SEREBRO - «Mama Lover»
08 julho 2012
A força da terra
Um cabelo à Beatle do ano do seu nascimento, loirinho e de olho azul, marcava a diferença numa região de morenos e batia nas vistas de qualquer uma quer fosse no balcão dos cafés quer fosse nos bailes semanais da festa de cada lugar das redondezas metidas entre pinheiros e serras.
A fama precedia-o no boca a boca de ser namoradeiro, com uma rapariga em cada terra para evitar confusões maiores e resumir as suas incursões às horas da noite de um baile que no mais do tempo era vê-lo a cavalgar a sua zundapp verde ou lá que marca era aquela gaita.
Choquei com ele nos encontrões do balcão de madeira à cata da cerveja saída directamente dos bidões azuis de plástico atascados de pedaços de gelo e reparei que também escolhia Super Bock. Voltei para junto do meu grupo de veraneio a escutar o leilão de mais uma garrafa de ginjinha e um pão de ló oferta da dona Maria das Dores, espiando a forma como ele entreabria os lábios ao levar a garrafa à boca salpicado pelas imagens daquele que eu deixara em Lisboa, o oficial para a família e amigos no ror de quase dois anos que já era uma nebulosa o big bang dessa paixão quando nisto o conjunto voltou ao palco para mimar os primeiros acordes do Don't Stand So Close To Me e ele se acercou felinamente com os olhos a luzir na noite para pedir-me para dançar e eu disse logo que sim. Tinha de tirar a limpo se os loiros o eram no corpo todo.
A fama precedia-o no boca a boca de ser namoradeiro, com uma rapariga em cada terra para evitar confusões maiores e resumir as suas incursões às horas da noite de um baile que no mais do tempo era vê-lo a cavalgar a sua zundapp verde ou lá que marca era aquela gaita.
Choquei com ele nos encontrões do balcão de madeira à cata da cerveja saída directamente dos bidões azuis de plástico atascados de pedaços de gelo e reparei que também escolhia Super Bock. Voltei para junto do meu grupo de veraneio a escutar o leilão de mais uma garrafa de ginjinha e um pão de ló oferta da dona Maria das Dores, espiando a forma como ele entreabria os lábios ao levar a garrafa à boca salpicado pelas imagens daquele que eu deixara em Lisboa, o oficial para a família e amigos no ror de quase dois anos que já era uma nebulosa o big bang dessa paixão quando nisto o conjunto voltou ao palco para mimar os primeiros acordes do Don't Stand So Close To Me e ele se acercou felinamente com os olhos a luzir na noite para pedir-me para dançar e eu disse logo que sim. Tinha de tirar a limpo se os loiros o eram no corpo todo.
[Foto © jose ferreira, 2008, Auto retrato]
Brainstorming
Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)
07 julho 2012
«respostas a perguntas inexistentes (204)» - bagaço amarelo
No prédio onde eu cresci eram raras, para não dizer inexistentes, as conversas entre vizinhos. Todos se cumprimentavam sempre que se cruzavam, mas não mais do que isso. Foi por isso que estranhei quando, no fim duma manhã qualquer de Primavera, ouvi um burburinho intenso nas escadas cortado ao meio por dois ou três gritos ameaçadores. Era um homem forte, cuja face zangada parecia esculpida com uma faca do mato, que queria bater no vizinho do quarto direito.
Algumas pessoas tentavam acalmá-lo, segurando-o de frente como se pegassem um touro enraivecido. Aquilo que, no entanto, não conseguiam estancar, eram os gritos que tentavam justificar aquela violência toda. Ele tinha visto a mulher beijar o meu vizinho e queria matá-lo.
Acho que foi essa a primeira vez em que me apercebi da importância que um beijo pode ter. Tanta que pode culminar em morte, pensei.
o beijo da Bonnie Parker
Devo ter visto pela primeira vez o filme "Bonnie and Clyde", de 1967, aí com uns dez anos de idade, ou seja, uns quatro anos após a cena no meu prédio. Era um filme proibido para crianças mas que, por algum milagre que nunca consegui explicar, o meu pai me deixou ver. Ainda bem. Foi com ele que confirmei que um beijo pode acabar em morte, e foi com ele que aprendi que os maus também se Amam.
Os maus, neste caso, são os próprios Bonnie e Clyde, um casal apaixonado de assaltantes de bancos. A Bonnie Parker e o Clyde Barrow não tinham uma vida normal nem decente como todos os outros, muito menos aos meus olhos de criança, mas o filme retrata-os como um casal mais feliz do que qualquer outro. No fim o meu pai, quando se apercebeu que eu não saía do sofá durante a ficha técnica, disse-me que aquela história era verdadeira.
