HenriCartoon
21 junho 2010
20 junho 2010
Xadrez
A face magoada
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
Tradução do fundo
Quando estou aqui, olho em volta, olho o céu e sonho mais. Quando não estou aqui, estou a olhar em volta, a olhar o céu e a sonhar mais. E se tudo isto não for ainda estupidamente, absolutamente perfeito, ainda assim, será apenas porque é.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
19 junho 2010
Muda
Há muito por aqui por Lamentar
e, ao mesmo tempo, tão pouco;
há sempre tão pouco.
Que dirias tu
se me soubesses sufocar,
assim? Um toque frio, louco
sobe pelo meu corpo.
Que farias tu
se me soubesses ainda abraçar?
Tristes, minhas, garras; o gesto rouco
sobe pelo ventre da voz
que despirias tu
até a nudez, calma, se silenciar,
nítida, na garganta de um mouco.
e, ao mesmo tempo, tão pouco;
há sempre tão pouco.
Que dirias tu
se me soubesses sufocar,
assim? Um toque frio, louco
sobe pelo meu corpo.
Que farias tu
se me soubesses ainda abraçar?
Tristes, minhas, garras; o gesto rouco
sobe pelo ventre da voz
que despirias tu
até a nudez, calma, se silenciar,
nítida, na garganta de um mouco.
18 junho 2010
A(s)sexuallidade
Flores... Mas eu gosto de cactos. Os cactos são bonitos, maravilhosos. Se gostares de cactos ou se não gostares de cactos, podes dizer-me porque é que ninguém gosta de cactos? (Alguém é pessoa).
A posta que sei mesmo
Eu sei o que é o amor.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.
Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.
Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.
Labirintos
São labirintos e labirintos,
linhas paralelas,
perpendiculares,
intersecções;
partidas e regressos.
São labirintos inesgotáveis
de partidas ansiadas
( regressos imaginados)
e o caminho faz-se
na volta reclamada
de um desejo incumprido.
Nunca gostei de labirintos.
Poesia de Paula Raposo
linhas paralelas,
perpendiculares,
intersecções;
partidas e regressos.
São labirintos inesgotáveis
de partidas ansiadas
( regressos imaginados)
e o caminho faz-se
na volta reclamada
de um desejo incumprido.
Nunca gostei de labirintos.
Poesia de Paula Raposo
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