19 junho 2011

Colagens

Meu amor
vamos caminhar
vamos passear
enquanto gostamos de o fazer juntos
Tudo muda, sim, meu amor
e o amor também
mas talvez assim possa desfolhar bem
como os dias mais que perfeitos
de um Outono muito intenso, já maduro,
já muito longe dos tons da Primavera
porque é neles, meu amor, que, em vez da paixão,
em vez de soluços incertos do coração
a minha noite espera
o teu abraço terno, o teu colo seguro.
Meu amor
vamos criar
e depois guardar
memórias inteiras dos nossos fragmentos.



«Amor utópico» - por Rui Felício


Envolveu sem pressa as curvas generosas do seu corpo com a toalha macia de feltro.Em movimentos suaves como carícias, aquela mulher voluptuosa ia secando a pele húmida, convidativa, nos mais recônditos lugares, com uma destreza que jamais nenhum amante seria capaz de fazer.
Fechou a janela para impedir que o vapor quente da água se escapasse da casa de banho.
Olhou o espelho que reflectia a sua imagem desde o rosto até um pouco abaixo da cintura.
A sua curiosidade feminina levou-a a deixar cair a toalha e observou-se demoradamente...
Com os olhos fixos no espelho perguntou-se mentalmente a si mesma o que procurava ela.
Algum enigmático segredo se mantinha oculto e inexplicado. Uma mulher era apenas aquilo que ela estava a ver? Um belo mas simples corpo? Um invólucro de nada? Não seria necessário redefinir as concepções de pecado, de amor, de humanismo, de vida?
Alguma célula mal concebida não estaria em falta ou perdida por um erro de paralaxe que tudo distorcia? Que estranho que ela se sentisse apenas e só aquilo que via!
A ígnea neblina do vapor de água ia tornando a imagem no espelho menos nítida. Sacudiu a cabeça, abandonou estes pensamentos e procurou os chinelos. Claro que não há mais nada, pensou conformada. Virou as costas ao espelho e saiu da casa de banho...

O espelho quis chamá-la, explicar-lhe. Ela não era só o que ele lhe mostrava na sua gelada e estática postura. Aquele corpo seria diferente, quando ela percebesse a verdade mais irrefutável. A verdade do amor que ela nunca teve...
Desgraçadamente, o espelho sofre o seu idílio sem esperança, a indiferença daquela bela mulher dói-lhe, mas a sua rigidez não a atrai. Todos os dias a vê, nua, apetecível, mas nada pode fazer. Será que ela não percebe que não é ele que a reflecte mas sim ela que o reflecte a ele?
Se por dentro da sua superfície brilhante circulassem vasos sanguíneos, o espelho teria empalidecido quando, subitamente, a viu regressar à casa de banho de onde tinha acabado de sair. Teria ela percebido os seus pensamentos? Teria ouvido os seus sussurros? Teria compreendido o seu drama, o seu amor por ela? Inquietou-se, receoso mas esperançado.
Ouviu-a murmurar enquanto desligava o interruptor, que seria certamente por ela se esquecer tantas vezes de apagar a luz da casa de banho que a conta da electricidade era sempre tão alta no fim do mês.
Deixou o espelho na escuridão. Sem a sua imagem, sem pensamentos românticos, sem utopias, ele nada poderia agora reflectir. Tornou-se nada...
Voltou a ser uma massa fixa à parede sem objectivos, sem significado, como um peito vítreo, sem amor.
Foi então que todas as pequenas gotas do vapor de água começaram a deslizar pela face nua do espelho.
Como lágrimas...

Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações

Queimem, queimem!

crica para visitares a página John & John de d!o

18 junho 2011

Busy (For Me)

Tantas vezes vai a bilha à fonte, que numa delas sai quebrada

Com um personagem

De lugares comuns,
frases feitas,
esgares vulgares
é o mundo que gira;
não quero ser comum,
nem vulgar,
muito menos, feita.
Um esgar diferente,
um lugar inesquecível,
uma frase desconhecida
fazem do mundo
o giro inconfundível
deste filme:
falta o actor bestial
que me virá salvar
dos medos!

Poesia de Paula Raposo

Elas gostam

Essa imagem é mais profunda do que aparenta.




