29 dezembro 2011

O Sexo Pornográfico da Guerra

Há alguns meses, recebi um convite da revista «The Printed Blog Portugal» para escrever um artigo para o nº 3 da revista, tendo a guerra como tema.
Escrevi um texto e enviei uma versão com 2.000 caracteres (limite que definiram), juntamente com uma ilustração.
Como esse nº 3 nunca mais sai, deixo-vos aqui o meu texto, na versão completa:

O sexo pode ser pornográfico?!
Pode! Não devia... mas pode.
Sendo a guerra uma das maiores obscenidades, frequentemente usa a sexualidade como arma, tornando-a assim indecente, repugnante, suja e vergonhosa.
Desde o início da humanidade que existem o estupro e a subjugação sexual. Nas primeiras “tribos” da pré-história, eram os líderes que mantinham relações sexuais com a maioria das mulheres do grupo. E os jovens de pequenas tribos só podiam procriar quando “conquistavam” fêmeas de outras tribos em batalhas.
Durante as primeiras civilizações na Grécia, Roma e Egipto, o estupro passou a ser visto como um direito dos guerreiros, um “prémio de guerra”. E esta ideia só começou a ser condenada no século XIX.
Vejamos (apenas alguns) exemplos de guerras e massacres em que a violação é usada como arma: na Primeira Guerra Mundial, os soldados alemães utilizaram o estupro para impor terror às populações locais; na Guerra Civil espanhola, os nacionalistas pintavam nos muros: “Morreremos talvez, mas as vossas mulheres darão nascimento a crianças fascistas”; em 1937, cerca de 20 mil mulheres foram estupradas e mutiladas em Nanking, no início da ocupação japonesa na China; na Segunda Guerra Mundial, houve violência sexual nos campos de concentração... e quando ocorreu a tomada de Berlim pelos soviéticos em 1945, estima-se que entre 20 e 100 mil mulheres teriam sido violadas; no Vietname, segundo testemunho de veteranos, o estupro de vietnamitas era “procedimento operacional padrão”; em 1971, na Guerra da Independência do Bangladesh, terão sido violadas entre 250 mil e 400 mil mulheres; na luta pela independência de Moçambique, em meados dos anos 70, mutilações e violências sexuais cometidas pelos guerrilheiros aterrorizaram a população civil; durante as ditaduras militares na América Latina, nas décadas de 70 e 80, o estupro era uma das práticas de tortura sistemática e as agressões sexuais não se restringiam às mulheres pois também homens, militantes de esquerda, foram metodicamente estuprados e até castrados; na Indonésia, soldados mobilizados em Timor violaram as mulheres diante dos seus maridos e dos seus filhos; durante a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, calcula-se que mais de 5 mil kuwaitianas tenham sido violadas; no Ruanda houve, pela primeira vez, uma condenação internacional pelo crime de genocídio e a violência sexual foi reconhecida como um dos actos desse crime; na Guerra dos Balcãs, teve-se pela primeira vez conhecimento de um projecto estatal incentivando o estupro em “campos de violação” como forma de “limpeza étnica”; no Iraque, houve estupro de mulheres muçulmanas por soldados e mercenários norte-americanos, abafado pelos media; na Nigéria, outras mulheres sofreram o mesmo massacre, em nome da Jihad; na Libéria, as agressões sexuais do tempo da guerra civil iniciada em 1989 são ainda praticadas; na Serra Leoa, soldados do governo e rebeldes têm raptado e escravizado sexualmente mulheres e meninas, estimando-se que cerca de 80% delas contraem doenças sexualmente transmitidas…
Para evitar estupros em massa, é frequente criarem-se prostíbulos nos territórios ocupados. Já os exércitos romanos eram acompanhados de grupos de prostitutas. Com a proliferação de doenças venéreas apareceram, para as prevenir e combater, novos fármacos e a generalização do uso do preservativo. Diz-se por aí que as bonecas insufláveis foram um projecto de Hitler, em 1941, para proteger as suas tropas das doenças sexualmente transmissíveis que se disseminavam nos bordéis e para evitar a “mistura de raças”. A fábrica onde seriam produzidas essas bonecas ficaria situada em Dresden, cidade que foi bombardeada pelos aliados.
Muitas das agressões sexuais são silenciadas. E as próprias vítimas inibem-se de as revelar, por vergonha e medo.
Mas, em cenários de guerra, a sexualidade é afectada também indirectamente: casamentos forçados, troca de favores sexuais por protecção ou para sobrevivência, aumento das relações fugazes e de gravidezes não programadas,…
Como vêem a guerra, usando como uma das suas armas o sexo, torna-o pornográfico. E defender a sexualidade da sua utilização abusiva é uma causa pela qual vale a pena lutar. Mas...

... guerra?! O que a malta quer é... Paz! Paz! Paz!

São Rosas
Blog «a funda São»

Fontes: documentos consultados na internet e alguns dos 1.700 livros que fazem parte da minha colecção de arte erótica.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia