25 março 2012
Sex in the Campus Party
Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)
24 março 2012
A posta numa cauda maior do tamanho do umbigo
Um dos maiores desafios que me foram colocados na adolescência foi o de conseguir chamar a atenção pela diferença (uma das abordagens mais radicais mas igualmente muito eficaz nessa fase, nessa época), algo que ficava bem a um jovem aspirante a rebelde, até porque a New Wave e o Punk introduziram no visual da rapaziada uma variedade de cortes e de cores suficientemente espalhafatosa para clarificar a postura.
E garanto-vos que não era fácil impor a tal diferença de forma passiva, com uma aparência quase normal a ombrear com franjas até ao umbigo, caracóis oxigenados até à raiz ou clones do último dos moicanos com um tufo de cabelo espetado como o de um piassaba a fazer de faixa central num crânio rapado à máquina zero all around.
Era esse o filme que nos esperava nas matinés do Beat ou do Porão da Nau nas quais urgia dar nas vistas perante as miúdas para ser possível a esperança de um engate, algo de muito significativo do ponto de vista do adolescente com pila naquela altura e espero que no de agora também.
Claro que ajudava ter um rosto apresentável mas era quase inevitável que elas se concentrassem nos pormenores que faziam a tal diferença que nos distinguia por entre os litros de acne e metros cúbicos de hormonas destrambelhadas espalhados pelas salas em busca do seu momento especial.
Aprendíamos depressa que mais importante do que uma cara bonita era a expressão que lhe colávamos que podia fazer a diferença entre as resmas de trombas de otários cheios de tiques de tanto sacudirem as carolas para tirarem as franjas dos olhos. A partir daí, desse instante mágico em que ela nos fixava com o olhar e fazia-se um clique qualquer que abria as portas ao curtir, que eram umas horas intermináveis de beijos na boca e pouco mais do que a promessa de algo mais que seria sempre algo marcado para amanhã ou depois logo se via.
Esses rituais de acasalamento acelerado à luz das psicadélicas ou em movimento retardado pelo estranho piscar do strobe eram o primeiro agitar das penas enfezadas na cauda de qualquer jovem pavão, assumindo-se assim vitais para a manutenção de um ego confiante e de uma atitude a condizer, numa guerra sem quartel pela quota de mercado disputada no mesmo território de gajos capazes de passarem uma hora ou mais na manutenção das suas cabeleiras espaciais e que julgavam sempre réplicas perfeitas das trunfas do Limahl ou dos gajos dos Duran Duran.
Mesmo admitindo que a essa concorrência feroz dei o mesmo tratamento que ainda hoje costumo aplicar, transformando aquelas superproduções capilares em sinais claros de desespero de causa por escassez de argumentação alternativa que, depois de refinado o paleio pela observação atenta dos discursos dos mais bem sucedidos no bairro ou na escola, servia de contraponto para a música com que abafávamos a que mal nos permitia trocar mais do que três ou quatro palavras seguidas, tenho que enfatizar a dificuldade enfrentada por quem queria marcar a diferença sem precisar para isso de seguir um padrão...
Tudo isto a propósito de como as coisas não mudam tanto assim com o tempo e continuam a dar cartas os gajos que mais investem no visual, seja porque se depilam ou porque vão ao ginásio dia sim dia também ou porque usam os óculos de sol que mais estiverem a dar nessa semana. E serão gajos igualmente capazes de utilizarem uma hora da sua existência para cuidarem de tudo ao pormenor, de abraçarem visuais extravagantes no limite do inenarrável ou de qualquer outro recurso numa guerra onde vale tudo menos arrancar olhos para dar nas vistas e ultrapassar assim a barreira inicial, a da indiferença, sem precisarem de outras armas para vencerem a primeira das batalhas.
Contudo, e também isso não muda com o tempo, o último a rir continua a ser o que ri melhor.
E na verdade o que interessa, quando a poeira assenta, é um gajo conseguir sempre saber onde estava afinal a piada.
«Bad taste bears» - ursinhos de mau gosto...
... mas que tiveram o bom gosto de vir para a minha colecção. Tenho outros, mas estes já chegam para terem uma ideia.
