24 abril 2011

Dos rendidos

O combate dos rendidos nos olhos deles; olhos os meus, ao mesmo tempo, nos espelhos deste café, ansiosa, quase receosa, certifico-me de que os meus não estão assim, não estão iguais. Não estão. Respirar novamente. Dizem que não há como a água do tempo para apagar a fogueira da vida que arde na lenha das esperas; muito espera quem algo espera para começar a viver. O meu único e último combate dos rendidos escolhi-o eu; talvez seja por me render que o não perderei. Eu já não espero mais, não espero mais, não espero mais nada, vou-me a ti, entro-te por qualquer fresta, qualquer espaço entreaberto e, já no centro, entendo, no último olhar para trás, que até pela porta me deixarias passar. Volto ao espelho. Nos meus olhos, o peito rendido sem combate e as tuas mãos olhar adentro, o teu corpo guardado no meu ou o meu guardado no teu, não sei, confundem-se. Olho os teus, incerta, e neles está algo sem água, sem mais esperas.


«Sonho desfeito» - por Rui Felício


Tinha esperado aquela oportunidade, sem nunca revelar as suas intenções, planeara tudo em segredo, e agora que ela se lhe deparara, não a deixou escapar.
Olhou para ela e não resistiu. Enlaçou-a, cobriu-a, assumiu um ar triunfante, e pensou consigo mesmo que, finalmente, tinha alcançado os seus desejos dissimulados durante muito tempo.
Pertenciam ambos ao mesmo extracto, completavam-se, mas ela sempre se lhe tinha esgueirado, oculta, sem se mostrar, como enguia escorregadia.
Não que ele lhe fosse indiferente, bem pelo contrário! Achava-o sedutor, bonito, um cavalheiro. Mas receava que a víbora da madrasta, vinda de uma poderosa família que dominava por completo o seu pai, lhe cortasse o desejo que ela também secretamente tinha de se juntar a ele, desfazendo-lhes os planos.
E os seus medos não eram infundados! O idílio só demorou alguns instantes, porque a poderosa madrasta, a manilha de trunfo, desfez-lhes o sonho e apressou-se, com um murro na mesa, a cortar a vasa formada pela Dama de copas e coberta pelo Valete de copas, naquele jogo de sueca.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

"Vinde a mim as criancinhas"

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23 abril 2011

4 CDs que comprei para a minha colecção

Por vezes, compro revistas só por causa de um artigo... ou mesmo de um anúncio.
Desta vez, comprei estes 4 CDs pelas suas embalagens. Mas também há por ali muitas músicas (e letras) bem interessantes:

Hecate - «The Magick Of Female Ejaculation»
Editora: Zhark International, 1992
As músicas fazem-me lembrar uma carroça sem óleos nas rodas numa calçada de paralelos, mas a capa, o livrinho e o próprio CD têm gravuras japonesas bem entesantes (sim, sim, eu disse interessantes):






Ordo Rosarius Equilibrio & Spiritual Front - »Satyriasis - Somewhere Between Equilibrium And Nihilism»
Editora: Cold Meat Industry, 2005
A capa é bem discreta mas reparem bem. Para quem não vê ali nada de especial, deixo uma das páginas interiores do livrinho que vem com o CD.
Tem músicas muito interessantes, numa parceria entre dois grupos. Por exemplo, «Your Sex Is The Scar», «Three Is An Orgy, Four Is Forever», «The Pleasure Of Pain»,...



Ordo Rosarius Equilibrio - «O N A N I - [Practice Makes Perfect]»
Editora: Cold Meat Industry, 2009
Esta é uma edição especial, numa caixa com fotos, um livro e um DVD com um video excelente do primeiro tema do CD: «Glory to Thee, My Beloved Masturbator» (não é preciso traduzir, pois não?). Também há outros temas bem curiosos, como «Let Me Show You, All The Secrets Of The Torture Garden», «Too Late For Innocence, Too Late For Regret (Four Hands Please Better Than Two)», «C U M, And Let Me Lead You Far Astray»,...



Spiritual Front - «Armageddon Gigolo'»
Editora: [Trisol] Music Group GmbH, 2006
Se a capa é um espanto, a contracapa do livrinho que vem com o CD é... fantástica!
Gosto especialmente das faixas «Love Through Vaseline» e «No Kisses On The Mouth».


Silêncio

Nada mais perturbador
Para os sentidos vivos
Que ainda sei sonhar
De que o silêncio,
Ao longo dos ponteiros
Dos relógios,
Nos calendários
Onde dias e noites
São cortados a fio
Sem remorso,
Com a caneta esfarrapada
De tanto uso insentido...

Nada de tão perturbador
Como o silêncio
Que compadece os sonhos
E os mata à nascença,
Deita-os no lixo
Sem remorso,
Em cobardia silenciosa.
Hoje,
QUERO QUE SE DANE O SILÊNCIO!


