O Romeiro fala de um objecto que encontra com frequência em Portugal e que, segundo ele, é erótico. Para mim também é, Romeiro.
"Só os há por cá. De resto, não tenho visto muitos bidés. Na Bélgica não os há, em África, só em alguns hotéis, nos EUA, poucos encontrei. No Japão ou Coreia, nem sombra. Poucos vi em Inglaterra, França e Alemanha, parece que os usaram e agora já não tanto. No Brasil estão a aboli-los, mas pelo menos deram uma alternativa, uma mangueirinha com chuveiro e fazem tudo na retrete (eles dizem vaso). Que povo tão criativo! Deve ser da mistura.
Tenho pelo bidé grande admiração, sinceramente, sem pingo de ironia. O Bidé é, por um lado, um objecto útil e prático, por outro, um objecto com o qual tenho uma ligação manifestamente erótica.
Do meu ponto de vista, útil e prático porque dispensa tomar banho todos os dias.
Tomar banho todos os dias só quando se justifica, com o calor do Verão, e ainda se fosse atleta ou alguém que praticasse trabalho braçal.
A água cheia de cloro estraga a pele, no Inverno tira-nos a “cera” que protege contra o frio, desperdiça-se água, polui-se o ambiente com os produtos de higiene pessoal e com o aquecimento das águas. Enfim, não compensa. Acabei de me lembrar da moda das casas modernas terem banheira de hidromassagem e/ou chuveiros com massagens. Muito lindo, quantas vezes irão eles utilizá-la/os, se andam tão ocupados a trabalhar para pagar os seus luxos inúteis?
Mas já me estou a afastar do tema. Estava eu a defender que o bidé (juntamente com o lavatório) consegue garantir uma boa manutenção da higiene pessoal. E o banho diário é dispensável.
Erótico porquê?
Não posso precisar as datas, mas havia umas versões antigas de bidés que eram arredondadas, pareciam um violino, uma forma de mulher. A imagem da mulher sentada no bidé de rabo arrebitado e a água a correr pelo seu clítoris. Para mim é uma imagem erótica. Dá-me tesão, não sei porquê…
Sempre que chego a Portugal fico contente por reencontrar um bidé."
Imagens gentilmente gamadas daqui.
14 fevereiro 2010
13 fevereiro 2010
Transparente
Largamos as mãos de palavras ainda dadas. Ainda chove. Ainda tudo. Ainda não. Não gosto desta chuva; é uma chuva de cabelos brancos a enrugar-nos a pele; é uma chuva que avisa: o nosso (pouco) tempo já quase se acabou. Parece que percebes. Percebes? Porque o ar fica nítido; o ar fica cinzento no azul no vermelho e os meus ombros ficam nus. Olho os teus, o tronco abre-se. Basta olhar e já nunca te digo adeus. Mesmo que saiba essas coisas coisas todas que tu queres dizer, sento-me na janela e tu ficas imóvel, de corpo nu, encostado ao vidro quente; sempre soubeste que te vejo como se estivesse do lado de fora; então puxas-me e dizes que sou de vidro. Depois sorris, terno, parado. Dizes que nunca tinhas visto vidro nu. Dedos de penas. Já é amanhã. Não podemos ficar mais. Largamos as mãos de palavras ainda dadas. É por isso que me doem os olhos, muitas vezes as noites são escuras e eu não os desvio das palavras escritas, marcadas pelos dedos molhados, no vidro. Sabes, meu amor, sempre te quis explicar que a brisa e o vento só as aves e as árvores distinguem. As pessoas não. Quem és, quando não te distingues de mim?
Técnica para ele não esfolar os joelhos na alcatifa
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12 fevereiro 2010
nocturno
na escuridão da noite mais profunda
o teu corpo acendeu luz entre lençóis
e no véu negro e denso de penumbra
rasgou-se em grito a fímbria de mil sóis
esplendoroso o voo que trouxeste
e a tua ardência – ah um galope ardendo ao vento
de sabor tão doce quanto agreste
e um gemido muito além do sofrimento
um quarto tão vazio de inconstâncias
e depois tu a enchê-lo só de olhares
dois copos meio cheios e as fragrâncias
dos vinhos dos desejos dos lugares
percorri-te em cada alento na voragem
e senti o estremecer para aquém do frio
e és sempre tu o teu corpo essa viagem
que nem sei bem porque faz de mim um rio.
o teu corpo acendeu luz entre lençóis
e no véu negro e denso de penumbra
rasgou-se em grito a fímbria de mil sóis
esplendoroso o voo que trouxeste
e a tua ardência – ah um galope ardendo ao vento
de sabor tão doce quanto agreste
e um gemido muito além do sofrimento
um quarto tão vazio de inconstâncias
e depois tu a enchê-lo só de olhares
dois copos meio cheios e as fragrâncias
dos vinhos dos desejos dos lugares
percorri-te em cada alento na voragem
e senti o estremecer para aquém do frio
e és sempre tu o teu corpo essa viagem
que nem sei bem porque faz de mim um rio.
Faltas-me tu
Tenho tanto, que diria ter tudo
Tenho amigos, tenho amores
Tenho a bênção da vida
E até o sangue que escorre da ferida.
Tenho o abraço da gente que me envolve
Com um beijo e um sorriso
Dão-me um ombro, dão-me a mão
Palavras quentes, sem sermão.
Mas tudo que eu quero
E tudo que eu preciso
È a louca da sorte
Que está á minha frente
E se cola na minha pele, bem rente.
Sinto o fundo do mar vazio
Precisando da chuva
E das correntes do rio
Regando esta semente
Levando-a Mar adentro
Correndo lenta num fio.
Vivo num mundo
Que simplesmente flutua
Onde as rochas são pedra
E a areia é poeira
As flores, são meros espinhos
Que adornam a rua onde caminho.
Sem aromas coloridos
Sem os teus beijos sentidos
Sem tuas carícias em meu corpo
Sem tua respiração em meu rosto
Sem teu rosto nas minhas mãos
Trilho as pedras da minha vereda
Consumida por esta labareda
Que me faz sentir totalmente só!
Maria Escritos - 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com
Presente
Como imaginarias o presente
se te falasse ontem do futuro?!
Sei que a tua imaginação
te elevaria muito longe
e te levaria ainda mais longe;
gosto da tua imaginação:
fértil.
Um enredo permanente,
nessa tua cabeça (essa sim, a que pensa);
na outra, pela outra e com a outra:
trato eu.
Foto e poesia de Paula Raposo
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