23 março 2012
«O meu cabeçalho é maior que o teu» - Patife
Gosto muito de nomeações. É pois a esgalhar o texugo que todos os anos assisto às nomeações para os Óscares. Mas gosto mais de distinções, por isso faço questão de ver a cerimónia de entrega dos ditos galardões enquanto uma moça me abocanha o trombone. Quando contei esta história à última que me mamou no pincel ela respondeu qualquer coisa como: Oh Patife, tu só dizes isso da boca para fora. No momento a seguir estava eu a ver os Óscares enquanto ela metia isto da boca para dentro. Isto tudo porque acabei de ser nomeado para um galardão que é a minha cara. Desde pequeno que ouço as pessoas dizer aqui do meu nabo: Eia pá, ca ganda cabeçalho que o gajo tem. Ou: Xi cum camandro tens um cabeçalho capaz de me rasgar a chona. Todos certamente já ouviram falar da fama do Pacheco, que é tido como o melhor cabeçalho da História dos cabeçalhos fálicos. É por isso com uma elevada dose de comoção e uma ainda mais elevada proeminência na cabeça do Pacheco que acabo de saber que estou nomeado para “Melhor Cabeçalho” pelo blog "Simão, Escuta". A votação está a decorrer aqui. Votem com cabeçalho.
Patife
Blog «fode, fode, patife»
Patife
Blog «fode, fode, patife»
«conversa 1881» - bagaço amarelo
(ouvida no metro do Porto)
Ele - Acho que a minha mulher me anda a pôr os cornos.
Ela - Como é que sabes?
Ele - Se ela descobriu que eu te ando a comer a ti e nem se importou, só pode andar a pôr-me os cornos.
Ela - Estou farta de te dizer que a gaja é uma vaca.
Ele - Mas eu descubro, eu descubro...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Ele - Acho que a minha mulher me anda a pôr os cornos.
Ela - Como é que sabes?
Ele - Se ela descobriu que eu te ando a comer a ti e nem se importou, só pode andar a pôr-me os cornos.
Ela - Estou farta de te dizer que a gaja é uma vaca.
Ele - Mas eu descubro, eu descubro...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
22 março 2012
«Introduzindo...»
Filme imagem-a-imagem de um casal desde o início de gravidez ao nascimento da filha, a que chamam "Our little 9 month project".
Exuberante
– Desculpe – pediu o homem dando a volta à secretaria e abeirando-se da doutora, que em passo rápido e sincopado atravessava o átrio em direcção às portas das salas de conferências.
– Vou para a sessão – disse a doutora, que parou a meio do átrio olhando para as quatro portas sem identificação que tinha à sua frente.
– Sim, senhora – apreciou o homem, com ar desconfiado, mirando sem pudor o ar demasiado preparado mas deslumbrante da mulher que tinha à sua frente.
– Em que sala é? – perguntou a mulher, fazendo de conta que não via o ar esgazeado do homem que a comia com olhos.
– A senhora vem para acompanhar algum dos engenheiros? – perguntou o homem, disfarçando um pouco o seu apetite.
A doutora arremelgou-lhe os olhos sem, no entanto, pensar realmente na pergunta.
– Que sala é? – repetiu, impaciente.
– A senhora é a acompanhante do Eng. Pimenta? – Tacteou o homem, olhando para o relógio, pois, o engenheiro tinha-lhe dito em segredo que viria uma senhora – aqui rira-se e piscara-lhe o olho – por volta das seis da tarde, e ainda eram só três e faltava a oradora da sessão de esclarecimento. A “senhora” estava muito adiantada.
A doutora respondeu-lhe com uma careta e um eloquente e sonoro:
– Pimenta, sim, é isso. Engenheiro Pimenta. Em que sala é?
– As acompanhantes dos senhores engenheiros não podem entrar – anunciou o homem. – Terá de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento. – E indicou com um gesto a porta de vidro que dava acesso ao bar do hotel. – Se fizer favor…
A doutora susteve a respiração para não desatar à gargalhada. Mordeu o lábio inferior e olhou para os sapatos do homem que, de pé, continuava à sua frente. Sem conseguir evitar as várias caretas com que ia suportando a paciente mas inquisitiva imobilidade e impassibilidade do homem, a doutora levantou a cabeça e olhou-o nos olhos, ou melhor, nas sobrancelhas, que era um truque que aprendera com o seu irmão mais velho que lhe ganhava sempre ao jogo do sério. O homem esboçou um ligeiro sorriso. A doutora não aguentou e abriu um sorriso de orelha a orelha que, esforçadamente, conteve para não rebentar a rir.
