HenriCartoon
19 fevereiro 2012
Blockbuster
Fui entrevistá-lo por causa do seu recém-estreado filme no qual usara todos os mendigos do Metro de Lisboa, alguns sem-abrigo do Martim Moniz, as ciganas que tiram a inveja e o mau olhado e as meninas romenas que vendem pensos rápidos, como actores principais de um drama que intitulara «A Cidade Branca e os Anões».
Foram três noites seguidinhas de trabalho a bater nas suas ligações ao Truffaut, Resnais, Rohmer e Chabrol mas garanti o guião da entrevista todo alinhavado na cabeça e enquanto o ia desfiando, reparei que o eminente realizador apontava a câmara dos seus olhos negros para um grande plano do meu decote seguido de um travelling às minhas pernas. Sem perder a pose de artista e continuando a responder, abriu a carcela das calças e exibiu o seu óscar finamente esculpido e de estupendos acabamentos, garroteando-o no topo como se fosse um tubo de pasta em final de vida. Explicitou um convite para que conhecesse mais intimamente a sua obra e rapidamente rodámos uma película de série X demonstrativa dos comportamentos dos últimos primatas, connosco acocorados e as suas palmas engatadas nas minhas ancas reboludas para as suas bolinhas não falharem os embates cíclicos e os nossos guinchos fornecerem a emoção do sonoro.
No dia seguinte entreguei as 300 linhas na redacção e pedi dispensa para acompanhar o cineasta numa série de curtas-metragens. Não lhes ia revelar a cacha de uma rapidinha sentados numa cabine de fotos à la minute, do enganchanço num dos intermináveis corredores do Marquês a horas nocturnas alçando-me uma perna e a saia, das mãos contra os azulejos do painel indicativo do miradouro de São Pedro de Alcântara a desoras, do seu missionário frenético no topo do caramanchão do Príncipe Real sob o qual João César Monteiro se costumava sentar.
Foram três noites seguidinhas de trabalho a bater nas suas ligações ao Truffaut, Resnais, Rohmer e Chabrol mas garanti o guião da entrevista todo alinhavado na cabeça e enquanto o ia desfiando, reparei que o eminente realizador apontava a câmara dos seus olhos negros para um grande plano do meu decote seguido de um travelling às minhas pernas. Sem perder a pose de artista e continuando a responder, abriu a carcela das calças e exibiu o seu óscar finamente esculpido e de estupendos acabamentos, garroteando-o no topo como se fosse um tubo de pasta em final de vida. Explicitou um convite para que conhecesse mais intimamente a sua obra e rapidamente rodámos uma película de série X demonstrativa dos comportamentos dos últimos primatas, connosco acocorados e as suas palmas engatadas nas minhas ancas reboludas para as suas bolinhas não falharem os embates cíclicos e os nossos guinchos fornecerem a emoção do sonoro.
No dia seguinte entreguei as 300 linhas na redacção e pedi dispensa para acompanhar o cineasta numa série de curtas-metragens. Não lhes ia revelar a cacha de uma rapidinha sentados numa cabine de fotos à la minute, do enganchanço num dos intermináveis corredores do Marquês a horas nocturnas alçando-me uma perna e a saia, das mãos contra os azulejos do painel indicativo do miradouro de São Pedro de Alcântara a desoras, do seu missionário frenético no topo do caramanchão do Príncipe Real sob o qual João César Monteiro se costumava sentar.
18 fevereiro 2012
Homens, aprendam a fazer um nó Windsor a uma gravata
Que bem se venham à nova rubrica deste blog: «Homens, aprendam!»
Metros de vida
O homem mergulhado num mundo alcoolizado e a mulher que o segue com o olhar perdido naquilo que poderia ter sido mas já nem ousa ambicionar.
A mulher entediada com a vida pautada por rituais e o homem que a acompanha pelos caminhos habituais sem sorriso nos lábios nem chama no olhar.
