 anos, está a viver momentos de alguma popularidade na blogosfera, pela sua escrita (ver em missjoanaswell.blogspot.com). Em poucos meses, escreveu cerca de 300 poemas e 90 contos. Este blogue é também o único contacto dela como acompanhante de luxo."
"SEXO E POESIA
Joana Well esconde o rosto nos longos cabelos loiros, por timidez, por delicadeza. A sua voz ao telefone soa como se cantasse palavras. Mas foi na Internet que descobriu uma (boa) razão para continuar a ser acompanhante. A poesia:
'É franco o meu corpo./ Tem franqueza nos braços que se tentam abrir,/ nas pernas que tremem para acompanhar os braços/ nos olhos que tentam não olhar mas olham./ Deixei-o ter-me...' – escreveu ela no blogue ‘Miss Joana Well’.
Só há uma forma de a conhecerem. Os clientes têm de chegar a ela através do seu blogue. Mas têm de gostar da sua escrita. Do erotismo das suas palavras. Até porque fotografias do seu corpo há poucas e estão escondidas. É o que menos lhe importa. Toda a excitação é pura poesia.
'Os homens criam em mim uma certa empatia pelo estilo de escrita com que me respondem. Mas também me cativam muito pelo sentido de humor. Um rapaz disse-me qualquer coisa do género: ‘és tão bonita pelas fotografias. Adorava conhecer-te. Espera. Tenho que ser intelectual, senão não me dás atenção. Tens uns belos poemas, umas belas metáforas.'
Se alguém estiver apenas interessado em sexo ‘mecânico’, pode esquecê-la.
'Não há um único homem que me tenha conhecido, nesta situação, que não possa dizer que esteve com uma mulher apaixonada. E esta paixão não é falsa, é induzida. Passageira.' Sabe que se não fosse por dinheiro – 150 euros por uma hora e meia, ou 200 com deslocação – não estariam juntos. Primeiro à conversa, depois, na cama. 'Mas nós podemos olhar para as coisas de outra forma, de forma às coisas serem mais bonitas.'
Quando Joana está nos braços de um cliente, concentra-se nas características dele que sejam mais apelativas. No toque, no cheiro. 'Acaba por haver uma química. Claro que não é paixão. Mas o que é?'
Joana é uma romântica, repete vezes sem conta. Gosta do quarto mais pequeno da casa. Resume-se a uma cama grande e uma tapeçaria na parede. Nunca leva um cliente directamente da porta da rua para o quarto. Primeiro conversam. Descobrem-se. 'Ninguém faz as coisas friamente, senão o sexo pode ser mau.'
O corpo dela esconde-se debaixo de roupas largas. Pouco sensuais. Confessa que não tem mais cuidados do que qualquer outra mulher que se sinta feminina. Mas é quente de afectos. 'Se o cliente pretender uma acompanhante com as medidas ‘x, y, z’ não me procura a mim. Vai escolher num portal na Net, por medida.'
Há vários sites nacionais e internacionais, com mulheres portuguesas e estrangeiras que aparecem quase sempre nuas e (muitas vezes) em posições explícitas. Os preços que cobram rondam os 150 euros por hora em apartamentos privados (250 se fizerem deslocações), uma noite mil euros, um dia dois mil e dois dias três mil. O atendimento pode ser feito a casais ou com várias acompanhantes juntas. Há locais ainda, como hotéis, onde estas mulheres estão estampadas em catálogos.
Os clientes são normalmente homens com boas condições financeiras. Muitos são empresários ou estão ligados a alguma área de negócios, descrevem. Segundo uma delas, o mesmo cliente que as procura um dia, na semana seguinte pode até recorrer a uma prostituta de rua. São casados? Nem todos. Insatisfeitos sexualmente? Se calhar também não. Mas todos têm de ter muito dinheiro para lhes pagar.
Joana Well, 30 anos, tem um apartamento no centro de Lisboa. Não mora lá. A família não sabe, não sonha. Nem pode. Se amasse alguém, essa pessoas teria de saber. O que cria tensões. Ela atende um único homem por dia. Já lhe chega para o sustento da vida – mas também não lhe dá para luxos. Prefere não explicar as razões para não trabalhar na área do seu curso superior. Escapam-lhe as explicações para tudo o que a faz manter-se oculta. Há quanto tempo o faz?
'Já não sou principiante. Chega?!'
Se a vida tem destas coisas, há uma que diariamente ainda constrange os clientes. 'Nota-se o embaraço na hora de eles pagarem.' As notas andam de mão em mão, a dançar até que aquela mulher as agarre. Pagar por alguma coisa obriga a reflectir sobre essa coisa. 'Às vezes, oferecem-me livros com o dinheiro lá dentro.'
PERFIL
Joana Well, 30 anos, está a viver momentos de alguma popularidade na blogosfera, pela sua escrita (ver em missjoanaswell.blogspot.com). Em poucos meses, escreveu cerca de 300 poemas e 90 contos. Este blogue é também o único contacto dela como acompanhante de luxo."
Fora do b(c)aralho
Hoje quero gritar.
Gritar! Gritar! Gritar!
Hoje quero mentir.
Mentir! Mentir! Mentir!
Gritar: odeio-te
e mentir, também.