– Mas o senhor está à espera que eu vá para ali?
O homem encolheu-se ligeiramente e anuiu com a cabeça.
Fulminada com outra perspectiva da situação – que julgou ser a do homem que estava à sua frente –, a doutora enfureceu-se e sentiu a face enrubescer, o que a enfureceu ainda mais.
– O senhor não estava a brincar? – disparou.
O homem olhou para ela, olhou em volta mexendo apenas os olhos e fez um trejeito como se sentisse embaraçado com a pergunta. Não, definitivamente, não estava a brincar.
– Ah… – O homem sentiu a sua integridade física em risco e tentou emendar a mão, acompanhando o golpe de rins com um arremedo de riso que não medrou. – Estava, estava a brincar. Claro que estava – mentiu sem convicção.
– Eu… eu… – As palavras enrolavam-se na boca da doutora. – Mas quem é que o senhor julga que eu sou? – Acabou por conseguir perguntar.
O homem fechou-se num silêncio prudente e receoso que se viu obrigado, pelo olhar mortífero que doutora lhe lançava, a interromper, para deixar escapar um sumido e lamentoso:
– A oradora?
– Mas porque é que eu tinha de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento?
– É?
– O quê?
– A oradora?
– Isso não interessa. – A doutora riu-se: apesar de tudo continuava bem disposta. – Isso não lhe interessa, palhaço – murmurou com o sotaque apropriado.
O homem empinou-se como o garrano da estalagem de Bree e mudou a expressão para uma com que se propunha impor respeito e temor.
– Interessa – replicou o homem, aborrecido por perceber que a mulher à sua frente não o estava a respeitar nem a temer e o narrador o estava a comparar a um cavalo. – Eu tenho o direito de saber! – Exclamou melodramático.
– A Loretta também tinha o direito de ter direito a ter filhos e, no entanto…
O homem tornou a mudar a expressão, ainda que agora o fizesse involuntariamente e fosse ele a expressar o temor que antes queria incutir.
– Não os podia ter – sussurrou o homem completando a frase que a doutora deixara incompleta.
– Porque? – Perguntou a mulher, surpreendida e subitamente enlevada pela identidade de referências que a aproximavam do homem que estava à sua frente e lhe barrara o caminho.
– Porque era um homem – disse o ser do mesmo género de Loretta.
A doutora aproximou-se do homem e perguntou em tom conspirativo:
– Nunca pensou na coincidência da mulher do John Bobbit se chamar Loretta?
– Não… – respondeu o homem, sem levantar a voz, com ar pensativo e meneando a cabeça em contemplativa admiração.
– Toda a gente analisou o facto do homem se chamar John Wayne e, de alguma forma, o gesto da mulher ser uma metáfora do que estava a acontecer à América – dissertou a doutora junto ao ouvido do homem. – Ao cortá-lo ao John Wayne, ao John Wayne – reforçou – Loretta estava a capar a América. Não havia outra leitura. Deus estava a brincar com a América e estava-lhe a mostrar com um humor retorcido e gore o que lhe ia acontecer. O facto de se cortar o membro de alguém que se chamava John Wayne era um sinal. Não há coincidências, diziam os fanáticos – O homem meneava a cabeça cada vez mais entusiasmado, a doutora continuou: – E, no entanto, a referência era outra, o nome que contava era outro: Loretta. “From now on, I want you all to call me 'Loretta'” e a Loretta deu ao marido a possibilidade usar o seu direito de ser mulher, de ter filhos…
– Mas não lhe deu um útero – opôs-se o homem, lembrando-se das dúvidas fundadas de Reg.
– Isso não interessa – contrapôs a Doutora. – Loretta impunha o que a Loretta propôs: o direito a ter o direito de ter filhos.
