23 março 2012

Pronto a desabrochar

"Para a São Rosas
da Romicas"


«O meu cabeçalho é maior que o teu» - Patife

Gosto muito de nomeações. É pois a esgalhar o texugo que todos os anos assisto às nomeações para os Óscares. Mas gosto mais de distinções, por isso faço questão de ver a cerimónia de entrega dos ditos galardões enquanto uma moça me abocanha o trombone. Quando contei esta história à última que me mamou no pincel ela respondeu qualquer coisa como: Oh Patife, tu só dizes isso da boca para fora. No momento a seguir estava eu a ver os Óscares enquanto ela metia isto da boca para dentro. Isto tudo porque acabei de ser nomeado para um galardão que é a minha cara. Desde pequeno que ouço as pessoas dizer aqui do meu nabo: Eia pá, ca ganda cabeçalho que o gajo tem. Ou: Xi cum camandro tens um cabeçalho capaz de me rasgar a chona. Todos certamente já ouviram falar da fama do Pacheco, que é tido como o melhor cabeçalho da História dos cabeçalhos fálicos. É por isso com uma elevada dose de comoção e uma ainda mais elevada proeminência na cabeça do Pacheco que acabo de saber que estou nomeado para “Melhor Cabeçalho” pelo blog "Simão, Escuta". A votação está a decorrer aqui. Votem com cabeçalho.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

«conversa 1881» - bagaço amarelo

(ouvida no metro do Porto)

Ele - Acho que a minha mulher me anda a pôr os cornos.
Ela - Como é que sabes?
Ele - Se ela descobriu que eu te ando a comer a ti e nem se importou, só pode andar a pôr-me os cornos.
Ela - Estou farta de te dizer que a gaja é uma vaca.
Ele - Mas eu descubro, eu descubro...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Simples...



Via Watermeloncolya

22 março 2012

«Introduzindo...»

Filme imagem-a-imagem de um casal desde o início de gravidez ao nascimento da filha, a que chamam "Our little 9 month project".

