03 julho 2011
02 julho 2011
«Veludo & Cacos-de-Vidro»
Ficção de Marco Martins - 2004 - 17 min
Ascenção e queda de uma história de amor.
Link directo para o filme aqui.
Ascenção e queda de uma história de amor.
Link directo para o filme aqui.
Sensual
Esta a sensualidade:
dois corpos, duas bocas,
dois sexos.
Assim nos elevamos
e deixamos que os beijos
nos marquem sem voz.
E depois são os dedos,
as mãos, o cheiro
e as não palavras.
E o êxtase perturbador
de ti.
E eu de mim para ti
- em silêncio -,
deixo-te os olhos
sem mais palavras...
Poesia de Paula Raposo
01 julho 2011
Solução de compromisso
Elas não se queriam, mas ambas o cobiçavam. Beberam em grupo e depois deitaram-se os três.
E ele, desenfreado pela fantasia que naquela noite cumpria, deambulou pelos dois corpos como se o dia seguinte não fosse nascer.
Elas não se quiseram, mas ambas o tiveram tantas vezes quantas lhes apeteceu.
E ele alternou, deliciado, enquanto durou aquele passeio prolongado, a três, pelo céu.
Vagina artificial chinesa?!
Descoberta pelo Jony, um quinto dos nossos amigos das Vozes da Rádio. Diz ele a respeito deste video:
"Então é assim?
Ora aqui está uma engenhoca, muito bem pensada e com várias aplicações. Desde peça de mobília decorativa para a sala, ninho para o gato, garrafeira, cofre de valores, sapateira, balde do lixo, etc... Serve para tanta coisa, mas estes chineses tinham que se lembrar disto. Não lembra ao diabo, mas lembra aos chineses."
"Então é assim?
Ora aqui está uma engenhoca, muito bem pensada e com várias aplicações. Desde peça de mobília decorativa para a sala, ninho para o gato, garrafeira, cofre de valores, sapateira, balde do lixo, etc... Serve para tanta coisa, mas estes chineses tinham que se lembrar disto. Não lembra ao diabo, mas lembra aos chineses."
Inundar
Eram barragens tensas
as minhas pernas
duas grades, dois obstáculos,
tu entraste, são tentáculos
e levam-te, às cegas,
ao sítio fundo das minhas trevas
onde encontras os meus olhos
em ti muito fechados
e as comportas muito abertas
Eram barragens tensas
tu entraste, são tentáculos
são mãos, são olhos, são cabelos,
são portas por onde entras.
as minhas pernas
duas grades, dois obstáculos,
tu entraste, são tentáculos
e levam-te, às cegas,
ao sítio fundo das minhas trevas
onde encontras os meus olhos
em ti muito fechados
e as comportas muito abertas
Eram barragens tensas
tu entraste, são tentáculos
são mãos, são olhos, são cabelos,
são portas por onde entras.
30 junho 2011
Impressão
O homem, baixo, feio, hirsuto e ligeiramente manco, aproximou-se com um deslocado sorriso radioso por baixo de um bigode mal amanhado e perguntou gentilmente:
– Boa noite. A menina desculpe, está a trabalhar?
A “menina” que o vira aproximar-se num crescendo de pânico e repulsa foi surpreendida pelo sorriso, pela gentileza e pelo timbre da voz do homem que, no entanto, não superaram a primeira impressão de horror e nojo que se instalara e que a dominava em cada olhar de esguelha que lançava ao homem.
– Sim, estou – respondeu a “menina”, com um sorriso plástico sem expressão.
Os olhos do homem brilharam de contentamento e, num gesto nervoso, rápido e quase imperceptível, levou a mão direita ao bolso das calças onde guardava a carteira, tocou no bolso, sentiu o volume da carteira e perguntou:
– E está livre?
– Eu não sou nenhum táxi – resmungou a mulher, liquidando o ar de menina com que se apresentava.
– Desculpe – pediu o homem. – Eu... Eu não...
– Estava a brincar – interrompeu ela, fazendo um esforço por dar verosimilhança à frase e ao riso com que a dissera. – Não ligue!
O homem voltou a sorrir, abanou a cabeça como se tivesse achado graça e, por fim, quando ela parou de rir, insistiu na pergunta com um ligeiro movimento da cabeça e um simples – E?
– Ah, sim. Estou. Estou livre – respondeu a mulher, com um sorriso nos lábios e angústia no olhar.
O homem alisou o bigode, encolheu os ombros e lançou brandamente:
– Está livre mas não está livre de preconceitos – e sorriu sem mostrar os dentes. A mulher cruzou pela primeira vez o olhar com o dele e não respondeu. Ele concluiu: – Obrigado, de qualquer forma.
– Obrigado?! Obrigado, porquê?
– Por ser transparente. – O homem tornou a tocar na carteira e despediu-se com um – Boa noite e bom trabalho – sem ironia.
– Obrigado – aceitou a mulher, aliviada por vê-lo de costas e a afastar-se. – E melhor sorte numa próxima vida – murmurou sem ironia.
– Boa noite. A menina desculpe, está a trabalhar?
A “menina” que o vira aproximar-se num crescendo de pânico e repulsa foi surpreendida pelo sorriso, pela gentileza e pelo timbre da voz do homem que, no entanto, não superaram a primeira impressão de horror e nojo que se instalara e que a dominava em cada olhar de esguelha que lançava ao homem.
– Sim, estou – respondeu a “menina”, com um sorriso plástico sem expressão.
Os olhos do homem brilharam de contentamento e, num gesto nervoso, rápido e quase imperceptível, levou a mão direita ao bolso das calças onde guardava a carteira, tocou no bolso, sentiu o volume da carteira e perguntou:
– E está livre?
– Eu não sou nenhum táxi – resmungou a mulher, liquidando o ar de menina com que se apresentava.
– Desculpe – pediu o homem. – Eu... Eu não...
– Estava a brincar – interrompeu ela, fazendo um esforço por dar verosimilhança à frase e ao riso com que a dissera. – Não ligue!
O homem voltou a sorrir, abanou a cabeça como se tivesse achado graça e, por fim, quando ela parou de rir, insistiu na pergunta com um ligeiro movimento da cabeça e um simples – E?
– Ah, sim. Estou. Estou livre – respondeu a mulher, com um sorriso nos lábios e angústia no olhar.
O homem alisou o bigode, encolheu os ombros e lançou brandamente:
– Está livre mas não está livre de preconceitos – e sorriu sem mostrar os dentes. A mulher cruzou pela primeira vez o olhar com o dele e não respondeu. Ele concluiu: – Obrigado, de qualquer forma.
– Obrigado?! Obrigado, porquê?
– Por ser transparente. – O homem tornou a tocar na carteira e despediu-se com um – Boa noite e bom trabalho – sem ironia.
– Obrigado – aceitou a mulher, aliviada por vê-lo de costas e a afastar-se. – E melhor sorte numa próxima vida – murmurou sem ironia.
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