01 junho 2010
Projecto Mulheres Reais
Fui seleccionada para integrar este projecto (mulheres com excesso de peso, estrias, celulite, sem silicone e sem photoshop!), pela Helena e pelo Ricardo do MyMoments.pt, de onde saíram 25 fotografias da minha pessoa.
Deixo-vos aqui uma delas.
Paradoxos do ensino em Portugal
Na mesma semana em que o país parou porque uma professora do ensino básico, boazuda (e nariguda e com um certo ar de porno-star, mas curvilínea à mesma), resolveu despir-se para uma revista de renome internacional, e coitadinhas das criancinhas, que aquilo ainda se pegava e blábláblá, vamos lá enfiar a fulana nas catacumbas de uma biblioteca (isto na hora de serviço, porque da festa já ela tratou, a Miss Mirandela não dorme na forma), onde só estará em contacto com livros em que ninguém mexe, tirando os tarados que passarão a intelectuais num ápice, outra notícia houve.
Um professor, também de área da Educação Musical (coincidência?!), respondeu com um "entra lá, ó preto", quando lhe foi solicitada, por um aluno, a licença para entrar na sala. A pena?! Foi afastado do ensino por manifesta incapacidade social?! Foi considerado uma vergonha para a classe docente e para a espécie humana em geral?! Abriu o telejornal da TVI, provocando uma onde de horror nacional?! É o foste!!! Processo disciplinar na escola, mil euros de multa e volta lá mas é ao trabalho, meu bom homem, que desabafos toda a gente os tem.
De um país em que não vale tirar a roupa mas é legítimo discriminar pela cor, tudo se pode esperar.
Um professor, também de área da Educação Musical (coincidência?!), respondeu com um "entra lá, ó preto", quando lhe foi solicitada, por um aluno, a licença para entrar na sala. A pena?! Foi afastado do ensino por manifesta incapacidade social?! Foi considerado uma vergonha para a classe docente e para a espécie humana em geral?! Abriu o telejornal da TVI, provocando uma onde de horror nacional?! É o foste!!! Processo disciplinar na escola, mil euros de multa e volta lá mas é ao trabalho, meu bom homem, que desabafos toda a gente os tem.
De um país em que não vale tirar a roupa mas é legítimo discriminar pela cor, tudo se pode esperar.
31 maio 2010
Tradução de mim
Quero. Quero saber a que cheiras em cada momento. Como fazes. Saber. Como és. Como falas. Como cheiras: como te chamas? Como te chamas; em que chamas te chamas quando gritas quem chamas; quem chamas? O que são os teus gritos, quando gritas, quem gritas; quem chamas que chamas em chamas; o nome de quem, o nome inteiro teu inteiro em cada grito? Tudo. Aprender sem apreender. Nunca prender. Mesmo com o medo, o medo de perder o pássaro que voa. Porque, se prendesse, perderia ainda assim. Perderias tu o que quero aprender, o voo do pássaro. A lição de ti. A fome tua e a que te dão. Tudo. Cada milímetro. Ver tudo, quando estou, quando não estou, quando estão, quando ninguém está e o mundo, quem és? Que cores tens em cada céu, no céu meu e no céu alheio, a que cheiram, a que cheiras, como voas aqui e ali, quando vejo, quando não vejo? Sim, quero cheirar-te, dissecar-te, analisar-te, extrair-te aos bocadinhos para te descobrir quando te vou colando no meu peito, nu, despido, meu em todo um pouco mais em cada vez. Porque não te peço que entres na gaiola, peço-te muito pouco. Ainda assim, muito pouco. Sim, muito pouco te peço: tu todo.E que sejas tudo quando tudo me fores porque tudo tu és.
Este filme fez-me lembrar uns versos dos tempos de escola
tão engraçados
fazem os ninhos
com mil cuidados"
___________________________
O OrCa não pode ver um passarinho que ode logo às passarinhas:
a resvalar pelo seio
quem me dera fazer ninho
como ele ali no meio
e mais descendo a preceito
maior a ventura minha
se descendo sempre a eito
encontrasse a passarinha
havia de asas bater
feliz ridente dos olhos
e para sempre viver
no calor dos entrefolhos"
30 maio 2010
Permanência
Agora que te sei aqui,
sinto-te a peça essencial
que faltava na montagem,
na engrenagem,
na construção final
do ritual.
