19 outubro 2011

Mulierem Sapiens


É frequente eu ser acusada de pensar como um homem. “Não sei como é que consegues separar as coisas”, dizem-me as minhas amigas falando de sexo e emoção, ou sexo e envolvência ou sexo e… amor? O que é certo é que é verdade e por isso me sinto tão competente neste papel que escolhi para mim própria de ser, quase permanentemente “a Outra”. Considero-me uma alma caridosa, uma voluntária que ajuda as relações dos outros a serem mais suportáveis sem os custos insuportáveis da terapia ou prostitutas. Apesar de tentar evitar assuntos muito pessoais, converso o suficiente acerca deles para ter uma noção de como é a vida conjugal destes homens. Na maioria das vezes é-me relatada uma situação quase insuportável de uma esposa que não gosta de sexo ou que desde que se casou que se esqueceu que é mulher ou de mulheres que se dedicam tão exclusivamente aos filhos que se esquecem que têm um marido lá em casa. Deixar o Zezinho na casa dos avós para poderem ir jantar os dois juntos está simplesmente fora de questão, apesar de o Zezinho já saber ler e escrever… O que é certo é que maioria dos homens com quem eu estou, passam tempo comigo porque têm algum grau de infelicidade marital e estão a preparar-se (nem que apenas na sua imaginação!) para eventualmente abandonarem a situação em que se encontram.
No entanto, uma vez andei metida com um tipo que me dizia que gostava muito da mulher e que o sexo com ela era fantástico e despedia-se de mim com “desculpa, mas tenho de ir ter com a menina que amo”. Isto incomodava-me um bocado porque com essas palavras eu já não era a alma caridosa, nem estava a ajudar ninguém. Divertíamo-nos na companhia um do outro, sem dúvida mas eu, que supostamente penso como um homem, questionava-me - mas por que raio andamos então aqui às escondidas? Não seria muito mais fácil ele ter uma conversa franca com a sua querida e dizer-lhe “Amorzinho, gosto muito de ti e quero passar o resto da minha vida contigo. Mas sou incapaz de ser fiel – não tem absolutamente nada a ver com o que sinto por ti nem com a qualidade ou quantidade do sexo entre nós. Não és tu, sou eu. Simplesmente o meu prazo de fidelidade expirou”.
Ela se calhar até lhe agradecia e diria algo como “Meu amor, ainda bem que me dizes isso! Eu sinto o mesmo, o que achas de abrirmos a nossa relação para podermos estar com quem nos apetece sem culpas?” – e viveriam felizes para sempre!

Fruta 21 - Fruta lavadinha

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Se é assim que as astronautas bebem água...

Por vezes, a justiça vê... pelo olho cego!

Crica para veres toda a história
Justiça


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oglaf.com

18 outubro 2011

Joalharia

«Proibições que são hinos à vida» - quarto video de divulgação da colecção de arte erótica

Neste quarto e último video desta série, toda ela produzida e realizada pela Joana Moura, a voz de ouro de Luís Gaspar revela-nos desta vez um texto de Jorge Castro (OrCa) inspirado na minha colecção.



Para memória futura e como tributo à malta que me ajudou a fazer esta «colecção sobre a colecção», deixo aqui os textos que o Luís Gaspar leu em cada video e os respectivos links:

«Proibições que são hinos à vida»

"A COLECÇÃO DE OBJECTOS ERÓTICOS DA SÃO ROSAS

Aqui um livro que não me deixavam ler; além um baralho de cartas que o pai guardava numa gaveta fechada a sete chaves; no armário da sala, por trás de copos, medalhas, e tralhas diversas, um cinzeiro metálico com uns relevos esquisitos; na arrecadação, numa velha caixa de cartão, um avental que só era usado em festas de amigos mais chegados e onde todos queriam meter a mão num bolso central que revelava uma conspícua protuberância…
O prazer estimulante de um sorriso brejeiro, a curiosidade avassaladora a que a vida vai dando mais perguntas e respostas, e tudo a pairar no sedimento dos objectos que nos vão rodeando, pelos degraus do nosso ser, altares de proibições sem sentido que, afinal, mais não são do que hinos, com redenção mais ou menos conseguida, à mesma vida que os sugeria.
Depois, guardar um objecto que se ri de nós e connosco, que lembra ou espicaça a aventura, que nasceu porventura das mãos de um sonho ansiado ou, muito ao contrário, de uma realidade degustada à exaustão.
Atrás desse, outro vem. O metal, o papel, o vidro, mas também a madeira, o plástico, o tecido, cúmplices e conluiados todos em estratagemas subversivos, perversos, amorais, para desinquietarem os espíritos ou para marcarem presença de troféu aventureiro, concretizado e irredutível.
Um a um se juntam os objectos como as lembranças, para edificarem o que queremos filtrar das vivências. E somos essa manta de retalhos, estranhamente unificada no edifício coerente, por onde correm os medos e as virtudes, as alegrias e os pecados, em suma o acto de coragem de se estar vivo.
Pode haver arte, com primores técnicos ou artesanalmente rupestre. Nada disso importa, para além do incontrolável sorriso que a gravura, o relato, a escultura, a pintura, o engenho projecta no material seleccionado pelas mãos para dar corpo ao que a mente anseia…
Levanta-te e caminha? Porque não, se está ali tão representada a força vital mais derradeira da Humanidade?