Exuberante

– Desculpe – pediu o homem dando a volta à secretaria e abeirando-se da doutora, que em passo rápido e sincopado atravessava o átrio em direcção às portas das salas de conferências.
– Vou para a sessão – disse a doutora, que parou a meio do átrio olhando para as quatro portas sem identificação que tinha à sua frente.
– Sim, senhora – apreciou o homem, com ar desconfiado, mirando sem pudor o ar demasiado preparado mas deslumbrante da mulher que tinha à sua frente.
– Em que sala é? – perguntou a mulher, fazendo de conta que não via o ar esgazeado do homem que a comia com olhos.
– A senhora vem para acompanhar algum dos engenheiros? – perguntou o homem, disfarçando um pouco o seu apetite.
A doutora arremelgou-lhe os olhos sem, no entanto, pensar realmente na pergunta.
– Que sala é? – repetiu, impaciente.
– A senhora é a acompanhante do Eng. Pimenta? – Tacteou o homem, olhando para o relógio, pois, o engenheiro tinha-lhe dito em segredo que viria uma senhora – aqui rira-se e piscara-lhe o olho – por volta das seis da tarde, e ainda eram só três e faltava a oradora da sessão de esclarecimento. A “senhora” estava muito adiantada.
A doutora respondeu-lhe com uma careta e um eloquente e sonoro:
– Pimenta, sim, é isso. Engenheiro Pimenta. Em que sala é?
– As acompanhantes dos senhores engenheiros não podem entrar – anunciou o homem. – Terá de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento. – E indicou com um gesto a porta de vidro que dava acesso ao bar do hotel. – Se fizer favor…
A doutora susteve a respiração para não desatar à gargalhada. Mordeu o lábio inferior e olhou para os sapatos do homem que, de pé, continuava à sua frente. Sem conseguir evitar as várias caretas com que ia suportando a paciente mas inquisitiva imobilidade e impassibilidade do homem, a doutora levantou a cabeça e olhou-o nos olhos, ou melhor, nas sobrancelhas, que era um truque que aprendera com o seu irmão mais velho que lhe ganhava sempre ao jogo do sério. O homem esboçou um ligeiro sorriso. A doutora não aguentou e abriu um sorriso de orelha a orelha que, esforçadamente, conteve para não rebentar a rir.
– Mas o senhor está à espera que eu vá para ali?
O homem encolheu-se ligeiramente e anuiu com a cabeça.
Fulminada com outra perspectiva da situação – que julgou ser a do homem que estava à sua frente –, a doutora enfureceu-se e sentiu a face enrubescer, o que a enfureceu ainda mais.
– O senhor não estava a brincar? – disparou.
O homem olhou para ela, olhou em volta mexendo apenas os olhos e fez um trejeito como se sentisse embaraçado com a pergunta. Não, definitivamente, não estava a brincar.
– Ah… – O homem sentiu a sua integridade física em risco e tentou emendar a mão, acompanhando o golpe de rins com um arremedo de riso que não medrou. – Estava, estava a brincar. Claro que estava – mentiu sem convicção.
– Eu… eu… – As palavras enrolavam-se na boca da doutora. – Mas quem é que o senhor julga que eu sou? – Acabou por conseguir perguntar.
O homem fechou-se num silêncio prudente e receoso que se viu obrigado, pelo olhar mortífero que doutora lhe lançava, a interromper, para deixar escapar um sumido e lamentoso:
– A oradora?
– Mas porque é que eu tinha de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento?
– É?
– O quê?
– A oradora?
– Isso não interessa. – A doutora riu-se: apesar de tudo continuava bem disposta. – Isso não lhe interessa, palhaço – murmurou com o sotaque apropriado.
O homem empinou-se como o garrano da estalagem de Bree e mudou a expressão para uma com que se propunha impor respeito e temor.
– Interessa – replicou o homem, aborrecido por perceber que a mulher à sua frente não o estava a respeitar nem a temer e o narrador o estava a comparar a um cavalo. – Eu tenho o direito de saber! – Exclamou melodramático.
– A Loretta também tinha o direito de ter direito a ter filhos e, no entanto…
O homem tornou a mudar a expressão, ainda que agora o fizesse involuntariamente e fosse ele a expressar o temor que antes queria incutir.
– Não os podia ter – sussurrou o homem completando a frase que a doutora deixara incompleta.
– Porque? – Perguntou a mulher, surpreendida e subitamente enlevada pela identidade de referências que a aproximavam do homem que estava à sua frente e lhe barrara o caminho.
– Porque era um homem – disse o ser do mesmo género de Loretta.
A doutora aproximou-se do homem e perguntou em tom conspirativo:
– Nunca pensou na coincidência da mulher do John Bobbit se chamar Loretta?
– Não… – respondeu o homem, sem levantar a voz, com ar pensativo e meneando a cabeça em contemplativa admiração.
– Toda a gente analisou o facto do homem se chamar John Wayne e, de alguma forma, o gesto da mulher ser uma metáfora do que estava a acontecer à América – dissertou a doutora junto ao ouvido do homem. – Ao cortá-lo ao John Wayne, ao John Wayne – reforçou – Loretta estava a capar a América. Não havia outra leitura. Deus estava a brincar com a América e estava-lhe a mostrar com um humor retorcido e gore o que lhe ia acontecer. O facto de se cortar o membro de alguém que se chamava John Wayne era um sinal. Não há coincidências, diziam os fanáticos – O homem meneava a cabeça cada vez mais entusiasmado, a doutora continuou: – E, no entanto, a referência era outra, o nome que contava era outro: Loretta. “From now on, I want you all to call me 'Loretta'” e a Loretta deu ao marido a possibilidade usar o seu direito de ser mulher, de ter filhos…
– Mas não lhe deu um útero – opôs-se o homem, lembrando-se das dúvidas fundadas de Reg.
– Isso não interessa – contrapôs a Doutora. – Loretta impunha o que a Loretta propôs: o direito a ter o direito de ter filhos.
O homem parou de oscilar a cabeça, deu um passo atrás para poder rodar a cabeça sem acabar a dar um chocho à doutora e comunicou:
– Se é a oradora pode entrar mas se não é – o homem olhou ostensivamente para as pernas quase nuas da doutora, para o decote cavado e para o longo colar de pérolas que dava duas voltas ao pescoço da mulher com a intenção de sublinhar os seus generosos e apetecíveis dotes mamários – tem de esperar pelo fim da palestra. Se vem para acompanhar algum dos senhores tem de esperar.
A doutora esticou o braço e afastou o homem da frente.
– Eu sou a oradora – anunciou. – E o senhor é um mal-educado. Um grosseirão!
– Estou a fazer o meu trabalho, doutora – justificou o homem. – Sala 3 – apontou.
– Qual é o seu nome? – Questionou a doutora em tom de ameaça, dirigindo-se à porta da sala onde era esperada.
– João Benvindo.
– Alguém falará consigo, senhor João Benvindo – disse a doutora, olhando-o com desprezo e más intenções, enquanto rodava a maçaneta da porta.
– Só uma coisa, doutora – rosnou Benvindo, fazendo com que a mulher parasse e o olhasse ainda com mais desprezo e ódio. – A mulher não se chamava Loretta, era Lorena.
A doutora mostrou-lhe a língua e desapareceu para dentro da sala.
O homem esticou o dedo médio para a porta fechada.

