Um dia fui Cabra. Quem sabe algo de mim há-de pensar ao ler isto: “só um dia?”. Há quem pense que a minha aptidão para dormir com homens casados me qualifique à partida como Cabra. Mas não é bem assim; este jogo tem algumas regras, sendo as principais as seguintes:
1. Usar SEMPRE preservativo;
2. Nunca revelar a identidade dos homens casados com quem durmo… nem às melhores amigas;
3. Nunca procurar identificar as mulheres dos homens com quem durmo nem dormir com homens cujas mulheres conheça;
4. Se, durante o relacionamento, o tipo começar a fantasiar acerca de deixar a mulher para legitimizar a relação que tem comigo, cortar imediatamente a relação.
Há outras regras, claro, menos importantes e mais fluídas, mas depois há situações com as quais nos deparamos para as quais temos simplesmente de agir impulsivamente e os resultados nem sempre são os melhores.
Quando o meu telefone tocou naquela manhã, pensei que fosse algo relacionado com a reunião que ia ter no fim do dia, mas acabou por ser uma surpresa muito mais agradável: era um ex-namorado meu de há uns 10 anos atrás com quem tinha vivido uma paixão intensa durante quase dois anos, mas a minha incapacidade de ser fiel aliada à minha fobia de compromissos acabou por nos afastar. Volta e meia ainda nos encontrávamos para beber um copo e mantermos a "conversa" em dia. Chegou a confessar-me que agora compreendia a minha necessidade de variar os meus companheiros mesmo quando estava feliz numa relação, não tivesse eu sido o objecto de algumas traições suas e costumava dizer-me que, se eu quisesse, poderia ter sido a mulher da vida dele…
Nesse dia telefonou-me para me convidar para almoçar e, durante o almoço deu-me 2 óptimas novidades: a empresa dele estava a crescer e estava no processo de se mudar para novas instalações mesmo ali perto e a segunda novidade era que estava apaixonadíssimo, desta é que era e ia casar-se com uma mulher incrível! Senti-me feliz por ele e ao mesmo tempo um pouco babada! Aqui estava um ex-namorado e um dos meus melhores amigos a pôr de parte tempo para estar comigo a sós para me dar uma notícia tão importante!
Depois de um almoço civilizado, ele convidou-me a ir ver as futuras instalações da empresa dele. Era um espaço amplo, com muita luz natural. Ainda havia algumas obras a decorrer mas não estava lá ninguém a trabalhar. A mesa de reuniões com as suas doze cadeiras eram as únicas peças de mobília que tinham sido entregues.
Não interessa como, mas dei por mim a fazer amor com ele em cima daquela mesa; a luz do sol entrava pelas janelas altas da sala e aquecia-nos, fazendo-nos sentir como se estivéssemos ao ar livre. Não nos tínhamos sequer despido – eu debruçada sobre a mesa, de costas para ele, uma das suas mãos tinha explorado por dentro da minha blusa e encontrado um seio dentro do soutien, enquanto a outra bem firme numa nádega, me mantinha a saia travada levantada. Tinha-o ajudado a pôr um preservativo, que trago sempre comigo, e fi-lo quando ele tinha as calças à volta dos tornozelos e os boxer pelos joelhos. Ríamos e soltávamos as exclamações e grunhidos típicos de quem está a passar um bom bocado.
Aparentemente do nada, ouvimos um som. Uma mala e chaves caídos no chão à porta da sala onde estávamos. Uma mulher lindíssima, um pouco mais nova do que eu e quase tão alta, com cabelos castanhos claros a cair-lhe até aos ombros, fixava-nos boquiaberta, pálida. A tentar aguentar as lágrimas que queriam entornar-se-lhe dos olhos, ela disse apenas “vi o teu carro”. Apanhadíssimos! Eu, que nunca tinha estado numa situação daquelas e nunca me tinha verdadeiramente imaginado em tal situação, reagi impulsivamente: virei-me de frente para ele, compus-me o quanto pude e empurrei-o para o afastar de mim o suficiente apenas para lhe pregar um enorme estalo na cara enquanto gritei “quem é esta?”, ele olhava ora para mim ora para ela, mudo, imóvel, pânico estampado na sua cara. Ela respondeu por ele e disse, com as lágrimas a correrem agora livremente pelo seu rosto “sou a ex-noiva dele”, e com estas palavras, tirou o anel que tinha num dos dedos, deixou-o cair no chão e disse entre dentes “cabrão de merda”. Com isto, eu preguei-lhe outro bofetão e rapidamente apanhei as minhas cuecas e mala e saí da sala, pedindo licença à mulher que ainda estava imóvel na ombreira da porta.
Já se passou quase um ano desde este incidente. Aquele homem, que era um dos meus melhores amigos, nunca mais me contactou. Tenho vergonha sequer de lhe telefonar para lhe pedir desculpas pelo que fiz, por lhe ter atirado toda a culpa para cima e me ter feito passar por vítima inocente. Não sei se teria sido de alguma forma útil incriminar-me a mim também mas a realidade é que num momento fulcral, o instinto levou-me a proteger a minha imagem. Como filosofia de vida, tento estar sempre pronta a ajudar e a apoiar os meus amigos mas quando fui posta entre a espada e a parede, fui Cabra. Cabra de merda!