- Jorge Castro
2 de Setembro de 2011"

«Um olhar repleto de pulsações»

"há uma poalha dourada
a escorrer pela fímbria do tempo
onde se desenham as volutas de corpos
atormentados de luxúria
na partilha das seivas vitais
sangue
sémen
saliva
e um restolhar doce
que pode ser o ruído arrastado dos passos de todos os espíritos
dançando um tango de Piazzolla no salão nobre dos dias

há um frémito que percorre o aposento
cheio de ausentes presenças
cheio de todos os nadas de tudo de que a vida é feita
e desfeita
contrafeita
um encontro furtivo de amantes
um estertor
ou um olhar repleto de pulsações

e quando a noite cai
ou o clima sossega
e as estrelas vogam no seu interminável
passeio pela eternidade
cada objecto reflecte um brilho único
que lhe é próprio e alheio
ao mesmo tempo

que lhe é próprio e alheio
porque assim é
porque assim se conjuga o intemporal presente
feito de tudo o que nos é próprio ou alheio
apenas por sermos
o que somos
e não qualquer outra coisa sem sentido.

- Jorge Castro
02 de Setembro de 2011"

«Carícias ao nosso olhar»

"As peças não são imóveis,
vibram, acariciam o nosso olhar
como se, subitamente, entre olhos,
se nos abrisse uma vulva
que recolhe um corpo já vivo
e animado pelo bater do erotismo.
Nós somos os quase imóveis, os pasmados,
assim, percorridos até às entranhas
por este gemido da percepção.

Miss Joana Well"

«Caminhantes no vale da sedução»

"Todas estas cores se unem
entram em nós pelos olhos,
pelas mãos, pele já rendida;
todas estas cores formam uma,
antes da ancoragem no corpo;
se essa uma cor pudesse falar,
apresentar-se-ia: Erótica,
a caminhante no vale da sedução
e nós, os rendidos, os dobrados
ao tom mais Sol de todos,
observamos o que nunca foi inanimado
e escutamos o gemer da inspiração.

Miss Joana Well"

Orvalho

Reconheço-te a nudez morna,
o quente soluço
dos teus pulsos.
Roço na tua pele
o desejo;
fogueira atiçada.
Curvo-me sobre as tuas pernas,
doce e húmida:
o orvalho meu,
da madrugada, hoje.

Poesia de Paula Raposo

16 outubro 2011

Alguma das meninas consegue fazer isto?



«Amor e rosas» - por Rui Felício

As pontas dos lençóis arrastavam pelo chão em desalinho, a fronha da almofada ao seu lado ainda continha a concavidade da cabeça do Paulo. E até o seu cheiro suave, característico.
Fitando o tecto, saciada e feliz, ela sentia ainda, no lençol debaixo da sua perna dobrada, a humidade e o calor dos suores dos corpos.
A Beatriz era uma mulher madura, mas os anos não lhe tinham destruído a beleza e a fogosidade. Sentia-se ainda suficientemente atractiva aos olhos dos homens. Mesmo quando tinham menos vinte anos do que ela, como era o caso do Paulo.
Ele já tinha saído há umas duas horas, mas ela mantinha-se deitada. Não lhe apetecia sair da cama, queria prolongar o prazer daquela madrugada de sonho, reviver tudo, semicerrar os olhos e visualizar por entre a névoa da fantasia o seu rosto atraente, o seu corpo viril, o seu abraço carinhoso.
De súbito, a campainha tocou.
Esperou que a enteada fosse abrir.
Mas pouco depois a campainha retiniu com mais insistência. Ninguém fora abrir a porta.
A Natália já deve ter saído, pensou a Beatriz.
Contrariada, despertou da letargia em que se encontrava, enfiou à pressa a camisa de noite e estugou o passo até à porta.
Abriu, perscrutou com o olhar para um lado e para o outro, mas já não estava lá ninguém.
Já ia fechar a porta quando reparou, no chão, ao lado, um belo ramo de rosas com um cartão.
Sentiu o coração bater desordenadamente, cheia de felicidade, pela delicadeza do Paulo ao oferecer-lhe, em sinal de amor, aquele magnifico ramo de flores.
Pegou no cartão perfumado que as acompanhava e leu:
“Para a Natália, grande amor da minha vida, com mil beijos do Paulo.”

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações