Quero falar contigo. Senta-te aqui. Sim, nessa cadeira de papel. Vou dobrar-vos na hora; embrulhados no tempo dos elefantes hão-de sobreviver-me, até eu já me sobrevivi um destes dias. Acredita, eu não quero ver morrer; preparo-te esta armadilha, soltar-te-ei depois de me ir. Cala-te, cala-te, não me digas isso, não te mintas mais. Calei-me, desculpa, estava a arrumar os meus bolsos, julguei que lá tinha palavras mas não as encontrei. Não, espera, eu tinha, sei que tinha; devo-as ter perdido. O que sabes tu das palavras que se perdem? Sabes, sabes, eu sei que sabes; quem como tu fecha os olhos é porque vê sempre muito mais, mais do que todos, mais do que olhos podem ver sem desaguar na alma; és um caçador de palavras e depois o seu domador. Anda, ajuda-me, espreita aqui nos meus bolsos; isso, sim, debruça-te, debruça-te mais um pouco...
(A mulher entrou no bar. Dali saiu sete mil vezes num número de noites inconfessável por ser muito menor. Despiu sete mil estranhos. Traiu sete mil vezes sem nunca trair. Nunca se despiu ou sequer teve vontade; sentia o que levava nos bolsos.)
01 agosto 2010
31 julho 2010
Sem voz
Ansiedade.
Um aperto no peito
e a voz estrangulada.
Sem reacção.
Sem vontade.
É ontem ou foi hoje:
não é futuro.
O correr dos dias
e a eminente desilusão
de uma vida descolorida:
assim se faz a história
do tempo sem voz.
Poesia de Paula Raposo
Um aperto no peito
e a voz estrangulada.
Sem reacção.
Sem vontade.
É ontem ou foi hoje:
não é futuro.
O correr dos dias
e a eminente desilusão
de uma vida descolorida:
assim se faz a história
do tempo sem voz.
Poesia de Paula Raposo
30 julho 2010
Procuram-se casais para colaborar num estudo
A Sofia Refoios, amiga da nossa Vânia Beliz, está a recolher a sua amostra para um estudo de doutoramento em Salamanca. O tema é «Estilos de Vinculação, Intimidade Afectiva e Satisfação Sexual (...)».
Ela precisa de casais (de quaisquer orientações sexuais) que queiram participar preenchendo questionários (um para cada membro - ou membrana - do casal).
Ajudem a Sofia. Enviem um e-mail para sofiarefoios@yahoo.com.br e recebem por correio os dois questionários e um envelope para devolução dos mesmos.
Ela precisa de casais (de quaisquer orientações sexuais) que queiram participar preenchendo questionários (um para cada membro - ou membrana - do casal).
Ajudem a Sofia. Enviem um e-mail para sofiarefoios@yahoo.com.br e recebem por correio os dois questionários e um envelope para devolução dos mesmos.
Maria Poema
Deixa a menina das tranças falar, Maria,
é tão simples, Maria, é apenas deixar;
ouve como antes ouvias, a ventania
nunca soube nem saberá mudar;
não deixes que o peito mude
porque o cabelo agora pende.
Os seios também hão-de pender
tudo o que é corpo de nós
verás que vai começando a secar,
Maria, excepto a voz, excepto a voz
Maria, deixa a menina das tranças falar;
é tão simples, Maria, é apenas deixar.
é tão simples, Maria, é apenas deixar;
ouve como antes ouvias, a ventania
nunca soube nem saberá mudar;
não deixes que o peito mude
porque o cabelo agora pende.
Os seios também hão-de pender
tudo o que é corpo de nós
verás que vai começando a secar,
Maria, excepto a voz, excepto a voz
Maria, deixa a menina das tranças falar;
é tão simples, Maria, é apenas deixar.
29 julho 2010
Fé!...
Fruto, na minha prece, pólvora negra, a reza onde se imprime o meu opaco espaço em transe. Reflexão de nós. Inflexão na voz. Joelhos. Deitada. Joelhos. No além, onde repousa o canto. Bela. Sou, tua, virgem. Deusa. Cega. Parada. Na novena, no silêncio sentada. Impressões. Tuas. Deus?!
As Virgens horas. Fantasias. Amén...
O tempo!... O espaço!... O sonho!...
Deus frio, alma sublime e deslumbradora, concebe-te a ideia. A minha. A nossa. Incognoscível. Misticamente, nos longes. Nos impensados infintos. Nos, ânus luz. Na carne quebrada, suada, apaixonada. No meio dos espinhos. Paixão. Nas mãos postas, os monges, semeiam mil preces, desejos e buracos sobre, esta ou aquela cama.
Amo-te!... Ama!...
Rendas. Prata. Concentração, tão... tão... tão... amén!
Suspiros, sedução no meu estático prazer... Suspiremos!
Amén!...
Deus idílio, eco repetente de todos os imos da minha alma, prende-me eternamente...
(... Na ilusão cansada, que se revela imensa e misteriosamente na minha solidão)
O Meu Deus é uma Deusa!...
Eu!...
Que Se diverte. Diverte-se!... Diverte-me!...
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