"Levanta-te e anda" é um milagre, mas quotidiano.
Er63
Não sei porque me acordaste, como se nem tivesses visto a Branca de Neve do João César Monteiro, arrogando o direito de me fazer encarar a luz do dia quando já sabias que muitos são aqueles em que me sinto esgotada, auto plagiando os meus gestos de fazer o mesmo filme de me sustentar de pé.
Essa tua caridade em que me emprestas o corpo para dissolvente das nódoas do quotidiano é um filme série-B, com as cenas eróticas coladas com cuspo às do resto da vida, tão fugazes e deprimentes como uma película de domingo à tarde na televisão. Apesar de cada dia vermos os telemóveis a crescerem e multiplicarem-se, sofremos desta gripe que entope a intensidade das emoções e até na cama só despimos água e sal em gotas de suor, contaminados pelos juízos securitários de vivermos amorfos e protegidos em redomas como os condomínios fechados. Estamos como os alcoólicos no passinho de uma foda de cada vez que o futuro como orgasmo já não é objectivo.
E só posso retribuir essa caridade optimizando a relação com outra virose da moda: agilizamos procedimentos e um de nós despede-se para se contratar substituto.