O tempo parou, Luísa. Não há mais, acabou. Nem sentimentos, nem paixões, nem sequer sensações: o tempo parou, não há mais, acabou. Não sei, Luísa, agora não sei se quero, o que é estranho pois andei toda a vida à procura do tempo parado, que o tempo parasse, que acabasse. E agora?, pergunto. E agora, Luísa, agora que o tempo acabou, onde estás? Onde te posso encontrar? Sabes, eu nunca te quis, na verdade, eu nunca te quis e, afinal, agora que por fim o tempo parou, o meu primeiro pensamento vai para ti e olho em volto e procuro-te e queria que o tempo não tivesse acabado e ainda te pudesse procurar e encontrar-te e dizer-te que nunca te quis. Nunca te quis… Nunca te quis porque não sabia então o que era querer alguém como sempre te quis a ti. E se eu te encontrasse e te falasse, tu havias de me sorrir, com o teu sorriso contemplativo e o teu olhar distante, havias de me dar o braço e me guiares calmamente com os teus passos silenciosos, com a tua voz suave e havias de me dizer que o tempo não acabou e que sempre me quiseste mas nunca o disseste… Mas o tempo acabou, Luísa, o meu tempo acabou. Às vezes, ainda me lembro de ti, do que terá sido feito de ti, do que terá sido a tua vida. Recordo-me dos teus passos que não oiço, nunca ouvi. Fico a cismar na tua voz, na tua voz suave, pausada que me envolvia. Lembro-me de ser envolvido pela tua voz, pelo teu brilho, pelo teu cheiro. Lembro-me de ti, lembro-me sempre de ti, Luísa, ainda que nem saiba se me falaste, ainda que, se calhar, nunca me tivesses sequer visto… E o tempo acabou, Luísa, o meu tempo parou enfim e quando achava que me ia libertar de ti, quando passei uma vida a fugir de ti ainda que te procurasse sempre, eis que o meu primeiro pensamento é para ti. O meu último pensamento é para ti. E nem sei, ou melhor, sei, sei que não te chamavas Luísa mas não sei o teu nome mas lembro-me dos teus olhos e do teu sorriso, se calhar, é só disso que me lembro de verdade mas nunca me esqueci de ti, nem do que senti por ti. E agora que o meu tempo acabou espero que te possa procurar, espero que te possa encontrar e saber de ti, saber que vida podias ter tido e se me viste e se te lembras de mim. O tempo parou enfim, Luísa, o meu tempo acabou e o meu primeiro pensamento vai para ti: Onde estás?... Aqui?