22 janeiro 2010

Coisas

Tenho uma flor azul e branca colada num espelho, parece que flutua num lago; a minha imagem mergulhada atrás da flor e o rosto trespassado em nariz de pétalas. Olho à distância, pergunto-me porquê. Não sei. Colei-a porque representou algo importante que não queria esquecer, mas não me lembro; afinal, só me foi possível guardar a flor, perdi o significado. É isso que as coisas são: coisas, nada têm dentro delas que não esteja dentro de nós. E, aqui dentro, falta-me algo que eu sei que me faz falta - sinto o espaço vazio do que enchia a flor azul e branca - mas já não sei o que é. E se eu olhar fundo no lado - tão fundo que o espelho se chama memória - eu ainda acho (acho!) que, em vez do meu rosto, está um seio e as pétalas afagam um mamilo.

O cinema porno nos anos 70s era bem engraçado

Apreciem este filme (completo - 78 minutos) com uma versão porno musical do conto «Alice no País das Maravilhas» de Lewis Carrol.


«Alice no País das Maravilhas»

(abre numa nova janela)

21 janeiro 2010

Arte e manhas...

Disse que era um Rei. Prometeu amor, castelo, reino, Mundo. Ela nunca viu a coroa, nem sequer o cavalo ou, pelo menos, o dossel da cama; apenas um palheiro qualquer, onde a tomou.


Da(s) forma(s) geométrica(s): um esboço

Há um Carlos, um Vítor e uma Ana. Um triângulo amoroso clássico. O Carlos não sabe do Vítor e este não sabe que aquele existe. A Ana sabe dos dois mas não sabe de si. Há sms e mails. Há almoços e jantares. Há telefonemas furtivos e os normais encontros e desencontros que se associam a uma situação destas. Há música, muita música. E uma mulher que se multiplicava mas que agora se divide. Cada vez mais. E é cada vez menos. Que ri e chora. Um Carlos que não quer mais do que tem e um Vítor que não percebe o que tem. Há dias em que acorda com um e se deita com outro e semanas a dormir sozinha mesmo quando se encontra alguém ao seu lado na cama. “Nini” ouve-se trautear por vezes como se fosse uma personagem duma canção. Homens que sorriem com a sorte que têm, com a liberdade que julgam conquistar dia a dia e uma mulher que não se quer decidir. Há uma mulher com três escovas de dentes e que ocupa de forma diferente três espaços igualmente sufocantes, igualmente inexistentes. E, claro, onde há um triângulo há uma amiga, que tudo sabe e tudo esconde. Que censura sem censurar. Que deseja. Que ouve. Ouve sem sorrir. Que seca e mirra pelo irmão que, nem por acaso, gosta de Ana e não se quer intrometer entre aquela e Carlos, aquela e Vítor. Há um tempo e há um fim. E um homem que acorda sem uma escova de dentes no copo e outro que liga e pede e quer explicações e justificações e uma mulher que não as quer dar, que não as tem de dar.
Acabou!
Com ponto de exclamação.
Acabou.
Com ponto final.
E há uma mulher que renasce.
E uma mulher que, sem sorrir, acaba a consolar à vez dois homens que julgam sofrer, que partilham por conveniência um sofrimento que não sentem por uma mulher que não conheceram. Que nunca se deram ao trabalho de conhecer.

er... é... Sopa! Exactamente!



na Revista Visão de 14 de Janeiro


A Tereza faz uma salada.

