Liebre de Marzo
23 janeiro 2010
22 janeiro 2010
«Amo Agora» de Casimiro de Brito e Marina Cedro
Livro lindíssimo que apresenta em diálogo poético uma história de paixão, corpos, aromas, sabores e cores entre dois poetas - Casimiro de Brito e Marina Cedro
(um excerto)... para celebrar o desejo!
73 Mandas-me pétalas marítimas o amor que floresce nas ilhas gregas Nas tuas terras subterrâneas Mandas-me notícias do país do mar e dos deuses Mas deusa és tu nua quando te dispo e ajustas ao meu corpo Água e vinho e por isso me embriago E tu sorris e voas Casimiro | 74 Línea que en mí es sagrada y en tu cuerpo tuyo me abrigas brazalete de mi piel ligamento años luz tu vida y la mía Notas de Calypso abre puertas tus palabras decidías abrazarme en tu tierra Afrodita mar y tierra dios de mar alimentas mi mirada caigo absuelta en tus brazos Poseidón Marina |
Marina Cedro
cantora poeta pianista
Nascida em Buenos Aires, Argentina, Marina assume-se como
autora, compositora e intérprete, numa expressão da escrita, da voz e do piano, em perfeita fusão. A sua “voz”, íntima e
profunda, leva ao extremo a sua arte: primordial e nostálgica.
No seu último álbum, Itinerario (2007) associa o Tango, o Jazz e a Poesia. O seu repertório compõe-se por obras musicais e literárias por si criadas bem como de autores como Piazzolla, Gainsburg, Expósito, Cortázar e Verlaine.
Casimiro de Brito
poeta ficcionista ensaísta
Nasceu em Loulé e publicou mais de 50 títulos, em Portugal e no estrangeiro. Dirigiu revistas literárias, esteve ligado a Poesia 61, desenvolvendo depois um percurso muito pessoal através de vários discursos inerentes a um mundo (e a uma vida pessoal) cheio de mudanças. Representado em 190 antologias e traduzido em 26 línguas. Foi presidente da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie e do P.E.N. Clube Português e é conselheiro daAssociação Mundial de Haiku, de Tóquio.
Mais poesia erótica no Estúdio Raposa
Mais de quarenta minutos com poesia erótica de António Salvado, Beatriz Barroso, Casimiro de Brito (5 poemas), Constança Lucas, Judith Teixeira (4 poemas), Luís Graça, Luís Pinto, 25 poemas da Índia, Rui Diniz e Otília Martel (5 poemas)... lidos pela voz d'ouro do Luís Gaspar.
Gold
Tenho todas as respostas. Espero só que me façam as perguntas certas.
Encontrei o tesouro, deitei fora o mapa e sentei-me à espera. O brilho do ouro chama por mim, mas não lhe posso tocar. Ainda não.
Estou aqui. Quero-te. Encontra-me.
Encontrei o tesouro, deitei fora o mapa e sentei-me à espera. O brilho do ouro chama por mim, mas não lhe posso tocar. Ainda não.
Estou aqui. Quero-te. Encontra-me.
Coisas
Tenho uma flor azul e branca colada num espelho, parece que flutua num lago; a minha imagem mergulhada atrás da flor e o rosto trespassado em nariz de pétalas. Olho à distância, pergunto-me porquê. Não sei. Colei-a porque representou algo importante que não queria esquecer, mas não me lembro; afinal, só me foi possível guardar a flor, perdi o significado. É isso que as coisas são: coisas, nada têm dentro delas que não esteja dentro de nós. E, aqui dentro, falta-me algo que eu sei que me faz falta - sinto o espaço vazio do que enchia a flor azul e branca - mas já não sei o que é. E se eu olhar fundo no lado - tão fundo que o espelho se chama memória - eu ainda acho (acho!) que, em vez do meu rosto, está um seio e as pétalas afagam um mamilo.
O cinema porno nos anos 70s era bem engraçado
Apreciem este filme (completo - 78 minutos) com uma versão porno musical do conto «Alice no País das Maravilhas» de Lewis Carrol.
«Alice no País das Maravilhas»
(abre numa nova janela)
«Alice no País das Maravilhas»
(abre numa nova janela)
21 janeiro 2010
Arte e manhas...