Anatomia facial

Quando a graça cai em desgraça

Crica para veres toda a história
Eh, láááááááá!...


3 páginas (cricar em "next page")

oglaf.com

21 março 2012

Kailua-Kona... sessenta e nove... euros

"Olá, São Rosas
Repara bem na 3ª oferta. No anúncio da Onion Home, até o preço coincide com o nome...
beijos
Suzana"

«guardanapos» - bagaço amarelo

Apercebeu-se que gostava dela durante as compras num supermercado, ao discutir a cor dos guardanapos de papel que iam utilizar no jantar. Ela queria uns brancos mais baratos, ele queria uns surpreendentemente pretos. Duas douradas enormes, uma garrafa de vinho e um ramo de salsa já estavam no cesto. Faltavam apenas os guardanapos, de que se tinha lembrado ao estacionar o carro lá fora.
Conheceu-a algumas semanas antes, numa festa de amigos comuns. Todos beberam muito nessa noite, menos eles os dois, que ficaram a noite inteira a conversar na varanda com os copos de vinho vazios. Foram os últimos a sair e, quando se despediram, não trocaram os números de telefone nem beijos, apesar da vontade que ambos tinham de o fazer. Nesse dia cruzaram-se ao fim da tarde numa avenida da cidade e ficaram a conversar sentados numa paragem de autocarro, até ele a convidar para jantar lá em casa. Ela aceitou à primeira.
Ele sabe que só consegue ter discussões sobre temas banais com mulheres que é capaz de Amar, nem que seja por uns momentos. É sempre assim que detecta uma possível paixão, discutindo coisas sem interesse mas com o maior dos empenhos, tal como aconteceu enquanto os peixes assavam no forno. Primeiro falaram sobre vinhos, depois sobre as cidades de que gostam mais, sempre com os lábios de ambos cada vez mais próximos. Por fim fizeram Amor.
Começaram na cozinha e acabaram na chaise long da sala, com a roupa espalhada pelo chão como testemunha dos acontecimentos. Os quatro sapatos e a camisola dela na cozinha, a camisa dele e a camisola interior dela no corredor, as calças dele e o sutiã dela à entrada da sala. Finalmente, já junto ao ninho do pecado, toda a roupa que faltava.
Ele lembra-se que ao vir-se lhe cheirou a queimado, mas achou normal dada a fricção dos acontecimentos. Há momentos em que o cérebro humano é incapaz de prolongar um pequeno pensamento que seja, e por isso pode fazer associações surreais. Só ao acordar, duas horas depois, é que percebeu tudo. Ela já não estava, mas num dos guardanapos tinha deixado o seu número de telefone e um aviso de que a dourada estava queimada. Ah! e que é por isso que os guardanapos brancos são uma escolha melhor. Dão para escrever avisos e deixar números de telefone.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Fruta 78 - Chamem o Toni!

"Há mazonas", as setas, claro...

