30 março 2011
29 março 2011
T(r)ocar
Eu nasci no mês de Agosto mas só devo ter nascido metade. Desde então tenho sempre muito frio e saudades; estou sempre ansiosa pelo retorno embora saiba que esse mês me vai matar, todos os meses de Agosto me mataram e ficaram a ver-me morrer. Durante esses dias vivo ao contrário do resto do Mundo: o frio nos dedos e a morte instalada como visita exigente, convidada de honra, no quarto de hóspedes dos olhos são muito mais estranhos quando toda a gente ferve e agita a luz. Acabo por nascer atrasada, sempre com um ou dois meses de atraso, em Setembro ou em Outubro, já com saudades e frio e este desejo sempre demasiado intenso por falta de direcção, uma espécie de fome dolorosa que não se sabe de quê e que sempre me comeu quando fiz amor com todos os estranhos a quem abri a porta e o corpo. Continuo a nascer só metade, os dias adicionais de gestação nada acrescentam que eu não tenha de dar em troca, se recebo mais sossego, tiram-me um olhar e, mais tarde, percebo que fiquei cega para determinado ponto do horizonte; nem sempre percebo logo o que recebi e o que dei em troca. Este ano também morri em Agosto mas o parto tem sido incomparavelmente mais lento, ainda não nasci. Dói, sim, o parto dói sempre, mas comigo vai nascendo o sossego e contigo perdi o frio. Em troca? Dei-me.
Momento musical
PSYCHE GRIND 2: THE VULVA UNDERGROUND from Django's Ghost on Vimeo.
01. “Dark Eyed Woman” - Spirit
02. “Sitar Ride” - Madlib
03. “I’m Your Witchdoctor” - Noel Deschamps
04. “Satanic Sessions” - The Rolling Stones
05. “Girl, You’ll Be A Woman Soon” - Neil Diamond
06. “That’s All I Know (Right Now)” - The Neon Boys w/Richard Hell
07. “Easy Lovin’ Girl” - Roy Head
08. “The Ballad Of Bertha Gutz” - Amos Boynton
09. “The Edge Of Nowhere” - The Sunday Group
10. “She Got Me” - Masters Of Reality
11. “Dreambox” - The Frogs
12. “Love’s The Thing” - Smoke Rings
13. “Stop And Listen” - The Shags
14. “Mr. Bulldog” - The Mebusas
15. “The Man With The Golden Arm” - Barry Adamson
16. “Why” - The Wanted and Co.
17. “Marie Douceur, Marie Colere” - Marie Laforet
Sim hoje
Hoje trouxeste a grande angular
Para me apanhares
Naquela expressão
Estúpida e indefesa
De espanto e ódio
Quando girei
Sobre mim mesma
E me esforcei
Por sobreviver
Nasci numa grande angular
Com rictos de horror
Nos lábios
E tumefacções no rosto
Não devias ter trazido
Isso hoje, meu amor...
Poesia de Paula Raposo
«Le Temps Qui Passe» - de Milleanne
A minha compra mais fresquinha para a colecção veio do lado de lá do oceano Atlântico, mais propriamente do Brasil. «O tempo que passa» é um pequeno quadro a óleo sobre tela (20 x 30 cm) da autoria da pintora Milleanne, que expõe e vende os seus quadros na Galeria Baudelaire, em S. Paulo.
28 março 2011
O humor da marafilha do shark
O amor é como a erva. Nasce, cresce e depois aparece uma vaca e estraga tudo.
Reparem nos Húngaros, ali no meio da Europa
Os Portugueses ficaram caladinhos. Vergonha ou excesso de modéstia?
De Nihilo Nihil
De nihilo nihil, "nada vem do nada" como Lucrécio afirmava.
E (também) por apologizar esta citação, não posso rejeitar à partida, pelo menos sem uma crítica mais profunda que me permitisse excluir o próprio conceito, a existência de uma qualquer força cósmica, sobrenatural ou energética que decida por ela própria convergir os caminhos de duas almas, unidas no passado, num único sentido.
Quando observo o teu corpo;
Quando apresto a forma perfeita como ele se encaixa no meu; ou até poética;
Quando por ocasião das tuas carícias, nenhum toque é inútil, mas cada um deles, mordaz no despoletar de emoções físicas e psicológicas;
Nesses momentos, nesses nenhures de uma vida de possibilidades e probabilidades, sinto alguma dificuldade em aceitar que tudo fora deixado ao acaso.
Há quem nomeie a vida de carrossel;
Há quem afirme que a sorte determina o encontro de dois seres humanos.
Será uma qualquer energia de aproximação capaz de proporcionar o (re)encontro de dois amantes que outrora, noutra vida, noutra realidade, já o foram?
Será que o êxtase que sentimos quando tocamos um no outro já fora sentido? Por nós; pelos mesmos indivíduos de invólucros desiguais aos do passado.
Retivemos então a forma como beijamos, tocamos, o que sentimos, o que gostamos, o que nos provoca, o que nos atrai, o que nos faz desejar...
...o que nos faz amar.
E (também) por apologizar esta citação, não posso rejeitar à partida, pelo menos sem uma crítica mais profunda que me permitisse excluir o próprio conceito, a existência de uma qualquer força cósmica, sobrenatural ou energética que decida por ela própria convergir os caminhos de duas almas, unidas no passado, num único sentido.
Quando observo o teu corpo;
Quando apresto a forma perfeita como ele se encaixa no meu; ou até poética;
Quando por ocasião das tuas carícias, nenhum toque é inútil, mas cada um deles, mordaz no despoletar de emoções físicas e psicológicas;
Nesses momentos, nesses nenhures de uma vida de possibilidades e probabilidades, sinto alguma dificuldade em aceitar que tudo fora deixado ao acaso.