Disse que era um Rei. Prometeu amor, castelo, reino, Mundo. Ela nunca viu a coroa, nem sequer o cavalo ou, pelo menos, o dossel da cama; apenas um palheiro qualquer, onde a tomou.
Da(s) forma(s) geométrica(s): um esboço
Há um Carlos, um Vítor e uma Ana. Um triângulo amoroso clássico. O Carlos não sabe do Vítor e este não sabe que aquele existe. A Ana sabe dos dois mas não sabe de si. Há sms e mails. Há almoços e jantares. Há telefonemas furtivos e os normais encontros e desencontros que se associam a uma situação destas. Há música, muita música. E uma mulher que se multiplicava mas que agora se divide. Cada vez mais. E é cada vez menos. Que ri e chora. Um Carlos que não quer mais do que tem e um Vítor que não percebe o que tem. Há dias em que acorda com um e se deita com outro e semanas a dormir sozinha mesmo quando se encontra alguém ao seu lado na cama. “Nini” ouve-se trautear por vezes como se fosse uma personagem duma canção. Homens que sorriem com a sorte que têm, com a liberdade que julgam conquistar dia a dia e uma mulher que não se quer decidir. Há uma mulher com três escovas de dentes e que ocupa de forma diferente três espaços igualmente sufocantes, igualmente inexistentes. E, claro, onde há um triângulo há uma amiga, que tudo sabe e tudo esconde. Que censura sem censurar. Que deseja. Que ouve. Ouve sem sorrir. Que seca e mirra pelo irmão que, nem por acaso, gosta de Ana e não se quer intrometer entre aquela e Carlos, aquela e Vítor. Há um tempo e há um fim. E um homem que acorda sem uma escova de dentes no copo e outro que liga e pede e quer explicações e justificações e uma mulher que não as quer dar, que não as tem de dar.
Acabou!
Com ponto de exclamação.
Acabou.
Com ponto final.
E há uma mulher que renasce.
E uma mulher que, sem sorrir, acaba a consolar à vez dois homens que julgam sofrer, que partilham por conveniência um sofrimento que não sentem por uma mulher que não conheceram. Que nunca se deram ao trabalho de conhecer.
Acabou!
Com ponto de exclamação.
Acabou.
Com ponto final.
E há uma mulher que renasce.
E uma mulher que, sem sorrir, acaba a consolar à vez dois homens que julgam sofrer, que partilham por conveniência um sofrimento que não sentem por uma mulher que não conheceram. Que nunca se deram ao trabalho de conhecer.
20 janeiro 2010
Quarto Crescente
Deixa o mundo inteiro à porta deste quarto onde te dispo com os olhos e te perscruto com as mãos. Ignora tudo o que aconteça lá fora e confia tudo aquilo que és à minha vontade de te cuidar da cabeça aos pés e acredita que vale a pena entregares a tua mente à tarefa de te concentrares nas sensações a que somaremos as emoções que as sublimem.
Fecha os olhos por instantes e deixa-nos sermos amantes neste intervalo da existência que entendemos partilhar, neste quarto onde te quero dar o melhor de tudo aquilo que sou como percebes neste beijo que te dou e espero te transmita a segurança à altura da minha esperança de ser capaz de saber como se faz acontecer a perfeição.
Deixa que a tua intuição feminina te confirme que vale a pena seres minha neste lapso de tempo que conseguimos abraçar como o fazemos com os corpos deitados na cama deste quarto onde só tu existes para mim e eu anseio que me encares assim, um homem dedicado a ti por completo, capaz de te fazer sentir no deserto de uma ilha artificial para onde te arrastarei com o meu empenho total, com as coisas que farei para te agradar para assim me certificar que me gravarás na memória e quererás degustar depois esta história que nos une num momento a dois sagrado como o recordarei.
Deita-te ao meu lado e não hesites em pedir tudo aquilo que te apetecer nesta altura, aproveita enquanto dura e empenha-te também neste quarto que nos tem disponíveis para saborear os instantes agradáveis que queremos proporcionar ao outro sem medo algum, num espaço em que nos tornamos um, ligados à corrente onde reside a nascente desse rio que desaguas em partes do meu corpo que sentes como tuas quando me acolhes anfitriã sob a primeira luz de uma manhã a sós num mundo em que existimos nós e rigorosamente mais nada no final de uma madrugada feliz.