Webcedário no Facebook


Isto para dizermos que as letrinhas faladoras já têm o livro Webcedário, na sua versão em inglês, disponível na Amazon em Inglaterra, França, Espanha e Estados Unidos (aqui, está disponível para os clientes de Portugal... a um preço bem maior que nos outros países... é a crise...) em formato electrónico.

20 março 2012

A posta num picoito interrompido

Volta e meia os moralistas do costume decidem reagir por antecipação, aproveitando o ensejo para adicionar as guerras perdidas no passado e que acabam por relacionar umas com as outras porque acham que faz tudo parte do mesmo esquema medonho, da gigantesca conspiração das minorias para conspurcarem o sistema perfeitinho e maneirinho que vêm moldando desde os tempos da santa inquisição.
Parece ser o caso, pois o Picoito não é o primeiro a (ab)usar (d)o microfone e (d)o teclado para influenciar mentalidades a tempo de estarem prontas para enfrentarem eventuais referendos no futuro, inclusive na estratégia estafada de relembrar derrotas do passado, como a da IVG, para tornarem ainda mais terrífico o papão libertário.

Julgo que a esquerda actual tem mais em mãos para ficar entretida do que trazer para a berlinda o melindre da adopção por casais não compostos pelo ancestral binómio macho/fêmea. Não, nem lhes chamo casais homossexuais pois se a lei lhes reconhece o estatuto de casais é isso que são e nem mesmo a ILGA deveria destacá-los dos restantes como se fossem uma espécie ameaçada.
É impossível dar conversa e entender a motivação de alguém que se veste paladino de uma causa que consiste em desacreditar cidadãs e cidadãos da sua capacidade de criarem filhos por via da sua orientação sexual não padronizada nos cânones da maioria. Contudo, é igualmente impossível aceitar que transmitam o contágio conservador por todos os meios ao seu dispor sem tentar equilibrar a parada da argumentação. Sobretudo quando o impulso é prematuro e, por inerência, a motivação se torna um tudo nada missionária.

A questão dos princípios parece-me ser a que está em causa em ambos os lados desta divergência. Se para os Picoitos deste mundo a cena do amor e do casamento e da família só é como deve ser se nela intervierem sempre cidadãos de géneros diferentes (ou será que se comprovadamente não forem homossexuais já podem ser do mesmo?), para muitas outras pessoassem acesso a microfones o princípio é outro e diz que toda a gente é livre de se assumir nas suas diferenças, ainda que se trate de grupos minoritários, e não merece por isso um tratamento distinto por parte de quem as não tolera.
A coisa vista deste lado soa a medieval porque qualquer fundamento para a discriminação tem que recuar a esses dias em que os costumes eram impostos à bruta, ou pelo menos aos tempos mais recentes em que a diferença era tida como uma ameaça a exterminar, se tivermos em conta a necessidade de inferiorizar grupos de cidadãos na sua capacidade plena por via da cor da pele, da orientação sexual ou do diabo que carregue os tais cruzados com sede repressora.
A coisa vista deste lado soa a desprezo não por quem é portador de uma diferença incómoda mas por quem ousa assumi-la e reclamar esse direito às claras. Não faltam os escândalos de alcova, os segredos escapados a bastiões, mesmo sagrados, alegadamente insuspeitos, dessa moral tradicional para o evidenciar.

Por tudo isto estamos perante mais uma falsa questão, mais um erguer do eterno papão antes que a Democracia, algum referendo maluko ou assim, faça das suas e desminta pela maioria expressa em votos a ilusão alimentada por uns quantos de que ainda é a sua a versão correcta e generalizada de um mundo como se quer.
É esse o medo que agita os Picoitos nas catacumbas da sua sociedade perfeita na uniformidade, sem mácula à superfície, perdoada em segredo pelos seus desvarios nos bastidores, incapazes de aceitarem a mudança que não se pode proibir como dantes se podia e de reconhecerem aos outros o mesmo estatuto se não o souberem merecer com, pelo menos, o sigilo, o encobrimento dessas tentações demoníacas que só podem entender como doenças ou, num patamar superior de alucinação, como maldições que desejariam banidas mas, no mínimo, pretendem impedir de usufruírem de uma cidadania plena se for desajustada da realidade que os Picoitos pretendem, de facto, impor.

Eu não subscrevo essa irritante mania.