20 janeiro 2010

Quarto Crescente

Deixa o mundo inteiro à porta deste quarto onde te dispo com os olhos e te perscruto com as mãos. Ignora tudo o que aconteça lá fora e confia tudo aquilo que és à minha vontade de te cuidar da cabeça aos pés e acredita que vale a pena entregares a tua mente à tarefa de te concentrares nas sensações a que somaremos as emoções que as sublimem.
Fecha os olhos por instantes e deixa-nos sermos amantes neste intervalo da existência que entendemos partilhar, neste quarto onde te quero dar o melhor de tudo aquilo que sou como percebes neste beijo que te dou e espero te transmita a segurança à altura da minha esperança de ser capaz de saber como se faz acontecer a perfeição.
Deixa que a tua intuição feminina te confirme que vale a pena seres minha neste lapso de tempo que conseguimos abraçar como o fazemos com os corpos deitados na cama deste quarto onde só tu existes para mim e eu anseio que me encares assim, um homem dedicado a ti por completo, capaz de te fazer sentir no deserto de uma ilha artificial para onde te arrastarei com o meu empenho total, com as coisas que farei para te agradar para assim me certificar que me gravarás na memória e quererás degustar depois esta história que nos une num momento a dois sagrado como o recordarei.
Deita-te ao meu lado e não hesites em pedir tudo aquilo que te apetecer nesta altura, aproveita enquanto dura e empenha-te também neste quarto que nos tem disponíveis para saborear os instantes agradáveis que queremos proporcionar ao outro sem medo algum, num espaço em que nos tornamos um, ligados à corrente onde reside a nascente desse rio que desaguas em partes do meu corpo que sentes como tuas quando me acolhes anfitriã sob a primeira luz de uma manhã a sós num mundo em que existimos nós e rigorosamente mais nada no final de uma madrugada feliz.
Ouve o que te diz o instinto e lê nos meus olhos o que não (des)minto de cada vez que te toco em busca da libertação de qualquer reserva ou grilhão que te iniba de usufruir em pleno de todo o prazer que nos demos com o amor que se fez.
Neste quarto crescente em que nos amamos e depois adormecemos a ver a lua partir até o sol incandescente nos acordar o desejo outra vez.

Suspenso

Escuta-me; posso ter um momento da tua atenção
antes de me enterrares essa ventania seca bem fundo,
antes de me carregares nos ombros o bloco gelado da solidão?

Escuta-me; nem sempre foi assim, o sorriso que morre
e fica suspenso na boca, vazio, como um palhaço mudo;
nem sempre foi assim, o sangue que corre noutro dia escorre.

Escuta-me; ouve a minha mão agarrar-te com força pela adaga
enquanto a outra me protege os olhos, eu ainda vejo tudo,
eu ainda me corto; abre os olhos fundos, perdidos, da tua lâmina cega.

Escuta-me; ainda te lembras? Os cabelos amarrados, a face rosada.
Lembra-te de mim, eu recordo cada marca tua como um caminho ensinado
que cem mil vezes aprendi; como um caminho nunca esquecido
que cem mil vezes percorri. Escuta-me, ainda te lembras de mim, quando nada
mesmo nada nos poderia separar? Ouve, ainda sou eu, a mesma, a vida
partilhada que foi nossa quando nosso foi o desejo e desejámos um mundo.


As mulheres também usam bigode!

Xaveco nerd


Alexandre Affonso - nadaver.com

19 janeiro 2010

Livro de Eros (Fragmentos)

por Casimiro de Brito


412
Como conciliar estas duas plantas que se cruzam no meu corpo? Um sexo libertino e um coração de mulher. Talvez se assemelhem mais do que parecem.

430
Que te apareceu a período? Coisa linda, a púrpura! Para mim, quando a mulher que está comigo é naturalmente louca, é como se estivesse num atelier de pintura. Pois não coisa mais linda do que penetrá-la quando o escarlate a visita! O menino encharcado de vermelho e depois a pincelar uns seios gloriosos e depois a abraçarem-se e a ficarem marcados pelo mesmo sangue! Coisa de deuses!

448
Quando te disse que, de ti amava tudo e tudo queria, pensei numa certa arrogância, numa certa perversidade, na beleza do sujo, que por isso não é sujo, como poderias tu pensar que jamais me sentiria ferido, que tudo seria “belo e bom”! e no entanto começaste a ferir-me com os teus lábios-rosa, mais e mais, e essa verdade tão desejada transformou-se num vício, num dos caminhos preferidos de “eros”, meu senhor e infiel servidor.

469
Há sumos exóticos num tornozelo ou numa axila que não pressentias nesse tempo em que tudo se concentrava na fenda nem sempre amável.









Fotos de Jacek Pomykalski

A fatia do... bolo


Quero correr pelo jardim
e encher-me de ar fresco;
descalça dançar por aí
e encantar-me com coisas banais.

Quero deixar o vento
despentear-me;
rolar na areia
daquela praia.

Quero partir como um corcel,
atravessar todos os desertos
esperando a tua chegada.

Quero perder-me pelos caminhos,
encontrar-te sem saber
e da virgindade oferecer-te
a melhor fatia.

Foto e poesia de Paula Raposo


Educação de adultos


3 páginas - basta ires cricando em "next page" a partir da página inicial acima

oglaf.com