Há quem nomeie a vida de carrossel;
Há quem afirme que a sorte determina o encontro de dois seres humanos.
Será uma qualquer energia de aproximação capaz de proporcionar o (re)encontro de dois amantes que outrora, noutra vida, noutra realidade, já o foram?
Será que o êxtase que sentimos quando tocamos um no outro já fora sentido? Por nós; pelos mesmos indivíduos de invólucros desiguais aos do passado.
Retivemos então a forma como beijamos, tocamos, o que sentimos, o que gostamos, o que nos provoca, o que nos atrai, o que nos faz desejar...
...o que nos faz amar.
27 março 2011
«Atracção na cidade» - por Rui Felício
Há anos que sou cliente daquela loja de pronto a vestir para homem, na Av. do Uruguai.
Não é que seja barata, mas os fatos são de boa qualidade, a confecção é perfeita e consigo sem dificuldade encontrar o tamanho adequado sem necessidade de serem feitos arranjos, nem nas calças, nem nas mangas.
Já lá conheci várias empregadas. Tanto as que saem como as que as vêm substituir, são sempre de uma extrema simpatia, cordiais, solícitas, eficazes, competentes e, normalmente, muito bonitas. Com corpos esculturais, mulheres jovens mas já maduras e de grande beleza, não se lhes consegue ficar indiferente...
Mesmo que não tencione comprar nada, às vezes passo por lá só para ver se há novas colecções. Porém, de há um mês para cá, tenho-a visitado com maior frequência do que o habitual.
Bem...porquê escondê-lo? Confesso que tenho ido à loja só por causa dela. Está na loja há pouco tempo, é nova, trigueira, salpicada por umas quase imperceptíveis manchas acastanhadas, que fazem lembrar pequenas sardas, e que lhe dão um atractivo especial, inexplicável, de sonho.
É a sensação de uma maciez aveludada, aquilo que sinto, quando, casualmente, os meus dedos lhe tocam, provocando-me um arrepio incontrolável no corpo. Suspiro baixinho, disfarço, as ideias atropelam-se-me em turbilhão e tento controlar o desejo louco de a ter. Evito que se perceba. Se calhar, sem sucesso...
Mas...
Um choque, um aperto no coração, foi o que senti no outro dia.
À porta, ainda não tinha entrado, vejo-a pendurar-se no pescoço de um homem jovem, bem constituído, que lhe sorria, que a afagava. Pelo vidro translúcido da porta, espreitava-os e adivinhava-lhes, com inveja, um ar de grande felicidade!
Nem cheguei a entrar. Dei meia volta e regressei a casa roído de ciúmes, recriminando-me pelo meu feitio inseguro e indeciso.
Pelo caminho tentei desvalorizar o inesperado episódio. Nos tempos modernos essas atitudes são triviais, as mudanças são comuns, as aparências nem sempre traduzem a realidade e, portanto, não devia preocupar-me demasiado.
Ontem decidi-me! Venci aquela estúpida indecisão, aquele marasmo, e resolvi passar pela loja ao fim do dia. Ganharia coragem e diria a verdade! Revelaria aquilo que me trazia o coração apertado. Não perdia nada com isso, monologava eu comigo mesmo... Assim acabaria com o sofrimento que me atormentava e que não tinha razão de ser!
Cheguei lá, procurei-a avidamente com os olhos. Mas não a vi!
Perguntei por ela, ansioso.
A empregada que me atendeu disse-me que aquela bela e cara gravata de seda italiana, de um padrão invulgar, era exemplar único e que a tinham vendido no dia anterior...
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Não-Despoema
E se chegar a manhã que devora os meus sonhos,
que fere e tomba as árvores nos meus caminhos,
meu amor, tu ainda serás o rio da noite
(mesmo que eu não grite, mesmo que eu não grite)
que se lança, em pranto, contra os ácidos que se espalham
no mar de luz angustiante, impiedosa, dos que acordam
apenas para o centro do pesadelos
nos olhos de princesas roubadas dos castelos;
e voltarás a adormecer--me
e a acordar-me
uma e outra e outra vez, voltarás
enquanto o meu pesadelo não for capaz
porque a noite não se dilui
(nunca termina o que não se conclui)
no frio, no medo, no calor que arde numa luz bruta
que fere os dias mais do que a dor, mar
que fere tudo o que não conseguiu levar
e pára e luta;
escuta,
e ao parar do coração, assim,
quando eu morro um bocadinho,
voltarás, tu voltarás
a bater contra o meu corpo
a cada instante do grito
voltarás pelo meu caminho
ao lado de bem dentro de mim
para me puxares até ao lado de fora do tempo.
que fere e tomba as árvores nos meus caminhos,
meu amor, tu ainda serás o rio da noite
(mesmo que eu não grite, mesmo que eu não grite)
que se lança, em pranto, contra os ácidos que se espalham
no mar de luz angustiante, impiedosa, dos que acordam
apenas para o centro do pesadelos
nos olhos de princesas roubadas dos castelos;
e voltarás a adormecer--me
e a acordar-me
uma e outra e outra vez, voltarás
enquanto o meu pesadelo não for capaz
porque a noite não se dilui
(nunca termina o que não se conclui)
no frio, no medo, no calor que arde numa luz bruta
que fere os dias mais do que a dor, mar
que fere tudo o que não conseguiu levar
e pára e luta;
escuta,
e ao parar do coração, assim,
quando eu morro um bocadinho,
voltarás, tu voltarás
a bater contra o meu corpo
a cada instante do grito
voltarás pelo meu caminho
ao lado de bem dentro de mim
para me puxares até ao lado de fora do tempo.
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