O porquê das coisas
do existir, até da pedra ou do ser
não é para mim
eu sei apenas que as coisas são assim
e que as posso, assim, apenas viver.
Eu nunca entenderei cada acontecer
ou como amanhece e logo o anoitecer
vem, em cada início se supõe um fim,
o amor é um lago, a vida e um jardim;
o amor! Como poderia eu entender
o que nem bem sei descrever?
06 março 2011
O porquê das coisas
«Cirurgia plástica» - por Rui Felício
O Carvalho era um rapagão, bonito, másculo...
Os músculos espalhavam-se salientes e bem desenhados por todo o corpo. Trespassava as miúdas nos bares, nas esplanadas, na praia, com os seus olhos azuis.
Nas redondezas, não havia mulher, casada ou não, que já não se tivesse rendido aos seus encantos e dormido com ele pelo menos uma vez.
Todas diziam que, além de bonito, era um verdadeiro macho na cama.
Um dia, foi alargar os seus horizontes, pegou no carro e dirigiu-se a Madrid.
Perto de Talavera de La Reina, vencido pelo sono, adormeceu ao volante e sofreu um grave acidente. A carne das suas nádegas foi completamente arrancada e destruída pelo acidente.
Socorrido no Hospital espanhol mais perto, esteve internado uns quinze dias. Fizeram-lhe um transplante de tecido adiposo para lhe reconstruírem as nádegas.
Regressado a Portugal, todos lhe notavam uma radical transformação. Com trejeitos efeminados, o seu olhar já só é dirigido para homens. Não quis mais saber das mulheres que conhecia. Nem dessas, nem de outras...
Um seu amigo, encheu-se de coragem, e disse-lhe:
- Francamente, Carvalho! Tu que eras um garanhão dos diabos, agora ficaste maricas?
O Carvalho, sem se ofender, ajeitando a melena, respondeu-lhe:
- Que mal tem isso? O cu nem é meu...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
05 março 2011
Olha a piadinha fácil
Se uma moça se chamasse Genoveva Itália faria sentido aplicar-lhe o diminutivo Gen Itália.
Fluido
Relembra-me o dia.
Os nervos à flor da pele
e as palavras sem nexo
deixaram de o ser;
busco-te -agora- na penumbra,
enquanto te pinto
no olhar
o resquício -ainda- fluido
desta paixão.
Poesia de Paula Raposo
04 março 2011
Sabiam que a Voyager 1 entrou na Heliopausa?
De acordo com uma pequena notícia na edição de Fevereiro da Sciences & Avenir, a sonda Voyager 1, lançada há 33 anos atrás, terá entrado na Heliopausa (não confundir com fenómenos fisiológicos próprios do ser humano), a zona limiar do Sistema Solar na qual o efeito do vento solar deixa de se fazer sentir, prevendo-se que lá para 2014, tenha finalmente cruzado esta fronteira. A uma razoável distância de 17.400 milhões de Kms de distância do Sol, viajando a uma velocidade de cerca de 61.452 Km/h, a sonda Voyager 1 é actualmente o objecto de fabrico humano mais distante do planeta Terra, tanto que os sinais de rádio enviados pela sonda demoram cerca de 16h a chegar à terra, e isto tendo em conta que as ondas de rádio viajam à velocidade da luz.
A Voyager 1 é uma de várias sondas enviadas para explorar o espaço exterior, a par das sondas Pioneer 10 e 11 (lançadas em 1972 e 73 respectivamente), e da Voyager 2, (lançada com a Voyager 1 em 1977).
Para além de toda a parafernália de sensores e instrumentos científicos, as sondas transportam também informações acerca da raça humana, para o caso de algum dia serem encontradas por uma raça extra-terrestre mais avançada. Ao fim e ao cabo, são uma espécie de prospecto turístico muito particular para alienígenas, se bem que há quiçá um certo excesso de informação.
O que causará mais estranheza é a forma como a raça humana é apresentada. Por exemplo, na placa de alumínio anodizado que viaja na Pioneer 10, o homem e a mulher são apresentados como duas criaturas completamente desnudadas, em pose convidativa a dizer olá (isto em vez de usarem uma bela de uma vestimenta própria de um Domingo-de-ir-à-missa) e, como se pode ver em rodapé, a dar informações sobre a localização do planeta Terra no Sistema Solar que, um pouco mais acima, é situado relativamente a alguns pulsares cuja frequência única é também mencionada
Sinceramente, não sei se será boa estratégia de relações púbicas... - perdão!- públicas darmo-nos a conhecer em poses mais libertinas, tal como dar a conhecer a referência à nossa localização ou contactos, embora esta estratégia não seja actualmente nada de extraordinário. É prática corrente, por exemplo, nos anúncios classificados de convívio do Correio da Manhã. Mas preocupa-me o que poderão pensar os alienígenas desta peregrina ideia de incluirmos uma foto nossa exibindo ostensivamente as nossas partes pudendas num cartão de visita...