Nesse dia confirmei a importância do beijo e de como ele pode acabar em morte.
o meu beijo
Esperei anos pelo meu primeiro beijo, que todos dizem que é o mais importante duma vida. Num certo sentido até é. Foi com ele que aprendi que os beijos têm sabores e foi com ele que aprendi que o beijo mais importante é sempre o último. Teve, pelo menos, essa importância que ninguém lhe tira.
Fazíamos, eu e a Márcia, concursos para ver quem conseguia que uma pedra ricocheteasse mais vezes nas ondas do mar. Ela ganhava sempre, porque a mim me faltavam as forças que gastava na confusão de um não Amor de Verão. Ela sorria e era enérgica, eu parecia sempre um pouco apagado. É isso um não Amor, e garanto-vos que é bem mais difícil do que um Amor qualquer,
Um não Amor é uma vontade de Amar que não cabe em ninguém, e que por isso acaba por se adaptar a quem está mais perto. É próprio da adolescência, é próprio de quem ainda não aprendeu a Amar. É vão, e a Márcia parecia sabê-lo. Uma vez disse-me que tinha atirado uma pedra que queria recuperar, mas que não era capaz de ir sozinha até à rebentação das ondas. Deu-me a mão e levou-me com ela, beijou-me e fugiu a sorrir. O beijo soube-me a sal, logicamente.
Nesse dia aprendi que um beijo pode acabar em vida.
dos beijos todos
Não acredito no Amor cujo primeiro toque não seja o dos lábios, logo a seguir ao ainda mais suave contacto das palavras. O beijo é o corpo a soltar-se para tudo o resto: a pele com a pele, os olhos com os olhos, o verbo com o verbo. E por falar em verbo, o beijo é também a assinatura do tratado que nasce cada vez que se diz "eu Amo-te!". Sem ele, o verbo Amar é apenas uma declaração vazia de intenção. No Amor vale muito pouco falar, mas vale tudo beijar. É no beijo que acreditamos sempre. Ou não. Podemos duvidar de nós mesmos quando dizemos "Amo-te!", mas nunca duvidamos quando beijamos "Amo-te!".
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Comentários de dois visitantes da minha colecção
"Coleccionismo ao nível do que me deste oportunidade de apreciar, só está ao alcance de alguém entendedor da temática (que é óptima) que tenha gosto, conhecimento, paciência e capacidade.
Trata-se de um colecção ecléctica e assente numa coleccionadora exímia que também é uma óptima 'cicerone'.
A colecção não é só o que está, é também o que está para vir. Ideias, projecto e vontade não faltam à São Rosas.
Já visitei uma colecção sobre o tema em Barcelona e, face ao material, ao distanciamento com o visitante e à frieza perante um tema que se pretende bem quentinho, em nada me pareceu melhor que a da São Rosas.
Assim, se tiverem oportunidade e a São Rosas mantiver a disponibilidade, não percam esta visita bem guiada.
Que Príapo e Eros Vos espevitem as almas, pois a ajuda deles é mais que meia farmácia.
M. Nobre"
"Eu, que me tenho por um céptico encartado mas não empedernido, fiquei de cara escancarada.
Só quando cheguei a casa é que o resto da família se acercou de mim, coitadinhos, com pena do facto de ainda não a ter fechado e continuar a ter dificuldades para fechar a boca.
Verdade. No domingo de manhã tive uma belíssima aventura, através da inteligência da nossa amiga São Rosas.
De facto a colecção não parece ter nada do que é fácil encontrar: objectos de sex-shop, coisas explicitamente badalhocas, em 3D ou em outras DDs, boçalidades da cultura 'prapular', etc.
Enfim, nada daquilo que o Extraordinário M. dizia um ano destes em Aveiro para a São Rosas: "Oh pá, ouvi dizer que tens agora um interesse especial por pichotas". Recomenda-se a sua visualização a maiores de idade, não pela javardice mas porque são formas inteligentes de conduzir a atenção para objectos ou cenas através da combinação de outros signos.
Tantos objectos vimos que nos focámos em alguns detalhes e isso deu para perceber o grande interesse daquele acervo: é uma coleção particular. Tem um gosto, uma direcção e um bom senso associados.
O que vimos foram várias formas da curiosidade humana, várias maneiras de tornar visível o que, por algumas bandas do mundo cultural, se pretende estar escondido, porque é intimo, e sobretudo objetos de muita risota, porque são múltiplas as formas de provocar a diversão: ou são inteligentes na sua concepção, ou são anedóticas, ou são pura e simplesmente bem feitas, porque simples e eficazes no que querem transmitir. O grande interesse é que tudo isto foi escolhido, tem uma mão (porventura nem sempre a mesma, porque provocaria calosidades e outras maleitas), tem uma inteligência que lhe dá sentido de humor e também, entende-se das entrelinhas, ali está muito dinheiro empatado na compra e na encomenda dos objectos.
