(...) Pergunta-te, várias vezes, escondida no silêncio, porque não dorme de noite. Espera que o dia chegue, espera; talvez a noite agora seja um pouco tua, talvez seja um pouco mais tua que da lua.(...) É por isso que apagou estas linhas que aqui faltam antes que chegassem ao destinatário, apagou-as até da cabeça, porque nem sequer deve imaginar o que ser poderia ser. Confuso, talvez, mas toda a gente sabe que não há forma de desamarrar linhas da confusão de palavras à toa na cabeça dos confusos.
21 novembro 2010
«O primeiro beijo» - por Rui Felício
O primeiro beijo é um momento inesquecível da vida, diferente de todos os outros que a seguir se dão, por maior que seja a paixão com que se dêem.
É a descoberta de sensações muitas vezes imaginadas mas nunca antes experimentadas. É um salto no desconhecido, é um receio, é um impulso quase irracional, é um doce sabor que perdura no tempo.
Sucedeu no jardim da minha casa, já lá vão muitos anos, mas ainda o tenho presente como se tivesse sido hoje.
Foi ao fim do dia, com o sol a declinar por trás da casa em frente. Ela, ainda muito jovem, envolta por um finíssimo e aveludado vestido carmim que lhe delineava as formas perfeitas, abriu-se lentamente à aproximação da boca sedenta que a desejava, moveu o corpo insinuante, deixou-se acariciar e sentiu-se perdida na loucura do beijo que retribuiu com ardor e paixão.
Nunca mais foi a mesma. Insaciável, todos os dias ali ficava à espera da repetição daquele primeiro beijo.
Durante muito tempo, aquele zangão apaixonado aparecia diariamente para beijar a bela rosa púrpura do meu jardim, para saborear o seu néctar doce, para sentir a carícia das suas pétalas em volta do corpo…
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações»
O diabo em Miss Jones
Este é um dos primeiros bronzes que eu comprei. Só que ainda não o tinha fodografado.
Só vendo-o de perto e com tempo se descobrem todos os detalhes desta cena diabólica... no bom sentido...
Só vendo-o de perto e com tempo se descobrem todos os detalhes desta cena diabólica... no bom sentido...
Concessão papal
HenriCartoon
O Nelo esclarece... «qomu çò êl çabe»: "Per izemples cuande çe come-um-gay, Cuande çe papá-óstia e cuande çe vai eim porsição eim bisha pirilau e açim..."
20 novembro 2010
«Chore» de Justin Anderson
Curta-metragem de Justin Anderson para a marca de lingerie de luxo Damaris.
Chore Damaris by Justin Anderson from Justin Anderson on Vimeo.
O Repique do Amor
Abrupto é o repique do sino na cabeça. Quando um certo número de badaladas ecoa pela vila, mais de 14, o prenúncio de uma morte anunciada ressalta e arranca mais um pouco do que é uno.
A estaca espetada no coração onde antes era ventre, é retirada não tarda. Para deixar apenas uma pequena cicatriz.
- É só mais uma morte... não faz diferença no universo,
Não! Todas as mortes são importante e preferíveis se não o fossem. Cada esventrado tem a sua memória. Assalta o espírito e esmaga a vontade. Adultera a consciência de Ser.
Creio num mar salgado ao longe. Não se alcança daqui. Caminha!
O repique fica mais forte. A cabeça dói.
A árvore está inclinada, com as suas raízes a desprenderem-se enraivecidas porque a Terra não segura.
Segura!
Os raios de Sol, por momentos, não alcançam o solo de folhas que vão caindo da Acácia a cada badalada do sino.
O repique do sino é abrupto. Ecoa por todos os lados. Como um precipício que sabemos voltar a subir. Como uma ravina de ponte frágil.
É abrupto o repique do Verdadeiro Amor.
A estaca espetada no coração onde antes era ventre, é retirada não tarda. Para deixar apenas uma pequena cicatriz.
- É só mais uma morte... não faz diferença no universo,
Não! Todas as mortes são importante e preferíveis se não o fossem. Cada esventrado tem a sua memória. Assalta o espírito e esmaga a vontade. Adultera a consciência de Ser.
Creio num mar salgado ao longe. Não se alcança daqui. Caminha!
O repique fica mais forte. A cabeça dói.
A árvore está inclinada, com as suas raízes a desprenderem-se enraivecidas porque a Terra não segura.
Segura!
Os raios de Sol, por momentos, não alcançam o solo de folhas que vão caindo da Acácia a cada badalada do sino.
O repique do sino é abrupto. Ecoa por todos os lados. Como um precipício que sabemos voltar a subir. Como uma ravina de ponte frágil.
