02 junho 2011

Usar máscara ou não... eis a questão!



Actualmente, a palavra prostituição tem um sentido tão lato e subjectivo que, qualquer adjectivo que se utilize para qualificar o conceito, levar-nos-ia a debates inconsequentes.
Toda a gente se prostitui, no sentido mais pejorativo que essa palavra pode suscitar, em qualquer tipo de relação ... afectiva, social, familiar, profissional e política, onde a transacção da mentira, manipula tudo e todos de forma descarada.
O sexo, é quanto a mim, a mais transparente das prostituições ... transacciona-se o corpo, e em troca, é-se remunerado. Muito mais chocante será alguém despertar emoções e afectos noutras pessoas pelo simples divertimento ou para enriquecimento curricular. A mulher ou o homem, ao prostituir-se, poderá, simultaneamente, desempenhar vários papéis: fotógrafos de ilusões, mágicos de emoções pré fabricadas, ventríloquos de frases feitas, vendedores de sonhos ... mas o jogo é bem definido pelos intervenientes, ninguém engana ninguém!

Há uns tempos atrás, assisti a um debate onde alguém disse que a angústia que sentiria em relação à filha, seria a mesma, fosse ela prostituta ou alpinista.
Vem isto a propósito da Joana fazer a apresentação do seu livro, usando uma máscara veneziana, não porque a sua vida seja um misto de Natal e Carnaval mas porque a nossa sociedade se mantém vinculada a estereótipos que mais não são do que “clichés” que se diluem entre o “dizer” e o “fazer”.
Não consigo estabelecer comparações entre filhas alpinistas ou prostitutas mas uma coisa, eu sei ... se tivesse uma filha como a Joana, sentiria um grande orgulho, independentemente do seu passado, presente ou futuro.
E em relação ao que ela me confidenciou, recordo-me da mensagem que o meu filho me enviou no meu aniversário: “o coração das mães é um abismo no fundo do qual se encontra sempre um perdão

A Kate Upton fica mesmo bem só com uma pinturinha no corpo...


kate Upton in Sexy Body Paint for SI por EgotasticMedia

Bordas de cama


01 junho 2011

Dona Luxúria

Dona Luxúria passava a maior parte do seu dia infeliz. Estava ardentemente apaixonada pela reencarnação do deus Adónis. Não podia haver homem mais perfeito: aquele corpo esculpido até ao mínimo detalhe, aquele rosto perfeitamente simétrico… Quando ele olhava para ela, com os seus olhos quentes, ela sentia aquela brasa pequenina a crescer até se transformar numa fogueira ardente que consumia o seu corpo de desejo por ele. Porém, ela sabia que ele não olhava verdadeiramente para ela. Porque haveria um Adónis de olhar para ela, tão desinteressante, cheia de celulite, pneus, rosto e cabelos banais?

Dona Luxúria conheceu o seu Adónis no ginásio perto do seu emprego, onde se inscreveu porque estava farta de ser aquela mulher transparente para quem ninguém olha. Queria mudar por fora, pois isso ia ajudá-la a transformar-se por dentro. Ele era um dos personal trainers que ensinava as pessoas qual a melhor forma de esculpirem o seu corpo e ele era o exemplo provado que isso era possível. Raramente era o Adónis que seguia os esforços de Dona Luxúria, pois ele era pago para dar 100% de atenção a outras pessoas e ela, como andava a juntar dinheiro, para aquelas operações que queria fazer ao nariz e aos olhos, para deixar de andar de óculos, ficava apenas a apreciá-lo ao longe.

Uma vez, contudo, ele chegou perto dela para lhe corrigir a má postura, colocando a sua mão forte nas suas costas e ela enrubesceu logo. As chamas começaram a invadir o seu corpo, saindo pelos poros e pelo olhar, transpirando que nem uma porca, pensou ela, envergonhada! Meu Deus, como poderia ela aguentar aulas particulares com ele, sem se atirar descaradamente? Porque sim, ela fantasiava todas as noites com ele! O ginásio vazio, eles sozinhos, consumidos pelo desejo, fazendo spinning lado a lado, braços roçando um no outro, coxas quase em contacto! Depois, deixavam-se finalmente levar e rolavam por cima dos colchões do ioga, indo contra os variados aparelhos de manutenção, até que ela o montava com o mesmo ardor com que pedalava na bicicleta, ritmo cada vez mais acelerado, orgasmo violento como a paixão que sentia por ele!