Se a isso juntarmos os grafismos que, no “Golden Disc” das Voyager explicam como se processa a reprodução humana, começamos aqui a ver um padrão preocupante... Depois admirem-se que haja relatos de abduções de seres humanos por alienígenas, para encontros imediatos de elevada proximidade, como aliás tem sucessivamente denunciado o profeta extraterrestre de Arganil.
Imagem: Astronomy Chamber; NASA
Ouvi Dizer
“Não é certo que ela me torne a falar, aliás, o mais provável é que ela nunca mais me venha a dirigir a palavra. Parece-me que isso é o que vai acontecer. Havia de fazer alguma coisa. Não é isso que quero. “Eu tinha tantos planos p’ra depois”. Ah! Acontecer! Fazer as coisas acontecer. Procurar que os meus desejos se realizem. Levantar-me e ir atrás dela. Falar-lhe. Dizer-lhe qualquer coisa. Podia mandar-lhe um sms ou um mail. Fazer uma chamada. Olha, voltou-se para trás. Sorri, estúpido, sorri! Vai ter com ela e fala-lhe. Ah... Acho que aquele dedo esticado quer dizer que nunca mais me vai falar. Bolas! Se calhar avancei depressa demais. Fecha o sorriso, já chega, ela não se riu para ti. “Na pressa de chegar até nós.” Levanta-te. Vai lá. Fala-lhe. Diz-lhe qualquer coisa que a faça reconsiderar. A tua unha do dedo médio está muito bem pintada. Não. Outra coisa. Desculpa. Sim. Pede-lhe desculpa.”
– Ana!
“Desculpa”
– O que é?
– Fica-te bem essa cor de verniz das unhas – “AAAAAAAHHHH!!! Não era isto…”
– O quê?!
– O verniz…
– Não é verniz, é gel!... Vês?
– Ah… Gel?!... E os outros dedos?
– Tu só vais ver este mas as outras unhas estão iguais, parvo! Adeus.
– Ah… Eu depois mando-te um mail…
– Não, não mandes, não te incomodes, escreve antes uma história.
– Ana!
“Desculpa”
– O que é?
– Fica-te bem essa cor de verniz das unhas – “AAAAAAAHHHH!!! Não era isto…”
– O quê?!
– O verniz…
– Não é verniz, é gel!... Vês?
– Ah… Gel?!... E os outros dedos?
– Tu só vais ver este mas as outras unhas estão iguais, parvo! Adeus.
– Ah… Eu depois mando-te um mail…
– Não, não mandes, não te incomodes, escreve antes uma história.
Cronologia do amor
Ama-me como se fosse eu o chão
onde o sol tomou a luz pelos raios
para entrar de ventre na terra.
Ama-me sem o desejo, sem a paixão
sem todos esses artifícios da sedução
ou os demorados, arrebatados ensaios
de peles e carnes loucas em guerra.
Não me ames como uma lua qualquer
que, desejando, nunca poderás ter;
ama-me por mais do que agora ser,
como se nem fosses um amante jovem,
como se tivéssemos um enorme ontem.
Ama-me, então,
na solenidade das rugas, do cabelo branco
de quem à morte já deu o flanco;
ama-me breve e demorada,
ama-me a manhã, a noite, a madrugada,
ama-me como quem jurou dar a mão
e, nas ancas, o amor terno, já de ancião
nunca se deixará de nós esquecer.
onde o sol tomou a luz pelos raios
para entrar de ventre na terra.
Ama-me sem o desejo, sem a paixão
sem todos esses artifícios da sedução
ou os demorados, arrebatados ensaios
de peles e carnes loucas em guerra.
Não me ames como uma lua qualquer
que, desejando, nunca poderás ter;
ama-me por mais do que agora ser,
como se nem fosses um amante jovem,
como se tivéssemos um enorme ontem.
Ama-me, então,
na solenidade das rugas, do cabelo branco
de quem à morte já deu o flanco;
ama-me breve e demorada,
ama-me a manhã, a noite, a madrugada,
ama-me como quem jurou dar a mão
e, nas ancas, o amor terno, já de ancião
nunca se deixará de nós esquecer.
reflexão matinal romântica, com meia de leite e torradas
- Só tenho olhos para ti, amor! O resto pertence a tanta gente...
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