23 janeiro 2010

Outra margem de mim


E é nesta dormência demente
Que me assola o corpo inteiro,
Que estremeço e enlouqueço
Sentindo falta do teu toque
No espaço vazio
Deixado na minha pele.

Despojada assim do meu pensar
Vagueando à deriva
Nesta vasta imensidão
Ensandeço, atordoada
Ansiando avidamente
Pelo calor do teu olhar
Pousado suavemente em mim.

Grito em silêncio o teu nome
E tudo que escuto
É o eco emudecido
Desta demente dormência
Que me deixa adormecida,
Morando perpetuadamente
Neste êxtase sonhado,
Aguardando o teu corpo no meu
Extinguindo este defeito
De ter feito de ti
A nascente que me suporta
E me transporta
À outra margem de mim.

Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com/

Eugénia

Desenhava almas mas disse que não queria desenhar. Nunca conseguiria esboçar o cheiro da transpiração do homem minúsculo na sua pele. Nunca conseguiria pintar as constantes lavagens, até que o cheiro dele se misturou no sabão e, depois, no banho - agora esfolado na sua pele. Nunca conseguiria contornar o peso, a força gelatinosa arremessada, o vai-vem duro, a lua vermelha quando apelava ao céu que ele não a magoasse muito, que acabasse depressa. Sr. Dr. - disse - eu consigo desenhar um cão e um homem, mas nunca conseguirei retratar a criatura híbrida parida do pior dos dois. Sou capaz, contudo, de desenhar a fome que tenho e o pão que me oferecer. Era um cavaleiro; montou-a nele para se salvarem e transformou-se num cavalo.


Publicidade a um festival de música na Suécia


Fest
by hansinov

Água na boca



Liebre de Marzo

22 janeiro 2010

«Amo Agora» de Casimiro de Brito e Marina Cedro

Livro lindíssimo que apresenta em diálogo poético uma história de paixão, corpos, aromas, sabores e cores entre dois poetas - Casimiro de Brito e Marina Cedro


(um excerto)... para celebrar o desejo!


73

Mandas-me
pétalas
marítimas
o amor
que floresce
nas ilhas gregas

Nas tuas terras
subterrâneas

Mandas-me
notícias
do país do mar
e dos deuses

Mas deusa
és tu
nua
quando te dispo
e ajustas
ao meu corpo

Água e vinho
e por isso me
embriago

E tu
sorris
e voas

Casimiro
74

Línea
que en mí
es sagrada
y en tu
cuerpo
tuyo
me abrigas
brazalete
de mi piel
ligamento
años luz
tu vida y
la mía

Notas de
Calypso
abre puertas
tus palabras
decidías
abrazarme
en tu
tierra
Afrodita
mar y tierra
dios de mar
alimentas
mi mirada
caigo
absuelta
en tus brazos
Poseidón

Marina


Marina Cedro
cantora
poeta pianista
Nascida em Buenos Aires, Argentina, Marina assume-se como
autora, compositora e intérprete, numa expressão da escrita, da voz e do piano, em perfeita fusão. A sua “voz”, íntima e
profunda, leva ao extremo a sua arte: primordial e nostálgica.
No seu último álbum, Itinerario (2007) associa o Tango, o Jazz e a Poesia. O seu repertório compõe-se por obras musicais e literárias por si criadas bem como de autores como Piazzolla, Gainsburg, Expósito, Cortázar e Verlaine.


Casimiro de Brito
poeta ficcionista ensaísta

Nasceu em Loulé e publicou mais de 50 títulos, em Portugal e no estrangeiro. Dirigiu revistas literárias, esteve ligado a Poesia 61, desenvolvendo depois um percurso muito pessoal através de vários discursos inerentes a um mundo (e a uma vida pessoal) cheio de mudanças. Representado em 190 antologias e traduzido em 26 línguas. Foi presidente da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie e do P.E.N. Clube Português e é conselheiro daAssociação Mundial de Haiku, de Tóquio.

Mais poesia erótica no Estúdio Raposa

Mais de quarenta minutos com poesia erótica de António Salvado, Beatriz Barroso, Casimiro de Brito (5 poemas), Constança Lucas, Judith Teixeira (4 poemas), Luís Graça, Luís Pinto, 25 poemas da Índia, Rui Diniz e Otília Martel (5 poemas)... lidos pela voz d'ouro do Luís Gaspar.

Gold

par13_thumb[3]

Tenho todas as respostas. Espero só que me façam as perguntas certas.
Encontrei o tesouro, deitei fora o mapa e sentei-me à espera. O brilho do ouro chama por mim, mas não lhe posso tocar. Ainda não.
Estou aqui. Quero-te. Encontra-me.


(Crimes Perfeitos)

Coisas

Tenho uma flor azul e branca colada num espelho, parece que flutua num lago; a minha imagem mergulhada atrás da flor e o rosto trespassado em nariz de pétalas. Olho à distância, pergunto-me porquê. Não sei. Colei-a porque representou algo importante que não queria esquecer, mas não me lembro; afinal, só me foi possível guardar a flor, perdi o significado. É isso que as coisas são: coisas, nada têm dentro delas que não esteja dentro de nós. E, aqui dentro, falta-me algo que eu sei que me faz falta - sinto o espaço vazio do que enchia a flor azul e branca - mas já não sei o que é. E se eu olhar fundo no lado - tão fundo que o espelho se chama memória - eu ainda acho (acho!) que, em vez do meu rosto, está um seio e as pétalas afagam um mamilo.

O cinema porno nos anos 70s era bem engraçado

Apreciem este filme (completo - 78 minutos) com uma versão porno musical do conto «Alice no País das Maravilhas» de Lewis Carrol.


«Alice no País das Maravilhas»

(abre numa nova janela)

21 janeiro 2010

Arte e manhas...

Disse que era um Rei. Prometeu amor, castelo, reino, Mundo. Ela nunca viu a coroa, nem sequer o cavalo ou, pelo menos, o dossel da cama; apenas um palheiro qualquer, onde a tomou.