Dona Luxúria desapareceu do mundo durante três meses, tempo para fazer uma dieta rigorosa, submeter-se às operações, a massagens, a mudar de imagem, pintar o cabelo de loiro, pois odiava o seu ruivo natural! Para disfarçar as sardas, começou a maquilhar-se e a colocar base. Ficou tão diferente que os homens já se viravam na rua para lhe mandar piropos! Alguns até bastante grosseiros mas nem se importava porque agora os homens reparavam nela! E assim deslumbrante, apareceu no ginásio e ficou tudo parado a olhar para aquela mulher fascinante. Só o seu Adónis a reconheceu, olhando para ela chocado!

Chegou-se a ele e convidou-o para sair naquela noite. Para seu grande espanto, ele recusou. Disse-lhe que gostava dela como era antes, com os seus pneus, ruiva e sardenta, que costumava ouvi-la conversar sobre literatura, filosofia, cinema, teatro com outros praticantes e que a admirava, que nunca a tinha convidado a sair porque achava que ela era profunda demais para ele. No entanto, estava enganado, afinal, ela era igual às outras, que só se preocupavam com o aspecto e o exterior e de mulheres dessas estava ele cheio!

E mesmo levando com aquele balde de água fria pelo corpo abaixo, ficou ainda mais ardente pelo seu Adónis que afinal sempre a tinha desejado em segredo! E ela nunca tinha percebido e agora tinha estragado tudo, tudo, tudo! Ficou derrubada como uma árvore depois da tempestade, dias e dias, chorosa, com o aspecto que sempre desejou ter, mas sem dinheiro nem o amor que motivou a mudança.

Uma semana depois, voltou ao cabeleireiro, expulsou a Marilyn Monroe do seu cabelo, a base que encobria as sardas, as pestanas postiças, os decotes avantajados e a minissaia extravagante que mais parecia um cinto largo. Vestiu as suas calças velhas de fato treino e assim, simples, voltou ao ginásio. Estava lá o seu Adónis, sozinho no ginásio vazio. Aproximou-se dela, sorriu-lhe e disse-lhe:
- Vai uma sessão de spinning ao meu lado?
E ela sorriu de volta, com uma sensação de déjà vu…

Jacky

Pontes de vista

Não me posso subtrair do eu ou subtrair o eu de mim, não me posso subtrair do mundo ou subtrair o mundo de mim; não me desejo parcialidade ou neutralidade, apenas a equidistância que ainda não soube encontrar; se tiver que decidir, continuarei a pender para o afunilar da parcialidade, a neutralidade é caminho dos que dormem em pé, dos mortos vivos e eu não desejo passear-me ali, eles sempre me assustaram, peles frias sempre me aterrorizaram; só adormeço inteira, só morrerei no dia em que morrer inteira, aqui ou ali hei-de juntar tudo de mim, nada eu conheci de tão doloroso como a dormência ou a divisão.

"Amo-te Meco"...



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31 maio 2011

«Monólogo do velho sátiro lusitano» - de Eduardo Martins

Já aqui falámos na semana passada da 64ª edição das Noites com Poemas, organizada desde sempre pelo nosso Mestre Dom OrCa. O tema foi: «Sátiras e erotismos de versos despidos» e o OrCa fez uma reportagem bem completa dessa noite memorável.
O Eduardo Martins leu lá este texto de sua autoria, que achei especialmente uma delícia:

