Não compreendo as pessoas que passam a vida a queixar-se e não mexem um dedo (
let alone their brain...) para mudar o
status quo. Que são umas vítimas, que ninguém as compreende, que no início é que era bom, que são desaproveitadas, que não fazem por elas o que elas fariam pelos outros, que não são ouvidas nem respeitadas e patati-patatá, num chorrilho de lamúrias que me indigna e me revolve o mau feitio.
Ser infeliz, assumir-se como vítima, é fácil, indubitavelmente luso, grangeia atenções, festinhas na cabeça e amigos de circunstância, sedentos da companhia de alguém que, por momentos, os faz sentir um bocadinho menos miseráveis, por aparentar um estado de angústia ainda maior do que o seu.
Ser feliz, gostar-se da vida que se escolheu ter, dá um trabalho filho-de-uma-meretriz e não é bem aceite pelos demais, que encontram sempre mil e um motivos mirabolantes para justificar o bem estar alheio:
com um emprego desses também eu!,
se eu tivesse o teu corpo...!,
com um guarda-roupa desses é fácil!,
com uma cor/boa-vida/disponibilidade/colecção de livros (whatever)
assim, também andaria sempre bem disposto/a!
Neste país de gente de alma grande (mas mal direccionada) e vidas cinzentas, a felicidade ainda é pecado. Quem não se queixa, ou prevaricou ou tem uma sorte do caraças. A responsabilidade nunca é sua (como não é responsável o desgraçadinho). Ninguém quer ouvir um "estou bestial" quando pergunta a alguém como está. Toda a gente procura o "vai-se andando" ou o "cá estamos...", o "sabes lá o que passo com o meu chefe/namorado/filho/sogra/canário/administrador de condomínio". Querem a felicidade moderada, não ostentada. As gargalhadas baixas, os olhos baços. Querem a partilha da vida medíocre e sempre inferior às expectativas (mesmo que estas nunca tenham existido, porque fazer planos e persegui-los é uma canseira). Querem permuta de queixumes, numa disputa infinita e sem vencedor.
Ser feliz dá trabalho.
Ser infeliz é inato e tão fácil como respirar.