"És parvo!" lembras-te? Foste tu que me disseste e eu respondi qualquer coisa no mesmo tom e a conversa descambou e parvos fomos os dois. Mas eu fiquei a pensar naquilo, nas tuas razões, nas minhas razões e no fundamento da minha qualificação. Aquela frase, tão simples, tão banal, tão pouco atentatória, tornou-se um pesadelo, um estigma, uma dor permanente. Uma dor permanentemente a crescer.
"És parvo!"
"Parvo porquê?"
E eu passava os dias em auto-análise, a censurar os meus gestos, a condenar as minhas palavras.
"És parvo!"
"Parvo porquê?"
E o pior é que nunca mais nos falámos, nunca esclarecemos um episódio menor que cresceu e que, pelo menos eu, já nem consigo identificar, e que no fim nos matou. A nós, vê tu bem, a nós!... E eu amava-te tanto…
"És parvo!" e, se calhar, tinhas razão. Sou parvo. Mesmo parvo.
Só pode.
É porque só pode ter sido isso ou o álcool que me levou a comer a tua prima.