Fomos uns felizardos porque nos foi dada a hipótese, no domingo, de ficarmos de boca aberta.
Tanto que ainda agora (passado todo este lapso de tempo) me doem as dobradiças dos maxilares.
Bem Hajas, São Rosas.
Os outros não sabem o que estão a perder.
AJCS"
Trata-se de um colecção ecléctica e assente numa coleccionadora exímia que também é uma óptima 'cicerone'.
A colecção não é só o que está, é também o que está para vir. Ideias, projecto e vontade não faltam à São Rosas.
Já visitei uma colecção sobre o tema em Barcelona e, face ao material, ao distanciamento com o visitante e à frieza perante um tema que se pretende bem quentinho, em nada me pareceu melhor que a da São Rosas.
Assim, se tiverem oportunidade e a São Rosas mantiver a disponibilidade, não percam esta visita bem guiada.
Que Príapo e Eros Vos espevitem as almas, pois a ajuda deles é mais que meia farmácia.
M. Nobre"
"Eu, que me tenho por um céptico encartado mas não empedernido, fiquei de cara escancarada.
Só quando cheguei a casa é que o resto da família se acercou de mim, coitadinhos, com pena do facto de ainda não a ter fechado e continuar a ter dificuldades para fechar a boca.
Verdade. No domingo de manhã tive uma belíssima aventura, através da inteligência da nossa amiga São Rosas.
De facto a colecção não parece ter nada do que é fácil encontrar: objectos de sex-shop, coisas explicitamente badalhocas, em 3D ou em outras DDs, boçalidades da cultura 'prapular', etc.
Enfim, nada daquilo que o Extraordinário M. dizia um ano destes em Aveiro para a São Rosas: "Oh pá, ouvi dizer que tens agora um interesse especial por pichotas". Recomenda-se a sua visualização a maiores de idade, não pela javardice mas porque são formas inteligentes de conduzir a atenção para objectos ou cenas através da combinação de outros signos.
Tantos objectos vimos que nos focámos em alguns detalhes e isso deu para perceber o grande interesse daquele acervo: é uma coleção particular. Tem um gosto, uma direcção e um bom senso associados.
O que vimos foram várias formas da curiosidade humana, várias maneiras de tornar visível o que, por algumas bandas do mundo cultural, se pretende estar escondido, porque é intimo, e sobretudo objetos de muita risota, porque são múltiplas as formas de provocar a diversão: ou são inteligentes na sua concepção, ou são anedóticas, ou são pura e simplesmente bem feitas, porque simples e eficazes no que querem transmitir. O grande interesse é que tudo isto foi escolhido, tem uma mão (porventura nem sempre a mesma, porque provocaria calosidades e outras maleitas), tem uma inteligência que lhe dá sentido de humor e também, entende-se das entrelinhas, ali está muito dinheiro empatado na compra e na encomenda dos objectos.
Fomos uns felizardos porque nos foi dada a hipótese, no domingo, de ficarmos de boca aberta.
Tanto que ainda agora (passado todo este lapso de tempo) me doem as dobradiças dos maxilares.
Bem Hajas, São Rosas.
Os outros não sabem o que estão a perder.
AJCS"
06 julho 2012
amor clandestino
– Não te estou a perceber, Marcela… Mas queres exactamente, o quê?
– Eu quero que você não nos esconda.
– Escondo-nos? Eu?!... Eu escondo-nos de quem?
– Nem sei. Se soubesse, provavelmente, nem lhe estava dizendo nada.
– Mas porque é que dizes que nos escondo?... Não estou a perceber.
– Eu conheço sua família?
– Já te disse que eles não moram cá…
– E seus amigos, também não moram cá?
– Mas tu conheces os meus amigos.
– Conheço, André?!... Conheço quem?!
– Conheces, Marcela, conheces o…
– Só conheço o Paiva.
– E o Couceiro.
– Sim, só conheço o Paiva e o Couceiro. Como se conhecesse a praça.
– Qual praça?
– E os outros?
– Quais outros?
– Os outros seus amigos.
– Os meus amigos são o…
– Não me diga. Seus amigos são o Paiva Couceiro.
– Sim, são, o Paiva e o Couceiro.
– E mais, você acha mesmo que eu acredito que eles se chamam isso?
– Desculpa?
– E não tem mais amigos?
– Com quem me dê assim, não. Além do mais eu também não conheço a tua família.
– Minha família está no Brasil, André.
– Nem as tuas amigas.
– Conhece a Daniela, a Margarida, a Filipa, a Adriana, a...
– A Daniela, a Filipa e a Adriana não contam.
– Porque não?
– São portuguesas.
– Ai é?! Não contam?... Então eu amanhã lhe vou apresentar a… a Dilma e a Giselle.
05 julho 2012
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