Crica para veres o coração em todo o seu esplendor
13 dezembro 2010
12 dezembro 2010
"Palavras leva-as o ventre"
"Palavras leva-as o ventre", que o vento,
esse tonto inteiro, foi namorar a madrugada;
só ele me levará completa, abandonada,
como um ponteiro abandona um momento
ao tempo de um relógio de corda.
"Palavras leva-as o ventre"; eu escuto
e das tuas ouvi um poema, nada
mais simples,a frase assim nascida
do ventre é tão filha do teu peito
que é como eu, só pelo ventre levada.
(Poema para o João Moreira de Sá, pai da frase "Palavras leva-as o ventre". Daqui Umbilical nasceu o poema. Muito obrigada, João! )
esse tonto inteiro, foi namorar a madrugada;
só ele me levará completa, abandonada,
como um ponteiro abandona um momento
ao tempo de um relógio de corda.
"Palavras leva-as o ventre"; eu escuto
e das tuas ouvi um poema, nada
mais simples,a frase assim nascida
do ventre é tão filha do teu peito
que é como eu, só pelo ventre levada.
(Poema para o João Moreira de Sá, pai da frase "Palavras leva-as o ventre". Daqui Umbilical nasceu o poema. Muito obrigada, João! )
«Sétimo Céu» - por Rui Felício
O 61º Festival de Cannes exibiu o filme Sétimo Céu, do alemão Andreas Dresen que me fez reflectir sobre o amor.
De que tanto falamos, sem porém nunca o conseguirmos entender completamente. Ninguém se pode gabar de nunca ter amado. As paixões da adolescência que brotaram de nós, sem explicação, explodindo como verdadeiros vulcões, cortando-nos a vontade de comer, de estudar, de pensar noutras coisas para além daquele intenso desejo que nos despertou os sentidos, que nos fez bater descompassadamente o coração.
Quantas dessas paixões nos levaram a fazer sinceras juras de eterno amor, de antes desejar a morte à perda do ente amado? Quem de nós nunca disse que aquele era o amor para toda a vida? Mas depois, quantas dessas juras não quebrámos quando o entusiasmo inicial arrefeceu? Com a mesma convicção e facilidade com que antes as fizéramos? Ainda jovens, mas mais maduros, estabelecemos uma relação conjugal e convencemo-nos igualmente que ela, essa sim, seria para o resto da vida. Os frutos dessa relação, os nossos filhos, eram a prova da estabilidade, a prova do verdadeiro e tranquilo amor. Julgámos então ter apreendido o verdadeiro significado desse complexo sentimento. O tempo ia correndo, a idade avançando, a beleza física que proporcionava a atracção ia desaparecendo. A vida vivida em comum durante décadas provava-nos, aparentemente, que o amor é muito mais que o fogacho irreprimível da paixão.
Não! Não havia dúvidas! Na nossa sobranceira e sábia maturidade, achámos que finalmente tínhamos percebido que o amor era a interacção de sensibilidades, de compromissos, de estabilidade, de sedimentação de rotinas de vida. É certo que uma ou outra vez sentimos a tentação, a atracção por outra pessoa, mas racional e pragmaticamente achávamos que isso não passava de mero e condenável desejo carnal, que rapidamente se desvaneceria no conforto e na intimidade do lar onde, aí sim, pairava o verdadeiro amor. E afastávamos a tentação, dizendo para nós próprios que essas coisas são próprias dos jovens. Não acontecem aos mais velhos e experientes, calejados pela vida. E com idade para terem juízo...
Este filme mostra que não é assim... Só a nossa presunção nos leva a pensar que o amor não está sempre latente, que a qualquer momento pode romper a crosta protectora que construímos à nossa volta em obediência às convenções que nos regem. Este filme mostra como uma mulher quase sexagenária, mãe de família, sem qualquer razão para questionar o seu casamento de mais de 30 anos, subitamente, sem que nada o fizesse prever, se apaixonou por um homem de mais de 70 anos. Vivendo com ele momentos de intensa felicidade, de verdadeira paixão, ambos fazendo amor como se fossem adolescentes, sem vergonha dos seus corpos já velhos. Antes descobrindo neles a beleza e o fulgor da juventude. O amor é realmente eterno.
