19 fevereiro 2010

Prostituição: carta aberta

A propósito do texto que a Miss Joana Well escreveu no dia 18 de Fevereiro e que nos faz pensar, eu tenho algo a dizer que não disse nos comentários, mas que passo a contar – embora talvez não seja muito importante – agora:

Não será também prostituição viver com alguém que nos proporciona todos os bens materiais em troca de algumas (poucas) noites de sexo?
São as nossas escolhas.

E porque ao fim de dezoito anos me cansei desse estado, que envolve bastante agressão psicológica, mandei a pessoa em questão dar uma volta.

Passei a ter muito mais sexo a troco de nada – porque devo ser parva -, aliás até porque o P é inicial do meu nome, também.
Os anos que se seguiram não têm sido fáceis e muitas dúvidas me têm assaltado. Uma delas que se tornou bem forte foi a de que, se tudo tivesse acontecido anos antes, eu teria tido sexo a troco de dinheiro, com quem bem me apetecesse e quisesse pagar.
Mas a idade já não era para essas andanças.

Quero com isto dizer, que a prostituição não pode ser um rótulo e que admiro profundamente quem dá a cara.

Subitamente


Encontro no dia, local e hora aprazados:
eu, com um casaco vermelho,
tu, de botas à cowboy e blusão de ganga.
Um metro e oitenta (tu), de fazer perder
a respiração (não a perdi).

O hotel em frente e foi só o tempo
do check-in.

A partir daí só me lembro de ter fugido
pelas 5h da manhã,
quando tu deixaste de respirar
-subitamente-
e eu não sabia que fazer.

Não sei mesmo o que te aconteceu;
não veio nos jornais.

Foto e poesia de Paula Raposo

Tu


Teu odor embriagante
Razão do meu desejo perturbante
Percorre-me em arrepios
Suores frios
Um aroma fulgurante

O gosto da tua pele
Arranca as feromonas da paixão
Este sentido enfurecido
Prazer reprimido
De liberdade e vastidão

Teu beijo no meu corpo fremente
Doces lábios que roçam lentamente
O arder da minha pele
Teu corpo que brada por mim
A respiração em frenesim

Possui-me lentamente
Saciando meu desejo ardente
Tropeça na minha pele
Emboca dentro de mim
Traça um agora sem fim

Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com

Terrorismo Inteligente!

Os terroristas estão evoluindo. Não querem mais saber de carro-bomba, caminhão-bomba, avião-bomba, homem-bomba ou gato-bomba. Afinal, atentados suicídas só os fazem perderem membros e também suja tudo, aquele sangue esparramado por tanto canto… Eca!
Então eles desenvolveram uma nova forma de atentado. Mais prático, barato, sem suicídios, e cá pra nós, mais bonito. Vejam:


Viu a eficiência?
Tem um avião caído ali atrás da foto, caso alguém não tenha visto.

Capinaremos.com

Dolce & Gabbana- roupa para homem

O senhor chama-se David Gandy.

18 fevereiro 2010

Prostituição: carta aberta. Pelos e-mails que me enviam a pedir conselho. Pela responsabilidade de desmanchar ilusões.

Riscos? Todos. Tudo em nós fica em risco. A vida. A saúde física. O equilíbrio mental. Tudo. Uma pequena parte do que nos acontece depende da cautela; a grande parte depende da sorte. E não se pode confiar na sorte. E não se pode confiar em quase ninguém. Porque as pessoas que tiveram poucas ou nenhumas oportunidades na vida costumam ficar com as garras mais saídas. E as garras estão preparadas para arranhar. E muitas já só sabem sobreviver a arranhões. E muitas arranham-te porque acham que és uma ameaça ou porque isso lhes traz ganhos e outras arranham-te só porque sim. E vais estar num sitio onde ninguém sabe o nome de ninguém, ninguém sabe a morada de ninguém, ninguém sabe quem é quem. E podes bater na porta errada ou na porta muito errada. E podes abrir a porta à pessoa errada ou à pessoa muito errada. Num dia podes ter uma arma na cabeça, noutro podes ter uma faca no pescoço ou até uma doença grave. Ou podes simplesmente sentir-te mal, apenas porque viver assim te faz sentir mal ou porque alguém te fez sentires-te mal. A dignidade pode transformar-se em areia que escorrega entre dedos e os sonhos podem começar a cheirar a naftalina.

Dificuldades? Todas. Tudo é difícil. Começar. Sair daqui.Ter clientes. Não ter clientes. Perceber que a realidade luxuosa que se imagina não existe para a maioria ou que não se chega lá pelo menos sem começar mais baixo. E mais baixo pode ser ganhar trinta ou quarenta euros (ou menos) por cada pessoa que nos despe. E perceber que mesmo que se aceite isso, pode ganhar-se pouco, muito pouco. Sim, eu sei que ali digo que são duzentos ou duzentos e cinquenta euros. E é a responsabilidade de dizer isso que me faz confessar que já foram 25 euros. E que não consegui melhorar as condições por ser muito bonita - não sou - ou por ser muito inteligente. Sorte, foi pura sorte. E a sorte maior que tenho, depois de tudo, é a de estar viva - por sorte, sim.