Mesmo não te vendo,
ainda consigo rir
e posso usufruir
do teu olhar perdido;
da tua saudade.
Percorro - então - o meu corpo
numa descoberta:
a permanente ilusão
de te saber sempre aqui.
Foto e poesia de Paula Raposo
sinto-te a peça essencial
que faltava na montagem,
na engrenagem,
na construção final
do ritual.
Mesmo não te vendo,
ainda consigo rir
e posso usufruir
do teu olhar perdido;
da tua saudade.
Percorro - então - o meu corpo
numa descoberta:
a permanente ilusão
de te saber sempre aqui.
Foto e poesia de Paula Raposo
InVocações (VIII) - Paragens
Onde vais? Agora que o caminho e os caminhos te segredam o meu nome, meu amor, enquanto andas não podes ficar aqui? O meu caminho tu sabes qual é. Eu, agora, também sei. E sei que caminho contra a multidão, e sei que escolhi caminhar contra a multidão, e sei que se me acertarem com braços e pernas e encontrões e pisadelas, não me devo queixar; eu escolhi. Mas tenho que te dizer, a multidão tem sido cuidadosa. Não levei mais que uma pequena pisadela. Sabes que, quase sempre, as palavras me escudaram e as pessoas me conseguiram ver. Nunca adivinharia tanta força às palavras. Sim, eu já tinha, antes, as palavras e estavam cheias. Mas tu, tu ensinaste-me e ensinas-me a deixá-las rebentar, a torná-las facas, a torná-las dores, a torná-las vento e sol e relógio e amor e fome e pessoas e mendigas. Eu quero a tua magia, ensina-me. Quando as minhas palavras forem mágicas como as tuas, a multidão há-de mudar o sentido ou abrir caminho para que passe. Tens que ser tu, peço-te, não chego lá sem ti e essa é a mais pura das realidades. Vês quanto caminho já fiz? Porque tu me ensinaste, porque me ensinaste as palavras, porque me fizeste sentir que nos ouvem não quando gritamos mas sim quando as palavras gritam. Dá-me a mão. Fica dentro do caminho como quando ficas dentro de mim: nu, parado, entranhado, inteiro. Trouxeste-me até aqui, foste tu, não me deixes sozinha agora que estou no fundo do lago e mal sei respirar. Dá-me a mão e eu sei onde posso chegar. Mágico?
29 maio 2010
Primeiro abraço
Leu-lhe no olhar a tristeza e a desilusão de quem viu terminada uma relação que era sonhada para a vida inteira.
Depois leu da mesma maneira a frieza emocional instalada pela revolta sentida na ressaca de maus momentos pelos quais não teria que passar se não tivesse que enfrentar todos os desafios e ameaças de uma vida a sós.
Percebia a sua tendência para desatar os nós nos laços que criava a custo, reflexo condicionado de fracassos que iam retalhando em pedaços a esperança numa felicidade de longa duração, protegia o coração de quaisquer desgostos que lhe acrescentassem uma espécie de calo que endurecia o olhar que lhe lia agora, um olhar que via de fora mas sentia como seu.
E foi isso que transmitiu no primeiro abraço que lhe deu.
Depois leu da mesma maneira a frieza emocional instalada pela revolta sentida na ressaca de maus momentos pelos quais não teria que passar se não tivesse que enfrentar todos os desafios e ameaças de uma vida a sós.
Percebia a sua tendência para desatar os nós nos laços que criava a custo, reflexo condicionado de fracassos que iam retalhando em pedaços a esperança numa felicidade de longa duração, protegia o coração de quaisquer desgostos que lhe acrescentassem uma espécie de calo que endurecia o olhar que lhe lia agora, um olhar que via de fora mas sentia como seu.
E foi isso que transmitiu no primeiro abraço que lhe deu.
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