O homem isolado num planeta desabitado e a mulher que o carrega pelos atalhos da vida sem ser por isso reconhecida na condição de amparo derradeiro, de tábua de salvação à deriva sem alguém que sobreviva para a justificar à superfície daquele mar que tudo afoga, esperanças, ilusões, memórias de campeões de um passado entretanto obliterado pela decadência etilizada, pela consciência entorpecida aos poucos até pouco ou nada interferir na passada titubeante ao longo do caminho para sítio nenhum.
A mulher desanimada com a vida marcada por horários que a orientam pelo meio de um estranho nevoeiro de desejos imaginários que compensam a realidade enfadonha tão diferente da que sonha, acordada, enquanto dura a caminhada lado a lado com um jovem que no passado a entusiasmou, o olhar vivaço que ela amou e agora parece ter desaparecido do rosto envelhecido daquele burguês adormecido durante a viagem para o local costumeiro onde gastam o dinheiro que algures preencheu o espaço dedicado pelo jovem apaixonado até nada restar naquele rosto, naquele olhar embaciado pela ausência do amor que entretanto esqueceu.
A vida que entretanto se perdeu, esbanjada por tudo aquilo que a manteve afastada do rumo original, descarrilada pela força da gravidade de acontecimentos imprevistos ou pelo desvio nos objectivos propostos que se transformaram em desgostos, em transporte público, ir e vir, das expressões em rostos privados da vontade de sorrir.
Um sábado qualquer... - «Corpo humano 7» (por Carlos Ruas)
Banda desenhada do brasileiro Carlos Ruas, que recomendo. Aqui, Deus mostra a sua criatividade... cautelosa:
Um sábado qualquer...
Um sábado qualquer...
17 fevereiro 2012
«Sildenafil» - a revolucionária pilula azul em seu mais dramático desempenho
Maravilha de diálogo!
Aconselho-vos a assistirem a esta curta-metragem (17 minutos) brasileira. Depois digam-me se não valeu a pena.
Aconselho-vos a assistirem a esta curta-metragem (17 minutos) brasileira. Depois digam-me se não valeu a pena.
«coisas que fascinam (147)» - bagaço amarelo
Existem as mulheres bonitas e existe a mulher bonita. À partida poder-se-ia pensar que a diferença está apenas no uso do plural e do singular, mas não está. Nem de perto nem de longe. É que a diferença entre a primeira e a segunda é tão grande que entre elas pode caber um Amor inteiro.
As mulheres bonitas são aquelas mulheres em que reconhecemos a beleza tal como ela é, a mulher bonita é aquela que nos ensina o que é a beleza. Todos os dias posso andar pela rua e reconhecer a beleza de muitas mulheres pelas quais não me apaixono. Agradeço-lhes em silêncio a existência porque me soube bem passar por elas. Depois continuo a andar procurando mentalmente referências. Uma era parecida com a Scarlett Johansson, outra era parecida com a Mayra Andrade, outra tinha o sorriso da Mona Lisa e assim por diante. Estas são as mulheres bonitas. Sabem-me bem, é isso.
A mulher bonita é aquela que só pode ser uma porque nela não reconheço nada. Nem a Scarlett Johansson, nem a Mayra Andrade, nem nenhuma outra. Olho para o nariz dela e passo a achar que o nariz dela é o mais bonito e único do mundo. O mesmo acontece com o resto do corpo. Os cabelos, as pernas, os lábios, o pescoço, as mamas, os olhos, o dedo mindinho do pé esquerdo ou os joelhos. Nessa altura não há nada a fazer. Estou apaixonado.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«depois a Raquel chegou» - bagaço amarelo
Depois a Raquel chegou, sentou-se ao meu lado, e perguntou-me se eu estava bem.