Vamos analisar: As mulheres gostam de serem perseguidas e incentivam o comportamento animal dos homens, desde o tempo das cavernas até os dias atuais. Hoje elas adoram os homens cafajestes e deixam os bonzinhos sem namorada.

Capinaremos.com

17 junho 2011

Contadas Ninguém Acredita


Num Bar
Ele: Olá!
Ela: Olá.
Ele: Eu sou o Carlos.
Ela: Eu sou um gajo.
Num Banco de um Jardim
Ele: Dás-me o teu número?
Ela: Está na lista telefónica.
Ele: Mas eu nem sei o teu nome...
Ela: Também está na lista, ao lado do número.
Numa Loja H&M
Ele: Olá, linda. Vais levar essa mini-saia?
Ela: Ia, mas como só há uma vou deixá-la para ti.
Numa Zona de Obras
Ele: Olá, rabo jeitoso.
Ela: Olá, defeituoso.
Num Café
Ele: Eu já não te vi nalgum lado?
Ela: Já, por isso mesmo é que nunca mais lá voltei.
Num Parque de Estacionamento
Ele: Olá, gostosa, há lugar para mim?
Ela: Não.
No Cinema
Ele: Este lugar está ocupado, jeitosa?
Ela: Não, mas este onde estou vai passar estar livre se te sentares aí.
Na Rua
Ele: Sou fotógrafo, andava à procura de um rosto como o teu.
Ela: Eu sou cirurgiã plástica, andava à procura de uma tromba como a tua.
Numa Pizzaria
Ele: Eu e tu, sexo e pizza. Alguma dúvida?
Ela: Não quero.
Ele: Não? Não gostas de pizza?
Escrevido e compilado: Ricardo Esteves

O apelo do abismo

"Acompanhante" (I) - Nascer

Há sempre uma história. Não gosto de lhe chamar história, estou convencida de que tudo a que se possa chamar história tem algo de diferente, algo a relatar por si, algo a acrescentar às linhas dos outros e do mundo que a minha vida não tem. Talvez por isso, talvez por timidez, reserva, cada vez que me pedem que conte a minha história, eu digo que não existe uma, vim aqui parar, muito simples, ponto. A minha história é redundante, eu sou uma redundância, apenas, um conteúdo que caberia numa pequena linha não deve querer esticar-se por várias páginas. É o que estou a fazer, agora, não é? Desculpa-me. Vou ter que te contar? Estás aí?

(Era uma vez eu, um eu que eu era, não sei dizer quem. Desde essa altura, costumo chamar-me Joana, antes tinha outro nome que também é meu mas viveu muito menos. Há muito tempo, muito, muito tempo, não digo quanto porque nunca se diz quanto quando o quanto é demasiado quanto, procurava emprego a tempo parcial e comprei um jornal. Foi assim que tudo começou.)

Devagarinho, devagarinho, aos pedacinhos, talvez, talvez.

Na secura


Alexandre Affonso - nadaver.com

16 junho 2011

H2Optima



Leva-me às hastes da loucura
Bebe-me a fonte da vida
Morde-me os seios maduros
Logo aqui, fico perdida!
Ao descer o labirinto,
Roça-me o ventre, de leve
Penetra-me com doçura
Por favor, não sejas breve!
E eu brinco com o lume
Enquanto beijo e abraço
E o anel no teu pescoço
Fica preso no enlaço!
Inverte o mundo ... para mim
Faz gritar a minha voz
Desvenda-me o teu mistério
Faz de mim, a tua foz!
_____________________________
Até o Rui faz uma pausa na soda cáustica e ode:
"Bem finquei os calcanhares do pensamento na rocha da cultura... mas, fenecem-me as palavras...


E de água na boca, rastejo
Por alvos lençóis de linho...
Nas tremuras de um desejo
Vou traçando um caminho!
E vou-me chegando mais perto
Das doçuras que pretendo...
Olho... e o caminho está aberto
Em trilhos que vou sabendo!
Sinto um perfume que abrasa,
Quero dar-te o que não posso...
Falta-me aquele golpe de asa
Para saír deste fosso...
Fiquei mudo, sim! Porque não?
E as palavras me fenecem...
Solta-se-me o gesto...e na mão
As tuas mãos estremecem..."

Potência Masculina