Já vos tinha aqui falado desta pequena estatueta «cu da Guarda», da autoria de Daniel Martins, artista da Guarda e que o David Caetano me ofereceu no 16º Encontra-a-Funda.
Aqui, deixo-vos uma visão dos quatro lados da peça, que está agora na minha colecção... virada para Espanha, como convém:
31 dezembro 2011
30 dezembro 2011
Tó
Márcia, farta dos silêncios dos últimos dias, sentou-se no sofá ao lado de António e interpelou-o mais uma vez, agora directamente sem rodeios nem meias palavras, fê-lo numa difícil conjugação de sentimentos com modos ásperos e ar aborrecido mas num tom compreensivo e disponível:
– Mas afinal o que se passa contigo, Tó?
António olhou-a de relance, engoliu em seco, encolheu os ombros e sussurrou apático: – Nada – voltando a fixar-se na televisão na esperança que a conversa não chegasse a arrancar.
– Nada?! – O semblante de Márcia endureceu mas, após o “nada” dito num tom mais consentâneo com as faíscas no olhar, a voz voltou a ser macia e agradável: – Tu não falas, não dizes nada. Andas a cair pelos cantos com cara de enterro. – A mulher ajeitou-se no sofá, virando-se mais para ele, e pousou a mão na sua perna esquerda, levando a que ele tornasse a olhá-la e que os olhares se cruzassem. Ela aproveitou: – O que se passa, António? É comigo?... É connosco?
Ele apreciou-lhe os olhos que chispavam dando ao castanho-amendoado ainda mais fogo e cor, reparou no ligeiro arquear das sobrancelhas que lhe dava um ar tristonho mas suplicante e nas pequenas rugas nas comissuras dos lábios que só surgiam quando ela estava tensa e séria. António parecia inocentemente embevecido quando se fixou nos lábios carnudos sem serem grossos e esqueceu as comissuras ou o arquear das sobrancelhas. Ela sentiu o olhar e sorriu. António, que adorava sentir-lhe os lábios e o que ela lhe fazia com eles, temeu que ela percebesse a volúpia no seu olhar e baixou os olhos que, “ó martírio!”, ficaram presos no decote dela. Adorava o que ela lhe fazia com as mamas. “Grisolete”, pensou António, sem saber como se escrevia ou sequer se o termo realmente existia e engoliu um sorriso por suspeitar que, se o mostrasse, o teria de explicar.
– Não, Márcia, não é nada contigo – disse António a meia voz, olhando para a janela da sala. – Nem connosco.
Márcia gostou do tom contido da resposta e do olhar esgazeado que ele lançou para a rua, apertou-lhe a perna com os dedos como se lhe quisesse transmitir força e depois acariciou-lhe o joelho.
António esperava que a mão lhe subisse pela perna. Adorava o que ela lhe fazia com as mãos. Esqueceu o decote, as mamas e a grisolete que, concluíra com mágoa, estava fora de questão e, até, os lábios, mas, sentindo a mão no joelho, pensou em tirar imediatamente as calças, que era o que lhe apetecia; só não o fez por julgar que era prematuro e, provavelmente, contraproducente. “Tenho de ter paciência,” pensou. “O joelho é um mero apeadeiro”, e riu para si.
– Mas, então, o que se passa? – insistiu Márcia, sem afastar a mão do joelho, sentindo que ele não ia continuar a falar.
– No outro dia percebi uma coisa – disse António, sério e compenetrado, ainda que não conseguisse deixar de pensar porque é que ela não lhe largava o joelho e não lhe subia pela perna acima. – Uma coisa em que nunca tinha pensado antes e de que só me apercebi há dias – continuou ele lentamente, fixando-se na mão dela que tentava puxar telepaticamente mais para cima, sem sucesso. Frustrado, esqueceu-se do que estava a dizer e calou-se.
