Naquele sítio até um sussurro ecoa - mas aquele sussurrar era tão ácido que, em vez de ecoar, quase demolia as paredes no caminho, tinha a violência de um ricochete ácido nos ouvidos. Desta vez é que era, estava perdida, estavam perdidos. Apanhados, nus, obscenos; ele - ainda - de rosto mergulhado em pernas que lhe cravavam o dorso a acompanhar os gemidos possessos do desejo de quem tinha que manter a virgindade intacta. O orgasmo estridente, abafado pelos dentes cravados na almofada; o dorso que se arqueou, lançou as mãos ao cabelo dele e esfregou-lhe as ondas vibrantes que jorravam do sexo no rosto. A porta abriu-se, o grito da mãe era um grito de bruxa, um rugido de abutre da carne de Deus, fanática na ruindade que clamava ser em nome do Senhor. Correu pela casa, gritando ao seu Deus que punisse os pecadores. O amante aproveitou e lançou-se pela janela, em fuga; a rapariga - ainda semi-nua, os seios expostos rosados, dilatados do prazer - ordenava-lhe que corresse. Depois, a ira nos olhos da mãe, desordenados escorriam para fora das órbitas, roxos e pendurados em agulhas acusatórias. As veias saltavam-lhe dos braços palpitantes como centenas de verrugas a cobrir a pele até aos dedos que a agarraram. Arrastada para ali, para o ninho dos pássaros cadavéricos chamado templo do Senhor. Agora, tentava apenas distinguir a conversa, imaginava as consequências - piores para ele que para ela; a mãe tinha visto tudo. Agora, silêncio absoluto. A mãe caminhava na sua direcção, os pés sobre chamas não fazem barulho, os demónios são assim. Cuspiu no chão à passagem e apontou-lhe o caminho do sacerdote: ele espera-te, que Deus tenha misericórdia.
Entrou na câmara. Olhou-o, trémula. E agora? Ele soltou duas risadas, irónicas. Agora, sua rapariguinha devassa e perdida? Agora, a sua mãezinha exige que eu a castigue severamente, deve redimir-se do seu pecado. Portanto, onde é que nós íamos? E apontou-lhe o caminho. O sexo ainda erecto, nu por baixo da batina, tinha abandonado a roupa interior na fuga de casa dela. Vá, ajoelhe!