27 março 2011

Não-Despoema

E se chegar a manhã que devora os meus sonhos,
que fere e tomba as árvores nos meus caminhos,
meu amor, tu ainda serás o rio da noite
(mesmo que eu não grite, mesmo que eu não grite)
que se lança, em pranto, contra os ácidos que se espalham
no mar de luz angustiante, impiedosa, dos que acordam
apenas para o centro do pesadelos
nos olhos de princesas roubadas dos castelos;

e voltarás a adormecer--me
e a acordar-me
uma e outra e outra vez, voltarás
enquanto o meu pesadelo não for capaz
porque a noite não se dilui
(nunca termina o que não se conclui)
no frio, no medo, no calor que arde numa luz bruta
que fere os dias mais do que a dor, mar
que fere tudo o que não conseguiu levar
e pára e luta;

escuta,
e ao parar do coração, assim,
quando eu morro um bocadinho,
voltarás, tu voltarás
a bater contra o meu corpo
a cada instante do grito
voltarás pelo meu caminho
ao lado de bem dentro de mim
para me puxares até ao lado de fora do tempo.

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