31 maio 2011

«Monólogo do velho sátiro lusitano» - de Eduardo Martins

Já aqui falámos na semana passada da 64ª edição das Noites com Poemas, organizada desde sempre pelo nosso Mestre Dom OrCa. O tema foi: «Sátiras e erotismos de versos despidos» e o OrCa fez uma reportagem bem completa dessa noite memorável.
O Eduardo Martins leu lá este texto de sua autoria, que achei especialmente uma delícia:

"Monólogo do velho sátiro lusitano

Envelhecer é triste! O outro dizia que aos 60 anos se consegue fazer tudo o que se faz aos 20, só que não apetece… Onde é que os meus 60 já vão, cada vez me apetece menos…
Vou sentar-me a descansar… Deixa cá chegar a cauda para o lado com a mão, que ela já não se ajeita sozinha, e ainda lhe ponho o traseiro em cima…
Antigamente tinha tudo em pé! Embora a memória às vezes me pregue partidas, ainda me lembro desse tempo… As orelhas de bode! A cauda de burro! Até a narigueta achatada eu arrebitava! Para já não falar do cabelo… parecia que tinha visto bicho, sempre no ar… Havia outra coisa que eu tinha sempre em pé… mas não é em pé que se diz nas enciclopédias quando se referem aos Sátiros…, como é que era??? era… ere… ção, será??? Esta palavra diz-me qualquer coisa…mas agora não me lembra o quê…o que é estava em erecção???
Eu já sabia que esta falta de memória ia acontecer, mas custa!
E o corpo! Todo empenado! Agora até coxeio, há para aqui qualquer coisa na pata…
A minha vida agora é recordar… coisas antigas, às vezes misturadas, vou lembrando…
Emigrei para aqui há bastante tempo, ainda a Natália Correia não tinha organizado a “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, e parece-me até, que ainda me convidou para algumas festas nessa altura…
Nós os Sátiros nascemos na Mitologia Grega, mas fomo-nos multiplicando, espalhámo-nos pelo mundo, e andámos para aí metidos em forrobodós e orgias que eu sei lá!
Os meus primos que foram para a Península Itálica,e por lá ficaram, até mudaram de nome, por causa da Mitologia Romana, passaram a ser os “Faunos” e têm-se divertido muito por lá…
Então ultimamente, com aquele primeiro ministro italiano, é cá cada festarola!!!
Tenho sabido disso pelos jornais e pela televisão!
Até houve alguns Faunos que vieram para cá, não sei quanto tempo ficaram, o Aquilino Ribeiro escreveu que “Andam Faunos pelos Bosques”, mas eu ainda não estava cá, e nunca cheguei a encontrar nenhum descendente desses meus primos… aliás com os incêndios florestais, o melhor que eles fizeram se calhar foi ir dar pulos e assustar donzelas para outro lado!
Os Sátiros que ficaram na Grécia, não estão muito satisfeitos com as orgias que há por lá! Aquilo é mais com o governo, ou com o desgoverno, e até falam em falência. “Falo”! “Falo”, ora aí está! Era a tal coisa, em erecção !!! Lá me lembrei!!!
Por aqui, isto também é uma crise, eu já meti os papéis para a reforma, mas descontei muito pouco,
porque andava sempre em orgias, estou para ver quanto é que vou receber…
Já ninguém nos procura para orgias à moda antiga, quando somos chamados é só para umas tretas, coisas sem graça, e os Sátiros sentem que estão a fazer coisas que, como é que se diz, fodem toda a gente, indiscriminadamente… e ninguém goza, nem mesmo os mais masoquistas…
Esta dor na pata, ainda a incomodar-me há já muito tempo, sou capaz de ter o casco encravado.
Tenho de ver se descubro algum Podólogo…


Eduardo Martins
Carcavelos, Maio 2011"
blog «palavras como as cerejas»

Salsicharia

Pretexto

A mesa da esplanada é um pretexto:
está sol, apetece sair,
tomar um café,
uma cerveja,
talvez um gin tónico;
pretextos que são.
Será que vens?
Se não vieres,
eu escrevo o tempo
de uma tarde primaveril.
Se vieres,
contornaremos os pretextos
e ficaremos à conversa
- o resto do dia -
só pelo desejo de estar.

Poesia de Paula Raposo

Obrigada, PostalFree!


A PostalFree é uma empresa que produz e distribui postais publicitários gratuitos.
Há dias, vi um artigo na revista «Visão» sobre uma campanha deles para o vodka Moskovskaya, que achei um mimo. Descobri depois que havia três diferentes postais dessa mesma campanha. Cravei-os (gaja que se preze tem que ser desenrascada) e eles tiveram a gentileza de me mandar esses e outros postais, que a partir de hoje fazem parte da minha colecção. Ora vejam lá se não são um mimo:








30 maio 2011

A prostituta azul (XI) - Tabela de (a)preços

O afecto não se compra; sei, agora, porém, que, se o consigo encontrar genuíno dentro de mim, ele se pode vender. É evidente que é esta a resposta à tua pergunta; só isso me permitiu encarecer a "coisa"; o sexo comigo, por si só, não passa de um banal anel, o afecto foi a pedra que lhe juntei, só comprou quem considerou diamante. A construção da frase não foi à toa: eu encontro, ele vende-se, como uma pedra que devia estar cravada no teu anel recém-comprado.

(O homem olhou para as suas mãos esticadas, o seu anel ao peito não tinha pedra. Deixou todos os papelinhos coloridos de feio e foi-se embora muito depressa porque precisava de comprar uma nova vida para encher o lugar onde se encontrou com os seus vazios.)

Mapa-mundo dos direitos dos gays e lésbicas


(crica para ampliares... o mapa, que tu já não tens solução, pois não deves acreditar em todos os e-mails que recebes)

As gajas também vêem filmes porno

événements inouïs - Évelyne Louvre-Blondeau



le blog d'Évelyne Louvre-Blondeau

29 maio 2011

Desejângulo

Olhava-te só nos olhos. Mas o olhar é sempre náufrago,
um náufrago desejo que, ao sufocar, eu afogo
contra as ondas da nudez do teu corpo
quando os meus dedos escorrem
e se juntam à tua imagem
dedos, pouco a pouco,
transbordam
nadam
vão
e
vão
nadam
transbordam
dedos, pouco a pouco,
que já não são meus, imagem
das minhas mãos. Eles escorrem
na parede firme da tua pele, são corpo
nas mãos, nos ombros, nas costas, eu afogo
o olhar nos teus olhos, mas o olhar é sempre náufrago.

Força, companheiro!

crica para visitares a página John & John de d!o

28 maio 2011

Cuidado com as crianças sozinhas na internet

Vídeo com a participação de algumas estrelas porno (entre as quais Ron Jeremy), a alertar para os riscos de deixar crianças a navegar sozinhas na Internet.

Cena

Complicados os papéis
que nos destinam
- uma peça engraçada -
e que nós tentamos
interpretar da melhor
maneira.
Tentamos?! Interpretamos?!
Ou somos levados pelo tempo
e desfazemos sonhos,
esperanças,
cumprindo um ritual teatral?
Quero acreditar
- porque não o faria? -
que este é o meu papel
na peça que não escolhi.
mantenho-me em cena,
apesar da saudade.

Poesia de Paula Raposo