Dicas? Tem mesmo que ser? Tens mesmo que...? Tentaste os caminhos todos? É que se vais arriscar vida, saúde física e mental, um dia podes ter que explicar a ti mesma(o) porque te fizeste tanto mal. E como vou eu dar dicas a quem pretende iniciar-se, se eu mesma não vejo a hora de sair e só agora tive um vislumbre da porta de saída? Ninguém nos força, ninguém nos obriga, ninguém nos retém aqui mas parecemos presas em teias e ficamos, quase sempre, muito mais tempo do que prevíamos. Acreditem. Ao entrar corre-se sempre o risco de ficar aqui como se fosse a única vida que se conheceu até agora; há quem fique até depois da fase em que se torna ridículo pela idade. Cuidado com o mundo, cuidado com as ilusões, ambição não é ganância, cuidado com a falta de segurança, arriscar o mínimo e rejeitar tudo o que não permitir manter a dignidade.

Não gosto de escrever acerca da minha actividade como prostituta, nem mesmo acerca da prostituição no geral. É a responsabilidade que sinto que me faz fazer isto. Porque recebo vários e-mails de homens e mulheres a pedir conselho. Porque os valores que pratico e o que escrevo podem dar a ideia de luxo e facilidade. Porque não é assim. Porque foi ainda mais difícil, tremendamente mais difícil do que agora é. Penso que cada resposta que dou a cada pergunta pode influenciar uma vida. Penso que o que escrevo por aqui e a forma como consigo fazer as coisas agora podem influenciar decisões. Penso que não tenho a culpa... mas terei culpa se não perceber que, ao virar costas à responsabilidade e ao manter o silêncio, posso mesmo vir a ter. De mim, o que vão ouvir, é a parte deste mundo que é feia, porca e má. E ainda vos asseguro que, depois disso, o que resta por contar é - existe - , mas é muito pouco.


O diciOrdinário ilusTarado visto pela Kikas

"Momento Cultural

Aconselho vivamente pois, neste manual de cabeceira, procura-se evidenciar as diferenças e convergências observadas na elaboração dos dicionários de língua geral e nos dicionários, vocabulários e glossários de línguas de especialidade. A consulta ao dicionário tem sempre uma motivação, nunca é «inocente».
O leitor procura resolver um problema de significado, esclarecer aspectos da linguagem, aperfeiçoar a sua forma de comunicação linguística.
São esses os objectivos do dicionário: preencher lacunas de conhecimento, facilitar a comunicação linguística, aperfeiçoar os meios de expressão, descodificar correctamente as normas sociais e científicas e aumentar ou desenvolver o conhecimento sobre o parceiro.
Ora vejamos o que nos reserva o "O" (já dizia a Ana Malhoa: e tudo começou no Ó... ó, ó, ó!!!

Visita a página do «DiciOrdinário»

Ode – composição poética lírica enaltecendo o potencial sexual de alguém, tipicamente escrita depois do acto (ver oder)
Oder – fazer odes eróticas, odendo a torto e a direito, a todas e a eito
Odisseia – ode e ceia (de preferência por esta ordem, para evitar congestões)
Odomizar – fazer odes a inserções traseiras
Olarila – forma de chamar um paneleiro
Olhão – olho de dimensões hiperbólicas; o mesmo que Boavista
Onanimismo – onanismo unânime, prática generalizada de masturbação
Opiçodele – equivalente masculino da apitadela
Oralgésico – medicamento alternativo para quem não tolera analgésicos
Orgasmar – organizar uma orgia. Daí a palavra de ordem mais ouvida nesses ambientes: “orgasmisem-se”"

Kikas
Blog FuckyTales

O diciOrdinário ilusTarado continua a poder ser encomendado aqui.

Banheira quase cheia


Vem que ainda cabes!


Depois de uma vida impiedosa, o Carlos foi lançado para a cova sem fundo.

17 fevereiro 2010

O Que Não Mata

“Não quero mais”, disseste tu, lembras-te?
Não me querias ver, nem ouvir, lembras-te?
Querias enterrar o nosso caso – foi o que lhe chamaste – e esquecê-lo. Esquecer-me. “Esquecer que tu existes, que exististe, que te amei e que nos amámos”, foram estas as tuas palavras, lembras-te?
Foste definitiva e não tiveste contemplações. Fizeste bem, percebi depois. Muito depois, mas a incapacidade de perceber antes foi minha. Só minha.
E pediste-me para ir buscar as coisas num fim-de-semana em que tu não estavas e para deixar a chave em cima da mesa. “Leva o que quiseres” disseste. “Leva tudo.”
E despediste-te com o mais frio adeus que eu ouvi alguém dizer.
Ainda bem. Foi bom. Ardeu mas curou.

Placebos de paixão

E eis que vejo
que a lado nenhum pertenço,
sem nada meu, apenas este desejo
sempre demasiado intenso,
esta fome de saudade murcha;
saudade de quê? Saudade de quem?
Não tem alguém, não perde ninguém;
não pinta, só mancha.
E eis que vejo e prevejo
o vazio imenso em mim a crescer,
pois que tanto me despejo
que nada me pode encher,
esta febre de vontade queima;
febre de quê? Febre por quem?
Não aquece ninguém? Não aquece alguém;
não arde, só chama.
E eis que me vejo
lasciva, corpo de mão em mão.
Amantes? Um cortejo,
são placebos da tua paixão.


Sei lá…

Eu não sei por que, mas me deu uma vontade de entrar pro exército…


Alguém sabe por que?

Capinaremos.com

«All is full of love» - Bjork