08 fevereiro 2010

Sim, são lésbicas. E depois?

Teresa Pires e Helena Paixão são duas mulheres, cidadãs portuguesas, que enfrentam enormes dificuldades financeiras e outras ainda piores não por serem lésbicas mas, para minha vergonha enquanto cidadão do mesmo país, por terem a coragem de assumir a ligação e o seu amor de forma pública.
Se para mim já é impossível entender qualquer tipo de descriminação de pessoas em função das suas preferências (homos)sexuais, repugna-me ver gente corajosa pagar um preço por renegarem a hipocrisia e rejeitarem a clandestinidade envergonhada.
O calvário vivido pela Helena e pela Teresa tem assumido proporções abjectas, sendo sujeitas a todo o tipo de discriminação que afinal não passa de uma represália por serem pessoas frontais e com os tomates que faltam aos indecentes cobardolas que as hostilizam.
É indigna a intolerância, seja manifestada a que pretexto for, quando estão em causa opções individuais que em nada afectam terceiros (quem não gosta não come) e ainda menos são contas do seu rosário.
Pior ainda, é nojento que duas pessoas sejam marginalizadas ao ponto de raramente conseguirem permanecer na mesma casa por mais do que alguns meses e não conseguirem manter um emprego só porque assumem que se amam e fazem vida juntas.
Sim, para este como para todos os efeitos é de pessoas que se trata. Não sei se são boas ou más pessoas sequer, nem me interessa. Sei que tiveram um acto de coragem ao darem a cara diante de câmaras de televisão quando reclamaram um direito que a Lei hoje reconhece e isso basta-me para me orgulhar de serem portuguesas como eu.
E não me venham com ideologias, que sou de esquerda e mais não sei o quê, pois o respeito pela diferença não é uma questão política ou partidária. Ninguém me verá advogar a homossexualidade, da mesma forma que não pretendo converter alguém à minha onda hetero. Cada um/a sabe de si e eu respondo pelas minhas escolhas e não tenho o direito de não permitir que os outros respondam pelas suas com exactamente a mesma liberdade de actuação e sem por isso sofrerem punições sociais.
Cabe na cabeça de alguém que façam a vida negra às pessoas pelo motivo em causa? Querem o quê, que as pessoas se escondam, que mintam, que tenham vergonha de si próprias por serem diferentes? O que ou quem concede esse direito? E que pretendem de facto obter com tal comportamento, alguma espécie de normalização, de padronização das pessoas em função do género? E da cor, não é? E do estatuto social, que tal?
É mesmo uma questão de princípio daquelas que nem requerem muita inteligência para lá chegar: as pessoas têm o direito a viverem as suas vidas como entenderem, desde que não interfiram de forma alguma com os direitos dos outros.
E na questão de que vos falo, a da vergonhosa conduta de cada autor de um gesto hostil para com duas pessoas pelos motivos que refiro, não existem direitos a invocar.
Existem deveres de respeito, de consideração, de decência e de vergonha na cara que ninguém dispensa nos outros e, nem que seja só por isso, devemos todos assumir por inerência.

Nudez

Perdoa-me, meu amor,
se chego demasiado tarde
ou demasiado cedo,
no teu tempo.
Em mim, só a sede decide,
a vontade é brinquedo
nas mãos despidas do teu corpo.

Perdoa-me, meu amor,
se te desejo quase tudo
ou quase nada,
na tua vontade.
Em mim, só a fome manda
e o tempo, esfomeado,
come da tua nudez a saudade.

Perdoa-me, meu amor
se quase nada vejo
ou se vejo demais,
na tua imagem.
Em mim, só ordena o desejo
que me cegue nos temporais
e me seque nua na tua folhagem.

«Curvas Perigosas» (1 e 2) - Maitena

A cartunista argentina Maitena publicou estes dois livros sobre o muito cuidado que é preciso ter com... as curvas. E as feminininas, bem mais perigosas que as do asfalto, como referem nesta sinopse: "Maitena escolheu as curvas porque sabe como ninguém que as voltas mais perigosas não são exatamente as do corpo, mas as da mente. (...) não há chefe ou marido capaz de deixar uma mulher tão alterada quanto um rabo caído ou um centímetro a mais de cintura. Tudo bem, as mulheres não são todas iguais, mas passam pelas mesmas coisas e, por tabela, os homens ao lado delas também."
A partir de agora, também na minha colecção.



Dois exemplos dos conteúdos:


Círculo vicioso.



A luz da razão.

07 fevereiro 2010

Novo ciclo


Em tempos idos
disseste que eu não existia;
era uma miragem,
porque os meus olhos
reflectiam o meu pensamento.

Nesses tempos idos
disseste tanta coisa que já esqueci;
entretanto, perdi-me, por aí,
porque os olhos deixaram
de entender.

Os tempos são idos
e com eles a penumbra
fechou-se:
- um novo ciclo se inicia.

Foto e poesia de Paula Raposo

Diálogo sobre bigodes (e Rosas) no Facebook

São Rosas: "A um homem fica bem usar bigode de vez em quando"


Rui P.: "Sim... São Rosas, tens razão: «de vez em quando um bigode fica bem a um homem»; Eu diria mais: até numa rosa um bigode fica a matar!"

Os segredos do sexo oral

Uma fera na cama!


crica para visitares a página John & John de d!o

06 fevereiro 2010

Livro de Eros (fragmentos)

por Casimiro de Brito


967

Cuida-te, amor. Ama. Debruça-te e colhe a flor. “Carpite florem”, que se não for colhida por si mesma cairá. Sem beleza, cairá. Onda dura. Mais dura do que a rocha, se a não escava. São essas águas, tépidas e flexíveis, as do teu corpo, de que preciso para sobreviver; é o mel da tua língua e a carícia interior do teu sexo de que preciso para limar e arejar e amolecer a pedra triste do meu corpo. “Tu mihi sola places!”

993

O teu sexo quando o orgasmo sobrevém:
uma caixinha de música molhada.

1011

Amo-te porque não te conheço.

Saibas tu manter-me na ignorância dos teus enigmas.




Fotografias de Luís Mendonça

Susana: um simples conto

Não, meu amor, a questão fatal não é se vamos conseguir - a vida é um novelo nosso de sucessos e insucessos; a questão que tudo pode esmagar, bastante mais escondida - os alicerces estão sempre escondidos - é se vamos tentar. E eu aqui, a olhar-te sem te conseguir tocar, presa nesta minha incapacidade de te responder... E eu aqui, atenta a ti sem te conseguir dizer; presa na falta de fé que transpiraste, de passos presos de tanto medir os teus. E chega a apatia, este saber ter-te apenas em momentos e nunca te chamar; e chega o hedonismo, este leve habitar-te num momento de sonho, sem nunca sonhar com os momentos colados, sem saber como sonhar com um amanhã. Inundas-me as horas, sim, mas as horas são estanques e não transbordam dias, nem semanas, nem meses, nem anos, nem vida. Sei abrir a porta do quarto mas não sei abrir a porta de casa e, meu amor, a janela está muito muito alta.

Dança erótica num filme de 1910

Quando o filme «Afgrunden» foi exibido pela primeira vez em 1910, esta cena com uma dança da actriz Asta Nielsen causou um grande burburinho (palavra tão gira e há que tempos eu não a escrevia).