10 fevereiro 2010

Sentidos permitidos

Como passar as narinas com suavidade por uma pétala e sentir a fragrância natural do amor que expele cada poro numa pele desejada, numa flor reencarnada em corpo de mulher que se cheira e se quer no preciso instante em que o potencial amante recebe o impacto do odor que lhe desperta no interior aquela vontade que se tem de ir mais adiante, mais além, e mergulhar sem demora no canteiro daquele jardim.
Como deslizar sem fim a atenção de um olhar pelos contornos de uma paisagem esculpida pelo vento, pela erosão, e disparar o coração num galope desenfreado pelo corpo de mulher deitado numa cama onde queremos estar para ocuparmos aquele lugar vago no paraíso que chama por nós, enfeitiçados pela imagem que recolhemos ao longo da viagem em que os olhos nos transportam sem pressas até junto das portas do céu.
Como passear as cabeças dos dedos no mais sedoso tecido, pelo corpo de mulher despido, acariciar a textura perfeita e receber em troca a maravilhosa sensação de perceber amor e tesão concentrados num único e prolongado arrepio que parecem percorrer de imediato um fio condutor, energia, das coisas ligadas à corrente do amor que se faz também pela forma sensual de tocar a perfeição com o ardor da paixão e a suavidade de quem caminha sobre papel de arroz.
Como escutar um rio desde a nascente até à foz, o desenho dos cabelos compridos espalhados pelo corpo de mulher, pelas costas, pelas margens beijadas enquanto a água se agita como fervente no seu percurso urgente até ao ponto de chegada onde a força do mar é reforçada para o confronto com falésias mais resistentes do que o betão das barragens que inventam cascatas quando o rio se agiganta e se faz ouvir imponente na vontade de prosseguir até ao fim do caminho traçado naquele corpo molhado de prazer.
Como saborear um corpo de mulher com o gosto do amor no paladar, o sexo a latejar a verdade e a consequência do coração a reagir ao sabor mais apreciado, o do corpo tão amado naquele instante em que se transforma num corpo amante e se torna mais salgado pelo suor libertado e, ao mesmo tempo, adocica o tempero da emoção que se beija e que se lambe, que se chupa e se invade com ímpeto de um exército conquistador, senão com os sentidos alerta e com a alma desperta pelas sensações mais intensas que podemos experimentar?

Maria: o conto dos monstros

Amor; há monstros e também os que vivem dentro de ti. Amor, eu não desvio o olhar deles; mesmo que os esconda debaixo da cama, eles continuam a existir; mesmo que tape a cabeça, eles continuam a olhar para mim.

Amor, há monstros e também os que vivem dentro de mim. Amor, eu não os tento ocultar; mesmo que os oculte debaixo da cama, eles continuam a existir; mesmo que tu tapes a cabeça, eles continuam a olhar para ti.

Amor, não tenhas medo de me perguntar como são os meus monstros; não tenhas medo de os ver; amor, quem sabe eles não sorriem para ti?

Amor, há monstros e também há os que vivem dentro de nós. Amor, não vamos desviar o olhar deles; mesmo que os escondamos debaixo da cama, eles continuam a existir e quando tapamos a cabeça, amor, trocamos o medo dos monstros que nos olham pelo medo dos monstros que imaginamos a olhar. E nunca os imaginamos a sorrir; e, quem sabe, eles não podem até sorrir para nós?

Não tenhas medo de encontrar os meus monstros nas tuas perguntas, meu amor.

Linda Carochinha



JF - "A Carochinha à espera do João Ratão"

Gonorreia aviária


Alexandre Affonso - nadaver.com

09 fevereiro 2010

Desafios (!)


Pela foto, ele era giro.
Mais que giro.
Alto, com tudo no sítio
e (!) com menos 22 anos do que eu.

Encontrámo-nos perto do casino
e lá fui no carro dele até à Ericeira.

Onde é que ele me leva?
Pensava eu pelo caminho
- confesso o nervosismo -
que até me pareceu mais bonito
do que de outras vezes.

Ainda parámos para beber um café.

Estacionou o carro numa rua
cheia de casas de aldeia.
Ninguém em casa e o quarto arrumadinho
(coisa que pouco me importou na altura),
a partir daí foi a luta corpo a corpo.
Valeu tudo menos tirar olhos (!!)
Enorme o gozo.

Trouxe-me de volta (com o ego bem cheio),
sã e salva.

Nunca mais o vi; nem me lembro do nome.

Foto e poesia de Paula Raposo

Uma simples questão.

Vejam a foto abaixo e respondam:



A eterna dúvida entre uma boa conversa ou sexo sem compromisso…

Capinaremos.com

Reebok EasyTone



A «pancada» rosa
*

* berserker - guerreiro nórdico que combatia como louco

1 página

oglaf.com

08 fevereiro 2010

Sim, são lésbicas. E depois?