Márcia suportou o silêncio enquanto conseguiu; percebeu que o estava a fazer muito para além do habitual mas quis respeitar-lhe o ritmo. Não o queria apressar ou pressionar. Esperava uma confissão dorida ou a exposição de qualquer coisa séria que o atormentava e, sabia-o por experiência própria, era necessário que a pessoa que se expõe possa fazê-lo nas suas condições, nos seus termos, seguindo os seus próprios ritmos e sentimentos.
Continuaram calados: ele a olhar para a mão, ela a olhar para ele.
– E? – Lançou Márcia num murmúrio respeitoso, na dúvida entre o temor de que o momento tivesse passado e o medo de estar a ser precipitada.
Alheio às dúvidas de Márcia, António dividido entre a decepção dos seus malogrados esforços telepáticos e a enumeração fantasiosa das virtualidades que um poder desses podia ter para melhorar a sua vida sexual que o “E?” subitamente interrompeu, respondeu sem pensar, num tom ressentido e com expressão naturalmente aparvalhada: – E, o quê?
Márcia tomou o tom e o ar de António como a resposta à sua precipitação: ele precisava de mais tempo. “Os homens são assim”, pensou. “Precisam sempre de mais tempo.”
– E… – Márcia falava com ar compungido como se pedisse desculpa. “Coitados!” – O que é que percebeste no outro dia?
– Ah! – António esquecera-se mas relembrou-se e anunciou tristemente: – No outro dia é que percebi que já ninguém me pergunta o que quero ser quando for grande.
29 dezembro 2011
O Sexo Pornográfico da Guerra
Há alguns meses, recebi um convite da revista «The Printed Blog Portugal» para escrever um artigo para o nº 3 da revista, tendo a guerra como tema.
Escrevi um texto e enviei uma versão com 2.000 caracteres (limite que definiram), juntamente com uma ilustração.
Como esse nº 3 nunca mais sai, deixo-vos aqui o meu texto, na versão completa:
O sexo pode ser pornográfico?!
Pode! Não devia... mas pode.
Sendo a guerra uma das maiores obscenidades, frequentemente usa a sexualidade como arma, tornando-a assim indecente, repugnante, suja e vergonhosa.
Desde o início da humanidade que existem o estupro e a subjugação sexual. Nas primeiras “tribos” da pré-história, eram os líderes que mantinham relações sexuais com a maioria das mulheres do grupo. E os jovens de pequenas tribos só podiam procriar quando “conquistavam” fêmeas de outras tribos em batalhas.
Durante as primeiras civilizações na Grécia, Roma e Egipto, o estupro passou a ser visto como um direito dos guerreiros, um “prémio de guerra”. E esta ideia só começou a ser condenada no século XIX.
Vejamos (apenas alguns) exemplos de guerras e massacres em que a violação é usada como arma: na Primeira Guerra Mundial, os soldados alemães utilizaram o estupro para impor terror às populações locais; na Guerra Civil espanhola, os nacionalistas pintavam nos muros: “Morreremos talvez, mas as vossas mulheres darão nascimento a crianças fascistas”; em 1937, cerca de 20 mil mulheres foram estupradas e mutiladas em Nanking, no início da ocupação japonesa na China; na Segunda Guerra Mundial, houve violência sexual nos campos de concentração... e quando ocorreu a tomada de Berlim pelos soviéticos em 1945, estima-se que entre 20 e 100 mil mulheres teriam sido violadas; no Vietname, segundo testemunho de veteranos, o estupro de vietnamitas era “procedimento operacional padrão”; em 1971, na Guerra da Independência do Bangladesh, terão sido violadas entre 250 mil e 400 mil mulheres; na luta pela independência de Moçambique, em meados dos anos 70, mutilações e violências sexuais cometidas pelos guerrilheiros aterrorizaram a