Hoje, quando peguei no jornal do café para ler as gordas enquanto esperava pela torrada seca e pelo galão directo do costume, subi-o mais um pouco do que o habitual de forma a que ele me tapasse a cara. Mesmo assim quase todos me perguntaram se eu estava bem. A dona do estabelecimento que passa mais tempo na caixa a contar o dinheiro do que a atender os clientes, a empregada que passa o dia a varrer o estabelecimento com os próprios pés, o homem que vende cautelas da lotaria, a mulher que tem um cabeleireiro mesmo ao lado e vem sempre tomar café de bata vestida.
Não gosto que me perguntem se estou bem quando não estou. Ainda fico pior. A pergunta "estás bem?" só devia surgir quando o inquirido se sente de facto bem, caso contrário fá-lo ter uma noção mais intensa do seu próprio mal-estar. O "sim" não sai por ser mentiroso, o "não" não sai por ser inesperado e doloroso. Abanei os ombros a todos com um mastigado "hum hum".
A torrada lá veio, não tão seca quanto o desejado, e o galão também, não tão quente quanto o desejado. Nunca vem nada como o desejado quando o próprio dia não está a ser o que desejámos. Dobrei o jornal em dois, como se fosse possível fechar ali para sempre as más notícias sobre violência e sobre a crise económica, e dei a primeira dentada numa das tiras de pão protestando com a empregada pelo excesso de manteiga derretida.
Depois a Raquel chegou, sentou-se ao meu lado, e perguntou-me se eu estava bem. E eu respondi que sim, até porque já estava.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Hoje, quando peguei no jornal do café para ler as gordas enquanto esperava pela torrada seca e pelo galão directo do costume, subi-o mais um pouco do que o habitual de forma a que ele me tapasse a cara. Mesmo assim quase todos me perguntaram se eu estava bem. A dona do estabelecimento que passa mais tempo na caixa a contar o dinheiro do que a atender os clientes, a empregada que passa o dia a varrer o estabelecimento com os próprios pés, o homem que vende cautelas da lotaria, a mulher que tem um cabeleireiro mesmo ao lado e vem sempre tomar café de bata vestida.
Não gosto que me perguntem se estou bem quando não estou. Ainda fico pior. A pergunta "estás bem?" só devia surgir quando o inquirido se sente de facto bem, caso contrário fá-lo ter uma noção mais intensa do seu próprio mal-estar. O "sim" não sai por ser mentiroso, o "não" não sai por ser inesperado e doloroso. Abanei os ombros a todos com um mastigado "hum hum".
A torrada lá veio, não tão seca quanto o desejado, e o galão também, não tão quente quanto o desejado. Nunca vem nada como o desejado quando o próprio dia não está a ser o que desejámos. Dobrei o jornal em dois, como se fosse possível fechar ali para sempre as más notícias sobre violência e sobre a crise económica, e dei a primeira dentada numa das tiras de pão protestando com a empregada pelo excesso de manteiga derretida.
Depois a Raquel chegou, sentou-se ao meu lado, e perguntou-me se eu estava bem. E eu respondi que sim, até porque já estava.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Paying for it» de Chester Brown - o 1686º livro da minha colecção
Chester Brown é um cartunista e este livro de banda desenhada, «Paying for it» (pagando para isso) mostra as suas experiências com prostitutas depois de decidir que não quer ter os problemas dos relacionamentos amorosos convencionais.
Em resumo...
O livro é simultaneamente autobiográfico e um manifesto pois, ao longo do livro, dá-nos a conhecer as conversas sobre a sua opção que vai tendo com os seus amigos. No final, apresenta o seu ponto de vista sobre as discussões à volta do tema da prostituição. Aí, Chester Brown defende e fundamenta que a prostituição não deve ser legalizada (com tudo o que isso acarreta de obrigações e as consequências para quem não quer ou pode legalizar esta sua actividade) e sim descriminalizada. E cita Pierre Trudeau: "O Estado não tem lugar nos quartos da nação" [e o que se passa no sexo entre adultos que mutuamente o consentem].
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