... transmitida pelos nossos amigos das Vozes da Rádio (que me chamaram recentemente "compicha de há muitos ânus"): "Vozes da Rádio - em prol de uma educação de excelência!"
03 agosto 2011
02 agosto 2011
Feérico
«Sou um lugar tremendo, um bosque de incertezas alado ao cemitério onde jazem por toda a parte alegrias e tristezas.
Do meu coração, esse pobre amante, roubo-lhe o crânio e o seio palpitante, para que em mim possa revelar nuas afeições femenis, pétala a pétala»
Luisa Demétrio Raposo
Do meu coração, esse pobre amante, roubo-lhe o crânio e o seio palpitante, para que em mim possa revelar nuas afeições femenis, pétala a pétala»
[Blog Vermelho Canalha]
Luisa Demétrio Raposo
Postalinho recebido da Grécia
Por estes dias, há quem se esteja a divertir enquanto nós trabalhamos.
Eloquente
Eloquente é o cheiro
que paira no contorno de mim;
diz, calando,
tudo o que do nada
se adivinha,
como soltando a voz
na maré vazia.
Voltaremos a nós, um dia,
se os beijos se lembrarem
do regresso tardio.
Poesia de Paula Raposo
Quase gémeos das Caldas da Rainha
Comprei estes quase gémeos numa feira de velharias em Buarcos.
O senhor que me vendeu estas pi... peças disse-me: "leva aí dois bonecos que o senhor que os fez, das Caldas da Rainha, já não volta a fazer, porque morreu". Eros e Tanatos, sempre a par...
Agora, pedem meças na minha colecção.
O senhor que me vendeu estas pi... peças disse-me: "leva aí dois bonecos que o senhor que os fez, das Caldas da Rainha, já não volta a fazer, porque morreu". Eros e Tanatos, sempre a par...
Agora, pedem meças na minha colecção.
01 agosto 2011
A todo o tempo
Sou de um tempo em que o amor se dizia, mais do que se escrevia, olhos nos olhos da emoção que tanto intimidava na enorme luta que travava com o medo da rejeição.
Sou de um tempo em que a amizade se vivia, mais do que se prometia, mão na mão da força que tanto consolidava a confiança que se depositava sem temer a traição.
Também sou de um tempo em que a paixão acontecia, mais do que se fingia, lábios nos lábios da atracção poderosa que tanto nos acelerava a pedalada do coração.
Sou de um tempo que passava com vontade de avançar vida fora até ao tempo que é agora sem desistir de sonhar.
E por isso também sou de um tempo que ainda está por chegar.
Ele, Aquele, o Tal
E tu surgirás como um eu
dentro de mim
depois subir-me-ás à boca
e eu cantarei
Dentro de mim
desenhar-me -ás um corpo novo
pelos teus dedos
e o entregarás às tuas mãos
depois serás capaz de descer
ao meu ventre
e as chamas hão-de subir
e morar na toca dos meus olhos
Depois afastarás as minhas pernas
pelo lado de dentro
julgando que me vais entrar
pelo lado de fora
e eu dançarei
E tu surgirás como um eu
dentro de mim
dentro de mim
depois subir-me-ás à boca
e eu cantarei
Dentro de mim
desenhar-me -ás um corpo novo
pelos teus dedos
e o entregarás às tuas mãos
depois serás capaz de descer
ao meu ventre
e as chamas hão-de subir
e morar na toca dos meus olhos
Depois afastarás as minhas pernas
pelo lado de dentro
julgando que me vais entrar
pelo lado de fora
e eu dançarei
E tu surgirás como um eu
dentro de mim
A mulher dos seus sonhos
Pena que ela não existe.
Mulheres seminuas esbeltas jogando WoW e bagunceiras? Acorde, amigo.
Capinaremos.com
Mulheres seminuas esbeltas jogando WoW e bagunceiras? Acorde, amigo.
Capinaremos.com
31 julho 2011
A Rapariga Vulgar (VII)
(A beleza da meia luz entorpece a banalização das colunas, nunca deveriam existir colunas aqui, onde o estrondo do rosa agudo se faz sentir no verde desmaiado, dois estabelecimentos lado a lado sem qualquer consideração pela harmonia, os seus néons magoam os sentidos de quem passa; magoa-me que tratem as calçadas, a meia luz, as colunas, os semblantes de quem passa, assim. Mais acima, os CTT são um eco vermelho do estrondo de mil garrafas em queda num contentor; roubam-nos a estética, a beleza, o silêncio, também ninguém os quer, somos todos muito feios. "Precariedade não é futuro", assegura-nos o branco sujo, desconfortável, do cartaz; quando se tornou o desconforto assegurador? O castanho baço do cabelo de uma rapariga, no que se assemelha a uma bicicleta sem rodas, confirma: não é futuro, não é futuro, não é futuro! Não há tom mais tom do futuro que o castanho baço. O futuro é o feio, o feio que entra pelos olhos enquanto um homem feio grita pelo feio cão. O feio corta a toda a volta; à noite, todas as noites, das linhas do passeio, varre-se o presente.)