população civil; durante as ditaduras militares na América Latina, nas décadas de 70 e 80, o estupro era uma das práticas de tortura sistemática e as agressões sexuais não se restringiam às mulheres pois também homens, militantes de esquerda, foram metodicamente estuprados e até castrados; na Indonésia, soldados mobilizados em Timor violaram as mulheres diante dos seus maridos e dos seus filhos; durante a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, calcula-se que mais de 5 mil kuwaitianas tenham sido violadas; no Ruanda houve, pela primeira vez, uma condenação internacional pelo crime de genocídio e a violência sexual foi reconhecida como um dos actos desse crime; na Guerra dos Balcãs, teve-se pela primeira vez conhecimento de um projecto estatal incentivando o estupro em “campos de violação” como forma de “limpeza étnica”; no Iraque, houve estupro de mulheres muçulmanas por soldados e mercenários norte-americanos, abafado pelos media; na Nigéria, outras mulheres sofreram o mesmo massacre, em nome da Jihad; na Libéria, as agressões sexuais do tempo da guerra civil iniciada em 1989 são ainda praticadas; na Serra Leoa, soldados do governo e rebeldes têm raptado e escravizado sexualmente mulheres e meninas, estimando-se que cerca de 80% delas contraem doenças sexualmente transmitidas…
Para evitar estupros em massa, é frequente criarem-se prostíbulos nos territórios ocupados. Já os exércitos romanos eram acompanhados de grupos de prostitutas. Com a proliferação de doenças venéreas apareceram, para as prevenir e combater, novos fármacos e a generalização do uso do preservativo. Diz-se por aí que as bonecas insufláveis foram um projecto de Hitler, em 1941, para proteger as suas tropas das doenças sexualmente transmissíveis que se disseminavam nos bordéis e para evitar a “mistura de raças”. A fábrica onde seriam produzidas essas bonecas ficaria situada em Dresden, cidade que foi bombardeada pelos aliados.
Muitas das agressões sexuais são silenciadas. E as próprias vítimas inibem-se de as revelar, por vergonha e medo.
Mas, em cenários de guerra, a sexualidade é afectada também indirectamente: casamentos forçados, troca de favores sexuais por protecção ou para sobrevivência, aumento das relações fugazes e de gravidezes não programadas,…
Como vêem a guerra, usando como uma das suas armas o sexo, torna-o pornográfico. E defender a sexualidade da sua utilização abusiva é uma causa pela qual vale a pena lutar. Mas...
... guerra?! O que a malta quer é... Paz! Paz! Paz!
São Rosas
Blog «a funda São»
Fontes: documentos consultados na internet e alguns dos 1.700 livros que fazem parte da minha colecção de arte erótica.
Escrevi um texto e enviei uma versão com 2.000 caracteres (limite que definiram), juntamente com uma ilustração.
Como esse nº 3 nunca mais sai, deixo-vos aqui o meu texto, na versão completa:
O sexo pode ser pornográfico?!
Pode! Não devia... mas pode.
Sendo a guerra uma das maiores obscenidades, frequentemente usa a sexualidade como arma, tornando-a assim indecente, repugnante, suja e vergonhosa.
Desde o início da humanidade que existem o estupro e a subjugação sexual. Nas primeiras “tribos” da pré-história, eram os líderes que mantinham relações sexuais com a maioria das mulheres do grupo. E os jovens de pequenas tribos só podiam procriar quando “conquistavam” fêmeas de outras tribos em batalhas.
Durante as primeiras civilizações na Grécia, Roma e Egipto, o estupro passou a ser visto como um direito dos guerreiros, um “prémio de guerra”. E esta ideia só começou a ser condenada no século XIX.
