24 janeiro 2010
Raios
Quando começo a dizer
coisas sem ‘nexo’
(convictamente),
é precisamente quando a vontade
se impõe e toma conta
da racionalidade.
Chamam-lhe impulsividade,
falta de educação, loucura,
raiva, ciúmes;
um sem número de epítetos.
Nesse ponto:
quero que o raio te parta
e que te lixes.
Sem mais.
Foto e poesia de Paula Raposo
23 janeiro 2010
Outra margem de mim
E é nesta dormência demente
Que me assola o corpo inteiro,
Que estremeço e enlouqueço
Sentindo falta do teu toque
No espaço vazio
Deixado na minha pele.
Despojada assim do meu pensar
Vagueando à deriva
Nesta vasta imensidão
Ensandeço, atordoada
Ansiando avidamente
Pelo calor do teu olhar
Pousado suavemente em mim.
Grito em silêncio o teu nome
E tudo que escuto
É o eco emudecido
Desta demente dormência
Que me deixa adormecida,
Morando perpetuadamente
Neste êxtase sonhado,
Aguardando o teu corpo no meu
Extinguindo este defeito
De ter feito de ti
A nascente que me suporta
E me transporta
À outra margem de mim.
Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com/
Eugénia
Desenhava almas mas disse que não queria desenhar. Nunca conseguiria esboçar o cheiro da transpiração do homem minúsculo na sua pele. Nunca conseguiria pintar as constantes lavagens, até que o cheiro dele se misturou no sabão e, depois, no banho - agora esfolado na sua pele. Nunca conseguiria contornar o peso, a força gelatinosa arremessada, o vai-vem duro, a lua vermelha quando apelava ao céu que ele não a magoasse muito, que acabasse depressa. Sr. Dr. - disse - eu consigo desenhar um cão e um homem, mas nunca conseguirei retratar a criatura híbrida parida do pior dos dois. Sou capaz, contudo, de desenhar a fome que tenho e o pão que me oferecer. Era um cavaleiro; montou-a nele para se salvarem e transformou-se num cavalo.
22 janeiro 2010
«Amo Agora» de Casimiro de Brito e Marina Cedro
Livro lindíssimo que apresenta em diálogo poético uma história de paixão, corpos, aromas, sabores e cores entre dois poetas - Casimiro de Brito e Marina Cedro
(um excerto)... para celebrar o desejo!
73 Mandas-me pétalas marítimas o amor que floresce nas ilhas gregas Nas tuas terras subterrâneas Mandas-me notícias do país do mar e dos deuses Mas deusa és tu nua quando te dispo e ajustas ao meu corpo Água e vinho e por isso me embriago E tu sorris e voas Casimiro | 74 Línea que en mí es sagrada y en tu cuerpo tuyo me abrigas brazalete de mi piel ligamento años luz tu vida y la mía Notas de Calypso abre puertas tus palabras decidías abrazarme en tu tierra Afrodita mar y tierra dios de mar alimentas mi mirada caigo absuelta en tus brazos Poseidón Marina |
Marina Cedro
cantora poeta pianista
Nascida em Buenos Aires, Argentina, Marina assume-se como
autora, compositora e intérprete, numa expressão da escrita, da voz e do piano, em perfeita fusão. A sua “voz”, íntima e
profunda, leva ao extremo a sua arte: primordial e nostálgica.
No seu último álbum, Itinerario (2007) associa o Tango, o Jazz e a Poesia. O seu repertório compõe-se por obras musicais e literárias por si criadas bem como de autores como Piazzolla, Gainsburg, Expósito, Cortázar e Verlaine.
Casimiro de Brito
poeta ficcionista ensaísta
Nasceu em Loulé e publicou mais de 50 títulos, em Portugal e no estrangeiro. Dirigiu revistas literárias, esteve ligado a Poesia 61, desenvolvendo depois um percurso muito pessoal através de vários discursos inerentes a um mundo (e a uma vida pessoal) cheio de mudanças. Representado em 190 antologias e traduzido em 26 línguas. Foi presidente da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie e do P.E.N. Clube Português e é conselheiro daAssociação Mundial de Haiku, de Tóquio.
Mais poesia erótica no Estúdio Raposa
Mais de quarenta minutos com poesia erótica de António Salvado, Beatriz Barroso, Casimiro de Brito (5 poemas), Constança Lucas, Judith Teixeira (4 poemas), Luís Graça, Luís Pinto, 25 poemas da Índia, Rui Diniz e Otília Martel (5 poemas)... lidos pela voz d'ouro do Luís Gaspar.
Gold
Tenho todas as respostas. Espero só que me façam as perguntas certas.
Encontrei o tesouro, deitei fora o mapa e sentei-me à espera. O brilho do ouro chama por mim, mas não lhe posso tocar. Ainda não.
Estou aqui. Quero-te. Encontra-me.
Encontrei o tesouro, deitei fora o mapa e sentei-me à espera. O brilho do ouro chama por mim, mas não lhe posso tocar. Ainda não.
Estou aqui. Quero-te. Encontra-me.
Coisas
Tenho uma flor azul e branca colada num espelho, parece que flutua num lago; a minha imagem mergulhada atrás da flor e o rosto trespassado em nariz de pétalas. Olho à distância, pergunto-me porquê. Não sei. Colei-a porque representou algo importante que não queria esquecer, mas não me lembro; afinal, só me foi possível guardar a flor, perdi o significado. É isso que as coisas são: coisas, nada têm dentro delas que não esteja dentro de nós. E, aqui dentro, falta-me algo que eu sei que me faz falta - sinto o espaço vazio do que enchia a flor azul e branca - mas já não sei o que é. E se eu olhar fundo no lado - tão fundo que o espelho se chama memória - eu ainda acho (acho!) que, em vez do meu rosto, está um seio e as pétalas afagam um mamilo.
O cinema porno nos anos 70s era bem engraçado
Apreciem este filme (completo - 78 minutos) com uma versão porno musical do conto «Alice no País das Maravilhas» de Lewis Carrol.
«Alice no País das Maravilhas»
(abre numa nova janela)
«Alice no País das Maravilhas»
(abre numa nova janela)
21 janeiro 2010
Arte e manhas...
Disse que era um Rei. Prometeu amor, castelo, reino, Mundo. Ela nunca viu a coroa, nem sequer o cavalo ou, pelo menos, o dossel da cama; apenas um palheiro qualquer, onde a tomou.
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