O homem parou de oscilar a cabeça, deu um passo atrás para poder rodar a cabeça sem acabar a dar um chocho à doutora e comunicou:
– Se é a oradora pode entrar mas se não é – o homem olhou ostensivamente para as pernas quase nuas da doutora, para o decote cavado e para o longo colar de pérolas que dava duas voltas ao pescoço da mulher com a intenção de sublinhar os seus generosos e apetecíveis dotes mamários – tem de esperar pelo fim da palestra. Se vem para acompanhar algum dos senhores tem de esperar.
A doutora esticou o braço e afastou o homem da frente.
– Eu sou a oradora – anunciou. – E o senhor é um mal-educado. Um grosseirão!
– Estou a fazer o meu trabalho, doutora – justificou o homem. – Sala 3 – apontou.
– Qual é o seu nome? – Questionou a doutora em tom de ameaça, dirigindo-se à porta da sala onde era esperada.
– João Benvindo.
– Alguém falará consigo, senhor João Benvindo – disse a doutora, olhando-o com desprezo e más intenções, enquanto rodava a maçaneta da porta.
– Só uma coisa, doutora – rosnou Benvindo, fazendo com que a mulher parasse e o olhasse ainda com mais desprezo e ódio. – A mulher não se chamava Loretta, era Lorena.
A doutora mostrou-lhe a língua e desapareceu para dentro da sala.
O homem esticou o dedo médio para a porta fechada.
– Vou para a sessão – disse a doutora, que parou a meio do átrio olhando para as quatro portas sem identificação que tinha à sua frente.
– Sim, senhora – apreciou o homem, com ar desconfiado, mirando sem pudor o ar demasiado preparado mas deslumbrante da mulher que tinha à sua frente.
– Em que sala é? – perguntou a mulher, fazendo de conta que não via o ar esgazeado do homem que a comia com olhos.
– A senhora vem para acompanhar algum dos engenheiros? – perguntou o homem, disfarçando um pouco o seu apetite.
A doutora arremelgou-lhe os olhos sem, no entanto, pensar realmente na pergunta.
– Que sala é? – repetiu, impaciente.
– A senhora é a acompanhante do Eng. Pimenta? – Tacteou o homem, olhando para o relógio, pois, o engenheiro tinha-lhe dito em segredo que viria uma senhora – aqui rira-se e piscara-lhe o olho – por volta das seis da tarde, e ainda eram só três e faltava a oradora da sessão de esclarecimento. A “senhora” estava muito adiantada.
A doutora respondeu-lhe com uma careta e um eloquente e sonoro:
– Pimenta, sim, é isso. Engenheiro Pimenta. Em que sala é?
– As acompanhantes dos senhores engenheiros não podem entrar – anunciou o homem. – Terá de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento. – E indicou com um gesto a porta de vidro que dava acesso ao bar do hotel. – Se fizer favor…
A doutora susteve a respiração para não desatar à gargalhada. Mordeu o lábio inferior e olhou para os sapatos do homem que, de pé, continuava à sua frente. Sem conseguir evitar as várias caretas com que ia suportando a paciente mas inquisitiva imobilidade e impassibilidade do homem, a doutora levantou a cabeça e olhou-o nos olhos, ou melhor, nas sobrancelhas, que era um truque que aprendera com o seu irmão mais velho que lhe ganhava sempre ao jogo do sério. O homem esboçou um ligeiro sorriso. A doutora não aguentou e abriu um sorriso de orelha a orelha que, esforçadamente, conteve para não rebentar a rir.
– Mas o senhor está à espera que eu vá para ali?
O homem encolheu-se ligeiramente e anuiu com a cabeça.
Fulminada com outra perspectiva da situação – que julgou ser a do homem que estava à sua frente –, a doutora enfureceu-se e sentiu a face enrubescer, o que a enfureceu ainda mais.
– O senhor não estava a brincar? – disparou.
O homem olhou para ela, olhou em volta mexendo apenas os olhos e fez um trejeito como se sentisse embaraçado com a pergunta. Não, definitivamente, não estava a brincar.
– Ah… – O homem sentiu a sua integridade física em risco e tentou emendar a mão, acompanhando o golpe de rins com um arremedo de riso que não medrou. – Estava, estava a brincar. Claro que estava – mentiu sem convicção.
– Eu… eu… – As palavras enrolavam-se na boca da doutora. – Mas quem é que o senhor julga que eu sou? – Acabou por conseguir perguntar.