Ouve o que te diz o instinto e lê nos meus olhos o que não (des)minto de cada vez que te toco em busca da libertação de qualquer reserva ou grilhão que te iniba de usufruir em pleno de todo o prazer que nos demos com o amor que se fez.
Neste quarto crescente em que nos amamos e depois adormecemos a ver a lua partir até o sol incandescente nos acordar o desejo outra vez.
Fecha os olhos por instantes e deixa-nos sermos amantes neste intervalo da existência que entendemos partilhar, neste quarto onde te quero dar o melhor de tudo aquilo que sou como percebes neste beijo que te dou e espero te transmita a segurança à altura da minha esperança de ser capaz de saber como se faz acontecer a perfeição.
Deixa que a tua intuição feminina te confirme que vale a pena seres minha neste lapso de tempo que conseguimos abraçar como o fazemos com os corpos deitados na cama deste quarto onde só tu existes para mim e eu anseio que me encares assim, um homem dedicado a ti por completo, capaz de te fazer sentir no deserto de uma ilha artificial para onde te arrastarei com o meu empenho total, com as coisas que farei para te agradar para assim me certificar que me gravarás na memória e quererás degustar depois esta história que nos une num momento a dois sagrado como o recordarei.
Deita-te ao meu lado e não hesites em pedir tudo aquilo que te apetecer nesta altura, aproveita enquanto dura e empenha-te também neste quarto que nos tem disponíveis para saborear os instantes agradáveis que queremos proporcionar ao outro sem medo algum, num espaço em que nos tornamos um, ligados à corrente onde reside a nascente desse rio que desaguas em partes do meu corpo que sentes como tuas quando me acolhes anfitriã sob a primeira luz de uma manhã a sós num mundo em que existimos nós e rigorosamente mais nada no final de uma madrugada feliz.
Ouve o que te diz o instinto e lê nos meus olhos o que não (des)minto de cada vez que te toco em busca da libertação de qualquer reserva ou grilhão que te iniba de usufruir em pleno de todo o prazer que nos demos com o amor que se fez.
Neste quarto crescente em que nos amamos e depois adormecemos a ver a lua partir até o sol incandescente nos acordar o desejo outra vez.
Suspenso
Escuta-me; posso ter um momento da tua atenção
antes de me enterrares essa ventania seca bem fundo,
antes de me carregares nos ombros o bloco gelado da solidão?
Escuta-me; nem sempre foi assim, o sorriso que morre
e fica suspenso na boca, vazio, como um palhaço mudo;
nem sempre foi assim, o sangue que corre noutro dia escorre.
Escuta-me; ouve a minha mão agarrar-te com força pela adaga
enquanto a outra me protege os olhos, eu ainda vejo tudo,
eu ainda me corto; abre os olhos fundos, perdidos, da tua lâmina cega.
Escuta-me; ainda te lembras? Os cabelos amarrados, a face rosada.
Lembra-te de mim, eu recordo cada marca tua como um caminho ensinado
que cem mil vezes aprendi; como um caminho nunca esquecido
que cem mil vezes percorri. Escuta-me, ainda te lembras de mim, quando nada
mesmo nada nos poderia separar? Ouve, ainda sou eu, a mesma, a vida
partilhada que foi nossa quando nosso foi o desejo e desejámos um mundo.
antes de me enterrares essa ventania seca bem fundo,
antes de me carregares nos ombros o bloco gelado da solidão?
Escuta-me; nem sempre foi assim, o sorriso que morre
e fica suspenso na boca, vazio, como um palhaço mudo;
nem sempre foi assim, o sangue que corre noutro dia escorre.
Escuta-me; ouve a minha mão agarrar-te com força pela adaga
enquanto a outra me protege os olhos, eu ainda vejo tudo,
eu ainda me corto; abre os olhos fundos, perdidos, da tua lâmina cega.
Escuta-me; ainda te lembras? Os cabelos amarrados, a face rosada.
Lembra-te de mim, eu recordo cada marca tua como um caminho ensinado
que cem mil vezes aprendi; como um caminho nunca esquecido
que cem mil vezes percorri. Escuta-me, ainda te lembras de mim, quando nada
mesmo nada nos poderia separar? Ouve, ainda sou eu, a mesma, a vida
partilhada que foi nossa quando nosso foi o desejo e desejámos um mundo.
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