Poesia de Paula Raposo

Às vezes não me importava de ser saco de pancada...

22 abril 2011

Nunca é demais lembrar...

“Clitorizar”, rima com ar, com cantar, mamar, sonhar, lunar, beijar, chupar, mimar, sodomizar… e infelizmente muitas vezes não rima com prazer, nem com foder. É pena. É o que tenho a dizer.

E eu hei-de amar os teus fantasmas

Continuamos a enterrar os nossos mortos sem nunca conseguirmos enterrar os seus fantasmas. Sim, eu vejo-os, eu vejo os fantasmas, os meus, os teus, os nossos e os que ficam a segredar, sem dono, no vão de todas as escadas onde não soubemos esperar; esta é a verdade, a nossa verdade, eu vejo-os se não olhar para o espaço vazio; faz tão pouco tempo que decidi não me debater mais, nunca mais tentar enterrar as sombras, desperdiçar violência ao tentar conter debaixo de terra o que não tem pele por onde agarrar, o que passa entre todos os grãos. E vejo o teu olhar quando a fome te invade o corpo inteiro, vejo o teu olhar que me pede perdão, vejo-te hesitante, entre a máscara e o rosto nu, não consegues cortar o laço, quando te ofereces nunca o fazes sozinho, eles estão sempre e já ali, dizes que te desculpe, que te perdoe, que te deixe entrar mesmo assim, está muito frio no vão da escada. Mas eu sei, eu sei faz algum tempo, tantas vezes percebi, quando me deitava, que o toque frio não podia ser o teu joelho, que o toque frio não podia ser o teu. E continuo deitada sob ti, e saberás que abro mais os braços e ergo mais as pernas e aumento o espaço que há em mim; quando te enterras, assim, inteiro, em mim, enterras também, por momentos, todos os teus fantasmas; eu deixo-vos entrar, meio casulo, meio armadilha, enrolo-vos de braços à volta das costas, de pernas à volta da cintura, bem presos, são o peso morto do teu corpo vivo; quando vos beijo hão-de chegar ao fundo do fundo de mim. Não, não te vou perdoar, não não me peças que te perdoe, não entendo o que haja para desculpar; todos nós trazemos fantasmas e, quando eles nos agitam, alguém terá de os amar por nós e eu hei-de amar os teus.

Vida Guerra numa campanha da pETA (defesa dos animais)



O sonho comanda a... pila


Poção de namorada


4 páginas (ir cricando em "next page")

oglaf.com

21 abril 2011

«Nu Âmbar da Minha Escrita» - segundo livro de Luisa Demétrio Raposo

Depois de «Respiração das Coisas», de 2010, esta alentejana de gema, clara e casca tem o seu segundo livro, «Nu Âmbar da Minha Escrita», publicado pela «Temas Originais».
Partilha com os cibernautas um espaço na internet, o seu blog Vermelho Canalha, onde publica poemas, cartas e prosas poéticas e eróticas.
Já teve a sua poesia lida pela nossa voz de ouro, Luis Gaspar, no nº 49 da Poesia Erótica.


Comecei agora a deliciar-me com os malabarismos de palavras que a Luisa Raposo faz e deixo-vos pequenos recortes que fiz de vários poemas, até à página 31:
Carta de Adeus no Íntimo - "sinto o toque, a ardência, nas partes mais carnais da minha própria morte..." (pág. 12)
Visões da Poetisa - "Gozo, contigo, a minha inocência, apalpo as palavras por ti, aqui entornadas em soluços, e sussurros de prazer. Eu sou assim, eterna escoada de motivações, as tuas, num quente silêncio que te pensa. Que para ti escreve ardentes pensares na mudez aterradora das palavras..."(pág. 16)
Visões da Poetisa II - "Só tu podes tocar na minha narrativa, com o teu sangue grosso, de árduo gargalo..."(pág. 18)
Alentejo Duro - "Erectas as nuas espigas o meu horizonte alargam, entre as pontas naturalmente amarelas. A Espiga, que o meu corpo abotoa à beleza horizontal, tão, potentemente ardente como um sol" (pág. 22)
Comer Com a Boca - "(...) Poro com poro, no poro do poro, e sempre em rotação mó...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, excitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente, o corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível, o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua, enrosca-se tendo por égide, um pénis, em adoração. Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua atè às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias..." (pág. 26)
Preconceituz - "[Não existe Deus sem tesão] (...)
A febre é um cio faminto, onde o magro coabita abaixo dos sistemas ditos morais, onde o pecado corta os pés aos homens e o clitóris às mulheres..."(pág. 29)
Vergonha - "Tudo pode ser duro e o tudo se pode foder com nada. Depende apenas das fomes que cada um tem..." (pág. 31)

Quem nunca espreitou que atire a primeira... pedra