29 abril 2012

Like baboons...


"Como os babuínos... os nossos líderes eleitos são literalmente viciados no poder"

Porta-Curtas - «Sensações Contrárias»

Género: Experimental
Diretor: Amadeu Alban, Jorge Alencar, Matheus Rocha
Elenco: Fernando Passos, Leda Muhana
Duração: 6 min Ano: 2007
País: Brasil
Sinopse: Sensações Contrárias é ambientado no Recôncavo Baiano, região de passado coronelista. Dentro de um ambiente provinciano-decadente, desenvolve-se a noção de borrão, em que os eventos coreográficos e imagéticos se dão por aparentes acidentes, falhas e descontinuidades, num limite entre realismo cotidiano e surrealismo.

Folhear



Galguei a Feira naquela tarde com a cabeça feita cata-vento para abarcar de uma assentada os livros que me podiam servir nas mãos. Era junto desses que parava a folhear-lhes a macieza do papel , a lamber com os olhos a volúpia das palavras, a inalar-lhes as imagens. Dei de caras com uma biografia de Vitorino Nemésio, com encadernação de capa dupla e tudo e aquelas imagens a preto e branco como eu me lembrava da infância fixaram-me ali, encantada, a desfolhar frame a frame. Um dos rapazes do stand, o de olhos cor de mel, deixou-os escorrer para a voz para me perguntar se podia ajudar nalguma coisa e como responder-lhe faz de mim uma máquina-bilheteira do Metropolitano de Lisboa era equivalente a tornar-me croquete numa travessa de aperitivos, optei pelo tradicional levo este, com o indicador colado ao livro.

Feitos os avios, virei costas para continuar a peregrinação quando me passa pelos ouvidos a frase vai lá que ela não tinha aliança nem nada e como uma traça perante uma lâmpada catapulta-se à minha frente o moçoilo dos olhos melados a convidar-me para o acompanhar à roulotte dos churros e farturas, fitando-me muito fixamente não fossem as vistas fugir para locais menos apropriados como o meu decote que do topo das calças ele já tinha feito a métrica. Aceitei o churro com molho de chocolate que nos fazia trejeitos nos lábios ao escorrer pelos cantos da boca enquanto ele discorria sobre o investimento dos CTT nos livros de prestígio com lombadas bonitas, trocávamos os nomes dos livros favoritos e eu imaginava se havia de começar a apreciar a qualidade daquela encadernação no coreto perto do Pavilhão Carlos Lopes ou manusear-lhe as fibras musculares na Estufa Fria ou simplesmente, rebolarmos como página ímpar e par relva abaixo.

Só que aquela alminha, Senhor Doutor, a páginas tantas resolveu mostrar-se fã do Paulo Coelho e no mesmo instante a minha inspiração começou a amarrotar-se e só parou no cesto dos papéis.

Sexo seguro para pessoas idosas

"Nos últimos 5 anos, a taxa de doenças sexualmente transmissíveis entre as pessoas idosas aumentou mais de 70%. Este anúncio de serviço público promove a importância do uso do preservativo, ilustrada por adultos maduros em várias poses do Kama Sutra."
SaferSex4Seniors.org

Band-aid conceptual



Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)

28 abril 2012

Homens, aprendam a fazer «sex on the beach» (o cocktail, que o resto, se não sabem, não é aqui que aprendem)

«conversa 1886» - bagaço amarelo

Ela - Estou a precisar de mudar seriamente alguma coisa na minha vida.
Eu - Tipo o quê?
Ela - Nem sei bem. Sinto-me cansada da vida, do meu marido e até dos meus filhos. Não sei bem explicar...
Eu - Às vezes acontece. Tira um fim de semana só para ti, por exemplo. Não estás a pensar em divorciar-te, pois não?
Ela - Para já, para já, estava mais a pensar em ir às compras.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Zé Fogaça» - por Rui Felício