Vejamos (apenas alguns) exemplos de guerras e massacres em que a violação é usada como arma: na Primeira Guerra Mundial, os soldados alemães utilizaram o estupro para impor terror às populações locais; na Guerra Civil espanhola, os nacionalistas pintavam nos muros: “Morreremos talvez, mas as vossas mulheres darão nascimento a crianças fascistas”; em 1937, cerca de 20 mil mulheres foram estupradas e mutiladas em Nanking, no início da ocupação japonesa na China; na Segunda Guerra Mundial, houve violência sexual nos campos de concentração... e quando ocorreu a tomada de Berlim pelos soviéticos em 1945, estima-se que entre 20 e 100 mil mulheres teriam sido violadas; no Vietname, segundo testemunho de veteranos, o estupro de vietnamitas era “procedimento operacional padrão”; em 1971, na Guerra da Independência do Bangladesh, terão sido violadas entre 250 mil e 400 mil mulheres; na luta pela independência de Moçambique, em meados dos anos 70, mutilações e violências sexuais cometidas pelos guerrilheiros aterrorizaram a população civil; durante as ditaduras militares na América Latina, nas décadas de 70 e 80, o estupro era uma das práticas de tortura sistemática e as agressões sexuais não se restringiam às mulheres pois também homens, militantes de esquerda, foram metodicamente estuprados e até castrados; na Indonésia, soldados mobilizados em Timor violaram as mulheres diante dos seus maridos e dos seus filhos; durante a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, calcula-se que mais de 5 mil kuwaitianas tenham sido violadas; no Ruanda houve, pela primeira vez, uma condenação internacional pelo crime de genocídio e a violência sexual foi reconhecida como um dos actos desse crime; na Guerra dos Balcãs, teve-se pela primeira vez conhecimento de um projecto estatal incentivando o estupro em “campos de violação” como forma de “limpeza étnica”; no Iraque, houve estupro de mulheres muçulmanas por soldados e mercenários norte-americanos, abafado pelos media; na Nigéria, outras mulheres sofreram o mesmo massacre, em nome da Jihad; na Libéria, as agressões sexuais do tempo da guerra civil iniciada em 1989 são ainda praticadas; na Serra Leoa, soldados do governo e rebeldes têm raptado e escravizado sexualmente mulheres e meninas, estimando-se que cerca de 80% delas contraem doenças sexualmente transmitidas…
Para evitar estupros em massa, é frequente criarem-se prostíbulos nos territórios ocupados. Já os exércitos romanos eram acompanhados de grupos de prostitutas. Com a proliferação de doenças venéreas apareceram, para as prevenir e combater, novos fármacos e a generalização do uso do preservativo. Diz-se por aí que as bonecas insufláveis foram um projecto de Hitler, em 1941, para proteger as suas tropas das doenças sexualmente transmissíveis que se disseminavam nos bordéis e para evitar a “mistura de raças”. A fábrica onde seriam produzidas essas bonecas ficaria situada em Dresden, cidade que foi bombardeada pelos aliados.
Muitas das agressões sexuais são silenciadas. E as próprias vítimas inibem-se de as revelar, por vergonha e medo.
Mas, em cenários de guerra, a sexualidade é afectada também indirectamente: casamentos forçados, troca de favores sexuais por protecção ou para sobrevivência, aumento das relações fugazes e de gravidezes não programadas,…
Como vêem a guerra, usando como uma das suas armas o sexo, torna-o pornográfico. E defender a sexualidade da sua utilização abusiva é uma causa pela qual vale a pena lutar. Mas...
... guerra?! O que a malta quer é... Paz! Paz! Paz!
São Rosas
Blog «a funda São»
Fontes: documentos consultados na internet e alguns dos 1.700 livros que fazem parte da minha colecção de arte erótica.
Frases do Ricardo Esteves - humidade sindical
ejamart - "Há agora uns higrómetros muito bons, que detectam a origem da humidade..."
São Rosas - "Os melhores higrómetros provocam-na..."
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O Ricardo Esteves está no Facebook, no YouTube, no blog Quotidiano Hoje e no Tumblr
28 dezembro 2011
De peito aberto
Li algures que a atracção deste Natal no circo Cardinali é a que dizem ser a única mulher-bala do mundo.
E eu dei comigo a pensar: o que será que um gajo diz se se apanha com uma mulher-bala?
A resposta é simples e ocorreu-me na hora:
Shoot me!
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