"Monólogo do velho sátiro lusitano

Envelhecer é triste! O outro dizia que aos 60 anos se consegue fazer tudo o que se faz aos 20, só que não apetece… Onde é que os meus 60 já vão, cada vez me apetece menos…
Vou sentar-me a descansar… Deixa cá chegar a cauda para o lado com a mão, que ela já não se ajeita sozinha, e ainda lhe ponho o traseiro em cima…
Antigamente tinha tudo em pé! Embora a memória às vezes me pregue partidas, ainda me lembro desse tempo… As orelhas de bode! A cauda de burro! Até a narigueta achatada eu arrebitava! Para já não falar do cabelo… parecia que tinha visto bicho, sempre no ar… Havia outra coisa que eu tinha sempre em pé… mas não é em pé que se diz nas enciclopédias quando se referem aos Sátiros…, como é que era??? era… ere… ção, será??? Esta palavra diz-me qualquer coisa…mas agora não me lembra o quê…o que é estava em erecção???
Eu já sabia que esta falta de memória ia acontecer, mas custa!
E o corpo! Todo empenado! Agora até coxeio, há para aqui qualquer coisa na pata…
A minha vida agora é recordar… coisas antigas, às vezes misturadas, vou lembrando…
Emigrei para aqui há bastante tempo, ainda a Natália Correia não tinha organizado a “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, e parece-me até, que ainda me convidou para algumas festas nessa altura…
Nós os Sátiros nascemos na Mitologia Grega, mas fomo-nos multiplicando, espalhámo-nos pelo mundo, e andámos para aí metidos em forrobodós e orgias que eu sei lá!
Os meus primos que foram para a Península Itálica,e por lá ficaram, até mudaram de nome, por causa da Mitologia Romana, passaram a ser os “Faunos” e têm-se divertido muito por lá…
Então ultimamente, com aquele primeiro ministro italiano, é cá cada festarola!!!
Tenho sabido disso pelos jornais e pela televisão!
Até houve alguns Faunos que vieram para cá, não sei quanto tempo ficaram, o Aquilino Ribeiro escreveu que “Andam Faunos pelos Bosques”, mas eu ainda não estava cá, e nunca cheguei a encontrar nenhum descendente desses meus primos… aliás com os incêndios florestais, o melhor que eles fizeram se calhar foi ir dar pulos e assustar donzelas para outro lado!
Os Sátiros que ficaram na Grécia, não estão muito satisfeitos com as orgias que há por lá! Aquilo é mais com o governo, ou com o desgoverno, e até falam em falência. “Falo”! “Falo”, ora aí está! Era a tal coisa, em erecção !!! Lá me lembrei!!!
Por aqui, isto também é uma crise, eu já meti os papéis para a reforma, mas descontei muito pouco,
porque andava sempre em orgias, estou para ver quanto é que vou receber…
Já ninguém nos procura para orgias à moda antiga, quando somos chamados é só para umas tretas, coisas sem graça, e os Sátiros sentem que estão a fazer coisas que, como é que se diz, fodem toda a gente, indiscriminadamente… e ninguém goza, nem mesmo os mais masoquistas…
Esta dor na pata, ainda a incomodar-me há já muito tempo, sou capaz de ter o casco encravado.
Tenho de ver se descubro algum Podólogo…


Eduardo Martins
Carcavelos, Maio 2011"
blog «palavras como as cerejas»

Salsicharia

Pretexto

A mesa da esplanada é um pretexto:
está sol, apetece sair,
tomar um café,
uma cerveja,
talvez um gin tónico;
pretextos que são.
Será que vens?
Se não vieres,
eu escrevo o tempo
de uma tarde primaveril.
Se vieres,
contornaremos os pretextos
e ficaremos à conversa
- o resto do dia -
só pelo desejo de estar.

Poesia de Paula Raposo

Obrigada, PostalFree!


A PostalFree é uma empresa que produz e distribui postais publicitários gratuitos.
Há dias, vi um artigo na revista «Visão» sobre uma campanha deles para o vodka Moskovskaya, que achei um mimo. Descobri depois que havia três diferentes postais dessa mesma campanha. Cravei-os (gaja que se preze tem que ser desenrascada) e eles tiveram a gentileza de me mandar esses e outros postais, que a partir de hoje fazem parte da minha colecção. Ora vejam lá se não são um mimo:








30 maio 2011

A prostituta azul (XI) - Tabela de (a)preços

O afecto não se compra; sei, agora, porém, que, se o consigo encontrar genuíno dentro de mim, ele se pode vender. É evidente que é esta a resposta à tua pergunta; só isso me permitiu encarecer a "coisa"; o sexo comigo, por si só, não passa de um banal anel, o afecto foi a pedra que lhe juntei, só comprou quem considerou diamante. A construção da frase não foi à toa: eu encontro, ele vende-se, como uma pedra que devia estar cravada no teu anel recém-comprado.

(O homem olhou para as suas mãos esticadas, o seu anel ao peito não tinha pedra. Deixou todos os papelinhos coloridos de feio e foi-se embora muito depressa porque precisava de comprar uma nova vida para encher o lugar onde se encontrou com os seus vazios.)

Mapa-mundo dos direitos dos gays e lésbicas


(crica para ampliares... o mapa, que tu já não tens solução, pois não deves acreditar em todos os e-mails que recebes)