02 novembro 2011

“Less is more” ou “ A teoria de Mies van der Rohe aplicada à sexualidade”

É vulgar ouvir, a respeito do corpo e da sensibilidade humanos, “ah, isso é relativo”, “depende da pessoa…”. E eu até aceito que todas as pessoas sejam diferentes. É um facto. Mas por serem “diferentes”, não deixam de ser mais ou menos iguais. Em todas o nariz e as orelhas estão mais ou menos no mesmo sítio, quase todas as mulheres têm duas mamas, quase todos os homens têm uma picha, em quase todos os casos estão mais ou menos no mesmo lugar, e mesmo do ponto de vista da sensibilidade, se submetermos ao toque uma superfície qualquer ou uma textura, admitimos que todos temos mais ou menos a mesma percepção da coisa. Ou seja, há que admitir que o potencial das sensações humanas é, genericamente, idêntico. Não fosse isto, não nos seria permitido designar cores, qualidades de texturas, temperaturas, etc, que todos admitimos perceber mais ou menos da mesma forma, e então é que ninguém se entendia. É por isso que me faz alguma confusão que alguém possa admitir um desvio de um quilómetro, “dependendo da pessoa”, na sensibilidade, localização, e possibilidades de estimulação do corpo de alguém. Diferenças, de pessoa para pessoa, existem muitas, mas estou em crer que o essencial da diferença está mesmo no cérebro e no “software” que o ocupa… E de resto, não há grande margem para “truques”, a haver pontos sensíveis, C, A, G, ou o que se quiser, centímetro para aqui, centímetro para ali, lá haverão de estar. Bom… a teoria… O toque é uma arte. Tocar muito, com rapidez, com violência, não significa nem sentir mais, nem fazer o outro sentir mais. É certo que cada coisa, desde que bem executada, tem o seu lugar. Mas a “confusão” nem sempre traz vantagens à intensidade das sensações, quando não, pode ser muito prejudicial. Um toque “silencioso”, vagaroso, suave, pode ser muito mais intenso e excitante que um chorrilho de apalpadelas. E por aqui, parece-me, pela superfície da pele, além do “ruído”, com toda a calma do mundo, usando as mãos, as pontas do dedos, ritmos e movimentos simples, será o melhor caminho para partir para a descoberta do corpo e das sensações do outro. E depois… tem o seu encanto saber-se ser borboleta num dia (ou numa hora) e leão noutro (a)… E saber só dar, ou saber só receber, e saber fazê-lo bem, também é bom.
“God is in the details”.

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