06 fevereiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito


967

Cuida-te, amor. Ama. Debruça-te e colhe a flor. “Carpite florem”, que se não for colhida por si mesma cairá. Sem beleza, cairá. Onda dura. Mais dura do que a rocha, se a não escava. São essas águas, tépidas e flexíveis, as do teu corpo, de que preciso para sobreviver; é o mel da tua língua e a carícia interior do teu sexo de que preciso para limar e arejar e amolecer a pedra triste do meu corpo. “Tu mihi sola places!”

993

O teu sexo quando o orgasmo sobrevém:
uma caixinha de música molhada.

1011

Amo-te porque não te conheço.

Saibas tu manter-me na ignorância dos teus enigmas.




Fotografias de Luís Mendonça

Susana: um simples conto

Não, meu amor, a questão fatal não é se vamos conseguir - a vida é um novelo nosso de sucessos e insucessos; a questão que tudo pode esmagar, bastante mais escondida - os alicerces estão sempre escondidos - é se vamos tentar. E eu aqui, a olhar-te sem te conseguir tocar, presa nesta minha incapacidade de te responder... E eu aqui, atenta a ti sem te conseguir dizer; presa na falta de fé que transpiraste, de passos presos de tanto medir os teus. E chega a apatia, este saber ter-te apenas em momentos e nunca te chamar; e chega o hedonismo, este leve habitar-te num momento de sonho, sem nunca sonhar com os momentos colados, sem saber como sonhar com um amanhã. Inundas-me as horas, sim, mas as horas são estanques e não transbordam dias, nem semanas, nem meses, nem anos, nem vida. Sei abrir a porta do quarto mas não sei abrir a porta de casa e, meu amor, a janela está muito muito alta.

Dança erótica num filme de 1910

Quando o filme «Afgrunden» foi exibido pela primeira vez em 1910, esta cena com uma dança da actriz Asta Nielsen causou um grande burburinho (palavra tão gira e há que tempos eu não a escrevia).

Uma Verdade Inconveniente!


Nem .wmv!

Capinaremos.com

05 fevereiro 2010

sem amar

reconheço no teu corpo
o homem que um dia amei
reconheço na tua pele
prazeres que um dia senti
revejo nos teus olhos
loucuras que um dia vivi

ainda gosto do teu corpo
da tua pele macia
do prazer que contigo sinto
das loucuras que nos guiam

e mais uma vez
me perco em ti
sem hesitar
sem amar

Corpos e Almas

Noite @MissJoanaWell


Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite vinga-se e invade-me - como um dia tu me invadiste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é cruel e toca-me, constantemente - com a mesma profundidade com que, um dia, tu me tocaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é ciumenta e penetra-me, densamente - com a mesma paixão com que, um dia, tu me penetraste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é vazia e enche-me, completamente - com a mesma sofreguidão com que, um dia, tu me encheste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é amante e toma-me, desenfreadamente - com a mesma fome com que, um dia, tu me tomaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é cortante e ama-me, imperativamente - com a mesma firmeza com que, um dia, tu me amaste a noite.

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é liquida e afoga-me, silenciosamente - com a mesma mudez com que, um dia, tu me afogaste a noite..

Durmo. Nunca acordo.
Porque, agora, a noite é viva e acorda-me, definitivamente - com a mesma força com que, um dia, tu me acordaste a noite.

Monumento à entrada da fábrica da CIMPOR em Souselas (Coimbra)

Digam lá que não é um enquadramento erótico...

Papagaio romântico


Alexandre Affonso - nadaver.com

04 fevereiro 2010

Sal @MissJoanaWell


Ah, aquela criatura perfeita,
perfeitamente nua,
de haste perfeitamente erguida,
apontada a mim....

Ah, que pena eu ser de pedra,
que pena ser tão de pedra
que qualquer dia as pedras
se transformam em mim...

Arte

Era uma puta delicada e triste, que seduzia com a sua delicada tristeza e com a sua triste delicadeza.
A encantadora puta, delicada e triste, conquistava com os seus gestos tímidos, com o sorriso que nunca se formava totalmente e com o seu ciciar sussurrado de gata delicada e triste apanhada nas malhas de um mundo maior do que ela e que a obrigava a ser puta, ainda que se mantivesse delicada e continuasse triste.
Depois, ainda que a princípio mostrasse um sorriso contrafeito, um sorriso falso, tão delicado e triste como ela, a puta abocanhava com inesperado fragor e entusiasmo, surpreendendo-os, e enquanto chupava e lambia sussurrava elogios inéditos e louvores excêntricos enquanto as mãos de pele suave se afadigavam vertiginosamente numa aceleração arrebatadora.
– Ah! – exclamavam os clientes, precocemente aliviados mas satisfeitos como se tivessem fodido. – Aaaah…
– Oh… – deixava escapar delicadamente a triste puta, visivelmente sentida e desconsolada por não ter sido fodida por tão brioso macho e por fim, preocupada por lhes manter a auto-estima e para lhes renovar a vaidade, aditava sorridente e entusiasmada, como se fosse coisa nunca vista: – Oh, meu querido… Mas que jacto! Que bombada!
E eles sorriam como adolescentes, cheios de brio e mania, orgulhosos do sorriso encantado da puta triste e delicada.