Magoa-me, magoa-me, magoa-me, magoo-me, sim, sou eu. Ontem, queimei-me, acidentalmente, o borrão aceso do cigarro caiu-me numa perna e fiquei a ver aquela dor incandescente, tão mais bonita, tão atroz, tão perfeita e forte e viva e nítida que me apaixonei por ela e esqueci-me das outras. Mas depois foi-se, acabou-se, a beleza é beleza pela sua brevidade atroz, toda a dor que é beleza lhe copia a atrocidade e exige alimento ou esvai-se. Talvez se aquela rapariga, aquela que vejo no passeio, aquela que anda em círculos sem se aperceber - todas as pessoas marcadas pela dor que deixam entrar pelos olhos andam em círculos - talvez se aquela rapariga me magoar, talvez consiga acordar mais um pouco dessa dor de ontem em mim, mais um pouco dessa dor que apaga a outra. Ela entende do que lhe falo, ela entende, eu sei, ela entende porque tem lágrimas de gelo; as lágrimas de gelo são as lágrimas últimas, as que nos cortam para nos avisar que vamos ficar sem lágrimas, para nos avisar que os olhos vão ficar cheios dos restos mortais do coração; são, nos seus impiedosos golpes, o último aviso, a última esperança de redenção; a cara vai ficando marcada desses sulcos cortados pelo gelo; depois de secos, os sulcos, são como fossas na terra, muito feias, onde a água já não passa, fantasmas de rios, lembranças do abandono das carícias suaves de um leito azul. Ela sabe do que falo, a rapariga vulgar, e já a tenho cativa, mostrei-lhe a sua dor nos meus bolsos, estendeu as mãos para receber mais um pouco do que lhe dói, do que lhe dói tanto quando tem como quando lhe falta, abri a porta do carro e deixei-a entrar, temos muita dor para oferecer um ao outro.
Magoa-me, magoa-me, magoa-me, magoo-me, sim, sou eu. Ontem, queimei-me, acidentalmente, o borrão aceso do cigarro caiu-me numa perna e fiquei a ver aquela dor incandescente, tão mais bonita, tão atroz, tão perfeita e forte e viva e nítida que me apaixonei por ela e esqueci-me das outras. Mas depois foi-se, acabou-se, a beleza é beleza pela sua brevidade atroz, toda a dor que é beleza lhe copia a atrocidade e exige alimento ou esvai-se. Talvez se aquela rapariga, aquela que vejo no passeio, aquela que anda em círculos sem se aperceber - todas as pessoas marcadas pela dor que deixam entrar pelos olhos andam em círculos - talvez se aquela rapariga me magoar, talvez consiga acordar mais um pouco dessa dor de ontem em mim, mais um pouco dessa dor que apaga a outra. Ela entende do que lhe falo, ela entende, eu sei, ela entende porque tem lágrimas de gelo; as lágrimas de gelo são as lágrimas últimas, as que nos cortam para nos avisar que vamos ficar sem lágrimas, para nos avisar que os olhos vão ficar cheios dos restos mortais do coração; são, nos seus impiedosos golpes, o último aviso, a última esperança de redenção; a cara vai ficando marcada desses sulcos cortados pelo gelo; depois de secos, os sulcos, são como fossas na terra, muito feias, onde a água já não passa, fantasmas de rios, lembranças do abandono das carícias suaves de um leito azul. Ela sabe do que falo, a rapariga vulgar, e já a tenho cativa, mostrei-lhe a sua dor nos meus bolsos, estendeu as mãos para receber mais um pouco do que lhe dói, do que lhe dói tanto quando tem como quando lhe falta, abri a porta do carro e deixei-a entrar, temos muita dor para oferecer um ao outro.
«A prova» - por Rui Felício
Miguel Azevedo, produtor e grande conhecedor de vinhos, entrou naquele requintado restaurante de Lisboa, foi acompanhado à mesa pelo Chef de Sala, leu a carta e encomendou um tornedó mal passado, guarnecido com legumes salteados e esparregado. Pediu um Pegos Claros, reserva tinto, colheita de 1982.
Instantes depois, o escanção dirigiu-se à mesa com o vinho já depositado num decantador. Com extremo cuidado e aparato profissional, verteu uma pequena quantidade no copo e esperou que o cliente o provasse.
O Miguel Azevedo agitou o copo em lentos movimentos elípticos, chegou-o aos lábios, saboreou, quase mastigou o néctar, repetiu mais umas duas vezes o cerimonial, chegou o copo ao nariz, aspirou o aroma vínico, fitou o empregado e sentenciou:
- Este vinho é de facto de 1982, mas não é Pegos Claros!
O escanção ganhou coragem e atreveu-se a contradizer o cliente. Que sim, que era realmente um reserva tinto Pegos Claros de 1982.
Que não, insistia o Miguel Azevedo, com ar contrariado. O Chef aproximou-se e polidamente garantiu que realmente aquele vinho era Pegos Claros.
- Sabe, meu caro? Quem produziu este vinho fui eu e asseguro-lhe que não é Pegos Claros. É Pegões!, sentenciou o Miguel Azevedo…
O escanção interveio:
- Perdoe-me V. Exª, eu conheço bem a região onde se produzem estes vinhos. Pegões e Pegos Claros são duas vinhas de iguais castas, situadas a não mais do que 500 metros uma da outra, tratadas da mesma maneira, as uvas são colhidas, preparadas e pisadas na mesma Adega, segundo os mesmos métodos. Como pode V.Exª ter tanta certeza de que este vinho não é Pegos Claros. Na verdade, tudo indica que ambos sejam exactamente iguais.
- Mas não são!, disse o Miguel Azevedo.
E, em voz sussurrada, aconselhou o escanção:
- Faça a seguinte experiência: quando chegar a casa peça à sua namorada que se dispa completamente. Aprecie os orifícios mais próximos do seu corpo. Cheire-os, deguste-os e compreenderá que, apesar da proximidade geográfica, têm aromas e sabores diferentes e completamente distintos…
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
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