Eu sei o que é o amor.
Ou melhor, acredito nesse pressuposto com a mesma intensidade que outras pessoas dedicam à Fé.
Claro que não nasci ensinado e os pais nunca têm muito tempo ou jeito para nos explicar esse mistério da vida, pelo que lá fui percorrendo os caminhos ou os calvários que fazem parte do doloroso processo de aprendizagem que envolve tanta ruptura e subsequente desilusão.
É que os outros, no meu caso concreto as outras, também não nascem ensinados e nos primeiros tempos da paixão pode aplicar-se a velha máxima de que quando a pessoa não sabe dançar até parece que a pista está torta.
Esta fase, que julgamos sempre ultrapassada no final da tempestuosa adolescência, pode ser a responsável por tudo o que sabemos (ou não) acerca do amor. Mas também pode não fazer a mínima diferença.
E depois andamos, adultos, de volta das cábulas para não metermos o pé na argola outra vez.
Mas nem é o caso, o meu.
Eu sei o que é o amor.
Sei como o sinto, sei como o anseio, sei como o abraço como a única coisa digna de ser vivida ao longo do tempo que o acaso me oferecer.
Até acredito que sei como é isso do amor nos outros (nas outras, que eu sou muito cioso das minhas preferências), que o identifico no carinho de um gesto ou na luminosidade de um olhar.
São manias, bem sei, mas os outros acreditam no Divino e eu não me ralo nada com isso.
O amor não é visível, por ser um conceito abstracto, senão nas suas manifestações.
O que se faz e o que se deixa por fazer. O que se diz e o que se faz. O que se revela de empenho, de vontade, de necessidade, de resistência.
É esse o amor que se vê, que eu vejo com a clareza bastante para me arvorar da autoridade de dizer que sei o que é.
E depois há o amor que se faz na cama que não nos deixa mentir. O amor acaba por se exprimir no meio da voracidade carnal, é transparente, enquanto o sexo é amante mas acelera o coração por mera fadiga e a emoção é muito mais de arritmias.
E ainda há o amor incondicional, não é utopia, aquele que fala sempre mais alto do que os obstáculos e os sentimentos mesquinhos que lhe surjam pela frente, que o atrapalham, e nunca mente na hora de se provar genuíno, sem condições.
A sua sinceridade espontânea, coitado, até é o que o deixa, muitas vezes, em maus lençóis.
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