Teresa Pires e Helena Paixão são duas mulheres, cidadãs portuguesas, que enfrentam enormes dificuldades financeiras e outras ainda piores não por serem lésbicas mas, para minha vergonha enquanto cidadão do mesmo país, por terem a coragem de assumir a ligação e o seu amor de forma pública.
Se para mim já é impossível entender qualquer tipo de descriminação de pessoas em função das suas preferências (homos)sexuais, repugna-me ver gente corajosa pagar um preço por renegarem a hipocrisia e rejeitarem a clandestinidade envergonhada.
O calvário vivido pela Helena e pela Teresa tem assumido proporções abjectas, sendo sujeitas a todo o tipo de discriminação que afinal não passa de uma represália por serem pessoas frontais e com os tomates que faltam aos indecentes cobardolas que as hostilizam.
É indigna a intolerância, seja manifestada a que pretexto for, quando estão em causa opções individuais que em nada afectam terceiros (quem não gosta não come) e ainda menos são contas do seu rosário.
Pior ainda, é nojento que duas pessoas sejam marginalizadas ao ponto de raramente conseguirem permanecer na mesma casa por mais do que alguns meses e não conseguirem manter um emprego só porque assumem que se amam e fazem vida juntas.
Sim, para este como para todos os efeitos é de pessoas que se trata. Não sei se são boas ou más pessoas sequer, nem me interessa. Sei que tiveram um acto de coragem ao darem a cara diante de câmaras de televisão quando reclamaram um direito que a Lei hoje reconhece e isso basta-me para me orgulhar de serem portuguesas como eu.
E não me venham com ideologias, que sou de esquerda e mais não sei o quê, pois o respeito pela diferença não é uma questão política ou partidária. Ninguém me verá advogar a homossexualidade, da mesma forma que não pretendo converter alguém à minha onda hetero. Cada um/a sabe de si e eu respondo pelas minhas escolhas e não tenho o direito de não permitir que os outros respondam pelas suas com exactamente a mesma liberdade de actuação e sem por isso sofrerem punições sociais.
Cabe na cabeça de alguém que façam a vida negra às pessoas pelo motivo em causa? Querem o quê, que as pessoas se escondam, que mintam, que tenham vergonha de si próprias por serem diferentes? O que ou quem concede esse direito? E que pretendem de facto obter com tal comportamento, alguma espécie de normalização, de padronização das pessoas em função do género? E da cor, não é? E do estatuto social, que tal?
É mesmo uma questão de princípio daquelas que nem requerem muita inteligência para lá chegar: as pessoas têm o direito a viverem as suas vidas como entenderem, desde que não interfiram de forma alguma com os direitos dos outros.
E na questão de que vos falo, a da vergonhosa conduta de cada autor de um gesto hostil para com duas pessoas pelos motivos que refiro, não existem direitos a invocar.
Existem deveres de respeito, de consideração, de decência e de vergonha na cara que ninguém dispensa nos outros e, nem que seja só por isso, devemos todos assumir por inerência.

Nudez

Perdoa-me, meu amor,
se chego demasiado tarde
ou demasiado cedo,
no teu tempo.
Em mim, só a sede decide,
a vontade é brinquedo
nas mãos despidas do teu corpo.

Perdoa-me, meu amor,
se te desejo quase tudo
ou quase nada,
na tua vontade.
Em mim, só a fome manda
e o tempo, esfomeado,
come da tua nudez a saudade.

Perdoa-me, meu amor
se quase nada vejo
ou se vejo demais,
na tua imagem.
Em mim, só ordena o desejo
que me cegue nos temporais
e me seque nua na tua folhagem.

«Curvas Perigosas» (1 e 2) - Maitena

A cartunista argentina Maitena publicou estes dois livros sobre o muito cuidado que é preciso ter com... as curvas. E as feminininas, bem mais perigosas que as do asfalto, como referem nesta sinopse: "Maitena escolheu as curvas porque sabe como ninguém que as voltas mais perigosas não são exatamente as do corpo, mas as da mente. (...) não há chefe ou marido capaz de deixar uma mulher tão alterada quanto um rabo caído ou um centímetro a mais de cintura. Tudo bem, as mulheres não são todas iguais, mas passam pelas mesmas coisas e, por tabela, os homens ao lado delas também."
A partir de agora, também na minha colecção.



Dois exemplos dos conteúdos:


Círculo vicioso.



A luz da razão.

07 fevereiro 2010

Novo ciclo


Em tempos idos
disseste que eu não existia;
era uma miragem,
porque os meus olhos
reflectiam o meu pensamento.

Nesses tempos idos
disseste tanta coisa que já esqueci;
entretanto, perdi-me, por aí,
porque os olhos deixaram
de entender.

Os tempos são idos
e com eles a penumbra
fechou-se:
- um novo ciclo se inicia.

Foto e poesia de Paula Raposo