É abrupto o repique do Verdadeiro Amor.
Um sorriso
Um sorriso é um emblema
que nos revolve as entranhas,
não é?
Pelo sorriso nos erguemos
e talvez (quem saberá?)
nos mortificamos.
Hoje posso sorrir-te,
beijar-te e deixar-te
ao vento quente
do princípio da tarde.
Um sorriso faz parte
do presente - saudade -
e pelo presente
nos acarinha. Duvidas?
Pergunto: que sorriso é esse?
Poesia de Paula Raposo
19 novembro 2010
Da palavra amante
Penso-te com cuidado, para não te desvirtuar, tão perfeita, nesse ou noutro lugar que não a minha cabeça que te pensa como uma peça frágil, de porcelana, para não te quebrar, tão intacta.
Toco-te de raspão, apenas com os dedos sensíveis da imaginação que te alberga, tão perfeita, nesse ou noutro tempo que não este sagrado momento em que me ocupas por completo, me cegas a tudo o resto, tão importante, a tua presença constante em mim que te penso com cuidado para jamais desperdiçar no meio de raciocínios levianos o milagre de te amar há tantos anos como os que tenho de percepção do que sou.
Mimo-te como posso, o pouco que dou em troca, nunca o bastante para merecer cada instante em que te ofereces ao pensamento e corres como o vento, veloz, da nascente até à foz onde desaguas, tão certa do caminho que te cumpre percorrer, em mim ou noutra cabeça que te acolha e se renda ao poder que cresce em ti, que jorra sobre os olhares interiores daqueles que tentam ser melhores quando te pensam com a delicadeza de quem afirma sem medos a certeza,a convicção, de que igualmente te mereceu, capaz de te amar tanto como eu.
Digo que sim ou digo que talvez, aquilo que se faz, aquilo que se fez, não conta no momento em que és minha, aí, nesse ou noutro lugar, na cabeça que tenta imaginar a forma que acredita melhor para te servir, que igualmente te dás a sentir, tão indefesa, por detrás dessa natureza indomável que escondes até ao momento de partir, tão volúvel, para o mundo que te descubra, com cuidado, para não te negligenciar com a ignorância que combates, tão feroz, desde a nascente até à foz onde te transformas numa imensidão que preenche por completo a imaginação que te receba, que te decifre e te perceba como tento, sem sucesso, quiçá, neste momento em que disponho da tua presença para o lograr.
Acredita que me esforço por te pensar tão perfeita como uma deusa, senhora da agonia e da tristeza, dona da alegria e da beleza, rainha do céu na boca que beijas ao sair quando por fim te deixo partir para o mundo, que não és minha, que te descubra o sentido que não quero, de todo, perdido ao longo do caminho que te cumpre, neste ou noutro tempo, percorrer.
Desde que te penso até ao momento sagrado de te escrever.
olfactivamente
quando por ti me resvalo
nalguma urgência de cio
se no ardor sou cavalo
meu relincho é balbucio
e se fragrância fatal
vem do monte que venero
fico eu bem pior que mal
do desespero que espero
seja o teu matagal denso
ou despida a curvatura
quero dele que seja intenso
mais fino do que a cintura
que bem me sabes então
que bem me matas a fome
dando ao olfacto razão
ao dizer que também come.
nalguma urgência de cio
se no ardor sou cavalo
meu relincho é balbucio
e se fragrância fatal
vem do monte que venero
fico eu bem pior que mal
do desespero que espero
seja o teu matagal denso
ou despida a curvatura
quero dele que seja intenso
mais fino do que a cintura
que bem me sabes então
que bem me matas a fome
dando ao olfacto razão
ao dizer que também come.
Do amor
Não, eu não posso mais escrever-te
que as emoções podem ferir o papel, as palavras
bem podem agredir as páginas e as tuas marcas
podem rasgar, as folhas tornam-se pele.
Mas não posso mentir-te,
ainda estás aqui, como um demónio
que eu não consigo expulsar,
como uma peça sem nenhum acto,
e o meu olhar, assim, vazio de ódio,
sem ponta de nada que te possa apagar,
vê o que o amor é: belo sem sequer ser bonito.
que as emoções podem ferir o papel, as palavras
bem podem agredir as páginas e as tuas marcas
podem rasgar, as folhas tornam-se pele.
Mas não posso mentir-te,
ainda estás aqui, como um demónio
que eu não consigo expulsar,
como uma peça sem nenhum acto,
e o meu olhar, assim, vazio de ódio,
sem ponta de nada que te possa apagar,
vê o que o amor é: belo sem sequer ser bonito.
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