O Mário do Vale da Azenha, enviuvara já há uns anos.
Vivia só com a Mariana, sua filha, que era a rapariga mais bonita da aldeia. Fez tudo para que ela não casasse com o Zé Fogaça. Mesmo no dia da boda, já ela estava vestida de noiva, foi ao seu quarto e fez a derradeira tentativa para evitar o casamento. O Zé Fogaça era um mulherengo, já tinha tido um ror de namoros. Andava com elas uns tempos e depois abandonava-as.
Mas o amor dela era muito forte e casou com ele. Já lá iam dois anos e ele sempre a encheu de carinhos. A fama do Zé Fogaça não era mais do que fruto da maledicência da aldeia…
Mas, naquele sábado, ansiosa, lembrou-se das palavras do pai no dia do casamento. Lembrou-se dos mexericos que passavam de boca em boca.
Deu pelo toque das avé-marias na torre da igreja e o Zé Fogaça ainda não aparecera em casa.
Ainda de madrugada, ele saíra de casa. Tinha ido à caça como era costume aos sábados mas, ao contrário do habitual, não regressara pela hora do almoço.
Só quando aquele sol de verão a prumo já não dardejava sobre a aldeia, só quando os seus tons alaranjados prenunciavam a noite é que ela ouviu o velho cão Mondego latir a correr e esgadanhar na porta. Atrás lá vinha o marido com três láparos e uma perdiz à cintura.
Suspirou de alívio, e foi a correr pôr a mesa.
Durante os dois meses seguintes, a chegada tardia a casa do marido, tornou-se um hábito. Calada, a Mariana sofria, chorava, o coração apertado...
O marido regressava sempre só ao fim do dia e as pessoas da aldeia já comentavam que a caça dele era outra! Constava que andava metido com a Carmen, cigana das Carvalhosas de quem se dizia que já tinha estragado alguns casamentos.
Certo sábado, logo que o marido saiu, entrou-lhe pela porta do quarto dentro o Mário do Vale da Azenha, esbaforido, de caçadeira debaixo do braço.
- O teu homem?
- Foi à caça, meu pai. Você sabe que ele sempre vai aos sábados.
- Pois hoje também eu vou à caça!- disse-lhe o pai.
- E que caça!, acrescentou por entre dentes.
- Não me quiseste dar ouvidos quando te casaste com ele. Agora tenho que ir defender a tua honra e a minha que na aldeia o falatório já é insuportável. Até o Senhor Prior na missa já aludiu ao assunto!
Logo que o pai saiu porta fora, a Mariana caiu de bruços na cama e chorou convulsivamente. Não sabia o que mais a afligia. Se o que o pai ia fazer ou se confirmar que o marido a andava a enganar.
Ao crespúsculo, lavada em lágrimas, por trás da cortina da sala, viu finalmente o Mondego a abanar o rabo e a ladrar em louca correria pela quelha acima que vinha do rio.
Logo atrás, o pai e o marido, lado a lado.
Pareciam vir em amena cavaqueira, rindo muito. Afinal, os seus receios eram infundados!
Veio à porta esperá-los, abraçou-os e encheu o marido de beijos.
O Zé Fogaça disse-lhe:
- Vai te preparando! Vais ter uma madrasta! O teu pai vai-se casar com a Carmen! Há meses que ela anda apaixonada por ele e me pede para eu o convencer a casar-se com ela.
E virando-se para o sogro:
- É ou não é verdade, Sr. Mário?
- Sim, é verdade. E além de minha mulher, não te esqueças que ela vai ser tua sogra! E que, pelas leis da Santa Madre Igreja, será como se fosse tua mãe!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

Um sábado qualquer... - «Rancores»




Um sábado qualquer...

