26 fevereiro 2010

Pequena Carta da Vulva às Tuas Falanges

Procurei-te aquando o teu torso estava côncavo.
Onde as minhas fantasias se desnudaram e rebentaram.

Perguntei-te, na vertigem do espasmo sísmico, onde eu e tu nos tornamos visíveis.Unidos. Preciosos.
Será apenas um clarão dos centros ou nos meus delírios de fêmea?
Saía ardente, de onde se avassalam os desejos contínuos. Nas falanges. Suor. Carne que vibra dentro em mim. De baixo. Tensão. De cima. Esponja-se na ribeira brusca que nos descerra e nos inunda todos os sentidos, nos altos. Toco-me. Nas zonas últimas, sinto os teus dedos potentes. Plenos. Que me rasgam as trevas internas. Diz. Esmaga. Atiça. A brasa em ferro cai dentro deste nosso dia. Na brecha. Num lugar interior, cortam-me, as minhas orlas em fogo. Sento-te. Cego. Sinto-te. No assimétrico tesão, que na palavra em fogo te entrecruza e te desequilibra.

Espero-vos mais logo, aparecem?

[Blog Vermelho Canalha]

Um dia


Sei dos teus cabelos desgrenhados
e das tuas mãos descobrindo-me
- aos poucos -,
perdida a timidez inicial
(confessa),
tudo foi mais simples.

Continuo a saber dos teus cabelos,
assim, desgrenhados
e das tuas mãos à minha procura;
virás, um dia, alazão e ousado,
dizer-me de mim, o que eu já soube!

Então, eu tentarei inventar-te
nas respostas que não tive.

Foto e poesia de Paula Raposo

Gostas da cuequita?



Não, não perguntei se querias dar uma quequita!

Sistema revolucionário de rega automática de jardins

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25 fevereiro 2010

Busca à SAD do FCP



HenriCartoon

Comissão de ética - liberdade de expressão



HenriCartoon

Quebranto de amor


No remanso dos teus braços
Meu amor, quero minha alma repousar
Abraça-me sem trégua
Abate esta saudade que me fustiga
Cala o silêncio com que me trajo

Arde de febre meu corpo
Trémulo, inquieto por te sentir
Percorro teu rosto na escuridão da memória
De dia e de noite, tormento meu
Desejo que me atinge como um açoite

Impudico desejo que me enlaça
Me consome e me abate
Clama vorazmente por teu ardor
Suspenso neste quebranto
Onde espero por ti, meu amor

Quero no remanso dos teus braços
Apaziguar a paixão que me devora
Que me transforma numa onda
Mareando em mil suplícios
Que me amarra o entendimento

No fundo dos teus olhos
Desamor quero afogar
Espero em devaneios meus
Este anseio apaziguar, a ti me entregar
Rio com rumo ao mar

Maria Escritos
© Todos os direitos Reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com

Imagem: "Erotic Ballet Boots" de John Tisbury

Salomé: conto da sofreguidão

Não, eu não sou devassa; são precisos muitos amantes para repararem o que tu me danificas, para me consumirem o desejo que tu acendes, para dispersar neles todo o amor que tu me largas - a alargar - nas costelas, para lamberem onde tu feres. Não, eu não sou devassa; esta devassidão é o desejo de ti, vem da paixão, vem do amor. Esta devassidão é sexo, sim, mas é do sexo de ti, ampliada por se reflectir nos cristais do teu corpo, ampliada por se expandir nos canais da tua pele, guiada pelo teu cheiro. Não, eu não sou devassa; mas são precisos muitos, muitos amantes - pobres amantes! -para beberem tudo o que tu me fazes transbordar.


Nas suas experiências, o professor Antonino confessou-se tão surpreendido, como todas as outras pessoas, com tantos dos seus pacientes que eram, em vidas passadas, furiosos ninfomaníacos.

Sex business

24 fevereiro 2010

O Tempo Acabou

O tempo parou, Luísa. Não há mais, acabou. Nem sentimentos, nem paixões, nem sequer sensações: o tempo parou, não há mais, acabou. Não sei, Luísa, agora não sei se quero, o que é estranho pois andei toda a vida à procura do tempo parado, que o tempo parasse, que acabasse. E agora?, pergunto. E agora, Luísa, agora que o tempo acabou, onde estás? Onde te posso encontrar? Sabes, eu nunca te quis, na verdade, eu nunca te quis e, afinal, agora que por fim o tempo parou, o meu primeiro pensamento vai para ti e olho em volto e procuro-te e queria que o tempo não tivesse acabado e ainda te pudesse procurar e encontrar-te e dizer-te que nunca te quis. Nunca te quis… Nunca te quis porque não sabia então o que era querer alguém como sempre te quis a ti. E se eu te encontrasse e te falasse, tu havias de me sorrir, com o teu sorriso contemplativo e o teu olhar distante, havias de me dar o braço e me guiares calmamente com os teus passos silenciosos, com a tua voz suave e havias de me dizer que o tempo não acabou e que sempre me quiseste mas nunca o disseste… Mas o tempo acabou, Luísa, o meu tempo acabou. Às vezes, ainda me lembro de ti, do que terá sido feito de ti, do que terá sido a tua vida. Recordo-me dos teus passos que não oiço, nunca ouvi. Fico a cismar na tua voz, na tua voz suave, pausada que me envolvia. Lembro-me de ser envolvido pela tua voz, pelo teu brilho, pelo teu cheiro. Lembro-me de ti, lembro-me sempre de ti, Luísa, ainda que nem saiba se me falaste, ainda que, se calhar, nunca me tivesses sequer visto… E o tempo acabou, Luísa, o meu tempo parou enfim e quando achava que me ia libertar de ti, quando passei uma vida a fugir de ti ainda que te procurasse sempre, eis que o meu primeiro pensamento é para ti. O meu último pensamento é para ti. E nem sei, ou melhor, sei, sei que não te chamavas Luísa mas não sei o teu nome mas lembro-me dos teus olhos e do teu sorriso, se calhar, é só disso que me lembro de verdade mas nunca me esqueci de ti, nem do que senti por ti. E agora que o meu tempo acabou espero que te possa procurar, espero que te possa encontrar e saber de ti, saber que vida podias ter tido e se me viste e se te lembras de mim. O tempo parou enfim, Luísa, o meu tempo acabou e o meu primeiro pensamento vai para ti: Onde estás?... Aqui?

Ana Paula: conto de um "hoje"

Olá! Falo-te para te dizer que estou vazia. Podes encher-me um bocadinho? Olá! Hoje não me apetece ligar os dedos às palavras, quero ligar os dedos aos teus; hoje, quero uma forma diferente de expulsar a solidão, quero fingir que somos ninguém, fingir que somos nada e que somos nós, apenas. Olá! Podes vir, hoje, dás-me a mão, como fazíamos quando acreditávamos em nuvens? Não contes a ninguém, vamos ser um segredo, um grão ao acaso que cai na ampulheta, misturado em tantos que nem se vê; ninguém nos vê, ninguém nos danifica. Hoje o teu corpo pode ser as minhas teclas e eu posso escrever palavras grandes, redondas e nuas, devagarinho, no teu peito. Olá! Hoje? Apenas hoje. Hoje, apenas?

Vantagens competitivas (um par delas)



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