E não é apanágio da juventude. Mas continuo sem o saber explicar. E sem compreender porque está tanto tempo adormecido e, num ápice, se pode revelar em toda a sua pujança.
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações»
«Depois de Tudo»
Ficção de Rafael Saar - 2008 - 12 min
Com Ney Matogrosso e Nildo Parente
Ney Matogrosso e Nildo Parente. O que eles mais querem é estar juntos e um dia basta para esperarem pelo próximo.
Link directo para o filme aqui.
Com Ney Matogrosso e Nildo Parente
Ney Matogrosso e Nildo Parente. O que eles mais querem é estar juntos e um dia basta para esperarem pelo próximo.
Link directo para o filme aqui.
11 dezembro 2010
A Morte do Brilho
Um destes dias,
quando tentava lembrar-me de mim,
percebi;
Percebi que sepultei o meu brilho algures e,
esqueci.
Foi nesse dia que encontrei a morte em mim.
Procuro desesperadamente o lugar onde o escondi...
Malditos sentidos apagados!
Quero renascer, aquecer e brilhar.
O brilho e Eu morremos em mim;
e um dia, até em Ti irei apagar-me.
quando tentava lembrar-me de mim,
percebi;
Percebi que sepultei o meu brilho algures e,
esqueci.
Foi nesse dia que encontrei a morte em mim.
Procuro desesperadamente o lugar onde o escondi...
Malditos sentidos apagados!
Quero renascer, aquecer e brilhar.
O brilho e Eu morremos em mim;
e um dia, até em Ti irei apagar-me.
Espuma
Que me marque
uma vaga branca de espuma
e o mar deixe o verde odor
da maresia.
Que me lembres
os passos na areia
e as conchas
me ensinem
o que não sei.
Desejo navegar
e perder-me em cada porto
que não encontro.
Poesia de Paula Raposo
10 dezembro 2010
Duo MainTenanT
Nicolas Besnard e Ludivine Furnon (medalha de prata em Paris no 31º «Festival Mondial du Cirque de Demain»), que já fizeram parte do Cirque du Soleil, em actuação ao vivo no programa de televisão «Benissimo» em 2010.
Terça-Feira (Outubro)
Quando escrevo, acredito. Dói-me pois essa incapacidade que agora averiguo, essa venda molhada de silogismos, seca de fé, insultar o oximoro tomando-o por volubilidade, e eu que morro assim quando me inscrevo na ternura fria, na paixão serena, na bradicardia emocionada. Ainda penso no que ficou para trás, vou muitas vezes espreitar só para ver se vive; nunca sei o que faria se me chamasse, até para mim sou imprevisível, eu hei-de perguntar a alguém se sabe o que eu haveria de fazer. Afinal tenho medo de tudo mas não tenho medo de mim e talvez devesse ter. Tenho coisas feias aqui dentro, coisas que nem sempre tento ou sei matar. Acontece alguma coisa bonita e eu logo a vejo a tornar-se feia e sou eu que feia me torno. De bom grado eu diria a alguém que já não sou quem sou faz algum tempo e que me procuro aqui, não sei o que resultará de mim mas as minhas linhas estão um pouco de luto por quem as ajudou a gatinhar. Chegarei a Outubro onde tudo vai mudar, eu sempre soube disso, quem comigo aqui estiver que chegue a Outubro comigo pois é de lá que partirei e só levo comigo quem lá estiver. Eu já sei que sou mesmo estranha, estranhar-me-ia agora se não fosse mas esta felicidade nostálgica é assim, é aquela que nasceu da dor, de todas as dores que acarinho e guardo, as dores são coisa viva e entristecem sem ternura. De boa vontade largaria tudo se sentisse que poderia fazer algo de muito bom mas depois de sentir tudo completo, logo me iria embora e toda a gente que encontro se quer completar. Não me aprendes se me prendes mas podes fazer a cama que eu também queria aprender a encostar-me só um bocadinho sem pousar. De duas respostas paradoxais que precisem de coexistência procurarei o oximoro encerrado na felicidade trágica, na explosão serena, é a resposta terceira que me encontra e me resolve e quando escrevo, acredito; uma resposta estagna a questão, várias são movimento.
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