Quero gritar – hoje -
que recordar-te é uma má opção:
as cartas fora do baralho
são batota.
Foste um jogo odioso,
uma má jogada, uma cartada sem trunfo.
Não perdi. Não ganhei.
Mas tu recebeste o prémio!
Foto e poesia de Paula Raposo
«Três poemas de amor - seguidos de Livro Quarto» de Albano Martins
Um livro delicioso de um «quase vizinho» meu (Albano Martins é do Telhado, nos arredores do Fundão), ilustrado com desenhos de José Rodrigues.
Deixo-vos aqui um pequeno menu de degustação:
contempla, fulminado,
a própria criação."
"Apenas um dos dedos
conhece a luva. Só uma pétala
convém à rosa."
"Para morrer não era
necessária a morte. Bastava
o teu corpo."
"Em que lugar
geométrico
do teu corpo
o vértice
se faz pirâmide?"
16 janeiro 2010
Não se sentem em cima de um phallus impudicus!
Mas só porque se arriscam a ficar com um cheiro a cadáver impregnado na roupa, o mesmo cheiro que me levou a detectar a presença destes cogumelos muito antes de sequer os ter visto. Aliás, o cheiro é um instrumento de reprodução fundamental destes cogumelos uma vez que se destina a atrair moscas - e estamos a falar de moscas com uma envergadura de respeito e que nada têm a ver com aquelas mosquinhas comuns - que depois irão disseminar os esporos que a elas aderem.
Os exemplares fotografados já estão nas etapas finais do seu ciclo de vida, uma vez que o chapéu já está desprovido da "gosma" que contém os esporos, restando apenas a malha que a suportava. Esta será mesmo a fase de maior beleza destes cogumelos.
Já agora, bem cheirosos ou mal cheirosos, todos os cogumelos desempenham um papel biológico e ecológico muito importante. Daí que, se por acaso encontrarem phallus impudicus no vosso caminho, se não se sentarem em cima deles, evitem destruí-los seja de que forma for, até porque este não possui rigidez alguma. Tapar o nariz será uma atitude muito mais ecológica.
Outros artigos sobre cogumelos, não necessariamente peculiares como o phallus impudicus:
Conto das máscaras (VI) - Sarar (?)
E eu finjo que não estou. Finjo que nada existe. Recuei ao dia em que cessaste. Fechei-me nessa antecâmara da vida. E refiz o dia. Até logo, meu amor! - Não dissemos; os teus lábios abriram-se até à letra A, somente. Atei-te e agora vou atear-te! - Mudei a frase, mudei o dia, mudei a vida. Enganei a realidade. Enganei os meus olhos. Enganei a minha pele. Enganei a minha lucidez. Nós não nos perdemos. Eu não me perdi de ti, tu não te perdeste de ti e de mim; perdi-me da história que alegam ser verdadeira. Quem são os outros para decidir que realidade é mais real? Passaram 365 dias, um ano. E nenhum sem ti, como me quiseram impor.
Fecharam-me aqui e eu fechei-me contigo. As drogas que me davam muito sono; apenas uma pequena sesta era permitida, durante a tarde, além do sono da noite. Arrastava-me, nesse sonambulismo, o queixo sem força, a saliva escorria, um banco qualquer e tentava-me deitar; tantas drogas, o copo de plástico, a roupa amarrotada, as ordens dos enfermeiros que confundi com carcereiros militares, torturadores. A falta de equilíbrio, as quedas; homens e mulheres que choravam, a cambalear, tal como eu; tantas drogas. Eis a solução dos homens sãos para a loucura, para o luto, para a dor extrema: as drogas, as regras, a frieza, o encarceramento, o desconforto, trajados de loucos, sujos de loucos, babados de loucos; tantas drogas. O corpo habituou-se às drogas; a alma habituou-se à antecâmara.
Já não finjo, já não estou. Em cada dia, estive contigo. Dormimos abraçados sem nunca largar, acordámos mais abraçados ainda. Tomámos café, almoçámos, jantámos, passeámos, conversámos e amámo-nos e, meu amor, eu acho, até acho que gerámos um filho...
Fecharam-me aqui e eu fechei-me contigo. As drogas que me davam muito sono; apenas uma pequena sesta era permitida, durante a tarde, além do sono da noite. Arrastava-me, nesse sonambulismo, o queixo sem força, a saliva escorria, um banco qualquer e tentava-me deitar; tantas drogas, o copo de plástico, a roupa amarrotada, as ordens dos enfermeiros que confundi com carcereiros militares, torturadores. A falta de equilíbrio, as quedas; homens e mulheres que choravam, a cambalear, tal como eu; tantas drogas. Eis a solução dos homens sãos para a loucura, para o luto, para a dor extrema: as drogas, as regras, a frieza, o encarceramento, o desconforto, trajados de loucos, sujos de loucos, babados de loucos; tantas drogas. O corpo habituou-se às drogas; a alma habituou-se à antecâmara.
Já não finjo, já não estou. Em cada dia, estive contigo. Dormimos abraçados sem nunca largar, acordámos mais abraçados ainda. Tomámos café, almoçámos, jantámos, passeámos, conversámos e amámo-nos e, meu amor, eu acho, até acho que gerámos um filho...
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