O homem fechou-se num silêncio prudente e receoso que se viu obrigado, pelo olhar mortífero que doutora lhe lançava, a interromper, para deixar escapar um sumido e lamentoso:
– A oradora?
– Mas porque é que eu tinha de aguardar pelo fim da sessão de esclarecimento?
– É?
– O quê?
– A oradora?
– Isso não interessa. – A doutora riu-se: apesar de tudo continuava bem disposta. – Isso não lhe interessa, palhaço – murmurou com o sotaque apropriado.
O homem empinou-se como o garrano da estalagem de Bree e mudou a expressão para uma com que se propunha impor respeito e temor.
– Interessa – replicou o homem, aborrecido por perceber que a mulher à sua frente não o estava a respeitar nem a temer e o narrador o estava a comparar a um cavalo. – Eu tenho o direito de saber! – Exclamou melodramático.
– A Loretta também tinha o direito de ter direito a ter filhos e, no entanto…
O homem tornou a mudar a expressão, ainda que agora o fizesse involuntariamente e fosse ele a expressar o temor que antes queria incutir.
– Não os podia ter – sussurrou o homem completando a frase que a doutora deixara incompleta.
– Porque? – Perguntou a mulher, surpreendida e subitamente enlevada pela identidade de referências que a aproximavam do homem que estava à sua frente e lhe barrara o caminho.
– Porque era um homem – disse o ser do mesmo género de Loretta.
A doutora aproximou-se do homem e perguntou em tom conspirativo:
– Nunca pensou na coincidência da mulher do John Bobbit se chamar Loretta?
– Não… – respondeu o homem, sem levantar a voz, com ar pensativo e meneando a cabeça em contemplativa admiração.
– Toda a gente analisou o facto do homem se chamar John Wayne e, de alguma forma, o gesto da mulher ser uma metáfora do que estava a acontecer à América – dissertou a doutora junto ao ouvido do homem. – Ao cortá-lo ao John Wayne, ao John Wayne – reforçou – Loretta estava a capar a América. Não havia outra leitura. Deus estava a brincar com a América e estava-lhe a mostrar com um humor retorcido e gore o que lhe ia acontecer. O facto de se cortar o membro de alguém que se chamava John Wayne era um sinal. Não há coincidências, diziam os fanáticos – O homem meneava a cabeça cada vez mais entusiasmado, a doutora continuou: – E, no entanto, a referência era outra, o nome que contava era outro: Loretta. “From now on, I want you all to call me 'Loretta'” e a Loretta deu ao marido a possibilidade usar o seu direito de ser mulher, de ter filhos…
– Mas não lhe deu um útero – opôs-se o homem, lembrando-se das dúvidas fundadas de Reg.
– Isso não interessa – contrapôs a Doutora. – Loretta impunha o que a Loretta propôs: o direito a ter o direito de ter filhos.
O homem parou de oscilar a cabeça, deu um passo atrás para poder rodar a cabeça sem acabar a dar um chocho à doutora e comunicou:
– Se é a oradora pode entrar mas se não é – o homem olhou ostensivamente para as pernas quase nuas da doutora, para o decote cavado e para o longo colar de pérolas que dava duas voltas ao pescoço da mulher com a intenção de sublinhar os seus generosos e apetecíveis dotes mamários – tem de esperar pelo fim da palestra. Se vem para acompanhar algum dos senhores tem de esperar.
A doutora esticou o braço e afastou o homem da frente.
– Eu sou a oradora – anunciou. – E o senhor é um mal-educado. Um grosseirão!
– Estou a fazer o meu trabalho, doutora – justificou o homem. – Sala 3 – apontou.
– Qual é o seu nome? – Questionou a doutora em tom de ameaça, dirigindo-se à porta da sala onde era esperada.
– João Benvindo.
– Alguém falará consigo, senhor João Benvindo – disse a doutora, olhando-o com desprezo e más intenções, enquanto rodava a maçaneta da porta.
– Só uma coisa, doutora – rosnou Benvindo, fazendo com que a mulher parasse e o olhasse ainda com mais desprezo e ódio. – A mulher não se chamava Loretta, era Lorena.
A doutora mostrou-lhe a língua e desapareceu para dentro da sala.
O homem esticou o dedo médio para a porta fechada.
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