... de acordo com a votação feita no blog Aventar:
30 janeiro 2012
«pensamentos catatónicos (267)» - bagaço amarelo
Hoje, assim como quem não quer a coisa, comecei a fazer um desenho enquanto esperava pelo almoço, creio que uma árvore solitária junto a um caminho que desaguava na linha do horizonte. Mas acabei por fazer um gatafunho. Já não me lembro muito bem, mas acho que me desviei da ideia inicial quando me apercebi que a árvore estava a ficar desequilibrada. Pelo menos quando comparado com aquilo que eu queria. O gatafunho foi assim uma forma de eu não insistir mais num desenho que me estava a fugir da mão. Assumi o erro e aniquilei-o com uma bomba de tinta. Depois almocei calmamente.
O almoço, arroz com legumes e carne de aves, caiu-me bem. Acho que devia ter aprendido a fazer gatafunhos mais cedo na minha vida, ou melhor, devia ter tido a coragem de começar a fazer gatafunhos mais cedo. É que o Amor acaba por ser mais ou menos como um desenho a esferográfica. Não aceita emendas de ânimo leve. Quando as fazemos elas ficam lá para sempre. Notam-se, e mesmo que não queiramos, às vezes incomodam.
Depois da sobremesa tornei a olhar para o desenho e, em vez de do gatafunho, a minha primeira interpretação mental do desenho foi a de uma árvore. De novo. Não a árvore que eu queria, mas outra qualquer. Não interessa, afinal de contas era um desenho passado onde, tal como nos Amores passados, fica um bocadinho de nós, da nossa tinta e da nossa mão. Mas são para arrumar numa gaveta daquelas que não se abrem mais.
O desAmar é um processo tão legítimo como o de Amar. A única diferença é essa. A Amar desenhamos, a desAmar fazemos gatafunhos. Tentar desenhar enquanto se desAma é um erro. Pelo menos é um processo penoso. Acredita em mim.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
O almoço, arroz com legumes e carne de aves, caiu-me bem. Acho que devia ter aprendido a fazer gatafunhos mais cedo na minha vida, ou melhor, devia ter tido a coragem de começar a fazer gatafunhos mais cedo. É que o Amor acaba por ser mais ou menos como um desenho a esferográfica. Não aceita emendas de ânimo leve. Quando as fazemos elas ficam lá para sempre. Notam-se, e mesmo que não queiramos, às vezes incomodam.
Depois da sobremesa tornei a olhar para o desenho e, em vez de do gatafunho, a minha primeira interpretação mental do desenho foi a de uma árvore. De novo. Não a árvore que eu queria, mas outra qualquer. Não interessa, afinal de contas era um desenho passado onde, tal como nos Amores passados, fica um bocadinho de nós, da nossa tinta e da nossa mão. Mas são para arrumar numa gaveta daquelas que não se abrem mais.
O desAmar é um processo tão legítimo como o de Amar. A única diferença é essa. A Amar desenhamos, a desAmar fazemos gatafunhos. Tentar desenhar enquanto se desAma é um erro. Pelo menos é um processo penoso. Acredita em mim.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
29 janeiro 2012
Semana especial LGBT no Porta Curtas - «Máscara negra»
Ficção de Rene Brasil - 2011 - 15 min
Já se arrependeu na quarta-feira de cinzas? Gregório nos ensina que os mais nobres sentimentos sobrevivem mesmo depois da folia.
Link directo para o filme aqui.
Já se arrependeu na quarta-feira de cinzas? Gregório nos ensina que os mais nobres sentimentos sobrevivem mesmo depois da folia.
Link directo para o filme aqui.
«Milagre» - por Rui Felício
Desde os tempos de escola que se consideravam namorados. Mas de facto só o eram de nome, porque jamais tinham trocado um beijo que fosse. Pelas festas do padroeiro São Sebastião, em Agosto, era a única altura do ano em que se encostavam de forma mais próxima no baile do pátio da Junta ao lado da igreja, ao som dos conjuntos então em voga na região de Coimbra.
A Conceição, profunda devota da Virgem Maria, frequentadora assídua da igreja das Torres do Mondego, cumpridora escrupulosa dos santos mandamentos, preservava a sua castidade, senão totalmente nos pensamentos, pelo menos nas obras, fixando o braço estendido contra o ombro do Júlio, que empurrava com firmeza quando o rapaz, ao dançar, parecia querer ultrapassar a fronteira do decoro.
E mesmo assim, o olhar crítico e atento das velhas da aldeia, impedia-os de irem longe nesse roçagar disfarçado dos corpos ao ritmo da música.
Agora, em finais de Setembro, estavam sentados um ao lado do outro, integrados num rancho de homens e mulheres que se afadigavam na desfolhada do milho ceifado dois meses antes e secado na eira da quinta do Sr. Fachada. A algazarra era enorme quando alguém desfolhava uma espiga vermelha, o milho rei, que se aprestava a dar beijos e abraços aos demais, de forma especial e mais demorada aos respectivos namorados ou namoradas.
Sentados em pequenos bancos num dos cantos da eira estavam o João França e o Ti Zé Carne Assada a tocarem concertina e tambor para animarem a dura labuta do pessoal que, numa azáfama, descamisava as espigas.
Tinha sido o dia escolhido para o Julio e a Conceição anunciarem finalmente o noivado.
Ao Julio pulava-lhe o coração desencontrado no peito arfante, rebrilhavam-lhe os olhos, naquela que era a primeira vez em que falavam já com o assentimento da família dela e por isso com um sabor diferente de antes, quando trocavam palavras só de fugida.
Mas as respostas da rapariga aos convites sussurrados pelo Julio, eram dadas com uma inflexão estranha e entoações herméticas, pouco explícitas que o deixavam desorientado.
Quando chegou o Padre João que vinha abençoar a desfolhada, a Conceição levantou-se, beijou-lhe respeitosamente a mão e pediu-lhe que intercedesse por ela para um milagre.
- Que milagre queres tu Conceição?
- Queria que o Sr. Prior pedisse ao São Sebastião a graça de eu ficar sempre virgem. Antes do casamento, durante o parto se o houver e depois dele, para eu manter a minha castidade até à eternidade.
O Júlio, tornou-se homem e é pai de três filhos. Tantos anos passados, continua a ser muito amigo da Conceição que, contudo, se mantém imaculadamente virgem.
E solteira…
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Acabou o vinho?
Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)
O Ricardo, cartunista de São Paulo (Brasil), é o novo elemento da fundiSão. Que bem te venhas, Ricardo
28 janeiro 2012
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