27 abril 2012

A anorexia é uma doença e não deve ser um padrão

A «PLUS Model Magazine» é uma revista de moda para mulheres... mais redondinhas, lidando com as questões do corpo, normas e ditames de beleza impostos sobre as modelos e sobre todas as mulheres e que põem em risco a sua saúde, tanto física como psicológica.
Em Janeiro a revista foi lançada com uma campanha contra os actuais padrões da moda. Deixo-vos as fotos:


"Muitas modelos de moda têm um Índice de Massa Corporal correspondente à anorexia"

"Há 20 anos, uma modelo de moda pesava em média 8% menos do que a média das mulheres e, hoje, as modelos pesam 23% abaixo"

«O que há de errado com os nossos corpos, afinal?!»

"O Shunga japonês" ou "As imagens da Primavera”

Quando há uns anos atrás descobri o Shunga fiquei fascinada. Por essa altura andava eu a recolher imagens de desenhos e pinturas eróticas, sobretudo anteriores ao século XX, com o intuito de fazer um estudo a respeito da representação de conteúdos sexuais e da relação com a sexualidade no dito “Ocidente Civilizado”. Logo me surpreenderam as primeiras imagens de Shunga que encontrei: era qualquer coisa de inteiramente novo. Completamente diferente de tudo o que já tinha visto…

O Shunga, em japonês, “imagem da Primavera”, é uma forma de arte erótica ou, se quisermos, de pornografia, muito difundida no Japão entre os séculos XVII a XX. Supõe-se que tenha tido início no século XI, mas só com a invenção da xilografia alcançou o seu pleno desenvolvimento, na generalidade de forma clandestina, para mais tarde se extinguir com a invenção e difusão da fotografia. Continuo a ler sobre isto, e em busca de artigos que versem a perspectiva que mais me interessa: a dos conteúdos sexuais propriamente.

Pelo menos até ao final do século XIX, o Shunga é “amoral”. Apenas uma forma de arte onde se reúne a estética e a educação sexual num tom de alegria pelo prazer da união dos sexos. Os órgãos sexuais são representados com intenção expressiva e a uma escala desproporcionada, o que, curiosamente, em nada perturba a delicadeza e naturalidade predominantes nas cenas. Mas o que mais me impressionou nestas imagens por relação às da nossa cultura, foi a equidade da preocupação com o prazer sexual do homem e da mulher e a representação de um claro envolvimento emocional do casal, algo que ainda hoje raramente encontro no Ocidente. Porta sim, porta sim, surgem massagens ao ponto G, por vezes detalhadas, e é frequente encontrar-se um homem a foder uma mulher enquanto lhe massaja o clitóris. Na cópula parece um pouco indiferente que seja o homem ou a mulher a estar em cima ou em baixo, quando não, estão de lado ou em posições exóticas, mas as caras voltam-se com frequência uma para a outra, trocando beijos, olhares, expressões… Um aspecto curioso é que no Shunga ainda não encontrei mamadas. Não estou a dizer que não existam… mas a existirem hão-de ser um fenómeno muito raro. Mais frequentes, ainda que não abundantes, são os minetes. Como é evidente, eu não tenho nada contra as mamadas (muito pelo contrário), mas o que é interessante aqui, é o facto de, quaisquer que sejam os conteúdos sexuais, não se transmitir uma ideia de instrumentalização da mulher ou de bestialização do sexo. Algo que ainda hoje é um lugar-comum na nossa cultura: a mulher servida a frio como objecto de prazer num sexo de essência animalesca que amiúde não aparenta ser mais que um embrulho de “carnes” destituídas de “alma” aos tombos pelas valetas da indiferença, da usura, da violência, e da perversidade extrema. Consequência, por certo, de uma mentalidade muito perturbada pela “moralização do sexo”…

… tenho-me perguntado que impacto efectivo na vida sexual dos japoneses terá tido a invenção da fotografia e a globalização da pornografia… por curiosidade, quando tiver tempo tentarei obter uma resposta…

Para quem tiver interesse, está a nascer aqui ao lado... Shunga Virtual Collection

[blog Libélula Purpurina]